“Feliz Aniversário/
Envelheço na cidade”
(Ira)
Desde ano passado, o Universal Circo Crítico festeja seu auto-aniversário... ainda que eu não saiba definir o que seria um auto-aniversário. Mas, independente desta ausência conceitual, venho sempre resgatando histórias deste tal 22 de setembro.
De mais um de meus 22 de setembro, tem aquele período em que eu estava no bom e saudoso Projeto Nossa Escola, um espaço envolvido por um tempo de conquistas, trabalho, amizade e alegria infinitamente superiores aos obstáculos pedagógicos e de trabalho. Infinitamente superiores.
Mas, já estava por lá a um ano e, naquele ano seguinte, logo no início, o “Tio Marcelo” – professor de Educação Física – teve uma “sacação” que, apesar de ser um tanto quanto “malandra”, em nada tinha de desonesto ou oportunista. Vejam como foi e pensem comigo, certo?
Bom, a escola era pequena: ia do maternal até a quarta série do ensino fundamental. Cada série com uma turma de, no máximo, 20 alunos (escola pequena e aconchegantesíssima). E, em todas as salas, dentre as imagens próprias da turma, os cartazes das produções das mesmas (inclusive da Educação Física), o cabide para guardar as merendeiras etc., tinha o quadro de “Aniversariantes do Mês”... Que fantástico!
Chega setembro, e lá vai o Tio Marcelo (Tio Maluquinho para as turmas menores) de sala em sala, colocando a sua folhinha de aniversariante do mês.
É claro que isso provocou certa expressão de “Assim não vale!” das minhas companheiras de trabalho (menos da professora de Artes, que também achou justa a procissão de plaquinhas), mas, afinal, eu era professor das turmas... Bom, é verdade, eu não dava aula para o maternal e coloquei uma plaquinha lá também. Mas eu visitava a sala do maternal, pois no ano seguinte, eu já estaria trabalhando com aquelas crianças e, então, ia acostumando-as com a minha presença.
E chega o 22 de setembro. Abraços, beijinhos, criança pulando no pescoço da gente. Claro que o abraço caloroso e amigo de minhas companheiras de trabalho superaram o “assim não vale” das plaquinhas em toda a escola. Dos presentes que recebi (perfume, meia, cueca, caneta, caixa de bombom, brinco – eu usava na época – cartões e mais cartões de aniversário), um buque de flores recebido em uma das salas de aula. Flores do campo.
Foi uma “arruaça tão da grande”, que quase vira feriado... Ah! Sem falar nos DOIS bolos com a qual tive que desfrutar a cantar parabéns. Pelo menos teve lanche para os professores para a semana inteira.
Mas, o que eu mais adorei deste dia foi a “construção da surpresa”.
Como professor de Educação Física (não por obrigação, mas pela construção do trabalho em si) nós organizávamos o Recreio, dividindo os espaços e as vivências que nestes ocorreriam: jogos populares, esporte, jogos de salão etc.. Isso sempre no início da semana, planejando com as crianças a semana inteira.
E neste 22 de setembro um dos alunos da então 3ª série, o Pedro Henrique, veio me pedir a bola para o futebol (atividade planejada para o campinho de areia da escola). A questão era que o Pedro Henrique era o tipo do menino “aguniado”, inquieto e impaciente com o tempo que se perde com a espera de 1 minuto. Sempre que ele ia pedir a bola, ou o que quer que fosse, para as vivências do recreio, era um tal de “Bora, Tio Marcelo! Tá demorando! Oxi, vai passar o recreio e não vamos jogar direito...”. Imaginem a cena.
Mas, naquele dia, Pedro Henrique pediu-me a bola e eu falei “só um segundo, Pedro” e ele ficou ali, parado pacientemente. Uma tranqüilidade inédita. Reparei, claro que reparei, mas, nem dei-me por muita conta.
Quando nos dirigimos para a sala onde ficava o material da escola, ele continuou tranqüilo. Nenhum, mas nenhumzinho “Bora, Tio Marcelo! Oxi!”... e, quando entro na ante-sala da salinha de material, lá está o “Surpresa!”... Um assustado (como chamam em PE) simplesmente delicioso.
E Pedro Henrique nem se importou pelo fato de, naquele dia, o futebol ter durado apenas 15 minutinhos...
Saudades do Pedro Henrique!
Saudades das crianças, das professoras e das trabalhadoras da educação do Projeto Nossa Escola!
Vida Longa ao Projeto Nossa Escola!
Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira
P.S.: dia 22 de setembro foi aniversário de minha “irmã adotiva” (ou eu sou o irmão adotivo... acho que é isso). Ela continua pelas bandas de Angola... Feliz Aniversário, Silvinha