RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

domingo, 19 de junho de 2011

O Universal Circo Crítico... sobre Professores, Bombeiros e transporte público...




            Assisto matérias jornalísticas sobre greves de transporte público (quem faz a greve são motoristas, cobradores etc., não os donos das empresas). Os jornais publicam no dia seguinte: “Greve dos transportes prejudicam trabalhadores...”.

            Assisto matérias jornalísticas sobre greve de professores que, quando voltam da greve, precisam repor o tempo de paralização (só professor tem que repor). Os jornais publicam no dia seguinte: “Greve de professores prejudicam estudantes...”.

            Os mesmo jornais pegaram uma carona (atrasada) sobre a greve de bombeiros no Rio (da qual nossos artistas e público são solidários) e suas reivindicações que, à bem da verdade, são históricas e nacionais. O depoimento do vídeo acima (sobre um incêndio num mercado de artesãos em São Luiz/MA) tem menos visitas no Youtube do que o “Funk do desabafo do bombeiro sem água”, no mesmo site. A greve de bombeiros não deixa casa pegando fogo, mas, ainda não é levada a sério pela mídia. Menos mal que a mesma mídia não consegue publicar “greve de bombeiros prejudica casas que ficam pegando fogo...”

            Destas três leituras, faço uma sobre professores.

            Há tempos, em sala de aula, venho reforçando uma reflexão que julgo importante aos meus alunos (meus, não de “posse”, mas de convivência) sobre o discurso que é mantido quase no senso comum, mas também por muitos autores importantes no campo da Educação: de que Professor (e, parece-me, bombeiro também) é missão, é dom! E me coloco criticamente frente a este ponto de vista, pois enfraquece e, até, desqualifica o nosso lugar de Trabalhadores e Trabalhadoras! Afinal, missão, dom não precisa pagar bem, pois que cumpre uma missão, o faz independente do que ganha. O faz, mas não é verdade que é independente e, sim, “apesar” do que ganha.

            Em maio, uma Educadora potiguar, Amanda Gurgel (que inclusive passou como uma das atrações no Domingão do Faustão – decisão particular dela, do Sindicato a qual ela faz parte, do Partido onde milita... eu particularmente achei equivocado, mas teve lá os seus méritos) fez uma fala pública na Câmara Legislativa do RN e virou hit na internet.

            Mas, ainda assim, mesmo indo no Domingão do Faustão (da Globo), pouco se fala deste difícil desafio da docência, em todas as suas demandas e desafios. Greves “chuviscam” no noticiário dos principais jornais do país. Algumas greves não passam nem como brisa nestes mesmos jornais, como é o caso das Escolas Técnicas do Estado de São Paulo.

            Abaixo, uma carta do educador Profº André Albero, professor do Centro Paula Souza (Autarquia do Governo de SP), uma destas escolas em paralisação. E agradeço à minha ímpar amiga de São Paulo, Camila (outra brava lutadora do povo) por enviá-la pois, assim, este Universal Circo Crítico mantém seu compromisso de ser palco dos lutadores de todo o país.
Em tempo, a Amanda Gurgel criou um blog... vale a pena (http://blogdaamanda.com.br/).

Estamos em greve há quase um mês  por conta do arrocho salarial ocorrido nos governos do PSDB em SP.

Existem vários motivos para justificar essa greve, mas o objetivo desse contato é tentar apagar esse silêncio da imprensa paulista em relação a este movimento e às Etec’s [Escola Técnica Estadual] de maneira geral.
As propagandas das Etec’s durante esse período de greve foram tiradas do ar, para que a menina dos olhos do governo de SP não fosse maculada com esse movimento. Ao mesmo tempo, inaugurações de escolas deixaram de acontecer, também por conta disso.
O Estadão há algum tempo publicou matérias relatando greve  de professores em todo o país e não citou uma linha sobre a greve em SP. Ontem o Jornal Nacional falou de greve de professores no Nordeste e nada daqui de SP. Passam a sensação de que aqui não acontecem greves e que tudo é lindo, como na propaganda.
Um dia antes do movimento acontecer, o governo anunciou um aumento de 11%, que não cobre a inflação de 6 anos sem reajustes e que, na prática, corresponde a um  aumento de R$10,00 para R$11,10 na hora-aula  no CEETEPS [Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza], já que nós  não trabalhamos em jornada, e sim por hora-aula, como o governador  tentou esconder.
Seria uma vergonha para ele, Geraldo, anunciar depois de 6 anos um aumento de R$1,10.
O nosso vale-refeição é de R$4,00. O que não paga nem o lanche  nas cantinas  das Etec’s.
Além de todos esses problemas, tentamos  desenvolver um bom trabalho, mas enfrentamos problemas graves de infraestrutura. Escolas com cursos de informática que não possuem computadores e internet, além de problemas com segurança e falta de profissional para lecionar.
Houve a expansão do ensino técnico em SP todo vinculado  a “escola-extensões”. Como funciona isso: escolas ociosas no horário noturno são usadas para cursos que não demandem uma aplicação efetiva de recursos em laboratórios de tecnologia.
Basta ter professores que o curso acontece, não existem laboratórios de informática em alguns casos.
Desta forma, o plano de expansão das  Etec’s matriculou significativamente mais alunos que nos anos anteriores, mas  a evasão  nestes cursos, por conta da ausência de professores — e de infraestrutura também — é altíssima. Essa é uma preocupação do CEETEPS, já apresentada em documentos internos.
Para comparação, um professor de Etec em inicio de carreira é remunerado com R$10,00, enquanto um professor do SENAI tem remuneração de R$20,00 a R$25,00, dependendo do curso oferecido.
Enfim, gostaria muito de saber como o Centro Paula Souza vai contratar os professores de audiovisual para a Etec Roberto Marinho, aquela do lado da Globo, pagando R$10,00 a hora-aula, já que o próximo vestibulinho para o curso já está em andamento, para turmas que terão início em julho. A não ser que a Globo ofereça esses professores…
Estamos com déficit  de professores em várias  áreas e peço que visite  várias Etec’s para constatar  o que digo.
Em alguns cursos, podemos afirmar que, por conta desses problemas, uma escola de tecnologia está defasada tecnologicamente, uma vez que nós professores, com essa remuneração e esquecidos pelo governo do estado, não temos condições de nos atualizarmos e oferecermos a nossos alunos o que há de ponta em tecnologia.
Professor para esse governo, só para fazer propaganda, o que não faltou no início deste ano e na campanha eleitoral do ano passado.
Para concluir, conto contigo para  quebrar o silêncio da mídia em relação a esse movimento.
Obrigado
Profº André Albero
Etec Dep. Paulo Ornellas – Garça”

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa

Marcelo “Russo” Ferreira



terça-feira, 7 de junho de 2011

Até quando...?


Aquele que não cedeu

Foi abatido

O que foi abatido

Não cedeu/

A boca do que preveniu

Está cheia de terra

A aventura sangrenta

Começa.

O túmulo do amigo da paz

É pisoteado por batalhões/

Então a luta foi em vão?/

Quando é abatido o que não lutou só

O inimigo

Ainda não venceu

(“Na morte de um combatente da paz

Bertold Brecht)


Se o magnífico poeta Bertold Brecht estivesse entre nós, lamentavelmente, não lhe faltaria inspiração. É verdade que o poeta, framaturgo e encenador alemão de muitas letras e sentimentos também falava dos bravos lutadores, das inúmeras heroínas e das batalhas vencidas. Mas também falava da exploração, da desumanização da humanidade: “E se fôssemos infinitos? Tudo mudaria. Como somos finitos, tudo permanece”.
Ficamos a pensar o que pensam, dialogando com a bela obra de Chico Buarque de Holanda (Os Saltimbancos – A Cidade Ideal), os moradores, o prefeito e os varredores, os pintores e os vendedores, as senhoras e os senhores, e os guardas e os inspetores”? Quem dera, era pergunta, fossem somente crianças...
Nas últimas semanas, o Universal Circo Crítico vem se perguntando e, agora, pergunta a seus artistas e público:
Até quando teremos Josés, Marias, Marcos Gomes, Eremiltons, Adelinos mortos, assassinados – mas não silenciados – sabidamente pelos fazendeiros, madereiros, saqueadores de nossas florestas, de nossa agricultura e dos direitos daqueles que defendem a terra, o campo, a agricultura familiar e a Reforma Agrária?
Até quando assistiremos silenciosamente Claudemir (sobrevivente do Massacre de Corumbiara/RO – 1995) e Nilcilene (agricultora familiar, jurada de morte no Sul do Amazonas) continuarão a se esconder de amigos, familiares? Esconder de seus direitos (aqueles que esta nossa burguesia boba defende, de “ir e vir”)? Esconder de seus assassinos e seus mandantes?
Ate quando assistiremos os latifundiários (fantasiados de “agronegócio) ditarem o que deve e o que não deve ser aprovado no Código Florestal, e, no caminho, parlamentares transformarem em “Moeda Política” o debate e a aprovação deste importante documento? Até quando morros destruirão casas e famílias, para, enfim, perceberem que não é apenas uma questão de “preservar árvore ou pererecas” que envolve o debate do meio ambiente no Brasil e no mundo?
Até quando lutadores e lutadoras do povo resistirão à Hidroelétrica do Xingu, cuja necessidade está apenas, e inquestionavelmente apenas, a atender as demandas das grandes corporações e seus empreendimentos que necessitam de energia quase que exclusiva?
Até quando teremos gays, lésbicas, travestis, transexuais – homossexuais – agredidos covardemente apenas por serem... homossexuais?
Até quando testemunharemos monumentos como o de Zumbi dos Palmares (Praça Onze, centro do Rio de Janeiro) pichados de maneira racista no último dia 05 de junho?
Até quando assistiremos – com a verdade e silêncio de nossa estúpida e mal intencionada imprensa brasileira – discussões sobre educação e direitos humanos tratados a partir de seus interesses privados e seu histórico preconceito de elite, como foram os casos do documento final do Plano Nacional de Direitos Humanos (quem lembra?), o livro de Heloisa ramos (“Por uma vida melhor”) que tratava – apenas em uma parte da obra – sobre o uso da língua popular?
Até quando veremos as “revoluções do Oriente Médio” como mero ato de organização popular? Até quando os interesses “petroleiros” dos EUA e da OTAN ficarão sempre em segundo plano quando vierem notícias da Líbia (em que a OTAN atua e já matou inúmeros civis inocentes) e do Barein (que não tem OTAN, porque não tem Petróleo)? O que dizer do jovem Hamza, de 13 anos, barbaramente torturado – dissemos barbaramente torturado – na Síria?
Aliás, até quando veremos países imperialistas no DNA (Estados Unidos, Inglaterra, França...) decidirem quando intervir militarmente e quando não em outros países, apenas porque entendem que precisam intervir?
Até quando nada, mas nada saberemos pela “grande” imprensa brasileira sobre os conflitos no norte e nordeste da África? Quando o cacau de Costa do Marfim não chegar mais aos nossos deliciosos chocolates da Nestlé?
Até quando os acontecimentos da Europa passarão em silêncio em nossas Universidades, Escolas e – aff! – Imprensa? O que sabemos sobre os conflitos na Grécia, Itália, Espanha e Irlanda, países que estão quebrados financeiramente – mas não os donos de banco e de grandes corporações – e seus jovens em protesto?
...
No mundo todo, crianças pegam em armas, crianças morrem de fome, crianças são exploradas no trabalho e sobre seu corpo. No mundo todo, mulheres sofrem violência, são silenciadas e humilhadas... algumas suportam por necessidade. Mundo todo, animais são mortos, exterminados, “coisificados” comercialmente... alguns sofrem, pois são mortos aos poucos. No mundo todo idosos são abandonados, são lesados em seus patrimônios de vida e experiência. No mundo todo, podem acreditar, poucos lucram de verdade com tudo isso.
Não nos faltam pontos para perguntarmos “Até quando”... Há muito mais o que se perguntar, há muito mais com o que se indignar, há uma única esperança!
Daqui de Castanhal, e para os conterrâneos cabanos, em suas questões e cotidiano local: até quando continuaremos a comprar (eu não vou mais lá) no Yamada Plaza/Castanhal, o “Lugar de gente feliz” da Fafá de Belém. Acerca de dois meses, seus trabalhadores cruzaram os braços em defesa de melhorias salariais e condições de trabalho. A paralização surtiu efeito duplo: as conquistas saíram e os grevistas, pouco a pouco, foram demitidos. Os novos funcionários já foram contratados, à sombra do medo: quem luta pelos seus direitos, é demitido...
Até quando????
“Quando os trabalhadores perderem a paciência”, dirá Mauro Iasi...?

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira