RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

domingo, 29 de março de 2009

O Universal Circo Crítico... Discurso de Formatura...

Prezados membros da mesa, boa noite.

Meus caros alunos, hoje Professores/as Licenciados/as em Educação Física da Faculdade de Educação Física do Campus Castanhal da Universidade Federal do Pará.

Minhas Saudações.

Hoje, vivemos este momento ímpar, que não é nem início nem final, é mais um passo na vida, espero que longa, de vocês. Não importa se o passo é p’ra frente, para os lados ou ate mesmo para trás, não importa, contanto que saiam do lugar em que estão, como bem profetizava musicalmente o saudoso Chico Science, músico pernambucano e precursor do Movimento Mangue Beat: “um passo a frente e você não está mais no mesmo lugar!”.

Sinto-me mais do que honrado em vivenciar este tempo e espaço nesta reta final de um pequeno tempo de um longo processo. Confesso que realmente é estranho, diferente, algo incompreensível ser patrono de uma turma com a qual sequer pude conhecer o seu principal homenageado. Obrigado pelo presente que vocês me deram. Mas este não é meu dia.

Hoje é 27 de março! E é um dia importante para estes que aqui estão, tanto quanto outros 27 de março na vida de homens e mulheres. E é sobre isso que gostaria de falar a vocês: o 27 de março!

Outros tantos e muitos 27 de março marcaram a vida da humanidade. Reis e Rainhas, Duques e Duquesas, Presidentes e políticos, Santos e Pecadores, Atores e Atrizes, Escritores e Escritoras, Músicos e suas canções, Escultores e pintores e suas obras, Militares da Taberna e Revolucionários/Lutadores do Povo (Ah! Os Lutadores do Povo!). Profissionais e não-profissionais de todas as áreas, de todos os olhares e lugares nasceram, viveram fatos importantes ou morreram em um 27 de março. Também os Plebeus, escravos e miseráveis, andarilhos, pobres, negros, índios, homens e mulheres com suas famílias, seus jovens e velhos – cujos nomes não aparecem em nossas consultas em livros ou na internet – pessoas que fazem de suas raízes, de seu lar e de sua terra apenas uma lembrança, pois tiveram que fugir ou estão fugindo da guerra, da fome, do frio, da seca e do desemprego, em busca de esperança e vida, e encontrando, muitas vezes, aquilo que acreditavam ter deixado para traz, por onde passam, também nascem e morrem em um 27 de março.

Em um 27 de março de 1814, o povo Creek, índios norte-americanos, foram expulsos de suas terras, de suas raízes, de seus rituais e de sua relação com a natureza pelas forças militares dos EUA, sob o comando de um certo General Andrew Jackson. O Líder dos Creek’s não tem seu nome nos livros escolares americanos.
Aliás, foi em um também 27 de março de 1966 (um século e meio depois deste fato) que o ator Marlon Brando recusou um Oscar de melhor ator no filme “O poderoso chefão” justamente por discordar do tratamento dado a outra etnia, os índios Sioux, pelo cinema, TV e pelo próprio País. Marlon Brando também fez teatro e, talvez coincidência, hoje é o Dia Mundial do Teatro.

Foi em um 27 de março de 1965 (ainda não completávamos o primeiro ano do período de “branda” agressão do estado brasileiro aos direitos de livre expressão no Brasil – brandos anos de chumbos, segundo a Folha de São Paulo) que foi inaugurada a Ponte Internacional da Amizade entre Brasil e Paraguai, uma estranha contradição, inclusive aos nossos ouvidos e olhos da Educação Física, quase que educados a valorizar as rivalidades esportivas em detrimento da amizade.

Foi em um 27 de março de 1945 que a Argentina concedeu apoio formal à Acta de Chapultepec (México), que, em poucas palavras, determinava que a agressão perpetrada contra qualquer Estado americano seria considerada como dirigida contra todos os signatários, uma pequena e institucional manifestação de assistência recíproca e solidariedade entre as Américas do Norte, Central e Latina, quebrada pelo Imperialismo Norte-americano na Cuba Revolucionária de 1958 e seguida por uma série de barbaridades militares e sociais.

Há 31 anos, em 27 de março de 1978, um país africano de língua portuguesa vivencia livremente o “Carnaval da Vitória”, festa em que o povo angolano celebra a sua independência após a queda, em 1974, da ditadura Salazarista de Portugal. Foi a Revolução dos Cravos neste país europeu, cantada e decantada magnífica e maravilhosamente por José Saramago em Levantado do Chão! O Carnaval Angolano foi reprimido durante o violento período de colônia portuguesa até a Independência daquele país, em 11 de novembro de 1975, quando, sob a liderança de Agostinho Neto, primeiro presidente eleito da República Popular de Angola, volta às ruas com seus batuques e suas máscaras naquele longínquo 1978. Injusto não lembrar também das palavras do poeta Agostinho Neto, falando contra seu algoz em “A Renúncia Impossível – a negação”, da qual destaco o seguinte trecho:

“Não contem comigo
para vos servir as refeições
nem para cavar os diamantes
que vossas mulheres irão ostentar em salões
nem para cuidar das vossas plantações
de algodão e café
não contem com amas
para amamentar os vossos filhos sifilíticos
não contem com operários
de segunda categoria
para fazer o trabalho de que vos orgulhais
nem com soldados inconscientes
para gritar com o estômago vazio
vivas ao vosso trabalho de civilização
nem com lacaios
para vos tirarem os sapatos
de madrugada
quando regressardes de orgias noturnas
nem com pretos medrosos
para vos oferecer vacas
e vender milho a tostão
nem com corpos de mulheres
para vos alimentar de prazeres
nos ócios da vossa abundância imoral
Não contem comigo
Renuncio-me
Eu atingi o Zero”
.

Por falar em Povo que Luta, foi na passagem de meados de 27 de março de 1964 que o médico argentino-cubano Ernesto Guevara, o Chê, discursava na sede da ONU. O bravo revolucionário sentenciava naquela oportunidade:
“Entendemos claramente e afirmamos com toda sinceridade que, no momento atual, a única solução correta para os problemas da humanidade é a suspensão total da exploração dos países dependentes por parte dos países capitalistas desenvolvidos”. Naquele ano, os EUA embargava Cuba a tal ponto que – posso estar exagerando, mas vale a alegoria – se existisse um único charuto cubano em um navio de carga de qualquer outro país a caminho dos Estados Unidos, este não recebia nenhum produto que lá existisse, reafirmando o que até hoje dizem ao mundo: “ou estão conosco, ou estão contra nós”... mesmo que seja apenas um charuto.

Em um 27 de março de 1960 nascia um personagem da música brasileira, do rock nacional, que se tornaria (e se tornou) nossa maior expressão de juventude, e, em que pese o silêncio dos poderosos meios de comunicação, resistiu bravamente aos auditórios que antecipavam a Síndrome do Fantástico aos domingos. Em Índios, Renato Russo versava em alguns trechos:

“Quem me dera, ao menos uma vez,
Ter de volta todo o ouro que entreguei
A quem conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha.
(...)
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Que se cortava sempre um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda.
(...)Explicar o que ninguém consegue entender:
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente.
(...)Provar que quem tem mais do que precisa ter
Quase sempre se convence que não tem o bastante
E fala demais por não ter nada a dizer
(...)Que o mais simples fosse visto como o mais importante
(...)Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês –
É só maldade então, deixar um Deus tão triste.
(...)Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes.
(...)Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos obrigado.
Como a mais bela tribo, dos mais belos índios,
Não ser atacado por ser inocente”
.
Hoje é 27 de março, Dia do Circo e do artista circense. Que data maravilhosa!
Neste dia, em um longínquo 1897, nascia o Abelardo Pinto, o Palhaço Piolim, artista circense e palhaço homenageado por poetas e escritores, na Semana de Arte Moderna em 1922 (quando Piolim tinha apenas 25 anos) por Tarsila do Amaral, Mario e Oswald de Andrade, Anita Malfatti e outros escritores como o maior artista popular do Brasil. Não sou um conhecedor da Obra de Mário de Andrade, mas continuarei garimpando o que um Poeta Modernista teria escrito acerca de seu encantamento à arte do Circo de Piolim. Ele era o “Rei dos Palhaços”. E, se hoje é, também, o Dia do Circo, em homenagem ao Rei dos Palhaços, nada como um trecho da Declaração do Riso da Terra, como se fosse um presente deste dia, um dia especial do Universal Circo Crítico:
Palhaços do mundo. Uni-vos!!!
“(...)nós, Palhaços do mundo, não podemos deixar de dizer aos homens e mulheres do nosso tempo, de qualquer credo, de qualquer país: cultivemos o riso! Cultivemos o riso contra as armas que destroem a vida. O Riso que resiste ao ódio, à fome e as injustiças do mundo. Cultivemos o riso. Mas não o riso que descrimine o outro pela sua cor, religião, etnia, gostos e costumes. cultivemos o riso para celebrar as nossas diferenças. um riso que seja como a própria vida: Múltiplo, diverso, generoso. Enquanto rirmos, estamos em PAZ. – João Pessoa/PB, 2 de dezembro de 2001”.
Caros professores e professoras de Educação Física que aqui estão no exercício de registrar na história desta Faculdade que estão em seu mais absoluto e inalienável direito de trabalhar nesta área de infinitas possibilidades e linguagens. Vocês deixam a Universidade, mas continuam sendo convidados e convocados a não deixá-la. Ainda há muito o que fazer nela. Ainda precisamos, voltando ao legado de Che, pintá-la “de preto, de povo, de operário, de camponês” e essa tarefa é muito grande para nós, professores e professoras, funcionários e estudantes que ainda manter-se-ão vinculados a ela. Tão grande que não podemos fazê-la sozinhos. Ou resolvemos todos juntos, ou fica sem resolver e essa Universidade, a Universidade Brasileira, local de sistematização e organização do conhecimento produzido pela humanidade continuará branca, elitista, patronalista e latifundiária.

À guiza da conclusão, gostaria de deixar lições. Lições que essas palavras e tudo o que pensei ao formulá-las me conduziu:

Por tudo o que falei até aqui, espero que este 27 de março seja o dia, o verdadeiro dia em que suas lutas sejam lutas coletivas. Aliás, não seria luta se não fosse coletiva. E que possamos, de verdade, aprender o quanto o sorriso pode ser revolucionário, o sorriso de bucho cheio e de conhecimentos universais, esse sim, um riso verdadeiro.
Por tudo o que falei até aqui, caros quase ex-alunos e ex-alunas, desejo que este 27 de março seja o dia em que decidimos olhar para o lado e ver lutadores e trabalhadores, não clientes e consumidores e, como tais, sujeitos que lutam por liberdade e vida digna.
Por tudo o que falei até aqui, caros amigos e amigas de profissão, que seja o dia 27 de março aquele em que aprendemos a necessidade de experimentar todos os dias o real valor da solidariedade. O mundo precisa disso mais do que da caridade, esta, cega e descompromissada com as necessárias transformações sociais.
Por tudo o que falei até aqui, caros companheiros e companheiras de profissão, que vocês procurem o zero de Agostinho Neto, até percebermos que, verdadeiramente, vencemos a negação. A negação da justiça, da verdade (essa, sempre será revolucionária), da superação da coisificação do homem, da solidariedade em detrimento da exploração.

Por tudo o que falei até aqui, faço agora serem verbalizadas as minhas palavras de saudação à celebração de vocês, publicada no Universal Circo Crítico em dezembro do ano passado, por conta das notícias virtuais que circulavam das festas de vocês, neste momento de conclusão do curso:

Celebrar! Camaradas!!!
Celebrar...!
A celebração é, com certeza, a mais digna manifestação popular, com a qual a burguesia ainda não conseguiu descobrir seus efeitos na luta do povo, na luta contra o poder que, nada mais é que a luta da memória contra o esquecimento.
Celebrar! Camaradas!
Celebrar...!
Celebrar todas as pequenas descobertas de um povo! Todas as grandes descobertas das pequenas vitórias! Celebrar, também, que conhecemos profundamente nossos inimigos e que, portanto, sabemos como enfrentá-los. E os enfrentamos!
Celebrar! Camaradas!
Celebrar...!
Celebrar os/as amigos/as como companheiros/as de luta! Companheiros/as de vida, de alegrias, de chegadas e partidas. Celebrar as amizades mais profundas, sinceras e particulares. Celebrar até aquelas que, aos nossos olhos desatentos, parecem perdidas. Mas a descobrimos e, assim, são tão preciosas. Pois continuaram cultivando-se em nossa esperança por dias melhores, por um mundo melhor, diferente, divergente, antagônico deste que enfrentamos.
Celebrar! Camaradas!
Celebrar...!
E que a cada celebração, possamos lembrar de nossa luta, de todos os dias, de todos os/as camaradas de luta e de todos os lutadores e lutadoras do povo!
Celebrar! Camaradas!
Celebrar...!
E é preciso, porque a luta nos impõe assim, celebrarmos os que tombaram lutando, pois são (e verdadeiramente são, não foram) capazes de enfrentar de frente as adversidades da luta e das nossas armas ante aquelas que nos oprimem e, por isso, tombaram... não pelas adversidades, mas pela certeza da vitória, não importa a que tempo.
Celebrar! Camaradas!
Celebrar!
Assim como celebramos o nosso futuro, que este, pertence ao povo!
E não poderemos parar de celebrar, nem disfarçar nossa celebração, porque nossa luta não é disfarçada!
Celebremos com nossos filhos e filhas!
Celebremos com nossos pais, mães, avôs, avós, tios e tias, primos e primas!
Celebremos com nossos amores! Com nossos amigos e amigas! Pertos e distantes! Pouco distantes ou muito distantes!
Celebrar! Camaradas!
Celebrar...!
E eis de, em breve, como nunca se viu na história da humanidade, celebrarmos nossa triunfante vitória, a vitória do povo, a vitória dos trabalhadores, a vitória da revolução...
Celebrar! Camaradas!
Celebrar...!
Esse é o nosso maior presente! Esse é nosso maior desafio! Esse é nosso maior compromisso...
Celebrar! Camaradas!
Celebrar...!


Hoje é 27 de março!
Hoje é o dia de vocês!
Vida Longa ao 27 de março!
Vida Longa à turma Paulo César Santos Chaves
Vida Longa!

Venham Todos!
Venham Todas!

Marcelo “Russo” Ferreira


PS.: Esse discurso foi feito exclusivamente para os formandos 2008.2, da Faculdade de Educação Física – Campus Castanhal – Universidade Federal do Pará.

domingo, 22 de março de 2009

O Universal Circo Crítico... Asas de papel...

Era o ano de 1997.
Eu já estava formado, morava em pensão no bairro do Hipódromo, em Recife e já trabalhava no Fantástico Projeto Nossa Escola, como professor de Educação Física. Tinha, naquela época, uma frente de trabalho sempre intensa (e pouco dinheiro): Universidade – como professor convidado em uma disciplina do curso de Educação Física – as minhas primeiras e mais concretas aproximações com o MST, muitos estudos (preparando-me para a seleção de mestrado – não rolou...), meu segundo Estágio de Vivência em Assentamentos, enfim, não somente aquele, mas aqueles anos foram interessantes: pouco dinheiro (algumas vezes, nada) e muita “vida nesta coisa”.
Era um período em que eu escrevia muitas, muitas cartas: Eram cartas para São Paulo, Rio Grande do Sul, Pará, Paraíba, Bahia, Minas Gerais, Piauí... acho que o Brasil inteiro. Não saia caro, pois já conhecia o procedimento de “carta social” dos correios.
Uma destas cartas que iam e vinham se transformou em música. Lembro o quanto curti escrever aquela letra. Na verdade, assim que recebi a carta da Mariana, vi a letra, senti a batida da música, ouvi a melodia no meio daquelas linhas. A carta (como todas as cartas desta amiga de longe, mas que nunca mais soube notícias) tenho até hoje, assim como a letra nunca se perdeu. Não era uma relação de amor, mas uma bela relação de amizade que via um amor nesta relação, aquela que dedicamos a nossos amigos e amigas do coração.
E, na letra, está o que ela escreveu, assim como a minha resposta.
Apresento “Asas de Papel”:

“O.k.! Começamos... / Será que temos que pensar / em não começarmos? / O.k.! Já fizemos... / Será que temos que pensar / em não sairmos na rua, na chuva? / Podemos nos molhar / e lavar o mundo / Podemos só olhar pela janela / E os dez minutos que perdemos / na tarde de sexta-feira / Não voamos, mas viajamos / e nossos pensamentos / não foram a lugares racionais / Enfraqueceram-se os limites / Quais limites?
A meta que vivemos / Não sei quais são os dez, / os dez que nos separam / P’ra onde nós miramos? / Se o amor que cultivamos / vai muito mais além de nós... / ... silêncio!
O.k.! Viajamos... / E o afã que já vivi outrora / faz-se agora no ‘som-litário’ da minha voz / Eu sei que não nos vemos, / mas em asas de papel / voam nossas notícias / Perdi meus documentos / Mas, e daí? / Não sou um número, / pois vivo minha história / Por aí, até lamento / Mas, não me acostumo / Eu resisto, pois queremos mudar... / Pois não?
Será que mudaremos para um outro Mundo? / E o que aprenderemos p’ra esse Mundo?
Agora eu vou p’ra escola / levar minha lição de casa que meu professor passou...”.


Venham Todos! Venham Todas!
Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

segunda-feira, 16 de março de 2009

O Universal Circo Crítico... Dia do Consumidor...

"Um dia um excelente pescador estava voltando de mais um dia de pesca com o seu barco lotado de peixes (como de costume) e um amigo disse:
– Fulano, você é o melhor pescador destas redondezas, e porque não pesca o dia inteiro? Sempre sai de casa bem cedo e volta 10 horas da manhã e passa o dia sem fazer mais nada. Por que não pesca o dia todo, iria pescar muito mais peixe, poderia contratar empregados para te ajudar, poderia virar um grande empresário, com vários barcos, vários funcionários, e blá blá blá...
E o pescador pergunta para ele:
– Mas para quê você quer que eu faça isso tudo, ou construa isso tudo??
E o amigo responde:
– Oras, para ter muito mais dinheiro e ter uma vida tranquila.
Daí o pescador conclui:
– Mas é exatamente o que eu já tenho hoje, uma vida tranquila...."


Essa pequena história, enviada por uma amiga muito especial, meio que nos leva a refletir sobre o dia de ontem – 15 de março, que, diferente de outros anos, ganhou um pouco mais de destaque público, ainda que tímido.
Uma rápida pesquisa sobre “de quem foi a idéia” do dia do consumidor, nos leva a um discurso do então Presidente dos EUA, John Kennedy (em 15 de março de 1962) que, em síntese, defendia o direito do consumidor ser escutado... Estranho isso. Bom, ou seja, existe o Dia Mundial do Consumidor.
No Brasil, dois marcos, parecem-me, levaram esta data ganhar espaço (como disse, ainda que tímido): a instituição do Código de Defesa do Consumidor (veja que interessante: num 11 de setembro... em 1990) e a oficialização da data, pela Lei Federal nº 10.504, de 08 de julho de 2002.
Dados históricos a parte, fiquei pensando em algumas coisas sobre o dia, sobre o consumidor, sobre o consumo.
Primeiro: não existe o Dia do Cidadão. Procurei, pesquisei, google, wikipédia, acheaqui. Até em sítios virtuais de vendas (americanas, sony, submarino) eu procurei. Não tem. E se tiver, foi mais fácil encontrar informações sobre o dia do Consumidor. E, de cara, a primeira e mais fiel impressão de que fomos levados a nos sentirmos mais como consumidores do que como cidadãos.
Tudo bem que exista do Dia do Professor, o Dia do Motorista, o Dia do Aviador. Mas, todos eles e os demais (o índio, o negro, o ribeirinho) são, em síntese, consumidores. Essas e outras datas, inclusive, fazem de todos nós MAIS consumidores. Dia dos professores – compram-se presentes! Dia das Crianças – compram-se presentes! Dia da Páscoa – compram-se presentes! Natal, Dia da Mulher, Dia dos namorados e assim seguimos a sina de todos os Dias de Alguma Coisa: seguimos comprando.
E, neste sábado último, durante minha aula da Universidade, eu e meus alunos, quase todos no último ano de curso superior, assistimos a um vídeo interessantemente didático, sobre a origem das coisas, ou a história do consumismo, além de pesquisar uma coisa aqui, outra ali (não era a primeira vez que eu assistia). Cheguei a algumas pequenas, mas importantes, informações:
1. Consumimos o dobro do que se consumia a 50 anos atrás;
2. Nós já consumimos cerca 33% dos recursos naturais exterminados nas últimas três décadas;
3. Vivemos um tempo em que 5% da população mundial consome 30 % dos recursos naturais do planeta. Se o mundo consumisse igual aos EUA, precisaríamos de cinco planetas;
4. O Dia Mundial do Consumidor não reflete sobre aqueles que não tem nada para garantir sua posição de consumidor ou consumidora. Se não são consumidores, não têm valor;
5. O consumo nos levará a uma escassez de matéria prima que já produz legiões inteiras de andarilhos, constituindo inúmeros ambientes a um nível de erosão do eco sistema tão grande que obriga a essas legiões de nômades, cerca de 200 mil pessoas por dia, a se deslocam de suas raízes para um lugar que certamente não conhecem. E certamente continuarão a passar necessidades. Se juntarmos esse número ao de pessoas que fogem de suas casas, sua terra, sua gente por conta da guerra, esse número chegará a cerca de 500 mil pessoas/dia (ou mais). Essas legiões se transformam em pessoas que dão graças a Deus por conseguirem ser explorados... se chegarem em algum lugar.
Ah! É muito difícil levarmos nossas mentes e corações neste Dia do Consumidor a lugares tão longínquos assim? Então pensemos; por que raios o som da TV sempre aumenta “sozinho” na hora do comercial? Podem reparar, aumenta sim!
Pois bem... por essas e muitas, mas muitas outras, aquele e-mail, recebido por uma pessoa querida, diz muita coisa.
Eu espero que, neste dia que se passou, tenhamos enfrentado o consumo.
Que, neste Dia do Consum(idor)o, tenhamos olhado para as pessoas nos olhos, falado com elas, as escutado. Que tenhamos escutado nossas músicas preferidas, cantado nossas músicas. Quem sabe escrevermos músicas, poemas, crônicas, poesias novas e cantado e declamado gratuitamente. Que possamos ter dado muitos e muitos abraços, de graça, o tempo todo. Que possamos ter sorrido, desde aquele sorriso bobo, de canto da boca, tipo “saudade gostosa de sentir” da pessoa que se ama e, talvez, esteja longe até escancaradas e ensurdecedoras risadas, daquelas que quase tiram o fôlego. Que neste dia tenhamos olhado para frente, para o futuro e para o presente.
Talvez mais do que tudo isso, que neste dia e todos os dias que virão, possamos realmente compreender o que significa lutar pela vida, pela humanidade. E, oxalá, percebamos que a luta por uma vida melhor, não é uma luta individual e, muito menos, uma luta por mais coisas.
Quem sabe, em esse dia chegando e mais gente se vendo como sujeito da história da humanidade, ainda possamos fazer deste mundo, um mundo suficiente para que toda a humanidade siga feliz e revolucionariamente forte.
Feliz Todos os Dias de Luta!

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

sábado, 7 de março de 2009

O Universal Circo Crítico... as Mulheres da minha vida...

As mulheres da minha vida ensinaram-me a amar, ainda que não tenha aprendido direito. Sentava sempre no fundo sala, brincava com meus papéis, não prestava atenção nas aulas. Mas, mesmo assim, pacientemente, ensinaram-me a amar.
As mulheres da minha vida ensinaram-me a respeitar, mesmo que, algumas, poucas ou tantas vezes, não lhes desse o devido respeito. Porque eram bonitas, porque eram cheirosas, porque tinham cabelos que brilhavam, porque tinham uma pele macia, demorei a entender como deveria respeitá-las. Mas, ainda assim, respeitaram meu difícil tempo de aprendizagem.
As mulheres da minha vida ensinaram-me a música, as notas, a melodia, o solfejo, ainda que teimasse em escutar outras coisas. Demorei a ver em todas as minhas músicas, em todas as minhas letras, nas poucas que até foram gravadas, em cada nota que faço, em cada dedilhar que experimento, em cada dissonância que descubro os seus melodiosos ensinamentos. Mas, independente disso, elas cantavam em meus ouvidos.
As mulheres da minha vida ensinaram-me a ciência, mesmo que, certas vezes, provocasse explosões. Não foi fácil perceber o quanto as coisas, as matérias, as células, componentes inumeráveis fundiam-se e confundiam-se em algo que ia infinitamente além das simples combustão científica. Ainda assim, arrumavam pacientemente as conseqüências de minhas explosões e retomavam minhas lições.
As mulheres da minha vida ensinaram-me a partilha, ainda que tantos anos buscasse a solidão. Conversei inúmeras vezes comigo mesmo, com meu violão, com as folhas em branco na minha frente, com meu quarto fechado e silencioso, com meus cães, achando que havia aprendido a viver só e, na verdade, compreendia todas as minhas lições de partilha na solidão. E, quase eternamente, esperavam o meu retorno insólito, como se nunca houvesse partido, como se fosse absolutamente certo que a minha solidão era parte de meu aprendizado.
As mulheres da minha vida ensinaram-me o sorriso, ainda que eu acreditasse ver um rosto cerrado em frente ao espelho.
As mulheres da minha vida ensinaram-me tudo, absolutamente tudo sobre a beleza. E não importa, realmente não importa qual critério, qual parâmetro o mundo tente impor sobre o que é belo, elas me ensinaram a profundidade da beleza humana, mesmo quando não a sabiam.
As mulheres da minha vida ensinaram-me sobre as misturas, os sabores, os temperos. Ensinaram-me sobre o olhar, o tocar, os desejos. Ensinaram-me sobre subjetividades, sobre alegrias e sobre tristezas. Ensinaram-me o riso e o choro, o palco e a platéia, a verdade e a mentira.
As mulheres da minha vida ensinaram-me sobre a luta, tanto quanto sobre o medo. Ensinaram-me o quanto são corajosas quando erguem a cabeça e o quanto são fortes quando parece que não o fazem.
As mulheres da minha vida ensinaram, ensinam-me e, é verdade, continuarão a ensinar-me.
Meu único receio é as mulheres da minha vida abandonarem-me, mas de todas as coisas que elas ensinaram-me e que não aprendi direito é que sem elas nada sou. Se não forem mais, nada serei.
Em meio a infinidade de homenagens desta data, desde aquelas “promocionais” de varejo, até aquelas verdadeiras, que reconhece a história de luta das mulheres como parte da história de luta contra as forças opressoras do capital, faço minha pequena homenagem no Universal Circo Crítico que, sem as mulheres, não seria Universal, não seria Circo, não seria Crítico... Não seria.

Venham todas!
Venham todos!

Vida Longa às mulheres da minha vida! Muitas delas, não as conheço!
Vida Longa!


Marcelo “Russo” Ferreira