RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Crianças sem Futuro...

Guernica - Pablo Picasso



“Não é a chuva que bate em minha janela
são as lágrimas dos desterrados náufragos
Meu coração e o mão são inúteis
se do outro lado não há onde chegar”
(Um navio sem porto – Mauro Iasi)


            O picadeiro do Universal Circo Crítico, com sua terra batida e sua lona furada, reconhece: grande parte de seu público é composto de jovens, adultos e idosos.
            Não “atraímos” crianças... Elas, possivelmente, quase não estão presentes aqui, em nossas andanças. Uma leitura de uma mãe e/ou um pai em nossas “Conversas ao pé de ouvido”, talvez. Ou, uma ou outra leitura, também acompanhada de um adulto.
            – Mas elas sempre estão presentes em um lugar especial e revolucionário... em nossos corações! (Strovézio)
            – Exatamente, meu caro palhaço!
            Há vários motivos para sempre nos perguntarmos sobre o futuro da humanidade. E há várias razões para pensarmos sobre esses motivos. As crianças são a razão dos motivos de nossas perguntas...
            Não estamos no limbo dos discursos hipócritas de artistas, políticos, atletas e seus “pensem nas criancinhas”. Mas, estamos no limite de nossa desumanidade. Da nossa incapacidade de conseguirmos reagir, de alguma maneira, contra seu extermínio. E quando nos acostumamos com a morte de crianças, sem deixar de dormir...
            – Pelo menos isso, o que não serve muito (Strovézio)...
            – ... pelo menos isso...
            Na internet, nos vários registros (e a expressão dos “não-registros”, de que o mundo segue “muito bem, obrigado!”), os feicebuqueanos, em alguns jornalões... A impressão que tivemos é que nada como uma notícia trágica para termos o que fazer, o que noticiar. Até mesmos as inúmeras charges que foram publicadas (muitas delas realmente expressivas) parecem ceder ao fato-notícia.
            E pouco, muito pouco, vislumbramos um horizonte que dê fim a imagens como a de Aylan Kurdi (em turno) ou Alan (em curdo) na semana passada.

Foto de Nilufer Demir - Agência de Notícias Dogan / Turquia

            Uma foto que, paradoxalmente, transformou-se em símbolo de uma tragédia que está atingindo milhares de refugiados que tentam chegar à Europa. Como assim, “símbolo de uma tragédia?”... Como assim, “símbolo”?
            Não faltaram símbolos na história recente da humanidade e suas atrocidades a crianças. Atrocidades que tinham um único propósito: PODER! Um símbolo novo?
               Temos vários símbolos...
            As 88 crianças de Lídice (antiga Tchecoslováquia), assassinadas em campos de extermínio, por gás, com suas mães, avós, tias durante a II Guerra Mundial e que por si só já deveriam ser lembradas para não se repetir tal atrocidade... e repetiu-se.

Memorial das Crianças Vítimas da Guerra em Lídice

            As crianças palestinas mortas na faixa de Gaza não morrem porque são terroristas... morrem porque são palestinas.


            As crianças vietnamitas na “Guerra do Vietnã” morreram porque eram exatamente...vietnamitas.


http://historiaonline.com.br/
2014/09/24/para-refletir-a-guerra-a-fome-e-a-negacao-do-futuro-2/

crianças mortas pelo uso de bombas napalm, americanas
            E as crianças do Afeganistão, assassinadas por drones americanos? Eram afegãs, e ponto.
http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2015/03/sobre-o-fascismo-democratico-de-mercado.html

            Na Ditadura em vários países da América Latina (Brasil, incluído, em que pese não se reconhecer como latino)
            – O que é, então? (Strovézio)...
            – Tá’í, Strovézio... uma boa pergunta... mas, sobre as crianças, algumas morreram no ventre de mães, violentadas e torturadas e outras fotografadas como terroristas e outras tantas tiradas de seus pais e entregue para serem adotadas... por seus algozes. E o que elas eram?
http://oglobo.globo.com/cultura/livros/
livro-reune-historias-de-criancas-presas-torturadas-ou-exiladas-durante-ditadura-no-brasil-14496104
            As crianças iemenitas, assassinadas por drones americanos (eles, de novo), o que eram, senão, crianças iemenitas?
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/os-mortos-invisiveis/
            E as crianças da Síria? Morreram por que? Senão pelo fato de serem talvez um “efeito colateral” da ação imperialista e de países europeus em uma vazia defesa da democracia... E por serem crianças sírias.
http://www.publico.pt/mundo/noticia/forcas-sirias-acusadas-de-ataques-quimicos-perto-de-damasco-1603577
            Crianças indígenas, americanas, não morreram, claro, porque eram americanas.., Mas porque eram indígenas... Assim como crianças indígenas na América Latina... Assim como crianças indígenas no Brasil, cujos massacres e assassinatos de índios não sai e não sairá nos jornalões e semanários indignados com a sujeira, a corrupção, a desonestidade e seus inúmeros e hipócritas blá-blá-blá's, justamente por seu rabo preso com o mesmo poder que os corrompe...: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/01/crianca-indigena-de-oito-anos-e.html
           
            Crianças indígenas, curdas, sírias, vietnamitas, iemenitas, etíopes, iraquianas, palestinas, haitianas (e seus pais longe, tentando reencontrar a vida e suas famílias), latino-americanas... crianças pobres, negras, periféricas... crianças que até “pagam” por serem exatamente isso...
http://www.jornalopcao.com.br/posts/opcao-cultural/flagelo-que-nos-aflige-a-fome-que-nos-consome
            Tenho certeza de que nosso público – de jovens, adultos, idosos – se chocou com as fotos, se sensibilizou com as charges, comentou, “curtiu”, compartilhou, zapzapiou e o escambal com essa foto, com a história da família de Aylan. Talvez até tenham se indignado com o fato de países europeus, e não menos que Estados Unidos e/ou Canadá, estarem numa sina de não assumirem a responsabilidade por toda essa histórica situação de milhares e milhares de pessoas fugindo de suas casas, se suas famílias, de suas comunidades, de suas histórias para tentar chegar em um novo lugar no qual continuarão a serem a mesma coisa... fugitivas.
            Mas, mesmo diante desta certeza, ainda me pego diante de uma imagem que, também, nos denuncia... historicamente...


            Rosa Luxemburgo, em tempos de presságios claros da I Guerra Mundial, alertando a humanidade (e, claro, os trabalhadores) a agir antes que fosse tarde demais, afirmava "Socialismo ou Barbárie"...
            Para Aylan e milhares e milhares de crianças e seus adjetivos, já é tarde demais. Já é a barbárie.
            Nosso Picadeiro está de luto... e em luta!

            Venham Todos!
            Venham Todas!

4 comentários:

  1. Lamentável...humanos perderam a sua humanidade!
    Na ânsia de poder, os homens perderam a noção das atrocidades que vem cometendo contra seres tão indefesos.

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    1. Caríssima Andrea...
      Seja bem vinda ao nosso espaço de terra batida e lona furada... Mesmo que as boas vindas sejam dadas em um texto que dói muito no coração deste Circo.
      A Humanidade perdeu tanto a noção que, mesmo no que diz respeito à questão dos refugiados na Europa, mesmo depois da foto de Aylan correr o mundo... elas continuam. As atrocidades e as fotos...
      Não podemos recuar...

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  2. Sua análise política foi inócua. As imagens falam por si só o quanto temos sido filhos da puta.

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  3. Prezado Evandro...
    Sempre recebemos todo e qualquer comentário em nosso humilde picadeiro de terra batida e lona furada de braços abertos. Não somos hipócritas, conhecemos todos os palavrões do mundo e um pouco mais... mas, também nos damos o direito de respeitar os ouvidos e olhos alheios... Peço, nas próximas visitas, que contenham os termos, independente a quem sejam dirigidos... E tenho parcial acordo contigo, quanto à qualidade inócua de nossa manifestação... Um espaço (enquanto blog) tão pequeno, com tão poucos seguidores e de publicações irregulares (ainda que permanentes) parece-me realmente inócuo ante à barbaridade destes acontecimentos... Espero que possa nos contribuir com uma análise melhor... Nunca, aqui, quis ser a "tampa de crush", mas também são poucos os que se permitem o debate franco e fraterno. Da próxima visita, aproveite melhor nosso espaço..

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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira