RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

sábado, 28 de janeiro de 2012

O Universal Circo Crítico... Pinheirinho...


“Travamos nossa luta por responsabilidade contra um ser mascarado. A máscara (...) é inexpressiva, impenetrável, sempre a mesma. (...) Ficamos, com frequencia, intimidados ou amargurados (...). Nós ainda não experimentamos nada”
(Walter Benjamin)

            Pinheirinho...
            Palavra que em período natalino (talvez por essas e outras que sempre questiono este bendito termo “tempo de...”, já expresso embaixo de nossa lona) irremediavelmente significa Natal, Festa, Compartilhar, Amor ao próximo e por aí vai.
            Pinheirinho... palavra mais do que palavra para cerca de 2,5 mil famílias (aproximadamente 9 mil pessoas, entre crianças recém-nascidas e idosos de longa idade) moradoras desde 2004 em área de inquestionável improdutividade social e que representava as vantagens de quem é rico, rouba o estado, e continua rico (Empresa Selecta – publicamente falida – de Naji Nahas – aquele que cumpriu “prisão domiciliar” pelos crimes contra economia, do colarinho branco e formação de quadrilha... Domiciliar...).
            Uma comunidade formada a anos, que se organiza justamente pela ausência do Estado (que em São Paulo é ausente mesmo, por opção herdada dos tempos de FHC, em que o Estado presente é o policial), pela ausência de políticas públicas que aliem habitação, educação, saúde, lazer, saneamento etc.
            Pinheirinho, assim como BBB12, esteve nos noticiários ao bel prazer da imprensa tupiniquim, que edita aquilo que lhe serve e, quando “vasa” o que não servia, dão destaque ingênuo, superficial, com notinhas de 2 segundos em que a frase “o governo irá averiguar e punir aqueles que cometeram excessos”. Quanta conversa fiada...
            O que aconteceu em Pinheirinho já aconteceu recentemente e, talvez, já nos tenha escapado da memória, essa que cada vez se perde mais: protesto de estudantes em Recife, reprimida violentamente; protesto de estudantes em Teresina/PI, reprimida violentamente; manifestação de estudantes em São Paulo (USP) reprimida violentamente; protesto de professores na Assembléia Legislativa Cearense, reprimida violentamente... E na história mais ou menos recente, o campo, seus trabalhadores campesinos – lutadores do povo – reprimidos constantemente pela ausência do Estado (os jagunços, os “agro-investidores” – que conhecíamos como latifundiários – os matadores de aluguel) e pela presença do Estado (a Polícia Militar do Estado e Guarda Municipal de São José dos Campos, em sua maioria). Crianças correndo de gás de pimenta? “Corram para dentro de casa” gritariam os seus pais. Mas, dentro de casa, a polícia entrava e as expulsavam de lá. De que adiantaria gritar “Tem criança aqui!”? Diria o Estado: “eles (os pais) são os covardes, pois colocam seus filhos na frente!”... Aff...!
            Um Estado que inclusive usa a velha estratégia de “infiltrar” com o argumento de que era apenas para descobrir onde as armas eram guardadas é balela. É piada que não faz rir. As imagens que ficaram públicas nos remetem ao conflito Israel-Palestina, onde badoques/baladeiras, pedras e gestos enfrentam tanques e mísseis “inteligentes”. Enfrentar cassetetes de verdade, escudos de verdade, capacetes de verdade, balas de borracha de verdade, armas de fogo de verdade com capacetes de moto, tampas de tonel, caneleiras feitas de PVC e cabos de vassoura (Ah! Tinham pregos!!!! Nossa, que diferença...!) não se compara. Apenas nos leva a acreditar na capacidade do homem (o trabalhador, o pobre, o migrante) de lutar pelo mínimo de dignidade: sua casa, seus móveis de segunda mão e carnês de 20 prestações da Casas Bahia.
 
             O resultado foi uma expressão do Haiti (só que sem terremoto e malária) em um bairro da região sul de São José dos Campos: famílias inteiras entregues à perda, por resistirem à ela. Nem carnê, nem segunda mão; nem roupas, nem brinquedos das crianças (que também não tem Anjo da Guarda... eles não existem para a miséria); largadas em ginásios, igrejas que – não há como negar – nunca foram pensadas para essas situações e, portanto, não tem estrutura e higiene para abrigar famílias inteiras... 1,5 famílias. Diferente (e muito, antagonicamente) do BBB12, estão também confinados.
            Com todas as peculiaridades que sempre rodeiam esta tragédia do Estado defender o Privado (mesmo que falido) do seu povo, nada como uma “reintegração legal de posse de área ocupada” acontecer em um domingo... às seis da manhã. Não, isso não apareceu no Domingo Legal, no Domingão do Faustão, no Melhor do Brasil e esses lixos todos que passam nos lares brasileiros. E também os “heróis do BBB” (segundo o intelectual-jornalista-escritor Bial) não souberam de nada. Estão confinados.
            Não há palavras suficientes para expressar a indignação, daqui das bandas no Norte, ao que acompanhamos (superando o tradicional silêncio da mídia tupiniquim) em Pinheirinho... não apenas na ocupação, mas fora dela também. A indignação ao que acontece em inúmera regiões do país e do mundo, em que pessoas são expulsas de seu lugar para que o capital vingue-se da existência da miséria humana.
            Talvez por Contestado... Talvez por Carajás... Talvez por Pinheirinho a esperança se faz necessária... absolutamente necessária... vitalmente necessária...
           
Vida Longa a Pinheirinho!

            Venham Todos!
            Venham Todas!... mas venham mesmo...

            Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

Obs.: Fotos, imagens, reportagens, documentários (de fato tão recente) não faltam. As imagens e vídeos aqui colocados estão públicos na internet. Sou apenas mais um...

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Deu na Carta Capital: BBB 12


Um país que crianças elimina (...)
Que permite um estupro em cada esquina
E a certeza da dúvida infeliz (...)
Um país onde os homens confiáveis
Não têm voz, não têm lei nem diretriz
Mas corruptos têm voz e vez e biz
E o respaldo de estímulo em comum (...)
Um país que perdeu a identidade
Sepultou o idioma português
Aprendeu a falar pornofonês
Aderindo a global vulgaridade (...)
Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas fico calado, faz de conta que sou mudo
Calado..calado...mas tô vendo tudo
(Meu País - Orlando Tejo / Gilvan Chaves / Livardo Alves)

            Parece profecia... Quem lê o artigo publicado por Nirlando Beirão, na Carta Capital da semana passada diria que o nobre colunista sabia o que iria rolar n”A casa”.
            O BBB nunca foi nossa preferência de publicações nesta Lona de Circo. No máximo, citações an passan. Mas, os acontecimentos desta semana e a covardia do Poder (a Globo) e do Capacho (o modelo expulso) demonstram que, de certa maneira, deveríamos ter dedicado mais tempo a este tema. Claro, estabelecendo as claras e devidas diferenças entre o grotesco picadeiro do BBB e o humilde e sempre revolucionário picadeiro de nosso Universal Circo Crítico.
            Mas, neste momento, ajudamos a divulgar o artigo da Carta Capital, suprema em sua análise e... profecia.

O Império da indigência
BBB confirma o papel de usina de trapaças a serviço da mediocridade.

            “Bota a bunda pra dentro!” – comanda o poeta e intelectual Pedro Bial, MC do BBB, à baianinha chorona Jakeline, que diz ter saudades do galo Fabiano e da galinha Nicole, “mãe de Paulinho”, que ela deixou em casa, com o coração partido, em busca de seus 79 dias de fama e, quem sabe, do prêmio de 1,5 milhão de reais. “A bunda deve estar dentro do carro”, reitera Bial, biógrafo do patrão Roberto Marinho e porta-voz daquela UDN do Baixo Leblon no manjado circuito Jobi-Bracarense.
            Bial ancora há dez anos o Big Brother Brasil, que chega agora à sua edição número 12. Tem demonstrado considerável denodo em dilapidar sua própria biografia. Mas já que já limites até mesmo para o mais blindado cinismo, Bial tenta justificar-se na condição de herdeiro do Chacrinha, “o Velho Guerreiro”, e, em sua piscadela ao público Cult, trata de citar coleguinhas de rimas, de Casimiro de Abreu a Arnaldo Antunes. É como se ele quisesse dizer: não me confundam com a vulgaridade que eu promovo.
            Vai se difícil. Nesse exato momento, dia de estréia do BBB 12, Bial orquestra, com sarcasmo cruel, a primeira “prova de resistência” da competição. Trata-se do desafio de amontoar os 16 concorrentes dentro de um veículo reiteradamente identificado como sendo da marca Fiat. O último a sair ganha o carro e a “imunidade”: não pode ser despachado do programa já na primeira votação. Da para pensar se não foi a concorrência que pautou a tarefa. Trata-se, com certeza, do jeito mais estúpido de promover um automóvel: pelo desconforto que ele pode propiciar.
            “Isso, ao”, esbaforiu-se o colorido mineirinho João Carvalho. O brother mais sensível e mais veterano não resistiu a cinco minutos de metaconfinamento, ou seja, de prisão dentro da prisão. Bial adverte: é só o começo. Pois é, é só o começo.
            Aquinhoado por verbas publicitárias milionárias e pela ansiedade do espectador em pagar para ter seu fugaz momento de imperador romano, decretando por telefone ou mensagem de texto a morte ou a salvação dos gladiadores, o BBB chega mais uma vez para reiterar seu papel de usina da indigência de um espetáculo solúvel, lixo reciclado e enlatado made by Endernol.
            Festa infantilóide que, se a gente olhar em volta, não dá para comparar nem com os programas da Xuxa, nem mesmo com as atuais prévias do Partido Republicano, nos Estados Unidos. Quem assiste ao BBB 12 fica com escrúpulos de pertencer ao gênero humano – se é que alguém ali faz parte do gênero humano.
            Analice, Ronaldo, Mayara, Renata, Jonas, Kelly, Yuri, Monique, Laísa... Acolhidos pela intimidade do primeiro nome, espera-se de brother e sisters a contrapartida de uma espontaneidade nua e crua, se descortinando à frente do apetite voyeur do ilustre espectador aquela esfregação langorosa entre pit bulls e saradonas, exercício descerebrado, mera flex/ao de músculos, de atropelos gramaticais e de banalidades explícitas.
            Pelo histórico do BBB, costuma brilhar uma única estrela com luz própria, nesse blecaute da inteligência, apagão total de talento. Refiro-me ao edredom. O edredom é, ao longo da maratona de amassos, o único sinal de sutileza expressiva e de dramaticidade aguda – aguda e, literalmente, por baixo do pano. Sem o edredom, o Big Brother Brasil não é nada. O edredom encobre a cupidez dos personagens, mas, sobretudo, aguça a fantasia dos espectadores. Tão triste quanto a mediocridade dos brothers e sisters é a vocação que a platéia, ela sim, tem para a mediocridade.
Já houve tempo em que o reality show da Globo simulava amostra mais ampla, em suposto respeito à nossa biodiversidade, mas se percebe hoje que a seleção da colorida fauna se norteia não mais pelos critérios etnográficos e geográficos ou pelos estereótipos da sociedade. A produção diz que levou oito meses para eleger os candidatos. Bastava ir até meia dúzia de academias de musculação. O BBB é o lugar onde a geometria encontra a anatomia. Dos homens espera-se apenas o volume do peitoral. Mulheres só têm serventia se desenvolverem elefantíase em determinada parte do corpo que se diz aqui no Brasil ser a preferência nacional.
Enquanto o carnaval não vem, será aquele desfile cotidiano, 24 horas ao dia, de muita prótese de silicone, excesso de tatuagens, exagero de protuberâncias, intenso ensaboar masturbatório sob chuveiros indiscretos – e, se alguém notar, em meio àquela torrente de energia libidinal, que neurônios estão sendo acionados, poucos que sejam, é bom avisar o Boninho, o diretor, do programa, porque inteligência e raciocínio não fazem bem ao escript.
Do Bam-Bam, o básico, o primeiro campeão, à Grazi, rara celebridade que dura; do truculento Alemão à suave Maria, a última contemplada – o BBB já em seu elenco de duvidosos heróis. Lembre-se do Jean, estrela incomum do BBB 5. O sestroso baiano quebrou o pacto. Naquela dinâmica de cartas marcadas, cabia a ele o papel da bichinha vulgar e alcoviteira, mas eis que, com lampejos de astúcia e repentes de sinceridade, ganhou o respeito de humanista e livre-pensador e passou os dias de clausura lecionando não para seus pares, mas para toda a nação inculta e bela. Jean é hoje o combativo deputado federal Jean Wyllys, do PSOL do Rio.
A cada edição, e essa aí não nos deixa mentir, o BBB muda para não mudar. São acertos cosméticos apresentados com estardalhaço, como se fossem enormes surpresas. “A casa”, essa entidade quase mística, foi redecorada em extravagância multicromática, que leva a gente a crer que todo aquele kitsch resulta de uma inesperada parceria entre Jeff Koons e o carnavalesco da Grande Rio.
No fundo, reality shows ao estilo BBB, e a ninhada que já fez proliferar, continuam sendo o que são, em sua secreta propensão para a malvadeza e seu apelo irrestrito ao masoquismo. É justificada a suspeita de que tais programas tenham sido inventados no hospício de Charenton pelo notório Marquês de Sade, o que torna ainda mais intrigante o fato de que pobres enclausurados demonstrem, ante o olhar de milhões de sádicos virtuais, tão sorridente orgulho com a humilhação a que são submetidos. Não há edredom libidinoso ou promessa de fama que pague o preço, ou há?
Anos atrás, este escriba lamentou ver Pedro Bial fazendo as honras da casa no BBB, “desperdício tão flagrante como seria ter Sarah Berbhardt na bilheteria do Théâtre de La Renaissance, em Paris”. Bial, “cultor de Guimarães Rosa, no meio de tantos que jamais abriram um livro”, tinha agora de se resignar “a não mencionar nem Elliot e muito menos Keats, seus poetas de cabeceira, pois haveriam de ser confundidos com gatos de estimação de alguma grã-fina de folhetim”.
O constrangimento muito bem remunerado de Bial, dez edições depois, é do tipo que se confunde com a filosofia do próprio BBB. A gente fica sem saber o que é realidade e o que é fingimento. Citando Roland Barthes, de quem Bial certamente já ouviu falar em suas horas de folga, a virtude desse tipo de espetáculo é abolir causa e efeito: “o que me interessa é o que se vê, e não o que se crê”. O show modela a sua própria realidade.
Por Nirlando Beirão
(Carta Capital – 18 de janeiro de 2012 / nº 680 – Seção Plural: Televisão)

Aqui, ninguém dá uma olhadinha... o Circo é de Todos e Todas!

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira
PS.: O Vídeo da Música na voz de Zé Ramalho tem inúmeras versões na internet. Assisti a três e todas elas tem, sempre, alguma imagem a qual não faria referência. Vale mais, também, pela canção que, claro, não tem espaço na mídia, na indústia cultural e nem recebe/paga "jabas".

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Conversa ao pé de ouvido de Hector...

“A decisão eu acho que é geral

É cada vez maior o pessoal

Conte comigo no seu carnaval

Seremos nós a nossa voz central.

O nosso enredo tem uma força tal.

Que já pôs medo no cordão rival...”

(Agora é Portela 74 /

Maurício Tapajós e Paulo Cesar Pinheiro)

 

            Salve, Salve, pequeno Hector.


            Cá estamos felizes com sua saudações em 2012 (em que pese teres nascido em 2011, hehehe) e nosso Circo, nossa Lona, nosso Picadeiro, nossos públicos e artistas dizem a ti: “Seja bem vindo, Pequeno Hector, o Guardador”.


            De seus pais, conhecemos mais sua mãe, nossa querida Nelma, uma de nossas aprendizes do Universal Circo Crítico. Uma ex-aluna, hoje professora, deste andante brincante. E estamos felizes em poder saudar, também, aqueles que convivemos quando de um momento tão especial.


            De seu nome, Pequeno Hector, esperamos que faça mais do que guardar, haja vista a origem grega de seu nome (O Guardador). E, como poucas vezes fazemos, é em seu nome que lhe presenteamos (e pode guardar contigo) nossa primeira lição, de todas as humildes lições que sempre gostamos de dar em nossas primeiras conversas: guarde muitos amigos, guarde grandes amores (que, também, são nossos amigos), guarde esperança, amizade, carinho, honra, verdade mas sempre as guarde em um lugar onde Todos e Todas possam ver, tocar, compartilhar. Guarde tudo isso em seu sorriso, em seu abraço, em sua palavra amiga...


            Chegaste em um 27 de dezembro e, da história da humanidade, tanta coisa, tantas lições, tantas histórias este dia nos permite refletir.


            Em dias como este, mundo afora, Inglaterra e Portugal assinaram um Tratado sobre Panos e Vinhos (português comprava pano inglês e este comemorava com os vinhos portugueses), Charles Darwin (aquele, da Lei da Evolução) começava sua viagem que tinha o Brasil como roteiro, A Pérsia muda de nome para Irã, a Indonésia é reconhecida como País Independente pelos Países Baixos e por aí vai...


            Mas, foi em um 27 de dezembro de 1945 que, em um novo ciclo, iniciava-se mais uma luta internacional dos lutadores do povo, dos trabalhadores do mundo. Em neste dia que foi Criado o Fundo Monetário Internacional, o FMI. Instituição que representa, de maneira inquietante e histórica, o mundo em que as pessoas viram coisas, em que o dinheiro vale mais do que a vida. Os donos do Mundo continuarão a comemorar sua criação. Nós celebraremos a chegada do Pequeno Hector. E, aqui, nossa segunda lição: as pessoas valem mais do que as coisas, a vida (e não falo apenas humana) vale mais do que o dinheiro.


            Há tragédias em nossa humanidade, Pequeno Hector, e uma delas escolheu esta data. Aliás, há não muito tempo. Foi em 27 de dezembro de 2008 que Israel fez mais uma de suas muitas ofensivas militares contra o povo palestino. Israel, assim cmo os Estados Unidos e os países mais poderosos da Europa tem essa, digamos, mania bélica. Atacar povos dizendo-os terroristas. Nesta caso, a esta data seguiu-se ataques até a Navios e Fragatas de ajuda humanitária. Sim, era necessária a ajuda humanitária, já que Israel usava “canhões contra bodoques a pedras” e assassinavam mulheres, crianças, idosos, jovens indiscriminadamente. Uma lição importante, mas bastante difícil: nunca se amedronte diante do poder, nem quando tiveres que lutar contra ele, nem quando fores tentado por ele. Que o poder revele aquele “Hector, o Guardador” que deixamos de lição no início desta conversa ao pé de seu ouvido.


            A arte também presenteou este dia 27 de dezembro... ou, também, despresenteou. Alguns nasceram neste dia, outros se despediram. O Maestro brasileiro Isaac Karabtchevsky ou o rockeiro americano Chris Bell, nasceu e despediu-se (respectivamente) num 27 de dezembro. E, exatamente assim (um nasceu, outro partiu) foi com dois grandes nomes da Música Popular Brasileira, da poesia, do samba e por aí vai: Maurício Tapajós e Cacaso (Antônio Carlos Brito) chegou e partiu, nesta ordem, neste dia. E a eles pertencem pérolas, entre as mais belas, de nossa música. Neste caso, pequeno Hector, em tempos em que, a cada dia que passa, a nossa música experimenta, cada vez mais, a massificação do que há de mais baixo, desqualificado, vazio de sua criação, em um tempo em que nossa arte é mundializada pelo que ela tem de pior, mais do que uma lição, nosso Circo, nossos Artistas, nosso público lhe deseja boa música. Como esta que lhe deixamos aqui, de presente, na voz de MPB-4 (que fez parte de minha infância) de Elis Regina...

            “O Brazil não conhece o Brasil / O Brasil nunca foi ao Brazil / Tapir, jabuti, liana, alamandra, alialaúde / Piau, ururau, aqui, ataúde / Piá, carioca, porecramecrã / Jobim akarore Jobim-açu / Oh, oh, oh...” (Querelas do Brasil)

            Mas, de poesia também homenageamos Cacaso: “Se pelo menos meu pensamento não sangrasse, se pelo menos meu coração não tivesse memória. Como seria menos linda e mais suave a minha história”.


            Por fim, pequeno Hector, nossa última e mais honrada lição.

Os Lutadores do Povo também tem suas, digamos, contradições. Foi em 1927 que o grande revolucionário Leon Trotsky fora expulso do Partido Comunista Soviético. Uma das mentes mais brilhantes e um dos principais lutadores revolucionários da Revolução Russa, fora expulso porque expôs e denunciou o pensamento de Lênin sobre o homem (“Quer conhecer o homem, dê o poder a ele!”) no evento mias significativo da luta do Homem contra o Poder na história da Humanidade, a Revolução de 1917 (que, com a revolução Cubana, somam-se as duas mais importantes lutas populares e revolucionárias que já testemunhamos). E é assim, na contradição, que fazemos nossa última saudação, pequeno Hector. Nas palavras de Trotsky, “Que as futuras gerações a livrem de todo mal e opressão, e possam desfrutá-la em toda sua plenitude”.

Parece um fardo grande demais, não é Pequeno Hector. Não te aperreie... não estarás sozinho.

Celebramos o Pequeno Hector!

Vida Longa ao Pequeno Hector!



Venham Todos!

Venham Todas!



Vida Longa