Aqui é o local onde o picadeiro tem realidade e fantasia.
Os artistas são personagens e pessoas reais.
A música perpassa nossa história e nosso povo.
É onde sempre nos encontramos...
Vida Longa!
Nem iríamos falar sobre o assunto, o que não
quer dizer que o ignoremos.
Afinal,
este picadeiro de terra batida e lona furada de circo não é um “blog
profissional”. Não somos, nem eu, nem Strovézio, nem os artistas que dizemos
que estão aqui, blogueiros.
Somos
aventureiros na escrita... Tomamos nossas posições, claramente, sem rodeios. Há
quem concorde com elas, há quem não concorde e sempre recebemos as
manifestações com franqueza e fraternidade (em que pese algumas poucas vezes a
recíproca não ter sido verdadeira).
Mas,
diante da importância de 24 de março para a América Latina e do que vimos ontem
nos jornalões brasileiros (com a devida exceção do Repórter Brasil, na TVE),
nos sentimos com a responsabilidade de não deixarmos pra lá.
– Até porque muitos jornalistas e blogueiros sérios fizeram suas
manifestações, né não, Russo?
– Isso, Strovézio... mas temos, também, nosso
compromisso e nossa história.
Em 24 de
março de 1976, a Argentina foi testemunha de mais um Golpe de Estado
orquestrado pelos Estados Unidos, na América Latina. Paraguai (1954), Brasil
(1964), Peru (1968), Bolívia e Uruguai (1971), Equador (1972) e Chile (1973).
Destas,
a Argentina teve uma das mais sanguinárias... e cujo general-presidente foi
condenado e morreu na prisão (não se sabe de nenhum caos político na Argentina
por conta disso, como temem os militares e apoiadores da ditadura no Brasil, ao
ponto de omitirem fatos e “condenarem” julgamentos)
E eis
que o presidente dos Estados Unidos visita a Argentina, com um novo governo
disposto a alinhar (no quintal, claro) às suas diretrizes políticas e
econômicas, exatamente no dia 24 de março. Se eu, aqui em terras brasilis, me
senti ofendido, imagina seu povo.
Ok, OK,
vão me dizer que na programação oficial do presidente americano, haviam atividades
relativas à data, visita a monumentos e o escambal. E, também, tangos para ele
e sua esposa e um passeio a Bariloche, que foi tão importante quanto sua
consternação pseudo-humana.
Mas, o
que impressiona...
... quer
dizer, nem impressiona mais.
Às ruas,
movimentos contra a visita de Obama, com milhares de pessoas. Eu disse
milhares.
Marcha de 24 de março de 2016 - Buenos Aires
A mídia
brasileira gosta de milhares de pessoas, faz jornalismo ao vivo quando elas
acontecem... mas quando lhes interessa. É isso que não impressiona mais.
Pois os
jornalões brasileiros nem ou muito mal e porcamente fizeram alguma reportagem
decente sobre o que significa esta data ao povo argentino e a infeliz visita do
representante maior do mentor histórico daqueles tempos. E ainda representa.
O Golpe
Militar na Argentina, em 1976, significou um dos exemplos mais cruéis da
Política Neoliberal nascente (que retomou nos anos 90 do século passado e
praticamente quebrou o país) e de ataque aos direitos dos trabalhadores. Segundo
Marco Burkún, o Estado Terrorista “submeteu
a maioria da população através da tortura, do desaparecimento e da morte de pessoas,
da prisão, do exílio e todas as humilhações próprias das piores práticas dos
regimes mais obscuros da história da humanidade, comparáveis com o holocausto,
a inquisição ou a eliminação dos povos originários na época colonial” (2012*).
Não foi
diferente nos demais países... não foi diferente no Brasil (e este picadeiro
sabe muito bem disso). Não dá para defender o retorno deste regime.
Pois
bom...
As
imagens cedidas por amigos, para nós, são um pequeno alento, pois demonstram
que há indignação e, mais ainda, querem que alcance muita gente.
O
Universal Circo Crítico, humildemente, cumpre com sua militância e seu
compromisso com sua identidade latino-americana.
Calle 13 - Latinoamérica
Em
tempos de desesperança, as imagens que nos foram presenteadas nos servem,
também, para mantermos viva a nossa esperança na humanidade e por tempos não
apenas melhores (não nos confundam com essa direita fascista que acampa em
frente da FIESPE e nem com o Governo que continua a incidir ataques aos
direitos da classe trabalhadora), mas tempos outros, antagônicos aos que
vivemos.
Grato
Juan Chapu!
O
Universal Circo Crítico homenageia o povo lutador argentino, em seus dias de
não esquecer os 40 anos do golpe militar que tentou extinguir com a sua
esperança. Não conseguiu.
Larga
Vida a los combatientes del Pueblo Argentino!
Vida Longa
os Lutadores e as Lutadoras do Povo... sempre Vivas!
– Mas
tu, agora, com essa mania de me ligar pra dizer da chegada dos pequenos deste
picadeiro...
– Mas é
que foi só hoje, um 10 de março, que o telefone do Graham Bell funcionou!
Seja bem-vindo, nossa pequenina Luísa...
Bem
assim, te saudamos. Como sempre (ou quase), um pouquinho atrasados... Coisa de
circenses preguiçosos.
Dani e
Guto. Taí, já chegas com pais apelidados. Já pensou? Não é legal chegar por
aqui e saber que seus pais são sempre carinhosamente chamados de Dani e Guto?
– Tá! Mas
quando a mãe dele chamava pra dentro era “Paulo Augusto, já pra dentro,
minino!” (Strovézio).
– É
possível... Com a palavra, o Guto.
– Diz
aí, Guto... Como era? (Strovézio).
Chegas
em 10 de março, Pequena Luísa. Bom, para um mundo que tem uma tuia de “mil
anos” já acumulada, claro, muita coisa aconteceu em muitos “10 de março”. Mas,
também é verdade, a maior parte destes “aconteceu em um 10 de março” (como em
qualquer outra data) contará mais a história do esquecimento. Os livros, os
filmes, os documentos... É verdade que temos as outras versões, que teimam em
enfrentar as tais “versões oficiais”. Estas, são exatamente isso: oficiais.
Mas há
boas histórias, assim como há histórias de pessoas que chegaram ou partiram
neste dia e que vale a pena lembrar. Sempre para nossas lições.
Vens a
este mundo menina, mesmo que ainda bebê. Temos acordo, neste picadeiro, que nem
nascemos humanos (nos tornamos) e nem nascemos mulher ou homem (nos tornamos
também).
Mas,
vens menina. E na história das lutas femininas, uma nos ocorre numa longínqua
Itália e de tempos em que mundo afora a mulher era apenas “coadjuvante” da
existência humana. Nas histórias oficiais, claro.
Em 10 de
março de 1946, as mulheres puderam votar pela primeira vez. No Brasil, isso
ocorreu em 1933, nas eleições da Assembleia Nacional Constituinte.
Mas,
perceba, Pequena Luísa. Não foi um “presente”, ou algo parecido com “ah! Acho que as mulheres já podem votar”.
Afinal, 1946 foi um ano após o final da II Guerra Mundial, em que as mulheres
de vários países tiveram que conviver com o medo, as bombas, as ocupações de
cidades e até as trincheiras... como mulheres.
Mas,
durante muito tempo, discursos como aqueles em que o filme “As Sufragistas” denunciam,
que afirmavam que “as mulheres não devem
exercer o julgamento em assuntos políticos” ou “se as deixarmos votarem, será uma perda da estrutura social” eram,
à bem da verdade, a hegemonia das relações humanas durante muito tempo – e, de
certa maneira, ainda são. Afinal, à elas estava circunscrito o cuidar familiar,
não as decisões políticas e econômicas de uma comunidade, o que dizer de uma
nação.
Mas há
mais nisso... Pois eram (e ainda são) muitos os segmentos que “não deveriam
exercer o julgamento em assuntos políticos” mundo afora. Negros, pobres,
analfabetos/não letrados... tantos quantos segmentos à revelia dos setores
poderosos estavam/estão à margem do poder de decidir seu futuro?
Hoje, uma
cidade chamada Mariana (nome
feminino) e tudo o que ela representa na sua região (MG) e centenas de
quilômetros “rio abaixo” está refém das decisões de segmentos poderosos. O que
uma pequena Cidade pode decidir?
Portanto,
Pequena Luísa, nossa primeira lição e, reconhecemos, uma das mais difíceis para
quem está acabando de chegar: o poder nunca é o melhor motivo para as decisões.
Em canto nenhum, em relação nenhuma, o poder (individual, da força – as vezes,
bélica – do dinheiro, do objeto, da desinformação) deve ser a expressão do que
é certo ou errado, justo ou injusto. Que você sempre saiba enfrentar, com
serenidade e franqueza, uma injustiça feita em favor do mais forte.
É
interessante que em um 10 de março na Itália, o direito ao voto está presente
neste dia em que celebramos sua chegada. Porque uma jovem mulher, espanhola,
também se faz presente neste dia. Trata-se de Manuela Malasaña, considerada uma heroína em seu país e que também
nasceu neste mesmo dia, em um longínquo 1791.
Pintura de Eugênio Alvarez Dumont
"Malasaña e sua filha lutando contra os franceses"
A História
desta jovem, costureira, que partiu aos 15 anos, durante as invasões
napoleônicas na Espanha é tão simples (sobre seu trabalho) quanto importante
(sobre sua coragem). Há diferentes versões sobre sua morte: uma diz que, ao ser
capturada por soldados franceses e estar de posse de algumas tesouras, foi
considerada uma rebelde perigosa e foi executada (alguns relatos que
encontramos, dizem que ela enfrentou os soldados com as tesouras que tinha em
mãos). Outra relata que morreu em combate, ajudando seu pai (também em combate)
a carregar os fuzis com pólvora. De qualquer modo, Manoela Malasaña foi
considerada uma heroína e sua história ficou marcada em um pequeno bairro de Madrid,
na Espanha.
Uma
jovem, adolescente, enfrentando o avanço de um exército hostil... Quer lição
mais bonita? Claro, não está no tom de nosso picadeiro o conflito armado como
forma de se lutar por algo para todos. Mesmo em tempos tão nebulosos como os
que a recebem. Lembre-se, ainda assim, sempre das lições.
Uma
diferença de 50 anos separa histórias que envolvem conflitos bélicos e a vida
de toda uma nação. A Guerra dos Bôeres
(na África do Sul) em 1902 e o Golpe de
Estado de Fugêncio Batista, em Cuba, em 1952. E com suas contradições.
No caso
da Guerra dos Bôeres, em que pese ter ocorrido na África do Sul, não envolveu o
povo nativo negro, não foi em sua defesa que este conflito se deu. Este, ficou
entre ser explorado pelos holandeses (os bôeres) ou os ingleses (os “voortrekers”,
algo como migrantes ou andarilhos).
O motivo
do conflito? A disputa de jazidas de ouro e diamante na região que conhecemos
com o nome de Pretória (hoje, capital do país). Do dia 10 de março, não
encontram-se muitas referências detalhadas, mas, diz a lenda que em que pese a derrota dos bôeres na Guerra, eles
conseguiram capturar um comandante inglês e seus 200 soldados. Mas, pelo
resultado final do conflito (a vitória dos ingleses), isso não serviu para
muita coisa.
Já em
1952, Fugêncio Baptista dava um golpe em Cuba. Este “senhor”, foi um ditador
sanguinário no país, e um dos motivos para revolução cubana liderada por Fidel
e Che. História difícil de se encontrar nos livros, uma Cuba sem presos
políticos... apenas mortos... todos. Em 1º de janeiro de 1959, Batista fugiu de
Cuba, com o dinheiro de Cuba e sob a proteção dos EUA.
Palavras
difíceis para um papo de ouvido, este picadeiro reconhece. Mas, como dissemos,
as lições de vários e diferentes “10 de março” são exatamente isso: lições.
Ajudam a tomar decisões para onde ir, com quem ir, se ficar ou não... como já mencionamos
em outras conversas ao pé de ouvido por aqui.
Em ambos
fatos, de suas muitas lições, queremos dar eco a aquela que diz de que lado
estamos e de que lado devemos sempre ficar. E, portanto, de quem está neste
lado que escolhemos ficar. Do povo negro africano, de 1902 (e durante décadas
seguintes – em nome do Apartheid – e até hoje – em nome dos diamantes que
países europeus ainda exploram) e do povo cubano de 1952, quw pagaram um alto
preço em nome dos interesses capitais e de riqueza de pequenos grupos e poucas
pessoas, mas com muito poder... principalmente o bélico.
Escolher
de que lado ficaremos, pequena Luísa, é sempre um exercício de verdade (que é)
revolucionária. Apenas ela é expressão de uma justiça justa, em nome da vida,
em nome da emancipação humana. Se Guerras existem e elas não são para defender
a vida, então servem a outro propósito.
Nunca os
aceitem, nem esses propósitos, nem as guerras em nome deles.
Mas gostamos
também de falar das pessoas... E este picadeiro de terra batida e lona furada
de circo adora falar das pessoas!
– Oxi!
Tédoidé! Tá dizendo que nós aqui somos fofoqueiros, é? (Strovézio)
– Calma,
Strovézio... são as histórias e suas lições... Conversa ao pé de ouvido,
moleque!
– Aaaaaaaahhhhhhh,
bom... Tá, então...
Pois
é... tem gente muito bacana. Mas tem uns calos, que não servem nem de lição
para seguir o caminho contrário. Mas, aqui, abrimos mão de citá-las.
Bom... teu
pai irá te dizer da gente: “Ó, este circo
é comunista. Leem muita coisa, estudam
sempre e, principalmente, a obra de um velhinho de barbas brancas”.
Este
velhinho? Karl Marx! E, com seu amigo Frederich Engels, escreveram uma obra
fantástica e inquestionavelmente atual sobre a sociedade e o capital.
Bom, se
este pequeno circo tem a sua pequena biblioteca, o que dizer de uma obra tão
grande? E aí aparece a figura de David Riazanov,
que foi o primeiro Diretor do Instituto Marx-Engels de Moscou e responsável por
uma das primeiras frentes de trabalho que reuniria a obra de Marx e Engels. Não
era apenas um pensador, dotado de grande capacidade intelectual. Era também um
revolucionário. E, para ser revolucionário, nos ensinava importante lição: a
luta necessita de estudo e os estudos fortalecem a luta.
Mais uma
importante lição, Luísa: o estudo não é um mérito apenas individual (em que
pese reconheçamos a importância para nossas vidas singulares). O estudo é um compromisso
social. Estudamos não apenas para melhorar nossas vidas, materialmente. Mas
para transformar a vida de toda uma humanidade.
E já que
falamos em estudo, que tal aproveitar que Bernardo
Guimarães partiu em um 10 de março (e deixou um grande legado literário) e
se aproximar de uma interessante literatura brasileira, hein? Sim, sim...
Escrava Isaura, O Seminarista, este apresentador leu... depois bandeei para
outros estilos literários.
E desenho muuuuuito, Luísa. Peça sempre um papel e muitas tinhas coloridas. Afinal, um cartunista muito bom, com um trabalho presente na história cultural e política brasileira, também é de 10 de março. Trata-se de Glauco Villas Boas, o Glauco e seus inúmeros personagens e sátiras em quadrinhos e tirinhas de jornal. Me acompanharam boa parte da minha adolescência e juventude.
E,
Pequena Luísa, tem a Música! E como nosso picadeiro de terra batida e lona
furada gosta de música!
E no dia
10 de março, tem jazz, tem música nordestina e instrumentos de tudo quanto é
jeito, tem rock, violão clássico... é tanta coisa bacana, que nem vou me
estender muito. Manda teus pais selecionarem tudinho e botar pra tu escutar...
Tem o
jazz de Bix Beiderbeck, um dos
maiores cornetistas e pianistas de jazz americano. Tipo Louis Amstrong.
Tem o Nordeste
muito bem representado por Tavares da Gaita,
sapateiro, marceneiro e alfaiate e instrumentista de “primêra”. Talvez por isso
tenha construído e inventado tantos instrumentos (dizem que tem mais de 200) bacanas
para acompanhar sua capacidade musical incrível... Mais um daqueles verdadeiros
músicos esquecidos Brasil afora.
Tavares
da Gaita (Sério Músicos de Rua)
Théo de Barros,
e seu violão clássico, tem uma contribuição à música brasileira fantástica. Dentre
suas contribuições, “Disparada”, com Geraldo Vandré. Achei essa apresentação
dele (já pensou, pra ninar?):
(Théo de
Barros / Disparada – Instrumental SESC Brasil)
E, para
o bom e velho rock’n’roll, de alguns que nasceram neste dia, vou para um sueco multi-instrumentalista
de primeira, chamado Dan Swanö. Tudo que existe de bom (e pesado) no rock
europeu está perto deste cara. E como sei que nosso Guto curte um som pesado,
também, não podia deixar de escolher o melhor:
(Arjen
Anthony Lucassen Star One High Moon Live Floor Jnsen,
Famian Wilson, Russell
Allen e Dan Swano)
Lições
da música, Luísa? Com essa diversidade e qualidade, a nossa lição é simples:
nunca se contente com o “mais do mesmo”. Sempre busque mais melodias onde elas
estão aparentemente escondidas. Muitas vezes, estarão dentro de ti também...
Pois
bom.
O que
nos interessou aqui, pequena Luísa, é um papo inxirido deste picadeiro de terra
batida e lona furada. Como sempre fazemos, e a partir de nosso ponto de vista
sobre a história, as relações humanas, trazer-lhe pequenas lições que, torcemos
muito, lhes poderão ser bastante úteis ao longo da vida.
Guerreira
gloriosa, como é a origem de seu nome (com expressões originadas do Latim e,
outros entendem, do Alemão), é isso que sua chegada nos traz e é assim que seus
pais te saúdam e nos apresentam: Uma Gloriosa Guerreira... ou, para nós, uma
Gloriosa Lutadora do Povo!
– Oxi?!?!?! Me ligando? Essa eu não entendi...
Tá me ligando por que?
– Pra te avisar que nasceu Gustavinho.
– E desde quando tu me liga pra falar da
chegada de nossos pequenos amigos?
– É que hoje é 7 de março...
– E...?
– Ué!
Foi quando aquele cara chamado Graham Bell inventou o telefone, ué! Quer melhor
maneira de avisar que Gustavinho nasceu do que te dando um telefonema????
– .... Só tu mesmo, Strovézio!!!!!
Viva! Viva! pequeno Gustavo... Ou já podemos chama-lo
de Gustavinho?
Nosso picadeiro
de terra batida e lona furada celebra sua chegada, dia 7 de março, com muita
alegria. Afinal, ela também celebra nossa amizade com Fernando e Kaori, seus
pais.
Como sempre
fazemos por essas bandas circenses, celebramos com um bom “papo de ouvido” e de
lições. Lições, são sempre lições, servem para levarmos em nossa vida e nos ajudam
a tomar decisões sobre “pra que lado vou”, “com quem vou”, “se vou ou espero” e
por aí vai.
Muita
coisa aconteceu em um 7 de março. Muita gente nasceu e outras tantas se
despediram neste dia. Nós escolhemos aquelas que, aos nossos olhos, valem a
pena não serem esquecidas.
Diz a
lenda que nasceste no dia de “Deus Sol Invicto”. Não se trata apenas de uma
expressão pagã. Aliás, tem todo um complexo histórico que envolve Imperadores e
a Igreja Romana. Papo pra quem gosta deste campo da história (e precisaria
fazer uma tuia de estudos aqui e ali) e trata com seriedade essas questões de espiritualidade
(até para quem não acredita). De tudo o que sabemos deste “Deus Sol Invicto”, o
que nos importa, aqui, é que se trata da mudança do dia de descanso bíblico do
sábado para o domingo.
Bom... tu nasceste numa segunda-feira. Mas, pra
nós, que somos um Circo, interessa pontualmente que você nasceu no Dia DO Domingo!!!! E Domingo é dia de Circo!!!!!
Mas há
outro lado da história, pequeno Gustavo, um lado que também é de tristeza. E
este picadeiro não poderia silenciar-se. Afinal, está na nossa essência. A
história precisa ser colocada em nossas mãos, pois ela nos guia em nossos
passos.
Em 1965,
num “domingo sem circo”, a história manchou suas páginas pela intolerância e
racismo. Afinal, o tal “berço da democracia” (Estados Unidos... espero
sinceramente que nunca tomes este país como exemplo de vida e humanidade)
testemunhou o chamado “Domingo Sangrento”, ocorrido numa cidadezinha de nome “Selma”,
no Estado do Alabama. Uma cidade em que haviam 15 mil habitantes (maioria
negros) e apenas 30 brancos podiam votar... E reivindicar o direito ao voto se
transformou em uma transmissão ao vivo de um ato de violência que, hoje,
diríamos “inexplicável”... mas quase que fundado na legalidade na época.
A
intolerância, o racismo e o preconceito, pequeno Gustavo, são péssimos, os mais
horríveis valores que temos em nossa sociedade. Nele se fundam, também, os sentimentos
mais obscuros da humanidade. Claro, não estão apenas “dentro” de nós, mas fazem
parte de todo um sistema de relações econômicas, políticas e o escambal. Talvez
essas letras farão sentido pra ti mais lá na frente.
O
principal para nós, em nossa humildade circense, é a lição: que possas sempre
nutrir em seu coração o que chamamos de “amor à humanidade”. Se na história dos
conflitos, do uso da força em nome da intolerância, algo pode nos deixar de
bom, são lições como essa.
Gente
bacana nasceu ou partiu num 7 de março, pequeno Gustavinho. Sempre há quem
nasce (como você), sempre haverá quem parta.
E
começamos com um atleta brasileiro que, infelizmente, não aglutina milhares de
fãs, não é rico e famoso, não faz comerciais de TV, não é “intocável”. Talvez ele
nem quisesse ser, pois teria que ficar com “rabo preso” a outros interesses.
Em
tempos em que ficamos ofuscados por atletas ricos e famosos, mesmo envolvidos
em “lambanças” financeiras e coisa e tal, celebramos sua chegada com Diogo Silva, atleta de Taekwondo
olímpico brasileiro, que também nasceu em um 7 de março.
Foi nos
Jogos Olímpicos de 2004, em Atenas (Grécia) que, ao conquistar a medalha de
bronze, ele desferiu seu golpe mais épico e revolucionário. Com uma luva preta
na mão direita, ele reproduziu o gesto do Movimento dos Panteras Negras
norte-americano, em protesto contra os grandes donos do esporte brasileiro.
Para
nós, a segunda lição, com nossa homenagem também a Diogo Silva, acompanha a
linha da primeira lição: nunca aceitar o preconceito e a intolerância como
coisa normal, nem o poder do mais forte como coisa natural.
Outro cara
ar-re-ta-do nasceu em um 7 de março: Danilo
Caymmi... um dos fantásticos músicos filhos de Dorival Caymmi... Eita que massa,
né não? Afinal, ganhaste de presente (e abre nosso papo ao pé de ouvido) até
uma “canção de ninar”... É com “Acalanto” (cantado também por Nana Caymmi) que
saudamos nosso papo aqui.
Mas,
para a alegria da veia rockeira de nosso Picadeiro, também nasceu em 7 de
março, Felipe Andreoli... Não, não é
aquele do CQC... Falamos do baixista de Angra
(e de outros trabalhos musicais). Pense num baixista de primeira linha e num
reconhecido multi-instrumentista de mão cheia!
(Kiko
Loureiro e Felipe Andreli – Isso é que é duelo!)
A
Música, Gustavinho... e a música verdadeira, sem marcas de mercado e uso do
corpo alheio e da imbecialização de nossa juventude (com suas letras vazias) é
sempre bem-vinda. E espero que a Música faça parte de sua vida, como faz parte
da vida deste picadeiro. No samba, na MPB, na música clássica, no hip-hop, no
frevo, no funk (sim, tem coisa boa no funk), no rock’n’roll... ou outros tantos
estilos musicais que dão sentido à vida e às palavras da gente.
Queremos,
já chegando pertinho do final deste papo “de ouvido”, falar de mais dois fatos
históricos que, também, possam deixar suas lições.
Estás
chegando em tempos turbulentos no país. Tempos em que saíram dos livros de
história os acontecimentos do Golpe Civil-Empresaria-Militar de 1964 e voltaram
às ruas e fora delas. A Mídia, os Empresários (nacionais, mas, principalmente,
internacionais), os políticos da direita (e o que há de pior na direita e,
também, os de meia pataca), saudosos da Ditadura Militar, Banqueiros e
Latifundiários passaram a não querer mais o pacto Capital e Trabalho dos
últimos 13 anos de Governos Lula/Dilma. Governos que atuaram melhorando as
condições de vida (material e de consumo, acesso a educação entre outros), mas
que não mexeram num fio de cabelo dos grandes poderosos deste país, que
continuaram a enriquecer.
Esses
que hoje vão as ruas com camisa da CBF (corrupta até a “alma”), o fazem em
defesa de um hipócrita discurso de combate à corrupção.
Pois
bom: foi em 7 de março que na Palestina (que enfrenta a relação bélica de
estado dos EUA e Israel – volto a dizer: não se encante pelos Estados Unidos) o
seu Congresso Legislativo, após suas primeiras eleições – e com o
reconhecimento de 60 Nações, menos aquelas duas ali – inaugurou seus trabalhos,
no que foi conhecido como o “Dia da
Democracia”.
A luta
por democracia é sempre uma luta complexa, mas que revela um pouco do que
mencionamos lá no início, sobre intolerância. Se a democracia que se defende é
aquela em que “uns são mais iguais que outros”, verdadeiramente, há de se lutar
contra isso.
Lutar,
Pequeno Gustavo, é um verbo intransitivo-inquestionável... Ok, ok... Na língua
portuguesa ele é transitivo. Mas, aqui, caminhamos – como circo que somos – na alegoria.
E uma “alegoria concreta”. Lutar é para quem saber ter amor a humanidade. E
amor a humanidade é uma expressão que sempre vale a pena repetir.
E aqui o
segundo fato histórico: em 7 de março de 1990, partia um dos principais
lutadores deste país: Luis Carlos
Prestes, o Cavaleiro da Esperança.
Livro de sua filha, Anita Leocádia Prestes
Sua
história é intensa, é de luta... e é de contradições... Mas é a história de um
valor que este picadeiro de terra batida e esta lona furada não abre e não
abrirá mão, pequeno Gustavo: o valor do comunismo!
Sabemos
que é, sempre, uma lição complexa. Mas, como dissemos lá em cima. As lições nos
servem para dizemos que lado vamos, com quem iremos, onde não ficaremos...
É isso,
Pequeno Gustavinho...
– Russo,
Russo, péra um cadim... (Palhaço)
– Que
foi Strovézio...
–
Encontrei a música quem embalou o namoro de Fernando e Kaory, mas que eles
nunca reveleram...
– Vigi!!!!!! Arrebentou!!!!
– É de Matthew
Fischer, um músico britânico que nasceu em um 7 de março... Tudo calculado,
moleque! Tudo Calculado!
Francisco, El Hombre, em apoio às Escolas Ocupadas
em São Paulo, 2015
“Vem dançar uma horda de milicos
Querem que todos se comportem
Que caminhem e vistam-se iguais
E aqui lhes ensinam a serem normais
Dizem que os homens devem calar
Mas, aqui, dizemos que devem gritar”
(Dicen
– minha tradução)
Estava assistindo a TVE-Brasil, que, há muito, vem dando um baile
na saudosa TV Cultura. Bem saudosa, por sinal. Não é apenas pela clara falta de
paciência em relação ao baixo nível cultural de nossa TV Aberta (Globo, Rede
TV, Band, SBT, Record e doida pra entrar neste seleto grupo, a TV Cultura do
país chamado "São Paulo dos Tucanos"), mas também pela programação
pai d'égua que ela nos permite, inclusive jornalística.
A gente encontra coisas bacanas todos os dias... ou pelo menos os
dias que assistimos. Confesso que não lembro qual foi o programa que assisti na
oportunidade. Ficaremos mais atentos nas próximas.
Francisco, El Hombre”, até onde conseguimos conhecer, é de
Campinas, meio que “na rua”.
Além da musicalidade, da liberdade visual, com uma pequena lição
de que “homem usa saia, e fica muito bem”, da sintonia e do convite a quem está
escutando, ao vivo, ou aqui no picadeiro de terra batida e lona furada de
circo, o que é mais interessante é que esses caras e essa moça surgem em meio à
continuidade e imbecilidade musical de nossa atualidade, que transforma em
ídolos musicais coisas vazias.
Arriscaria que o coletivo de Francisco, El Hombre não tá muito
preocupado em ser ídolo musical. Oras, o que fazem e como fazem, me diz isso...
Quem sabe eles pintem por aqui e nos digam o que querem (ou nem querem nada)
com a música que fazem.
Mas, em tempos tão sombrios que se avizinham, eles não são nem um
pouco desavisados da vida.
Por exemplo: além da manifestação em apoio às ocupações nas
escolas públicas estaduais de São Paulo, em 2015 (aliás, precisam ser ocupadas
de novo e em mais Estados), no vídeo que compartilhamos ao final destas
palavras, essa galera dá uma "canja-homenagem" aos paneleiros de plantão
e suas manifestações repletas de hipocrisia. Tudo de bom...
Mas é escutando “Minha Casa” que este humilde espaço circense já
sabe que não está sozinho no mundo. Afinal, e parafraseando Francisco, El
Hombre,
“Nosso Circo(“Minha casa”, no original)
não tem parede, não tem
janela, nem tem porta pra trancar
Amigo que é amigo sabe que
sempre será a hora de entrar”
Mas,
como escutei por aí, toca aqui no Circo:
–
Hei, Russo (Palhaço).
–
Diz aí, Strovézio...
–
Solta o cabelo e te liberta, moleque... eita som ar-re-ta-do!
Fiquei
esses dias pensando, enquanto os acontecimentos iam se dando, particularmente
nos entornos de 13 de março, mais um domingo em que muita gente, mesmo, não
consegue dizer o que acontece no país quando Dilma sair... E não consegue
mesmo.
Mas
também me perguntava “o que meus camaradas vem pensando?”. Os que passam aqui
por este picadeiro de terra batida e lona furada de circo. E também os que
passam e jogam pedras.
– Ainda
bem que a pontaria deles é boa, né não? (Palhaço).
– Como
assim, Strovézio?
– Oras,
acertam bem nos buracos da lona...
– Mas
nos acertam aqui dentro. Além do mais, é violência do mesmo jeito.
– É
verdade...
“Fora
todos!” como palavra de ordem?
Realmente,
parece-me uma chamada sem sentido e que repete o mesmo vazio de “contra tudo
isso que tá aí” que ecoava em 2013. Sim, em 2013, este picadeiro ficou atento
aos acontecimentos bastante estranhos das chamadas “Jornadas de Junho”.
Além do
mais, parece-me mais um “fora todos, menos Moro”, pelo lado da direita, claro,
o que determinantemente este picadeiro não se identifica.
Porém,
algo nos preocupa, e muito, nestes tempos. O medo está à espreita.
Ah! Não
é o medo de Dilma sofrer ou não Impeachment. Ou de cassarem ou não o Eduardo Cunha. É o
medo das consequências de articulações que não são tão simples.
Mídia,
Empresários (FIESP – que apoiou as eleições de Lula), Bancos, Agronegócio (sempre Latifundiários) e uma parte da justiça
brasileira. E tudo arraigado em interesses internacionais tão claros, tão
evidentes (expressos, por exemplo, nas decisões em torno da Petrobrás, no Senado, num
impressionante acordo entre Governo e Oposição), que não tem nem quem tenha
coragem de dizer que este picadeiro é fã de carteirinha da teoria da
conspiração...
1964
está escrito e inscrito na história... não tem como nos enganarmos.
Mas, as cenas precisam, pelo menos, “sensibilizar” aqueles que aqui passeiam, gritando
“comuna”, “vai pra Cuba” e o escambal e, portanto, permito-me convidá-los a responderem:
Andar de
bicicleta vermelha, camisa vermelha (mesmo que seja do Internacional de Porto Alegre ou do América do Rio de Janeiro), boné vermelho, fone de ouvido vermelho, roupa íntima vermelha é razão para apanharem em via pública, por várias
pessoas?
Cabelos
compridos, barbas mal feitas, ou um cavanhaque com barba grande, uma bolsa mais
usada e surrada a tira colo seriam razões para uns tapas e empurrões em via
pública?
Pessoas
de camisa amarela carregados nos “conflitos” em Brasília, vítimas (?) de gás
lacrimogêneo, seriam tão diferentes de professores desmaiados e atropelados nas ruas de
Curitiba (só pra ficar nas imagens que a nossa imprensa não pode fingir que não
existiram)?
Mais de
24 horas a Avenida Paulista fechada (o coração econômico da maior capital da América
Latina), sem as forças de segurança pública obrigando os manifestantes a liberarem a pista? Em frente
a FIESP? Com a PM batendo continência? Tá "serto"?
E o
Secretário de Segurança Pública de São Paulo, o primeiro nome do escalão da
segurança pública paulista (e, portanto, a quem se reporta em continência os
PMs do parágrafo acima) sendo escurraçado da Avenida Paulista... não significa
nada?
As camisas
com imagens dos Panteras Negras, “A casa grande treme quando a favela aprende a
ler”, silhueta de Chico Buarque, tira da Mafalda, rosto de Frida e tantas imagens
contestadoras terão que ficar guardadas no nossos guarda-roupas, para que
pessoas que as usam não apanhem, por simplesmente usá-las?
Se minha
cara denunciar que sou ateu?
Se minha
cara denunciar que sou comunista?
Se minha
cara denunciar que sou soteropaulipernancandense?
– EU SOU
BRASILEIRO!!!!!! (gritam os reaças mitados de Bolsonaro e suas camisas da CBF).
Ter a
minha cara?
E as
pessoas que conheço, mulheres que amam mulheres? Homens que amam homens? Homens-mulheres
que amam mulheres-homens? Apanharam mais ainda?
E os coturnos
e botas trajando civis, pedindo intervenção militar? Tem saudade de que, no
final das contas?
E se eu disser o contrário do que as TVs abertas dizem, em via pública, num ônibus, numa fila de padaria... hein? hein?
Assim
será?
Pois, parece, assim está sendo...
Mas este
picadeiro não se sente só... Claro que não. Afinal, falávamos, no início, sobre o que nossos camaradas também estão pensando e escutamos de uma de nossas
sempre grandes Camaradas Lutadoras do Povo:
– Não
podemos deixar que nos roubem o que temos de melhor, nosso amor pela
humanidade!
– Viva,
Viva, Viva!!!(Strovézio)
Sim...
nos arvoramos a bandeira do Amor à Humanidade. E, ainda assim, a sensação que estamos em um tempo em que isso também é mais perigoso do que parece.
O resto
é hipocrisia.
O
problema é que apenas hipocrisia não nos causaria o temor das possíveis
respostas das questões acima.
Faz
tempo que dizemos aqui. Tá ficando muito perigoso.