RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

sexta-feira, 25 de março de 2016

O tango verdadeiro...



“A luta do homem
contra o poder
É a luta da memória
contra o esquecimento”
(Milan Kundera)


Nem iríamos falar sobre o assunto, o que não quer dizer que o ignoremos.
Afinal, este picadeiro de terra batida e lona furada de circo não é um “blog profissional”. Não somos, nem eu, nem Strovézio, nem os artistas que dizemos que estão aqui, blogueiros.
Somos aventureiros na escrita... Tomamos nossas posições, claramente, sem rodeios. Há quem concorde com elas, há quem não concorde e sempre recebemos as manifestações com franqueza e fraternidade (em que pese algumas poucas vezes a recíproca não ter sido verdadeira).
Mas, diante da importância de 24 de março para a América Latina e do que vimos ontem nos jornalões brasileiros (com a devida exceção do Repórter Brasil, na TVE), nos sentimos com a responsabilidade de não deixarmos pra lá.
– Até porque muitos jornalistas e blogueiros sérios fizeram suas manifestações, né não, Russo?
– Isso, Strovézio... mas temos, também, nosso compromisso e nossa história.
Em 24 de março de 1976, a Argentina foi testemunha de mais um Golpe de Estado orquestrado pelos Estados Unidos, na América Latina. Paraguai (1954), Brasil (1964), Peru (1968), Bolívia e Uruguai (1971), Equador (1972) e Chile (1973).
Destas, a Argentina teve uma das mais sanguinárias... e cujo general-presidente foi condenado e morreu na prisão (não se sabe de nenhum caos político na Argentina por conta disso, como temem os militares e apoiadores da ditadura no Brasil, ao ponto de omitirem fatos e “condenarem” julgamentos)
E eis que o presidente dos Estados Unidos visita a Argentina, com um novo governo disposto a alinhar (no quintal, claro) às suas diretrizes políticas e econômicas, exatamente no dia 24 de março. Se eu, aqui em terras brasilis, me senti ofendido, imagina seu povo.
Ok, OK, vão me dizer que na programação oficial do presidente americano, haviam atividades relativas à data, visita a monumentos e o escambal. E, também, tangos para ele e sua esposa e um passeio a Bariloche, que foi tão importante quanto sua consternação pseudo-humana.
Mas, o que impressiona...
... quer dizer, nem impressiona mais.
Às ruas, movimentos contra a visita de Obama, com milhares de pessoas. Eu disse milhares.
Marcha de 24 de março de 2016 - Buenos Aires

A mídia brasileira gosta de milhares de pessoas, faz jornalismo ao vivo quando elas acontecem... mas quando lhes interessa. É isso que não impressiona mais.
Pois os jornalões brasileiros nem ou muito mal e porcamente fizeram alguma reportagem decente sobre o que significa esta data ao povo argentino e a infeliz visita do representante maior do mentor histórico daqueles tempos. E ainda representa.
O Golpe Militar na Argentina, em 1976, significou um dos exemplos mais cruéis da Política Neoliberal nascente (que retomou nos anos 90 do século passado e praticamente quebrou o país) e de ataque aos direitos dos trabalhadores. Segundo Marco Burkún, o Estado Terrorista “submeteu a maioria da população através da tortura, do desaparecimento e da morte de pessoas, da prisão, do exílio e todas as humilhações próprias das piores práticas dos regimes mais obscuros da história da humanidade, comparáveis com o holocausto, a inquisição ou a eliminação dos povos originários na época colonial” (2012*).
Não foi diferente nos demais países... não foi diferente no Brasil (e este picadeiro sabe muito bem disso). Não dá para defender o retorno deste regime.
Pois bom...
As imagens cedidas por amigos, para nós, são um pequeno alento, pois demonstram que há indignação e, mais ainda, querem que alcance muita gente.
O Universal Circo Crítico, humildemente, cumpre com sua militância e seu compromisso com sua identidade latino-americana.

Calle 13 - Latinoamérica

Em tempos de desesperança, as imagens que nos foram presenteadas nos servem, também, para mantermos viva a nossa esperança na humanidade e por tempos não apenas melhores (não nos confundam com essa direita fascista que acampa em frente da FIESPE e nem com o Governo que continua a incidir ataques aos direitos da classe trabalhadora), mas tempos outros, antagônicos aos que vivemos.
Grato Juan Chapu!
O Universal Circo Crítico homenageia o povo lutador argentino, em seus dias de não esquecer os 40 anos do golpe militar que tentou extinguir com a sua esperança. Não conseguiu.

Larga Vida a los combatientes del Pueblo Argentino!
Vida Longa os Lutadores e as Lutadoras do Povo... sempre Vivas!

Nuestro Honor, en Mercedes Sosa

Canción para mi América - Mercedes Sosa

Venham Todos!
Venham Todas!



quinta-feira, 24 de março de 2016

Conversa ao pé de ouvido de Luísa...


“TRRRRRRIIIIIIIIMMMMMMM....”
– Alô!
– Alô, Russo!? É Strovézio!
– Oxi, de novo! Diz aí... qual foi?
– Tô ligando pra dizer que nasceu Luísa!
– Mas tu, agora, com essa mania de me ligar pra dizer da chegada dos pequenos deste picadeiro...
– Mas é que foi só hoje, um 10 de março, que o telefone do Graham Bell funcionou!


Seja bem-vindo, nossa pequenina Luísa...
Bem assim, te saudamos. Como sempre (ou quase), um pouquinho atrasados... Coisa de circenses preguiçosos.
Dani e Guto. Taí, já chegas com pais apelidados. Já pensou? Não é legal chegar por aqui e saber que seus pais são sempre carinhosamente chamados de Dani e Guto?

– Tá! Mas quando a mãe dele chamava pra dentro era “Paulo Augusto, já pra dentro, minino!” (Strovézio).
– É possível... Com a palavra, o Guto.
– Diz aí, Guto... Como era? (Strovézio).

Chegas em 10 de março, Pequena Luísa. Bom, para um mundo que tem uma tuia de “mil anos” já acumulada, claro, muita coisa aconteceu em muitos “10 de março”. Mas, também é verdade, a maior parte destes “aconteceu em um 10 de março” (como em qualquer outra data) contará mais a história do esquecimento. Os livros, os filmes, os documentos... É verdade que temos as outras versões, que teimam em enfrentar as tais “versões oficiais”. Estas, são exatamente isso: oficiais.
Mas há boas histórias, assim como há histórias de pessoas que chegaram ou partiram neste dia e que vale a pena lembrar. Sempre para nossas lições.
Vens a este mundo menina, mesmo que ainda bebê. Temos acordo, neste picadeiro, que nem nascemos humanos (nos tornamos) e nem nascemos mulher ou homem (nos tornamos também).
Mas, vens menina. E na história das lutas femininas, uma nos ocorre numa longínqua Itália e de tempos em que mundo afora a mulher era apenas “coadjuvante” da existência humana. Nas histórias oficiais, claro.
Em 10 de março de 1946, as mulheres puderam votar pela primeira vez. No Brasil, isso ocorreu em 1933, nas eleições da Assembleia Nacional Constituinte.
Mas, perceba, Pequena Luísa. Não foi um “presente”, ou algo parecido com “ah! Acho que as mulheres já podem votar”. Afinal, 1946 foi um ano após o final da II Guerra Mundial, em que as mulheres de vários países tiveram que conviver com o medo, as bombas, as ocupações de cidades e até as trincheiras... como mulheres.
Mas, durante muito tempo, discursos como aqueles em que o filme “As Sufragistas” denunciam, que afirmavam que “as mulheres não devem exercer o julgamento em assuntos políticos” ou “se as deixarmos votarem, será uma perda da estrutura social” eram, à bem da verdade, a hegemonia das relações humanas durante muito tempo – e, de certa maneira, ainda são. Afinal, à elas estava circunscrito o cuidar familiar, não as decisões políticas e econômicas de uma comunidade, o que dizer de uma nação.
Mas há mais nisso... Pois eram (e ainda são) muitos os segmentos que “não deveriam exercer o julgamento em assuntos políticos” mundo afora. Negros, pobres, analfabetos/não letrados... tantos quantos segmentos à revelia dos setores poderosos estavam/estão à margem do poder de decidir seu futuro?
Hoje, uma cidade chamada Mariana (nome feminino) e tudo o que ela representa na sua região (MG) e centenas de quilômetros “rio abaixo” está refém das decisões de segmentos poderosos. O que uma pequena Cidade pode decidir?
Portanto, Pequena Luísa, nossa primeira lição e, reconhecemos, uma das mais difíceis para quem está acabando de chegar: o poder nunca é o melhor motivo para as decisões. Em canto nenhum, em relação nenhuma, o poder (individual, da força – as vezes, bélica – do dinheiro, do objeto, da desinformação) deve ser a expressão do que é certo ou errado, justo ou injusto. Que você sempre saiba enfrentar, com serenidade e franqueza, uma injustiça feita em favor do mais forte.
É interessante que em um 10 de março na Itália, o direito ao voto está presente neste dia em que celebramos sua chegada. Porque uma jovem mulher, espanhola, também se faz presente neste dia. Trata-se de Manuela Malasaña, considerada uma heroína em seu país e que também nasceu neste mesmo dia, em um longínquo 1791.
Pintura de Eugênio Alvarez Dumont
"Malasaña e sua filha lutando contra os franceses" 
A História desta jovem, costureira, que partiu aos 15 anos, durante as invasões napoleônicas na Espanha é tão simples (sobre seu trabalho) quanto importante (sobre sua coragem). Há diferentes versões sobre sua morte: uma diz que, ao ser capturada por soldados franceses e estar de posse de algumas tesouras, foi considerada uma rebelde perigosa e foi executada (alguns relatos que encontramos, dizem que ela enfrentou os soldados com as tesouras que tinha em mãos). Outra relata que morreu em combate, ajudando seu pai (também em combate) a carregar os fuzis com pólvora. De qualquer modo, Manoela Malasaña foi considerada uma heroína e sua história ficou marcada em um pequeno bairro de Madrid, na Espanha.
Uma jovem, adolescente, enfrentando o avanço de um exército hostil... Quer lição mais bonita? Claro, não está no tom de nosso picadeiro o conflito armado como forma de se lutar por algo para todos. Mesmo em tempos tão nebulosos como os que a recebem. Lembre-se, ainda assim, sempre das lições.
Uma diferença de 50 anos separa histórias que envolvem conflitos bélicos e a vida de toda uma nação. A Guerra dos Bôeres (na África do Sul) em 1902 e o Golpe de Estado de Fugêncio Batista, em Cuba, em 1952. E com suas contradições.
No caso da Guerra dos Bôeres, em que pese ter ocorrido na África do Sul, não envolveu o povo nativo negro, não foi em sua defesa que este conflito se deu. Este, ficou entre ser explorado pelos holandeses (os bôeres) ou os ingleses (os “voortrekers”, algo como migrantes ou andarilhos).
O motivo do conflito? A disputa de jazidas de ouro e diamante na região que conhecemos com o nome de Pretória (hoje, capital do país). Do dia 10 de março, não encontram-se muitas referências detalhadas, mas, diz a lenda que em que pese a derrota dos bôeres na Guerra, eles conseguiram capturar um comandante inglês e seus 200 soldados. Mas, pelo resultado final do conflito (a vitória dos ingleses), isso não serviu para muita coisa.
Já em 1952, Fugêncio Baptista dava um golpe em Cuba. Este “senhor”, foi um ditador sanguinário no país, e um dos motivos para revolução cubana liderada por Fidel e Che. História difícil de se encontrar nos livros, uma Cuba sem presos políticos... apenas mortos... todos. Em 1º de janeiro de 1959, Batista fugiu de Cuba, com o dinheiro de Cuba e sob a proteção dos EUA.
Palavras difíceis para um papo de ouvido, este picadeiro reconhece. Mas, como dissemos, as lições de vários e diferentes “10 de março” são exatamente isso: lições. Ajudam a tomar decisões para onde ir, com quem ir, se ficar ou não... como já mencionamos em outras conversas ao pé de ouvido por aqui.
Em ambos fatos, de suas muitas lições, queremos dar eco a aquela que diz de que lado estamos e de que lado devemos sempre ficar. E, portanto, de quem está neste lado que escolhemos ficar. Do povo negro africano, de 1902 (e durante décadas seguintes – em nome do Apartheid – e até hoje – em nome dos diamantes que países europeus ainda exploram) e do povo cubano de 1952, quw pagaram um alto preço em nome dos interesses capitais e de riqueza de pequenos grupos e poucas pessoas, mas com muito poder... principalmente o bélico.
Escolher de que lado ficaremos, pequena Luísa, é sempre um exercício de verdade (que é) revolucionária. Apenas ela é expressão de uma justiça justa, em nome da vida, em nome da emancipação humana. Se Guerras existem e elas não são para defender a vida, então servem a outro propósito.
Nunca os aceitem, nem esses propósitos, nem as guerras em nome deles.
Mas gostamos também de falar das pessoas... E este picadeiro de terra batida e lona furada de circo adora falar das pessoas!

– Oxi! Tédoidé! Tá dizendo que nós aqui somos fofoqueiros, é? (Strovézio)
– Calma, Strovézio... são as histórias e suas lições... Conversa ao pé de ouvido, moleque!
– Aaaaaaaahhhhhhh, bom... Tá, então...

Pois é... tem gente muito bacana. Mas tem uns calos, que não servem nem de lição para seguir o caminho contrário. Mas, aqui, abrimos mão de citá-las.
Bom... teu pai irá te dizer da gente: “Ó, este circo é comunista. Leem  muita coisa, estudam sempre e, principalmente, a obra de um velhinho de barbas brancas”.
Este velhinho? Karl Marx! E, com seu amigo Frederich Engels, escreveram uma obra fantástica e inquestionavelmente atual sobre a sociedade e o capital.
Bom, se este pequeno circo tem a sua pequena biblioteca, o que dizer de uma obra tão grande? E aí aparece a figura de David Riazanov, que foi o primeiro Diretor do Instituto Marx-Engels de Moscou e responsável por uma das primeiras frentes de trabalho que reuniria a obra de Marx e Engels. Não era apenas um pensador, dotado de grande capacidade intelectual. Era também um revolucionário. E, para ser revolucionário, nos ensinava importante lição: a luta necessita de estudo e os estudos fortalecem a luta.
Mais uma importante lição, Luísa: o estudo não é um mérito apenas individual (em que pese reconheçamos a importância para nossas vidas singulares). O estudo é um compromisso social. Estudamos não apenas para melhorar nossas vidas, materialmente. Mas para transformar a vida de toda uma humanidade.
E já que falamos em estudo, que tal aproveitar que Bernardo Guimarães partiu em um 10 de março (e deixou um grande legado literário) e se aproximar de uma interessante literatura brasileira, hein? Sim, sim... Escrava Isaura, O Seminarista, este apresentador leu... depois bandeei para outros estilos literários.
E desenho muuuuuito, Luísa. Peça sempre um papel e muitas tinhas coloridas. Afinal, um cartunista muito bom, com um trabalho presente na história cultural e política brasileira, também é de 10 de março. Trata-se de Glauco Villas Boas, o Glauco e seus inúmeros personagens e sátiras em quadrinhos e tirinhas de jornal. Me acompanharam boa parte da minha adolescência e juventude.


E, Pequena Luísa, tem a Música! E como nosso picadeiro de terra batida e lona furada gosta de música!
E no dia 10 de março, tem jazz, tem música nordestina e instrumentos de tudo quanto é jeito, tem rock, violão clássico... é tanta coisa bacana, que nem vou me estender muito. Manda teus pais selecionarem tudinho e botar pra tu escutar...

Tem o jazz de Bix Beiderbeck, um dos maiores cornetistas e pianistas de jazz americano. Tipo Louis Amstrong.
Tem o Nordeste muito bem representado por Tavares da Gaita, sapateiro, marceneiro e alfaiate e instrumentista de “primêra”. Talvez por isso tenha construído e inventado tantos instrumentos (dizem que tem mais de 200) bacanas para acompanhar sua capacidade musical incrível... Mais um daqueles verdadeiros músicos esquecidos Brasil afora.
Tavares da Gaita (Sério Músicos de Rua) 

Théo de Barros, e seu violão clássico, tem uma contribuição à música brasileira fantástica. Dentre suas contribuições, “Disparada”, com Geraldo Vandré. Achei essa apresentação dele (já pensou, pra ninar?):

(Théo de Barros / Disparada – Instrumental SESC Brasil)

E, para o bom e velho rock’n’roll, de alguns que nasceram neste dia, vou para um sueco multi-instrumentalista de primeira, chamado Dan Swanö. Tudo que existe de bom (e pesado) no rock europeu está perto deste cara. E como sei que nosso Guto curte um som pesado, também, não podia deixar de escolher o melhor:

(Arjen Anthony Lucassen Star One High Moon Live Floor Jnsen,
Famian Wilson, Russell Allen e Dan Swano)

Lições da música, Luísa? Com essa diversidade e qualidade, a nossa lição é simples: nunca se contente com o “mais do mesmo”. Sempre busque mais melodias onde elas estão aparentemente escondidas. Muitas vezes, estarão dentro de ti também...

Pois bom.
O que nos interessou aqui, pequena Luísa, é um papo inxirido deste picadeiro de terra batida e lona furada. Como sempre fazemos, e a partir de nosso ponto de vista sobre a história, as relações humanas, trazer-lhe pequenas lições que, torcemos muito, lhes poderão ser bastante úteis ao longo da vida.
Guerreira gloriosa, como é a origem de seu nome (com expressões originadas do Latim e, outros entendem, do Alemão), é isso que sua chegada nos traz e é assim que seus pais te saúdam e nos apresentam: Uma Gloriosa Guerreira... ou, para nós, uma Gloriosa Lutadora do Povo!

E por isso, saudamos, Luísa, Gloriosa Guerreira!
Vida Longa, Luísa!
Vida Longuíssima!

Venham Todos!
Venham Todas!


terça-feira, 22 de março de 2016

Conversa ao Pé de Ouvido de Gustavo...


“É tão tarde / a manhã já vem
 Todos dormem / a noite também
 Só eu velo / por você, meu bem
 Dorme anjo / o boi pega neném;
 Lá no céu / deixam de cantar
 Os anjinhos / foram se deitar
 Mamãezinha / precisa descansar
 Dorme, anjo / papai vai lhe ninar”
 (Acalanto – Dorival Caymmi)

– Alô! (Palhaço)
– Alô... Quem é?
– Oi, Russo...é Strovézio...
– Oxi?!?!?! Me ligando? Essa eu não entendi... Tá me ligando por que?
– Pra te avisar que nasceu Gustavinho.
– E desde quando tu me liga pra falar da chegada de nossos pequenos amigos?
– É que hoje é 7 de março...
– E...?
– Ué! Foi quando aquele cara chamado Graham Bell inventou o telefone, ué! Quer melhor maneira de avisar que Gustavinho nasceu do que te dando um telefonema????
– .... Só tu mesmo, Strovézio!!!!!



Viva! Viva! pequeno Gustavo... Ou já podemos chama-lo de Gustavinho?
Nosso picadeiro de terra batida e lona furada celebra sua chegada, dia 7 de março, com muita alegria. Afinal, ela também celebra nossa amizade com Fernando e Kaori, seus pais.
Como sempre fazemos por essas bandas circenses, celebramos com um bom “papo de ouvido” e de lições. Lições, são sempre lições, servem para levarmos em nossa vida e nos ajudam a tomar decisões sobre “pra que lado vou”, “com quem vou”, “se vou ou espero” e por aí vai.
Muita coisa aconteceu em um 7 de março. Muita gente nasceu e outras tantas se despediram neste dia. Nós escolhemos aquelas que, aos nossos olhos, valem a pena não serem esquecidas.
Diz a lenda que nasceste no dia de “Deus Sol Invicto”. Não se trata apenas de uma expressão pagã. Aliás, tem todo um complexo histórico que envolve Imperadores e a Igreja Romana. Papo pra quem gosta deste campo da história (e precisaria fazer uma tuia de estudos aqui e ali) e trata com seriedade essas questões de espiritualidade (até para quem não acredita). De tudo o que sabemos deste “Deus Sol Invicto”, o que nos importa, aqui, é que se trata da mudança do dia de descanso bíblico do sábado para o domingo.
Bom... tu nasceste numa segunda-feira. Mas, pra nós, que somos um Circo, interessa pontualmente que você nasceu no Dia DO Domingo!!!! E Domingo é dia de Circo!!!!!

Mas há outro lado da história, pequeno Gustavo, um lado que também é de tristeza. E este picadeiro não poderia silenciar-se. Afinal, está na nossa essência. A história precisa ser colocada em nossas mãos, pois ela nos guia em nossos passos.
Em 1965, num “domingo sem circo”, a história manchou suas páginas pela intolerância e racismo. Afinal, o tal “berço da democracia” (Estados Unidos... espero sinceramente que nunca tomes este país como exemplo de vida e humanidade) testemunhou o chamado “Domingo Sangrento”, ocorrido numa cidadezinha de nome “Selma”, no Estado do Alabama. Uma cidade em que haviam 15 mil habitantes (maioria negros) e apenas 30 brancos podiam votar... E reivindicar o direito ao voto se transformou em uma transmissão ao vivo de um ato de violência que, hoje, diríamos “inexplicável”... mas quase que fundado na legalidade na época.
A intolerância, o racismo e o preconceito, pequeno Gustavo, são péssimos, os mais horríveis valores que temos em nossa sociedade. Nele se fundam, também, os sentimentos mais obscuros da humanidade. Claro, não estão apenas “dentro” de nós, mas fazem parte de todo um sistema de relações econômicas, políticas e o escambal. Talvez essas letras farão sentido pra ti mais lá na frente.
O principal para nós, em nossa humildade circense, é a lição: que possas sempre nutrir em seu coração o que chamamos de “amor à humanidade”. Se na história dos conflitos, do uso da força em nome da intolerância, algo pode nos deixar de bom, são lições como essa.

Gente bacana nasceu ou partiu num 7 de março, pequeno Gustavinho. Sempre há quem nasce (como você), sempre haverá quem parta.
E começamos com um atleta brasileiro que, infelizmente, não aglutina milhares de fãs, não é rico e famoso, não faz comerciais de TV, não é “intocável”. Talvez ele nem quisesse ser, pois teria que ficar com “rabo preso” a outros interesses.
Em tempos em que ficamos ofuscados por atletas ricos e famosos, mesmo envolvidos em “lambanças” financeiras e coisa e tal, celebramos sua chegada com Diogo Silva, atleta de Taekwondo olímpico brasileiro, que também nasceu em um 7 de março.
Foi nos Jogos Olímpicos de 2004, em Atenas (Grécia) que, ao conquistar a medalha de bronze, ele desferiu seu golpe mais épico e revolucionário. Com uma luva preta na mão direita, ele reproduziu o gesto do Movimento dos Panteras Negras norte-americano, em protesto contra os grandes donos do esporte brasileiro.

Para nós, a segunda lição, com nossa homenagem também a Diogo Silva, acompanha a linha da primeira lição: nunca aceitar o preconceito e a intolerância como coisa normal, nem o poder do mais forte como coisa natural.
Outro cara ar-re-ta-do nasceu em um 7 de março: Danilo Caymmi... um dos fantásticos músicos filhos de Dorival Caymmi... Eita que massa, né não? Afinal, ganhaste de presente (e abre nosso papo ao pé de ouvido) até uma “canção de ninar”... É com “Acalanto” (cantado também por Nana Caymmi) que saudamos nosso papo aqui.
Mas, para a alegria da veia rockeira de nosso Picadeiro, também nasceu em 7 de março, Felipe Andreoli... Não, não é aquele do CQC... Falamos do baixista de Angra (e de outros trabalhos musicais). Pense num baixista de primeira linha e num reconhecido multi-instrumentista de mão cheia!
           
(Kiko Loureiro e Felipe Andreli – Isso é que é duelo!)
           
A Música, Gustavinho... e a música verdadeira, sem marcas de mercado e uso do corpo alheio e da imbecialização de nossa juventude (com suas letras vazias) é sempre bem-vinda. E espero que a Música faça parte de sua vida, como faz parte da vida deste picadeiro. No samba, na MPB, na música clássica, no hip-hop, no frevo, no funk (sim, tem coisa boa no funk), no rock’n’roll... ou outros tantos estilos musicais que dão sentido à vida e às palavras da gente.
Queremos, já chegando pertinho do final deste papo “de ouvido”, falar de mais dois fatos históricos que, também, possam deixar suas lições.
Estás chegando em tempos turbulentos no país. Tempos em que saíram dos livros de história os acontecimentos do Golpe Civil-Empresaria-Militar de 1964 e voltaram às ruas e fora delas. A Mídia, os Empresários (nacionais, mas, principalmente, internacionais), os políticos da direita (e o que há de pior na direita e, também, os de meia pataca), saudosos da Ditadura Militar, Banqueiros e Latifundiários passaram a não querer mais o pacto Capital e Trabalho dos últimos 13 anos de Governos Lula/Dilma. Governos que atuaram melhorando as condições de vida (material e de consumo, acesso a educação entre outros), mas que não mexeram num fio de cabelo dos grandes poderosos deste país, que continuaram a enriquecer.
Esses que hoje vão as ruas com camisa da CBF (corrupta até a “alma”), o fazem em defesa de um hipócrita discurso de combate à corrupção.
Pois bom: foi em 7 de março que na Palestina (que enfrenta a relação bélica de estado dos EUA e Israel – volto a dizer: não se encante pelos Estados Unidos) o seu Congresso Legislativo, após suas primeiras eleições – e com o reconhecimento de 60 Nações, menos aquelas duas ali – inaugurou seus trabalhos, no que foi conhecido como o “Dia da Democracia”.
A luta por democracia é sempre uma luta complexa, mas que revela um pouco do que mencionamos lá no início, sobre intolerância. Se a democracia que se defende é aquela em que “uns são mais iguais que outros”, verdadeiramente, há de se lutar contra isso.
Lutar, Pequeno Gustavo, é um verbo intransitivo-inquestionável... Ok, ok... Na língua portuguesa ele é transitivo. Mas, aqui, caminhamos – como circo que somos – na alegoria. E uma “alegoria concreta”. Lutar é para quem saber ter amor a humanidade. E amor a humanidade é uma expressão que sempre vale a pena repetir.
E aqui o segundo fato histórico: em 7 de março de 1990, partia um dos principais lutadores deste país: Luis Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança.
Livro de sua filha, Anita Leocádia Prestes

Sua história é intensa, é de luta... e é de contradições... Mas é a história de um valor que este picadeiro de terra batida e esta lona furada não abre e não abrirá mão, pequeno Gustavo: o valor do comunismo!
Sabemos que é, sempre, uma lição complexa. Mas, como dissemos lá em cima. As lições nos servem para dizemos que lado vamos, com quem iremos, onde não ficaremos...
É isso, Pequeno Gustavinho...

– Russo, Russo, péra um cadim... (Palhaço)
– Que foi Strovézio...
– Encontrei a música quem embalou o namoro de Fernando e Kaory, mas que eles nunca reveleram...


– Vigi!!!!!! Arrebentou!!!!
– É de Matthew Fischer, um músico britânico que nasceu em um 7 de março... Tudo calculado, moleque! Tudo Calculado!
           
www.drielydesnuda.blogspot.com


Celebramos, Gustavo!
Viva Gustavo!
Vida Longa!

Venham Todos!

Venham Todas!

domingo, 20 de março de 2016

Escutei por aí... Francisco, El Hombre!


Francisco, El Hombre, em apoio às Escolas Ocupadas
em São Paulo, 2015


             “Vem dançar uma horda de milicos
            Querem que todos se comportem
            Que caminhem e vistam-se iguais
            E aqui lhes ensinam a serem normais
            Dizem que os homens devem calar
            Mas, aqui, dizemos que devem gritar”
            (Dicen – minha tradução)


            Estava assistindo a TVE-Brasil, que, há muito, vem dando um baile na saudosa TV Cultura. Bem saudosa, por sinal. Não é apenas pela clara falta de paciência em relação ao baixo nível cultural de nossa TV Aberta (Globo, Rede TV, Band, SBT, Record e doida pra entrar neste seleto grupo, a TV Cultura do país chamado "São Paulo dos Tucanos"), mas também pela programação pai d'égua que ela nos permite, inclusive jornalística.
A gente encontra coisas bacanas todos os dias... ou pelo menos os dias que assistimos. Confesso que não lembro qual foi o programa que assisti na oportunidade. Ficaremos mais atentos nas próximas.
Francisco, El Hombre”, até onde conseguimos conhecer, é de Campinas, meio que “na rua”.
Além da musicalidade, da liberdade visual, com uma pequena lição de que “homem usa saia, e fica muito bem”, da sintonia e do convite a quem está escutando, ao vivo, ou aqui no picadeiro de terra batida e lona furada de circo, o que é mais interessante é que esses caras e essa moça surgem em meio à continuidade e imbecilidade musical de nossa atualidade, que transforma em ídolos musicais coisas vazias.
Arriscaria que o coletivo de Francisco, El Hombre não tá muito preocupado em ser ídolo musical. Oras, o que fazem e como fazem, me diz isso... Quem sabe eles pintem por aqui e nos digam o que querem (ou nem querem nada) com a música que fazem.
Mas, em tempos tão sombrios que se avizinham, eles não são nem um pouco desavisados da vida.
Por exemplo: além da manifestação em apoio às ocupações nas escolas públicas estaduais de São Paulo, em 2015 (aliás, precisam ser ocupadas de novo e em mais Estados), no vídeo que compartilhamos ao final destas palavras, essa galera dá uma "canja-homenagem" aos paneleiros de plantão e suas manifestações repletas de hipocrisia. Tudo de bom...
Mas é escutando “Minha Casa” que este humilde espaço circense já sabe que não está sozinho no mundo. Afinal, e parafraseando Francisco, El Hombre,

“Nosso Circo (“Minha casa”, no original)
 não tem parede, não tem janela, nem tem porta pra trancar
 Amigo que é amigo sabe que sempre será a hora de entrar”


            Mas, como escutei por aí, toca aqui no Circo:

            – Hei, Russo (Palhaço).
            – Diz aí, Strovézio...
            – Solta o cabelo e te liberta, moleque... eita som ar-re-ta-do!
            – E a pois, Strovézio. E a pois...

            Venham Todos!
            Venham Todas!

            E vamos bailar...


quinta-feira, 17 de março de 2016

O resto é hipocrisia...



“Há soldados armados/
 Amados ou não/
 Quase todos perdidos/
 De armas na mão/
 Nos quartéis lhes ensinam/
 Antigas lições/
 De morrer pela pátria/
 E viver sem razão”
 (Pra não dizer que não falei das flores
 Geraldo Vandré - 1968)


Fiquei esses dias pensando, enquanto os acontecimentos iam se dando, particularmente nos entornos de 13 de março, mais um domingo em que muita gente, mesmo, não consegue dizer o que acontece no país quando Dilma sair... E não consegue mesmo.
Mas também me perguntava “o que meus camaradas vem pensando?”. Os que passam aqui por este picadeiro de terra batida e lona furada de circo. E também os que passam e jogam pedras.
– Ainda bem que a pontaria deles é boa, né não? (Palhaço).
– Como assim, Strovézio?
– Oras, acertam bem nos buracos da lona...
– Mas nos acertam aqui dentro. Além do mais, é violência do mesmo jeito.
– É verdade...

“Fora todos!” como palavra de ordem?
Realmente, parece-me uma chamada sem sentido e que repete o mesmo vazio de “contra tudo isso que tá aí” que ecoava em 2013. Sim, em 2013, este picadeiro ficou atento aos acontecimentos bastante estranhos das chamadas “Jornadas de Junho”.

Além do mais, parece-me mais um “fora todos, menos Moro”, pelo lado da direita, claro, o que determinantemente este picadeiro não se identifica.
Porém, algo nos preocupa, e muito, nestes tempos. O medo está à espreita.
Ah! Não é o medo de Dilma sofrer ou não Impeachment. Ou de cassarem ou não o Eduardo Cunha. É o medo das consequências de articulações que não são tão simples.
Mídia, Empresários (FIESP – que apoiou as eleições de Lula), Bancos, Agronegócio (sempre Latifundiários) e uma parte da justiça brasileira. E tudo arraigado em interesses internacionais tão claros, tão evidentes (expressos, por exemplo, nas decisões em torno da Petrobrás, no Senado, num impressionante acordo entre Governo e Oposição), que não tem nem quem tenha coragem de dizer que este picadeiro é fã de carteirinha da teoria da conspiração...
1964 está escrito e inscrito na história... não tem como nos enganarmos.

Mas, as cenas precisam, pelo menos, “sensibilizar” aqueles que aqui passeiam, gritando “comuna”, “vai pra Cuba” e o escambal e, portanto, permito-me convidá-los a responderem:

Andar de bicicleta vermelha, camisa vermelha  (mesmo que seja do Internacional de Porto Alegre ou do América do Rio de Janeiro), boné vermelho, fone de ouvido vermelho, roupa íntima vermelha é razão para apanharem em via pública, por várias pessoas?
Cabelos compridos, barbas mal feitas, ou um cavanhaque com barba grande, uma bolsa mais usada e surrada a tira colo seriam razões para uns tapas e empurrões em via pública?
Pessoas de camisa amarela carregados nos “conflitos” em Brasília, vítimas (?) de gás lacrimogêneo, seriam tão diferentes de professores desmaiados e atropelados nas ruas de Curitiba (só pra ficar nas imagens que a nossa imprensa não pode fingir que não existiram)?
Mais de 24 horas a Avenida Paulista fechada (o coração econômico da maior capital da América Latina), sem as forças de segurança pública obrigando os manifestantes a liberarem a pista? Em frente a FIESP? Com a PM batendo continência? Tá "serto"?
E o Secretário de Segurança Pública de São Paulo, o primeiro nome do escalão da segurança pública paulista (e, portanto, a quem se reporta em continência os PMs do parágrafo acima) sendo escurraçado da Avenida Paulista... não significa nada?
As camisas com imagens dos Panteras Negras, “A casa grande treme quando a favela aprende a ler”, silhueta de Chico Buarque, tira da Mafalda, rosto de Frida e tantas imagens contestadoras terão que ficar guardadas no nossos guarda-roupas, para que pessoas que as usam não apanhem, por simplesmente usá-las?

Se minha cara denunciar que sou ateu?
Se minha cara denunciar que sou comunista?
Se minha cara denunciar que sou soteropaulipernancandense?
– EU SOU BRASILEIRO!!!!!! (gritam os reaças mitados de Bolsonaro e suas camisas da CBF).
Ter a minha cara?

E as pessoas que conheço, mulheres que amam mulheres? Homens que amam homens? Homens-mulheres que amam mulheres-homens? Apanharam mais ainda?
E os coturnos e botas trajando civis, pedindo intervenção militar? Tem saudade de que, no final das contas?
E se eu disser o contrário do que as TVs abertas dizem, em via pública, num ônibus, numa fila de padaria... hein? hein?
Assim será?

Pois, parece, assim está sendo...

Mas este picadeiro não se sente só... Claro que não. Afinal, falávamos, no início, sobre o que nossos camaradas também estão pensando e escutamos de uma de nossas sempre grandes Camaradas Lutadoras do Povo:
– Não podemos deixar que nos roubem o que temos de melhor, nosso amor pela humanidade!
– Viva, Viva, Viva!!!(Strovézio)
Sim... nos arvoramos a bandeira do Amor à Humanidade. E, ainda assim, a sensação que estamos em um tempo em que isso também é mais perigoso do que parece.

O resto é hipocrisia.
O problema é que apenas hipocrisia não nos causaria o temor das possíveis respostas das questões acima.

Faz tempo que dizemos aqui. Tá ficando muito perigoso.

Venham Todos!
Venham Todas!

Venham mesmo...