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“Quando
querem transformar
Dignidade
em doença
Quando
querem transformar
Inteligência
em traição
Quando
querem transformar
Estupidez
em recompensa
Quando
querem transformar
Esperança
em maldição:
É o
bem contra o mal.
E você,
de que lado está”
O texto, desta vez, não é deste picadeiro. Mas é profundamente
bem recebido no seio de nossos artistas circenses, em nosso picadeiro de terra
batida e lona furada.
O contexto é a UFRJ, mas se repete, no todo ou em partes (por
exemplo, a depender da coragem ou covardia de seu reitor, o que não é o caso da
UFRJ, neste momento) em várias Instituições Federais de Ensino Superior do
país. Inclusive na Ilha...
E um particular assustador: professores com a qualidade de Eméritos,
solicitando intervenção do Ministério da Educação. Não é apenas o incômodo da
derrota nas eleições daquela Universidade. É o “ou é do meu jeito e com minhas
pessoas, ou nada funcionará”... É o Golpismo... Na Universidade... como nos anos
pós-64, os anos de chumbo.
Com a palavra, Ronaldo Lima Lins – Professor Emérito da
Faculdade de Letras da UFRJ.
A TRADIÇÃO GOLPISTA
"A tradição golpista não se rende aos costumes democráticos.
Perdedores em disputas eleitorais, concluído o processo, têm
dificuldade em aceitar as regras do jogo e anseiam por interromper o fluxo de
um sistema que, com defeitos e qualidades, é ainda o único que defende e
assegura as liberdades individuais.
Pode-se não gostar da constituição dos fatos, mas é preciso que os
mesmos avancem em seu desdobramento natural para que então tenhamos condições
para proceder a uma boa e autêntica avaliação.
Greves não são dispositivos agradáveis. Os que a deflagram e
sustentam a sua validade em circunstâncias precisas, não ignoram que tais instantes
de intensa dedicação à causa das ideias e das instituições prejudicam o
funcionamento da ‘normalidade cotidiana’ e os atingem pessoalmente. Eles o
fazem conscientes de que alguém, com a força de uma coletividade, deve se
erguer e interpor uma barreira de opiniões capazes de enfrentar, no ambiente
das contradições, a energia de correntes antagônicas perniciosas para um
funcionamento das organizações e das categorias profissionais, antes que as
eliminem às vezes por completo. Isto é o que se passa no atual momento da vida
universitária brasileira, de Norte a Sul. A pretexto de realizar economia na
caixa do governo cortam-se drasticamente verbas destinadas à sustentação das
atividades acadêmicas e retiram fatias inteiras de recursos para as equipes de
limpeza, bolsas de estudo, assistência estudantil, segurança do trabalho e do patrimônio,
intercâmbio de professores, etc. Alguns dos nossos docentes, voltados para o
universo diminuto das suas preocupações, não percebem o fenômeno. Mas outros,
mais atentos, sentem a crise e se movimentam. É motivo bastante para uma greve,
que nos perdoem os indiferentes, mesmo que, diante da apatia dominante, a
paralisação se prolongue como já aconteceu antes, inclusive no final da
ditadura, e como está ocorrendo agora.
Posições contrárias a essas medidas confrontaram-se aos que
tomaram a sua defesa nas assembléias e perderam no voto a opção pela apatia. A
juventude, apesar do preço a pagar, compareceu em peso, em apoio maciço à
deflagração do protesto, em nível nacional. É ela, sem dúvida, a principal
prejudicada pela interrupção das aulas e pela manutenção precária do calendário
universitário com os arremedos da tal ‘normalidade’, que de normal só tem o
nome, porque a falta de manutenção em todos os níveis se mostra mais do que
visível. E felizmente temos estudantes. E temos também funcionários sensíveis
ao processo de degradação e professores corajosos para sustentar a luta.
Hoje dispomos de uma Reitoria diversa de outras que, no passado,
privilegiavam o faz-de-conta em lugar do olhar atento, enquanto exerciam até o
fim os seus mandatos. O Professor Roberto Leher, eleito com margem expressiva
de votos dentro das regras estabelecidas, não possui disposição de espírito
para a insensibilidade. Não ignora que administrar uma instituição do tamanho
da UFRJ representa uma tarefa hercúlea para a qual os movimentos sociais
precisam se somar com a força de sua importância. Pela primeira vez talvez na
história todos os segmentos de atuação universitária se somaram de uma forma ou
de outra ao volume dos protestos. Somente assim, quem sabe, a burocracia
estatal compreenda o valor fundamental do que está em curso em nome da universidade
brasileira pública, gratuita e de qualidade, os postulados primeiros de nossa
visão acadêmica, para que não caiamos nos modelos da privatização, este sim
feroz no cumprimento de seus princípios da indiferença pelo outro e avessos à
democratização do acesso ao conhecimento.
Nós, abaixo-assinados (http://www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR84355), Ilustres professores eméritos, titulares, associados, adjuntos,
assistentes, auxiliares, funcionários e estudantes, venham conosco defender a
UFRJ!"
Venham Todos!
Venham Todas!
Vamos enfrentar os traidores...
Vamos defender a nossa Universidade Pública...