RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

sexta-feira, 20 de abril de 2012

A Universidade em perigo...









“Que a Universidade passe a se pintar
de preto, de povo, de operário, de camponês”
(Ernesto Che Guevara





            Em meus Discursos de Formatura,, desde 2008 (quando cheguei à Universidade Federal do Pará), sempre venho batendo em uma idéia, em um conceito de Universidade.
            A epígrafe de Ernesto Che Guevara é uma referência, a qual completava em suas palavras que ela, a Universidade, precisava abrir as portas aos párias (segregados por razões raciais ou econômicas de toda ordem), do Projeto de Universidade Pública (e Histórico de Sociedade) que nossa humilde lona de circo acredita.
            Mais ainda, colocávamos, em nossos Discursos, que a Universidade também precisava se pintar de trabalhador, de índio, de mulher e, assim, responder aos verdadeiros anseios à qual uma Universidade, principalmente a Pública, deve responder. Não estar à disposição das demandas do capital (travestido de mercado de trabalho), mas às reais demandas da sociedade.
            E é com essa certeza que atuamos em nossa docência, em nossas pesquisas, em nossas ações de toda ordem junto a este espaço: a Universidade Pública brasileira pertence ao povo brasileiro, principalmente sua parcela mais desvalida econômica e socialmente. O/A preto/a, o povo, o/a operário/a, o/a camponês/a, o/a trabalhador/a, o/a índio/a, o/a quilombola/a, o/a pescador/a, o/a carroceiro/a, o/a favelado/a, o preto-velho, a mulher... Não pertence ao latifundiário, ao banqueiro, ao mega-investidor, ao especulador, ainda que estes usem de todas as artimanhas (projetos sociais, bancos de pesquisa, bolsas de estudos etc.) para lá estarem.
            Assim, neste espaço de disputa entre o Trabalho e o Capital dentro da Universidade Pública brasileira, nos deparamos, volta e meia, com os mais impressionantes descalabros jurídicos, sociais, acadêmicos que possamos imaginar. E basta um “passeio” na literatura científica dos últimos anos para percebermos que ela, a literatura, sempre produz (com ares de ciência) estes descalabros. Assim o é sobre os temas que envolvem a Educação do Campo, sobre a profunda e radical democratização do Esporte enquanto conteúdo historicamente construído, sobre o não pertencimento de qualquer conhecimento à qualquer área etc., mas sempre encontramos produções defendendo cientificamente que não são possíveis sobre qualquer ótica científica. Elas sempre retomam.
            Por estes tempos recentes, algo que mais uma vez mostra o quanto o Capital e seus defensores são capazes de atuar em defesa de seu Projeto Histórico (Capitalista, burguês, opressor e de produção da miséria): uma Pesquisa construída como Dissertação de Mestrado, na área de Geografia, na Universidade Federal do Pará é questionada judicialmente. Seu autor, o Professor Enéias Barbosa Guedes, está sendo processado pela família Abufaiad (latifundiária da região do Marajó) e pelos latifundiários da região por conta da produção acadêmica do referido Professor.
            A Autonomia da Universidade Brasileira, assim, está sob (de novo) ameaça. E a Universidade Brasileira (já dissemos, em particular, a Universidade Pública) volta a ser colocada no banco dos réus do Capital, do Latifundiário, da Agroindústria, dos Poderosos e da Elite de nosso país justamente em algo que lhe é valoroso: a liberdade e autonomia acadêmica e científica...
            Nunca é demais lembrar: são estes mesmos setores, estes púrias de nossa sociedade, que defendem a tal liberdade de imprensa.
            O Universal Circo Crítico aqui manifesta não apenas seu repúdio à família Alfaiad, mas, e principalmente, seu apoio e solidariedade ao Professor Enéias Guedes. E nesta manifestação, nossa posição em defesa da Universidade Pública brasileira... Precisamos pintá-la de preto/a, de povo, de operário/a, de camponês/a, de trabalhador/a, de índio/a, de quilombola/a, de pescador/a, de carroceiro/a, de favelado/a, de mulher, nunca é por demais repetir. E que esta Universidade e a Justiça Brasileira possa, um dia, assinar o atestado de óbito do latifúndio...
            Ainda dá tempo...!

            Apresentamos o link do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (SINPAF) para conhecimento.

Venham Todos!
            Venham Todas!

            Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira

terça-feira, 17 de abril de 2012

17 de abril! Presente!


 “Não sabemos se este novo ataque
será o prelúdio da tão anunciada invasão
dos 5 mil vermes.
Mas lutaremos sobre os cadáveres
de nossos companheiros,
sobre os escombros de nossas fábricas,
cada vez com maior determinação. Pátria ou Morte”
(Ernesto Che Guevara /
Às vésperas de 17 de abril de 1961)

Entre os dias 15 e 19 de abril de 1961, quando ainda se estruturava a revolução cubana enquanto Estado Cubano, a CIA do então presidente americano John Kennedy, juntamente com os governos ditadores (nada de novo na história imperialista norte-americana) da Guatemala (Ydígoras) e Nicarágua (Somoza), estabelecia seu avanço sobre a pequena e revolucionária Ilha do Caribe, na tentativa de restabelecer o governo de Fulgêncio Batista.
Tratava-se de uma ofensiva de de aviões B-26, pilotados por cubanos treinados pela CIA e que bombardeavam as bases aéreas de Santiago, San Antonio de los Baños e Cudad Libertad...
Ao final destes quatro dias, segundo Paco Ignácio Taibo II, “a invasão é um fracasso”... Kennedy estava seguro em seu Gabinete na Casa Branca. Fidel e Che foram para a linha de combate.
A data que nos importa, em particular, aqui, é 17 de abril de 1961. Neste dia, os EUA são derrotados na Bahia dos Porcos (Girón), em Cuba e no dia seguinte, às cinco horas e trinta minutos, os revolucionários cubanos retomam a baía estratégica de seu país. Dois dias depois, 19 de abril, a derrocada final americana frente à pequena ilha revolucionária e que proporcionou, também, a morte de vítimas deste conflito, civis ou militares.
A história da humanidade, de seus conflitos e seus confrontos, revelam que, ainda, esta vã e insana tentativa de destruir o povo cubano e sua conquista revolucionária poderia, no final ao cabo, desencadear um conflito mundial, liderado por EUA e URSS (a então União Soviética) que, fatalmente, representaria a exterminação da humanidade, em um conflito bélico e nuclear sem precedentes.
Em 17 de abril de 1996, 35 anos depois, possivelmente poucas pessoas no Brasil sabiam, nem ao menos celebravam esta data. Claro, não se tratava de nenhuma imagem histórica que favorecia qualquer interesse de aprofundar os valores de submissão da classe trabalhadora ao Imperialismo Americano.
Mas, também bem possivelmente, 19 agricultores, campesino, militantes Sem Terra, em Eldorado dos Carajás no Estado do Pará não imaginavam que nesta data que expressa a capacidade de lutar contra gigantes seria uma data de tristeza, em tempos e ações de luta.
Passados 16 anos daquele 17 de abril de 1996, os artistas e o público do Universal Circo Crítico homenageiam não apenas aqueles 19 lutadores do povo que enfrentaram o braço armado do Estado (Paraense e Brasileiro) com paus e pedras. Como enfrentam com paus e pedras os palestinos contra as armas de precisão de Israel. Como enfrentaram com o mesmo sentimento revolucionário dos Camponeses de Carajás o povo cubano em 1961.
A história da humanidade ensina constantemente: “a luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento” (Milan Kundera).
Não nos esqueçamos de 17 de abril de 1961.
Não nos esqueçamos de 17 de abril de 1996.

17 de abril! Presente!

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

PS.:
Nossa homenagem e nosso compromisso com a verdade de Carajás... Sem assassinos condenados!

Abílio Alves Rabelo (seis tiros);
Altamiro Ricardo da Silva (executado no chão, após receber tiros na perna);
Amâncio Rodrigues dos Santos (hemorragia intracraniana);
Antônio Alves da Cruz (dois disparos de arma de fogo no peito);
Antônio Costa Dias (dois tiros no peito);
Antônio (conhecido como  Irmão – três tiros pelas costas, um no pescoço);
Graciano Olímpio de Souza (Tiro na cabeça, com marcas de lesões típicas de defesa);
João Carneiro da Silva (esmagamento de crânio);
João Rodrigues de Araújo (tiros e marcas de arma branca);
Joaquim Pereira Veras (dois tiros);
José Alves da Silva ((tiros característicos de execução sumária);
José Ribamar Alves de Souza (dois tiros, um a queima roupa);
Leonardo Batista de Almeida (arma branca);
Lourival da Costa Santana (tiro fatal no coração);
Manoel Gomes de Souza (três tiros, na cabeça – execução sumária);
Oziel Alves Pereira (três tiros na cabeça e um no peito – em poder da polícia, algemado);
Raimundo Lopes Pereira (dois tiros na cabeça e um no peito, com marcas de tentativa de defesa);
Robson Vitor Sobrinho (quatro tiros, dois a queima-roupa, pelas costas);
Valdecir pereira da Silva (não consta dados).

Outros dois camponeses hospitalizados após o massacre morreram no hospital.

sábado, 7 de abril de 2012

Como construir ditaduras...





"Aos povos que não podem ou não querem
confrontar-se com seu passado histórico,
estão fadados a repeti-lo"
(Don Paulo Evaristo Arns)




            1º de abril de 1964.
            48 anos se passaram deste dia que a Casta Militar neste país ainda ensina como “Revolução de 64”. Basta um passeio nas Escolas Militares, sobretudo no material dos conteúdos afetos à História do Brasil. Também testemunhamos, todos os anos, a caserna do Colégio Militar (Rio de Janeiro) sempre comemora como sendo aquela data, a garantia de democracia e a proteção do país ante ao avanço da sombra comunista que ameaçava não apenas o Brasil, mas toda a América Latina.
            Assim, entre as décadas de 60 e 80 no século passado, Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Chile (para ficar em uns poucos países e apenas na América Latina) vivenciaram períodos tenebrosos, em que o simples ato de pensar diferente do Estado implicava em prisões, torturas e mortes. Não bastasse matar pessoas por pensarem diferente (em que pese a história da humanidade ter inúmeros registros deste ato), matar torturando-as e a seus familiares. Não bastasse matar torturando, matar vivos, como foram os casos de argentinos e chilenos dopados, colocados em aviões oficiais do Estado e lançados ao mar... dopados, ainda vivos, para se verem morrendo e sem forças para resistir.
Porém, não foram apenas os generais das Forças Armadas destes países os protagonistas das instalações de ditaduras naquele período. Dentre várias condições, a já conhecida Quarta Frota americana estava a postos. Duvidando da competência dos generais locais em colocar seus países (seus políticos, seus partidos, seus intelectuais, seus artistas, seu povo) no lugar e juízo do “american way of life”, estava pronta a força maior bélica dos EUA (derrotada no Vietnã, nos anos 70) para fazer valer sua determinação imperialista, expressa muito bem pelas palavras do já falecido ex-presidente da República (o aparentemente último ditador militar) João Batista Figueiredo; “se é bom para os Estados Unidos, é bom para o Brasil”.
É de conhecimento até do reino mineral que o Estado Brasileiro inventou (até os conservadores são criativos) a tal da Lei de Anistia. Era o estado agindo em benefício não mais do Estado, mas de interesses privados, de pessoas em seus postos de governo. E, também, de interesses de variados setores privados, em particular, os meios de comunicação. A grande beneficiada, durante a ditadura, foi a Rede Globo (não apenas), ao ponto de apenas esta ter resistido a crises financeiras diversas enquanto outras redes sucumbiam, a exemplo da TV Tupi  (que apoiou o Golpe, à bem da verdade) e TV Manchete (bem que tentou ser diferente). Uma Lei formulada e aprovada, com essa magnitude, sem uma profunda e verdadeira expressão dos interesses do povo brasileiro.
Ninguém pode ser punido pelo que fez, em que pese a hercúlea maioria dos “anistiados” terem sido os algozes. Às vitimas, o perdão pelo que pensavam, mas apenas aos vivos, já que, mais óbvio do que as próprias palavras do saudoso José Saramago (em Levantado do Chão), “entre mortos e feridos, ficaram estes”.
Mas entre os “não-estes”, existem os seus próximos. Algo interessante (e que o processo de ser, construir-se, aprender-se lutador do povo tem em seu DNA histórico), pois quem luta não luta sozinho. E não se trata apenas de familiares (pais, esposas/as, filhos e demais parentes), mas, também e inquestionavelmente, de seus amigos, companheiros, companheiras.
Um estado que provoca a angústia, a ausência não explicada e/ou mentida de pessoas a seus entes e amigos queridos ou até a suspeita, a partir de relato de outros presos que, talvez por serem menos “perigosos”, ao mesmo tempo que, também, poderiam conduzir o Estado a outros “pensadores perigosos”, eram liberados dos porões da ditadura e descreviam as características de quem lá estava, de quem lá desapareceu, de quem lá foi morto.
Celebramos o 1º de abril, mas não como se esbaldeia a Caserna incrustada no Clube Militar e espaços/pessoas afins, inclusive antecipando o dia do Golpe para 31 de março, para não cair nas graças do “Dia da Mentira” (que, quanto a “Revolução”, é uma mentira). Aliás, antecipação que só mostra o medo, a covardia insana de dizer que algo aconteceu em outra data, para não coincidir com data alheia.
Celebramos porque a memória daqueles lutadores, 48 anos depois, ainda mobiliza nossa sociedade, na justiça e, que bom, nas ruas. Assim o foi (e com o Estado, protetor do privado, sempre presente) nesta semana em cidades como Rio de Janeiro, em que pessoas apanharam da polícia e foram presas, do mesmo jeito que outrora.
Mas, ainda assim, precisamos ficar atentos... Ditaduras se promovem mundo afora (e algumas com discursos – imperialistas – de democracia e liberdade de expressão), em tempos atuais. E nem são promovidas apenas por Estados Nacionais.
Ditaduras são impostas pelos interesses privados, daqueles advindos da Indústria bélica à Indústria mais avançada da tecnologia e cibernética e que também concede benesses aos interlocutores do Estado.
A ditadura se estabelece pela imposição do medo, único artifício dos que não sabem convencer ninguém. O medo é imposto em sala de aula, em eleições (a mídia sempre soube fazer isso bem), mas também com Tropas de Choque e Polícia Militar, quando chegam e batem seus cassetetes em escudos pesados p’ra dizer “saiam daí, senão entramos”.
A ditadura se estabelece pela violência do estado, quando, após o aviso, entram com força, gás e armas (de borracha ou de fogo, ambas são letais) e derrubam quem estiver na frente. Derrubam e mantém no chão, surrando, batendo, torturando (porque as formas como são conduzidas pessoas pela polícia, quase quebrando-lhes os braços, é tortura)
A ditadura se estabelece pela Lei, que o diga A FIFA, CBF, COI e COB... que o digam o Código Florestal, SOPA (Lei contra a Pirataria Online, em inglês) ou as Leis que muitos municípios brasileiros já criaram, impedindo a chegada de “imigrantes” em suas terras.
A Ditadura se estabelece pela ignorância, pelo “inconhecimento”, pelo investimento da falta de história, cultura e memória. Que o diga o sucateamento da TV Cultura em São Paulo.
A Ditadura se estabelece escondendo a verdade (que sempre será revolucionária, por isso a escondem)... o que dizer uma "Comissão da Verdade" (ainda que com apenas sete membros).
A Ditadura se estabelece das formas mais estranhas, inusitadas, instantâneas e Universais que se podem imaginar... Como um 1º de abril.

Vida Longa aos Lutadores e Lutadoras do Povo que, assim como Mariguella, nos ensinam, todos os dias, que não podemos ter tempo para termos medo. Assim era o avô de nossa Lona e nosso Picadeiro, Hiram de Lima Pereira (“Presente!”)

O Universal Circo Crítico homenageia aqueles que tombaram nos anos de chumbo da história recente do país. Como continua a homenagear aqueles e aquelas que, ainda hoje, continuam a tombar.

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira