RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

domingo, 26 de setembro de 2010

Lições de um tempo que já passou... Um dia de aniversário...


“Feliz Aniversário/
Envelheço na cidade”
(Ira)

            Desde ano passado, o Universal Circo Crítico festeja seu auto-aniversário... ainda que eu não saiba definir o que seria um auto-aniversário. Mas, independente desta ausência conceitual, venho sempre resgatando histórias deste tal 22 de setembro.
            De mais um de meus 22 de setembro, tem aquele período em que eu estava no bom e saudoso Projeto Nossa Escola, um espaço envolvido por um tempo de conquistas, trabalho, amizade e alegria infinitamente superiores aos obstáculos pedagógicos e de trabalho. Infinitamente superiores.
            Mas, já estava por lá a um ano e, naquele ano seguinte, logo no início, o “Tio Marcelo” – professor de Educação Física – teve uma “sacação” que, apesar de ser um tanto quanto “malandra”, em nada tinha de desonesto ou oportunista. Vejam como foi e pensem comigo, certo?
            Bom, a escola era pequena: ia do maternal até a quarta série do ensino fundamental. Cada série com uma turma de, no máximo, 20 alunos (escola pequena e aconchegantesíssima). E, em todas as salas, dentre as imagens próprias da turma, os cartazes das produções das mesmas (inclusive da Educação Física), o cabide para guardar as merendeiras etc., tinha o quadro de “Aniversariantes do Mês”... Que fantástico!
            Chega setembro, e lá vai o Tio Marcelo (Tio Maluquinho para as turmas menores) de sala em sala, colocando a sua folhinha de aniversariante do mês.
            É claro que isso provocou certa expressão de “Assim não vale!” das minhas companheiras de trabalho (menos da professora de Artes, que também achou justa a procissão de plaquinhas), mas, afinal, eu era professor das turmas... Bom, é verdade, eu não dava aula para o maternal e coloquei uma plaquinha lá também. Mas eu visitava a sala do maternal, pois no ano seguinte, eu já estaria trabalhando com aquelas crianças e, então, ia acostumando-as com a minha presença.
            E chega o 22 de setembro. Abraços, beijinhos, criança pulando no pescoço da gente. Claro que o abraço caloroso e amigo de minhas companheiras de trabalho superaram o “assim não vale” das plaquinhas em toda a escola. Dos presentes que recebi (perfume, meia, cueca, caneta, caixa de bombom, brinco – eu usava na época – cartões e mais cartões de aniversário), um buque de flores recebido em uma das salas de aula. Flores do campo.
            Foi uma “arruaça tão da grande”, que quase vira feriado... Ah! Sem falar nos DOIS bolos com a qual tive que desfrutar a cantar parabéns. Pelo menos teve lanche para os professores para a semana inteira.
            Mas, o que eu mais adorei deste dia foi a “construção da surpresa”.
            Como professor de Educação Física (não por obrigação, mas pela construção do trabalho em si) nós organizávamos o Recreio, dividindo os espaços e as vivências que nestes ocorreriam: jogos populares, esporte, jogos de salão etc.. Isso sempre no início da semana, planejando com as crianças a semana inteira.
            E neste 22 de setembro um dos alunos da então 3ª série, o Pedro Henrique, veio me pedir a bola para o futebol (atividade planejada para o campinho de areia da escola). A questão era que o Pedro Henrique era o tipo do menino “aguniado”, inquieto e impaciente com o tempo que se perde com a espera de 1 minuto. Sempre que ele ia pedir a bola, ou o que quer que fosse, para as vivências do recreio, era um tal de “Bora, Tio Marcelo! Tá demorando! Oxi, vai passar o recreio e não vamos jogar direito...”. Imaginem a cena.
            Mas, naquele dia, Pedro Henrique pediu-me a bola e eu falei “só um segundo, Pedro” e ele ficou ali, parado pacientemente. Uma tranqüilidade inédita. Reparei, claro que reparei, mas, nem dei-me por muita conta.
            Quando nos dirigimos para a sala onde ficava o material da escola, ele continuou tranqüilo. Nenhum, mas nenhumzinho “Bora, Tio Marcelo! Oxi!”... e, quando entro na ante-sala da salinha de material, lá está o “Surpresa!”... Um assustado (como chamam em PE) simplesmente delicioso.
            E Pedro Henrique nem se importou pelo fato de, naquele dia, o futebol ter durado apenas 15 minutinhos...
            Saudades do Pedro Henrique!
            Saudades das crianças, das professoras e das trabalhadoras da educação do Projeto Nossa Escola!
            Vida Longa ao Projeto Nossa Escola!

            Venham Todos!
            Venham Todas!

            Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

P.S.: dia 22 de setembro foi aniversário de minha “irmã adotiva” (ou eu sou o irmão adotivo... acho que é isso). Ela continua pelas bandas de Angola... Feliz Aniversário, Silvinha

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O Circo chora... a luta continua...


Da Página do MST em 8 de setembro de 2010

           "A direção estadual do MST no Pará denuncia ação de grupo armado do fazendeiro e ex-deputado federal Josué Bengstson (PTB), que terminou com o assassinato do trabalhador Sem Terra José Valmeristo Soares, na sexta-feira (3/9).
Abaixo, leia a nota.








          O Movimento dos Trabalhadores Ruarais Sem Terra (MST) vem por meio deste denunciar:
          1- A ação de milícia armada do fazendeiro e ex-deputado federal Josué Bengstson (PTB) - que renunciou ao mandato para fugir da cassação por envolvimento na Máfia das Sanguessugas - resultarou na morte do trabalhador rural e militante do MST José Valmeristo Soares, conhecido como Caribé.
          Por volta de 9h da manhã, dois trabalhadores rurais João Batista Galdino de Souza e José Valmeristo (o Caribé) se dirigiam a cidade de Santa Luzia do Pará, quando foram abordados por um grupo de três pistoleiro armados no ramal do Pitoró, que os obrigaram a entrar em um carro, onde foram espancados e torturados.
          Após seção de torturas, foram obrigados a descer no Ramal do Cacual, próximo à cidade de Bragança. João Batista Galdino conseguiu escapar para a mata e ouviu sete disparos.
          2- Chegando à cidade de Santa Luzia João Batista denunciou à polícia, que afirmou não poder ir ao local por ser noite e dificilmente achariam o corpo. A direção do MST denunciou à Secretaria de Segurança Pública do Pará, por meio de Eduardo Ciso, que afirmou mandar um grupo de policiais ao local e que conversaria com o delegado para tomar providências. Nada foi feito e por volta de 10h da manhã de sábado, os trabalhadores rurais encontraram o corpo de José Valmeristo Soares.
          3- Os trabalhadores Rurais Sem Terra estão acampados às proximidades da Fazenda Cambará e a reivindicam para criar um assentamento de Reforma Agrária. A Fazenda Cambará faz parte de uma gleba federal chamada Pau de Remo e possui 6.886 hectares de terras públicas.
          O fazendeiro e ex-deputado federal Josué Bengstson possui 1.800 hectares com títulos. A Promotora de Justiça Ana Maria Magalhães já denunciou varias vezes que se trata de terras públicas. Os trabalhadores já haviam denunciado na ouvidoria agrária do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Ouvidoria Agrária Nacional do MDA, Delegacia Regional do MDA, Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Pará e Secretaria de Segurança Pública do Pará as várias ameaças de morte sofridas do jagunços e da própria polícia de Santa Luzia e Capitão Poço, sem que nenhuma providência tenha sido tomada.
          4- Denunciamos ao conjunto da sociedade brasileira mais esse vergonhoso ato de omissão e conluio da Polícia do Pará com os fazendeiros do Estado, bem como a incompetência da Secretaria de Segurança Pública do Pará e do Governo do Estado em resolver as graves violações dos direitos humanos no campo, que fazem o Estado do Pará atingir o triste posto de campeão nacional de violência no campo. Denunciamos também a inoperância do Incra, bem como o Programa Terra Legal do Governo Federal que não tem resolvido os problemas fundiários mesmo aqueles que chegam ao conhecimento público.
          6- Exigimos a prisão imediata dos pistoleiros que assassinaram o trabalhador José Valmeristo Soares, bem como dos mandantes Josué Bengstson e seu filho Marcos Bengstson.
          7- Exigimos também a desapropriação imediata da fazenda Cambará para o assentamento imediato das famílias acampadas no acampamento Quintino Lira.

Belém, 04 de setembro de 2010

Direção Estadual do MST – Pará"

Vida Longa à Luta dos Trabalhadores do Mundo!
À Luta dos Trabalhadores do Campo!
À Luta dos Trabalhadores da Cidade!

O Universal Circo Crítico presta sua homenagem a Josá Valmeristo Soares - o Caribé!

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira

domingo, 12 de setembro de 2010

“Pagarei com a minha vida a lealdade do povo" (Salvador Allende)...


Foi ontem, é verdade...
Mas passei o dia assistindo programas, reportagens, acessando o que se passava na internet sobre o 11 de setembro e, fica evidente, a nossa memória parece sempre conduzida pelo poder do Império, pela elite mundo afora.
Lamentamos, e isso não poderia ser diferente, as mortes de trabalhadores (prioritariamente os que, no WTC, serviam, limpavam, conduziam...), de bombeiros, de enfermeiros e médicos, dos passageiros das três aeronaves lançadas em dois prédios que, à bem da verdade, eram símbolo do império americano... Evidente que lamentamos.
Mas, perguntas que me saltaram à mente neste 11 de setembro de 2010:
1.    E o Haiti, o que se passa? Como está seu povo? Seus Pobres? Seus enfermos?
2.    E o povo afegão e iraquiano, o que sabemos da herança da invasão norte-america e demais países do império nestes anos de guerra infundada?
3.    E a carnificina cometida pelo Estado Colombiano, ainda sob a batuta do Presidente Álvaro Uribe, na região de Meta, no pequeno povoado de La Macarena, onde foi encontrada (a meros 200 km ao sul de Bogotá) a maior fossa comum da história recente da América Latina (cerca de 2.000 cadáveres), pessoas desaparecidas e que eram líderes sociais, campesinos e defensores comunitários... assassinados pelo exército colombiano? Por que não sabemos disso?
4.    E, olhando para nosso umbigo territorial, quem sabe como estão os municípios de João Alfredo, Aliança, Vicência, Araçoiaba, Belo Jardim, Cachoeirinha, Palmares, Branquinha, Murici, Viçosa, Capela, Rio Largo e os mais de 75 municípios atingidos pelas chuvas torrenciais que atingiram (principalmente) os Estados do PE e AL (mas não atrapalhou a programação jornalística durante a Copa do Mundo)?
5.    E o recente assassinato de José Valmeristo Soares (o Caribe), uma das lideranças do Acampamento Quintino Lira, no último dia 03 de setembro, cujo suspeito (mandante ou executante) é o Deputado Federal Josué Bengstson (PTB)? Por que não temos notícia?
Mais do que simplesmente “assistimos” o silêncio para a tragédia humana permanente revelada nestes e numa infinidade de fatos que nossa história, na forma fantasiosa do jornalismo sério (particularmente o da elite tupiniquim) que, quando a contam, é temporal, serve-se apenas para manter a audiência, o Universal Circo Crítico expressa sua pública opção de classe: lembrar um OUTRO 11 de setembro que teve, como conseqüência, a morte de mais de 3 mil pessoas, entre elas crianças de até 12 anos e mulheres grávidas e grande parte destas mortes como conseqüência de tortura.
Mais uma vez, expressamos nosso pesar sobre as mortes que se consumaram no atentado ao WTC, em 11 de setembro de 2001... Mas, enquanto nos apegarmos apenas a memória dos poderosos, da elite mundial, do Império Capitalista, continuaremos a dar as costas aos pobres, pretos, mulheres, campesinos, militantes, índios e velhos que não “servem” ao acúmulo da riqueza alheia.
E, para não deixarmos de lado nosso exercício poético e aprendiz de lutador, nossa homenagem a Salvador Allende, que in-ques-ti-o-na-vel-men-te, proferiu palavras mais sólidas e históricas do que o ex-presidente americano em outro 11 de setembro. Trata-se da última mensagem difundida pelo então presidente chileno, antes das antenas da Rádio Magallanes serem atacadas pelo exército, na manhã daquele 11 de setembro de 1973.
Com vocês, Salvador Allende:
"Certamente, esta será a ultima oportunidade em que poderei dirigir-me a vocês. A Força Aérea bombardeou as antenas da Rádio Magallanes.
As minhas palavras não têm amargura, mas sim, decepção. Que sejam elas um castigo moral para quem traiu o seu juramento (…)
Colocado num transe histórico, pagarei com a minha vida a lealdade do povo. E digo-lhes que tenham a certeza de que a semente que entregamos à consciência digna de milhares de chilenos, não poderá ser ceifada em definitivo.
Eles têm a força, poderão subjugar-nos. Porém, os processos sociais não se detêm nem com crimes nem com a força. A história é nossa e é feita pelo povo.
Trabalhadores da minha Pátria: quero agradecer-lhes a lealdade que sempre tiveram, a confiança que depositaram num homem que foi apenas intérprete de grandes anseios de justiça, que empenhou a sua palavra no respeito à Constituição e à Lei, e assim o fez.
Neste momento definitivo, o último em que posso dirigir-me a vocês, quero que aproveitem a lição: o capital estrangeiro, o imperialismo, unidos à reacção criaram o clima para que as Forças Armadas rompessem a sua tradição, que lhes fora ensinada pelo general Schneider e reafirmada pelo comandante Araya, vítima do mesmo sector social que hoje estará à espera, com mão alheia, de reconquistar o poder para continuar a defender as suas mordomias e os seus privilégios.
Dirijo-me a vocês, sobretudo à mulher modesta da nossa terra, à camponesa que acreditou em nós, à mãe que soube da nossa preocupação pelas crianças. Dirijo-me aos profissionais patriotas que continuaram a trabalhar contra o levantamento popular estimulado pelas associações de profissionais, associações classicistas que também defenderam as vantagens de uma sociedade capitalista.
Dirijo-me à juventude, àqueles que cantaram e doaram a sua alegria e o seu espírito de luta. Dirijo-me ao homem do Chile, ao operário, ao camponês, ao intelectual, àqueles que serão perseguidos, pois no nosso País o fascismo já esteve presente várias vezes: nos atentados terroristas, explodindo pontes, cortando linhas ferroviárias, destruindo oleodutos e gasodutos, perante o silêncio daqueles que tinham a obrigação de tomar providências.
Eles estavam comprometidos. A história irá julgá-los
Certamente, a Rádio Magallanes será calada e o metal tranquilo de minha voz já não chegará até vocês. Mas isso não é importante. Vocês continuarão a ouvi-la. Ela estará sempre junto de vós. Pelo menos a minha lembrança será a de um homem digno que foi leal com a Pátria.
O povo deve defender-se, mas não se sacrificar. O povo não pode deixar-se arrasar nem se deixar balear, mas tampouco pode humilhar-se.
Trabalhadores de minha Pátria, tenho fé no Chile e no seu destino. Outros homens hão-de superar este momento cinza e amargo em que a tradição pretende impor-se. Prossigam vocês, sabendo que, bem antes que o previsto, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor.
Viva o Chile! Viva o Povo! Viva os Trabalhadores!
Estas são minhas últimas palavras e tenho a certeza de que o meu sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, será uma lição moral que castigará a deslealdade, a covardia e a traição.
Salvador Allende”

Vida Longa a Salvador Allende!
Vida Longa aos lutadores e lutadoras do povo!

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira



terça-feira, 7 de setembro de 2010

Conversa ao Pé de Ouvido de Ana Rosa...

“É comum a gente sonhar eu sei
Quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar
Um sonho lindo de morrer”
(O filho que eu quero ter – Vinícius e Toquinho)

          Salve! Salve! Pequena Ana Rosa! Serás grande, com certeza.
          E que belo nome, hein? Origem espanhola (Anarosa)... Menina cheia de graça e de visão... Se é assim, como quem acaba de chegar, imagina quando mulher se tornar...
          Cá, das bandas do Norte, acompanhávamos de longe sua caminhada e, tomados de surpresa, já recebe o apelido de “apressadinha”. Aninha papa-léguas, talvez. Mas cuidado! Pode ser que alguns professores queiram se aproveitar desta rapidez de sua chegada e transformá-la precocemente em atleta de corrida de velocidade, ou uma nadadora (já que estavas, até poucos dias atrás, em um ambiente totalmente líquido). Não deixe que isso lhe aconteça e oriente seus pais também: brinque, cresça, corra com o vento e contra ele quando for o caso, mas por diversão, por querer senti-lo brisamente em seu rosto. Role, pule, salte as ondas das praias pernambucanas, cariocas, baianas, onde quer que você encontre um mar pela frente. Seja, como Saramago nos dizia, criança que “em sendo, cresce”.
          Fico sempre muito gratificado quando recebo notícias de chegadas como a sua, pois sempre tem algo ímpar e particular nestas oportunidades: seus pais, assim como os pais de tantos que conversamos até hoje, são mais que amigos amigos (e de longa data). São jovens lutadores do povo. E como tal, nos presenteiam com Ana Rosa, para mostrar e ensinar que a nossa luta é também movida por graça e visão. Sem leveza, sem sutilidade, não se tem projeto histórico, e, não o tendo, não se luta por uma vida melhor a todos e todas e a sua chegada, pequena Ana Rosa, nos brinda e nos leva a celebrar: viva e vida à luta dos trabalhadores do mundo!
          Chegaste em 03 de setembro de 2010, alguns dias atrás. E, como sempre, em nosso picadeiro, nossa homenagem à sua chegada é, também, uma homenagem, com suas alegrias e lições, da história da humanidade. Mas esta data tem inúmeras inspirações e, agora, ganha mais uma: o seu nascimento (apressadinha...).
          Foi em um 03 de setembro que, em nosso país, se avizinhou um dos períodos mais complicados da história de nosso país. Aliás, e que tiremos as lições principalmente, foram alguns significativos 03’s de setembro. O primeiro, se deu quando os jesuítas foram expulsos dos domínios portugueses (na Europa e na América e outras invasões ultramarinas)... Estranha contradição, pois os jesuítas, em nosso nascente país (ainda colônia) foram os principais agentes da educação e economia por onde passaram, ao mesmo tempo que foram, também, da inculturação religiosa e social. Portanto, serviram aos ditames da coroa e da “legitimação” do assalto de nossas riquezas naturais. E há quem diga, até hoje, que os índios eram povos “descivilizados” e, por isso, precisam ser educados e salvos do pecado...
          Mas outro 03 de setembro, mais recente, também marcou a história de nosso país. Foi em 1964 que João Goulart, presidente deposto de seu cargo dois dias antes, por um golpe de estado militar (e que implantou uma longa e sangrenta ditadura em nosso país) fez suas últimas refeições em solo brasileiro para nunca mais voltar, em vida. Ele havia partido para um longo e derradeiro exílio político e, veja que sina, sempre chegando em um país em que a mesma ditadura estava a espreita. Uruguai, Argentina, Chile...
          Assim, pequena Ana Rosa, uma pequena lição que, nem duvido, seus pais serão infinitamente mais competentes em lhe contar: a soberania de um país e a soberania de seu povo não pode ser-lhe tirada nem cultural, nem religiosamente e, muito menos, por força das armas e da violência. Uma lição destas não é cedo demais? Talvez não... pensemos na soberania de sua infância e, sabemos, teremos fortalecida a sua luta e alegria em ser criança.
Mas, particularmente, tenho apreço por um 03 de setembro especial: pelo seu protagonista e por sua, digamos, criação: Leon Trotsky (nome de nascimento: Lev Davidovitch Bronstein), um dos principais lutadores do povo soviético na Revolução de Outubro – a primeira revolução dos trabalhadores na história da humanidade – fundava a Quarta Internacional, no México. E sempre que lembro de lutadores como Trotsky, penso em nossa juventude... E serás jovem, pequena Ana Rosa. E, para tanto, presenteio-te com as palavras de Ademar Bogo, em suas “Cartas de Amor”: “Sentiremos o pulsar de cada coração e a igualdade não terá fronteiras; no dia em que a nossa bandeira, estiver na mão da juventude”.
          Ah, pequena Ana Rosa! Quem me dera ter a ousadia de lhe falar de lições, já que palavras como essas, de Ademar Bogo, sempre estarão perto de ti... Que ousadia tenho eu em lhe dizer “ajude nossos jovens, tão perdidos em dias atuais”?
          Sempre nascem pessoas em 03 de setembro... algumas também se vão nesta data.
          Entre os nascidos, acho justo homenagear Mino Carta, jornalista exemplar e corajoso, editor da Revista Carta Capital. Além dele, e que fantástico, ninguém mais, ninguém menos que Eduardo Galeano. Ah! Foi por isso que te apressaste, hein? E que indescritíveis as palavras de Galeano em seu “Mulheres”, quando escreve sobre “O Amor”: “Quando acabou o longo abraço, um aroma espesso, de flores e frutas, invadiu o ar. Dos corpos, que jaziam juntos, se desprendiam vapores e fulgores jamais vistos, e era tanta formosura que os sóis e os deuses morriam de vergonha”. O que dizer...?
          Foram muitos 03 de setembro até sua chegada... e, claro, acabamos (seus amigos e amigas, os amigos e amigas de seus pais, todos/as os seus companheiros de luta e militância... todos/as os/as lutadores/as do povo) de receber de presente mais um, inigualável e indescritível em sua importância e história.

          Assim é seu dia, Pequena Ana Rosa!
          E por isso a saudamos e dizemos Vida Longa ao 03 de setembro!
          Vida Longa a Ana Rosa!

          Venham Todos!
          Venham Todas!

          Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

P.S.: a canção de epígrafe fala do “filho” (menino)... Mas, como era uma canção que as filhas de meu avô sempre escutaram emocionadas, lembrei-me dela e, assim, lembrei-me do mais próximo dos lutadores do povo que tive na vida e, sem sabê-lo, não o tive mais: Hiram de Lima Pereira.


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

1º de setembro...

"O passado também é urgente"
(Guimarães Rosa)



          Na história da Humanidade, o primeiro de setembro é marcado pela invasão hitleana com tanques de guerra até os dentes pela fronteira polonesa e, desta invasão, o mundo testemunhou um dos períodos mais sangrentos da história moderna: A Segunda Grande Guerra!
          Hoje, como uma herança geopolítca deste conflito, a ONU (Organização das Nações Unidas) ainda tem como membros do Conselho de Segurança os mesmos vencedores daquele conflito, ainda que a realidade política mundial tenha sido alterada profundamente...
          Qualquer semelhança com o que hoje, no Brasil, alguns ousam celebrar como “Dia do Profissional de Educação Física” não passam tão distante daquele fato de 1939.
           Ainda que não estejamos falando de “Guerra Mundial”, falamos de assalto violento à luta por uma educação de qualidade, por uma formação comprometida com a transformação social, por uma educação física libertadora...
          Por trás desta data, temos a expressão da opressão, da coerção e da coação, ações idênticas as que o movimento nazista (seguido por Mussolini) empregavam contra povos judeus, tchecos, poloneses, austríacos e disseminavam pelo oriente e América Latina.
          Não existe (ainda que alguns queiram) mais ou menos opressão, mais ou menos coerção, mais ou menos coação... são todas elas violência. Foi assim na II Grande Guerra, é assim com o Conselho Federal de Educação Física e seus regionais (Sistema CONFEF/CREF).
          Não defender, no olhar à história da Humanidade, os princípios no nazismo é, igualmente, não defender os princípios deste sistema, expressão explícita da coisificação do homem e do “trabalhador/a contra trabalhador/a”.
          A lição, é a mesma: aprendermos com a História, passada e presente, o preço de nossa ilusão, ignorância e, principalmente, de nossas próprias correntes!

           Vida Longa à luta contra o CONFEF/CREF!
           Vida Longa à luta contra a Regulamentação do Profissional de Educação Fìsica!
           Vida Longa aos Trabalhadores da Educação e da Educação Física!

           Vida Longa ao MNCR e a todas as expressões de luta dos trabalhadores e lutadores do povo!

           Vida Longa!

           Venham Todos!
           Venham Todas!
Marcelo "Russo" Ferreira