RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Lições de um tempo que já passou... Um dia de aniversário...

“Feliz Aniversário/
Envelheço na cidade”

(Ira)


São realmente inúmeras as passagens que temos em nossa memória, principalmente quando nos aproximamos ou já adentramos aos novos caminhos daquilo que coloquialmente convencionou-se a ser apelidado como “os entas” (40, 50, 60...). Aliás, foi assim que inaugurei a seção de “Lições de um tempo que já passou”, neste Circo. Inaugura-o falando de uma passagem vivida em idos 3 anos de idade, o pequeno “palhacinho”. O interessante daquela passagem foi a manifestações de amigos ao longo da vida, dizendo que conheciam aquela Rua, aquela “vilinha”... Se o mundo é pequeno, imaginem a Vilinha...
Pelo terceiro ano seguido, passo um 22 de setembro por essas bandas virtuais (a primeira celebração brogueira de meu aniversário foi, na verdade, no saudoso ArcaMundo) e acabei, hoje, por ficar recordando, logo quando estava acordando, as histórias de meus 22’s de setembro’s, talvez não os 40 (não tenho a mínima idéia do que aconteceu no meus primeiros três aniversários, apenas a impressão de que algumas cenas que ficaram em minha memória diziam respeito a eles), mas uma parte significativa deles: criança, adolescente, jovem, adulto... alguns com uma energia palpitando imensuravelmente, outros desafiando-me insistentemente.
Passei alguns aniversários em silêncio. Coisas da vida, a internet ainda não fazia parte de nosso cotidiano; Orkut, então, nem pensar!!!
Particularmente, recordo de um 22 de setembro de lições, mais do que de festa (festa, tipo festa mesmo). Lições que puderam ser celebradas por dias antes e dias depois daquele 22 de setembro, razoavelmente recente.
Passei, em um determinada época de meus ares pernambucanos, um período um tanto quanto recluso. Acho, sinceramente, que todos merecem seus períodos de recluso, e merecem, também, tê-lo no tempo e espaço que acharem necessário. Foi, à bem da verdade, um período interessantemente produtivo, nas minha viagens científicas e musicais, amadurecendo meu trabalho docente (Ah! Que saudades do Projeto Nossa Escola!), a minha luta e seus devidos e necessários aprendizados. Enfim, uma reclusão que não se tratou propriamente de sumir do mapa, mas de algumas coisas e pessoas importantes não estarem tão próximas, mais por meu protagonismo.
Era ainda a virada do ano (ou seja, nove meses antes deste particular 22 de setembro) e estávamos celebrando mais um Natal, mais um aniversário do querido Ardigam “Bucho de Zebra” (como meus amigos da época do Movimento Estudantil chamavam painho), e a vinda de parentes do Rio de Janeiro para aqueles dias. O particular daquele ano? O difícil caminho de reaproximação, após alguns anos de silêncio recíproco. Meses depois, em um final de semana de agosto, em um Dia dos Pais, um livro de presente e, finalmente, o 22 de setembro.
Um dia de certa tranqüilidade, aulas no mestrado, dia de estudos e uma passada na casa de (já reaproximado) painho e Glauce, pois esta havia dito “venha almoçar aqui em casa hoje, visse?”.
Por lá, naquele jeito único, característico de painho, um livro: Chatô! O Feliz Aniversário expresso mais do que na obra literária, expresso mais do que no presentear, ato contínuo e contraditório de consumo e do compartilhar. O Feliz Aniversário em todos os seus pequenos atos, que implicava em dizer, sem pronunciar necessariamente essas palavras, “estamos bem e felizes de novo!”. Palavras nunca ditas, mas eternamente expressadas.
... e ainda não cortei o cabelo, a única coisa que ele queria...

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!


Marcelo “Russo” Ferreira


P.S.: Hoje é aniversário de minha jovem irmã, filha de Glauce. Exatos 10 anos de diferença. Ela está em Angola, longe, longe... Feliz Aniversário, Silvinha.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Carta a um amigo - Belém, 08 de setembro de 2009

“Meu caro amigo me perdoe por favor,
Se não lhe faço uma visita...”
(Chico Buarque).

Olá, velho/a amigo/a
Como sempre, espero que esta que agora chega em suas mãos o/a encontre em paz e harmonia, sem nunca perder, claro, a indignação e a esperança, par necessário à vida e à luta por um mundo melhor.
Da última vez que te escrevi, pedia-lhe “desculpas” por tanto tempo sumido. E cá estou de novo, sete meses depois, tendo que pedir-lhe, num tom mais “nordestes” que releve essa nova demora. Os caminhos foram muitos, o trabalho também... Mas nada que concretamente justifique essa ausência. Foi “farrapage”, reconheço... Mas minha memória e carinho por nossa amizade, ah! essa nunca farrapa (percebeste como estou mais para Pernambuco do que para o Pará... mas continuo, firme, forte e feliz por essas terras nortistas).
Da última vez que escrevi para ti, falava que as coisas estavam se ajeitando, mas prometia comentar mais sobre o assunto em uma próxima carta. É, parece-me que, mesmo distante, essa é a “uma próxima carta”.
Os amigos da terra, de lutas candangas, estão se fortalecendo cada vez mais. Organizando-nos em Movimentos Sociais (caso do Movimento Nacional Contra a Regulamentação do Profissional de Educação Física – MNCR, não sei se já comentei isso contigo) ou sempre nos aproximando de outros históricos Movimentos, como o MST (que, aqui no Pará, ainda que não seja exceção país afora, enfrenta só barra pesada), construindo trabalhos com os nossos alunos na Universidade. Já nos “inxirimos” até em organizar um Seminário Interativo, dá pra tu? Neste próximo semestre tem mais.
Que mais? Música, ainda que não esteja compondo, voltou a “compor” (sacou? Compondo, compor... rss) a minha vida. Mais violão, mais música em casa, e uma parada maneira com um grande amigo, um trabalho acústico, bacaninha. Em breve, estaremos fazendo sucesso, espere só p’ra ver. É como Saltimbancos: já estão o Jumento e o Cachorro, só faltam a Galinha e a Gata. “Dórme a cidade / Résta um coração / Misterioso / Fáz-se uma ilusão...”
A minha casa está se arrumando também. Espero, mas espero mesmo, dar de presente à Kaia, Hércules e à mandona – com eles – da Janis Joplin mais um espaço por aqui. Já coloquei um muro na frente de casa, prontinho para receber um portão. Quando isso acontecer, a molecada – meus cães, assim os chamo – poderá ficar mais pela garagem, que, cá p’ra nós, por minha casa ser nascente, é bem mais fresco durante o dia. Depois, com calma, a cozinha, o quarto novo, a transferência do meu escritório para o quarto velho, a ampliação da garagem – mais espaço para a molecada – o quintal com grama, piso no lugar do cimento... Acho até que pode demorar um pouquinho. Mas quem é que está com pressa? Oxi! É meu lado baiano rss.
Na Universidade, as coisas também vão acontecendo, no ritmo e, já era hora, no enfrentamento conceitual necessário. Diga-me, caro/a amigo/a: o que pensas sobre a ciência? Essas semanas que se passaram, em uma lista de discussão que participo na internet (uma sala de bate-papo “sem” tempo real, vamos dizer), um professor daqui destas bandas poetizava “A ‘ciência é neutra’! Isso é papo furado!”. Se puderes visitar, acho que vais gostar do que ele escreveu:
http://www.mncrbelem.blogspot.com/. Também andamos debatendo isso dentro da sala de aula, principalmente na disciplina à qual sou titular (Prática de Ensino). Mas, diz aí. O que pensas sobre a ciência?
Ah! Mas teve uma coisa bacana, tu vais até estranhar, mas é da contradição e da dialética mesmo. Estou com uma dupla de orientação de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) – são seis orientações, 01 co-orientação e umas “ajudinha aí, professor!” a mais – que me colocou numa prova de fogo instigante. Ela (a dupla) diverge de minha base conceitual e a orientação continuou mesmo assim. Por que é bacana? Oras, porque estou fortalecendo a minha defesa de “capacidade de autonomia intelectual” com meus alunos, sobre o que estudam, o que escrevem, contra o que escrevem e isso é fan-tás-ti-co! na formação de jovens universitários, sempre acostumados a receberem os conteúdos como verdades-verdadeiras, imutáveis e inquestionáveis. E, agora, fortalece-se essa capacidade de discordar e, mais ainda, de argumentar teoricamente com seu próprio ponto de vista. Tá certo, tenho uma “perda” do ponto de vista conceitual, mas é assim mesmo, vou aprimorando minha capacidade de argumentação e convencimento, também. Mas, ainda assim, inigualável alegria de provar a meus alunos, por eles mesmoa, que sim, eles podem ser... ser... égua! Ser donos de seu pensamento! Isso é revolucionário, não acha?
Mas me conte: soltaste sua vontade em escrever muitas coisas, sem parar? E as sementes que disseste que levaste do Fórum Social Mundial, estão crescendo? Lembro que comentaste também, na resposta da minha última carta, que irias montar um blog. “A soma das coisas”, se não me engano. E então? Como está esta conta? E a poesia de luta? A indignação poética? Conte-me tudo, ok? Demorei para responder-te, mas não a tempo e velocidade para nossa amizade.
No mais, caro amigo/a: Hércules, Kaia e Janis Joplin vão bem, e o muro subiu um pouquinho. Bom para eles e para os vizinhos, que viviam levando susto, principalmente do Hércules.
Continuo cantando, brincando, lutando (que a luta é necessária) e acreditando, como sempre.
Espero vê-lo/a em breve. Ando com saudades de vocês.
Forte abraço
Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira


P.S.: isso é apenas uma carta. Ajuda para retomar o espaço do Universal Circo Crítico, mas não é, acredito, algo que valha a pena ser plagiado.

Deu na Carta Capital... Anos de Chumbo...

"A semana
No Chile não tem conversa: a história manda prender torturadores.
No Brasil, uma parcela minoritária das Forças Armadas e da opinião pública consegue, de tempos em tempos, o menor indício de avivamento do debate em torno da responsabilização legal dos envolvidos nas torturas, desaparições e assassinatos cometidos por representantes do Estado, durante a ditadura que vigorou no País entre 1964 e 1985. No Chile, a história se desenrola de outra maneira.
Na quarta-feira 2, a Justiça chilena expediu a ordem de prisão de 131 ex-militares e policiais envolvidos em ilegalidades de natureza semelhante, na maior ofensiva até aqui registrada contra aqueles que participaram da repressão promovida pelo regime do general Pinochet. No total, aproximadamente 500 ex-militares são objeto de investigação e poderão ter o mesmo destino dos 131.
Algumas dessas violações aos direitos humanos foram cometidas em casos envolvendo a colaboração dos regimes de exceção que vigoraram, na década de 1970, em vários países da América do Sul, empreitada batizada por seus partícipes de Operação Condor. Como se sabe, a repressão chilena, a essa altura dispôs da decisiva colaboração de militares brasileiros para levar adiante os seus crimes."
(Carta Capital - nº 562 - 09 de setembro de 2009 - pg 24)

Vire e volta, o tema toma corpo.
O que é intrigante (e a matéria de Carta Capital é perfeita nessa análise – e nem é tão grande assim) é que ainda vivemos no mundo da parcela minoritária ditando o ritmo.
Não convence mais a idéia de que seria um perigo à soberania do país abrir os arquivos, colocar no banco dos réus os responsáveis pelas atrocidades cometidas contra muitos brasileiros e brasileiras nos anos de chumbo nada brandos da ditadura militar deste país. E devemos fazê-lo, inclusive, pelo bem da história do País, pela memória, pela soberania deste povo.
Como exemplo, basta verificarmos que nossa juventude hoje sequer consegue diferenciar o que foi o movimento “Diretas Já”de 1984 do que aconteceu em 1992, com os chamados (sempre desconfiei deste elogio da imprensa nativa, principalmente Veja, Folha, Isto É etc.) “Catas Pintadas”. Afinal, como a juventude engole Fernando Collor de Melo não apenas ser Senador, mas inclusive ocupar a Academia Alagoana de Letras?
Ainda temos muito o que registrar...
Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira