“Ajude-nos a proteger
sua própria vida e a de seus familiares”
(Texto da Ditadura Militar brasileira, anos
60 a 80 do século passado, incentivando a delação de militantes de esquerda)
O Universal Circo Crítico já se prestou
a inúmeras ousadias, sobre temas os mais variados. Usamos de nosso constante
aprendizado de Lutadores e Lutadoras do Povo a ousadia ensinada por Lênin, a
ousadia como sentido a vida.
Também já andamos por caminhos
tortuosos, alguns muito difíceis e duros aos nossos princípios, pois já tivemos
que colocá-los (nossos princípios) em choque.
Mas sempre nos orgulhamos dos caminhos
trilhados, das ousadias experimentadas e dos seus aprendizados, como também nossos ensinamentos.
E cá estamos, novamente, nesse
exercício.
Não apenas votamos no Governo que hoje
temos. Defendemos, nesse picadeiro e debaixo de nossa lona rasgada a sua eleição (por exemplo: http://ouniversalcircocritico.blogspot.com.br/2010/10/hipocrisia-final-nossa-propria.html)
e fizemos de nossos espaços do dia-a-dia o chão para compreendermos pelo que, por quem e
contra o que/quem estávamos lutando. E não nos arrependemos... o seu contrário certamente seria pior.
Colocamos na Presidência da República
um operário que continuou falando “nóis” mesmo quando presidente, para a
urticarização dos ouvidos de nossa elite tupiniquim. Colocamos, depois, não
apenas uma mulher (a primeira), mas uma que fez parte das bravas fileiras contra
a Ditadura Militar brasileira, inclusive sendo julgada por isso nos tempos de campanha,
em 2010.
E por isso, dói em nossos corações de
aprendizes de Lutadores/as do Povo, de filhos e netos daqueles/as que tombaram
nos porões da Ditadura Militar e que ainda tombam ante a Ditadura do Capital,
do Latifúndio, da Ditadura Econômica que assola Estados e preserva Banqueiros, essa nossa declaração de hoje.
Alguns de nossos artistas e público
estão no Serviço Público Federal. Na docência, na polícia, nas fiscalizações,
nos hospitais, nos setores administrativos e em outros setores que estão em greve, uns desde maio, outros
mais recentemente.
A síntese desta queda-de-braço entre
Servidores Federais e Governo Federal? Que vivemos um processo de tortura.
Longe de nós querermos comparar esse
processo atual com o horror que Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai
entre outros países Latino-americanos viveram entre os anos 60 e 80 do século passado. Claro que não! Aquelas
histórias de pessoas presas, torturadas, mortas a bala ou por conseqüência da
tortura, desaparecidas, afastadas de suas famílias (crianças recém-nascidas que
iam para o colo dos Torturadores como se fossem, deles, filhos/as) e de seus
amigos porque enfrentavam, às vezes apenas com palavras, um inimigo poderoso,
rancoroso, raivoso e cruel.
Mas... por que Tortura?
O Torturador usa de sua força, não
importa com qual proporção ou de que maneira o faça. O Torturador é forte. Mas
é protegido. O Torturador não corre risco de ser preso, julgado ou condenado pela tortura que faz à pessoa alheia. Ele faz sob os
auspícios da lei (principalmente no Brasil,
claro).
O Torturador tem o tempo sempre à sua
disposição. Ele não se importa com o tempo, pois o Torturador gosta de se
manter nessa posição, a de Torturante... quanto mais ele tortura, mais ele
continua Torturador. Ele não quer que acabe antes do planejado...
cientificamente planejado.
Mais ainda, o Torturador não age
sozinho. Ele se protege não apenas pela Lei, mas também pela (não) denúncia.
Ele não tem medo de seu rosto, seu nome, os fatos denunciados por aqueles que se
beneficiam do poder. Econômica, política, socialmente.
Por outro lado, o Torturado é aquele
que é perigoso ao Torturador, por mais fraco, desarmado, sozinho e amedrontado
que esteja (ou pareça) frente ao Torturador. Faça o que fizer, machuque, invalide, cegue
até mate o Torturado, o Torturador não conseguirá matar sua ideia e sua palavra. E o Torturado sabe disso.
Mas a ideia do Torturador também é
cansar o Torturado, até ás últimas possibilidades de vencê-lo. A Tortura é do
tempo, do cansaço, de vencer pelo tempo a convicção e, também, as conseqüências
da convicção de seu Torturado.
O Torturador diz ao Torturado: “vamos, acabe logo com isso e você volta pra
casa, pra sua família. Não percebe que você está fazendo sua família sofrer?
Esses que você protege, não estão nem aí pra você. Eles estão lá fora, você
aqui. Acabamos logo com isso e você vai embora e não deixamos nada acontecer
com você!”. No meio disso tudo, ninguém precisa saber que o Torturado ficou
preso, apanhou, passou fome e ficou com medo (não covardia, apenas receoso) do
futuro – que poderia não existir mais – e fazia o que fazia pela liberdade e
pelos direitos não apenas dele e de sua família, mas de todo seu povo. Sim... o Torturado dos porões da Ditadura Militar agia em defesa de seu povo. O Torturador, não.
(...)
A greve é assim: nós não lutamos apenas
pelos nossos salários, pelos nossos Planos de Cargos e Carreira, pelas nossas
condições de trabalho. Lutamos pelo bem que isso acarretará ao povo (soberano).
E lutamos com a convicção de que lutamos pela verdade.
Mas, sofremos em nossas greves. Pois
assim como o Torturado quer estar com sua família, com seus amigos, no seu
trabalho, nós (em particular, professores) queremos estar em sala de aula, em
nossas pesquisas e em nossos projetos.
Nós queremos estar ensinando e
colocando nossos conhecimentos à prova, sempre, todos os dias.
Nós queremos que nossa sala de aula
(não importa que sala de aula) esteja sempre repleta de pessoas, de crianças,
jovens, adultos e idosos, passando por uma formação de qualidade, com alegria a
cada conhecimento, com a curiosidade aguçada a cada pequena descoberta e
instigação.
A greve nos tortura quando o Torturador
sabe disse, e tira proveito desse nosso bem querer pelo ensino, pela pesquisa,
pelo conhecimento e pela formação.
Nos torturam em nossa alma, em nossa
docência, em nossos sonhos e em nosso trabalho.
Nos torturam naquilo que construímos e
queremos continuar construindo.
E pior: nos torturam em nosso
companheirismo... Pois eles, que nos torturam, aprenderam isso, como
Torturados. Como Torturados aprenderam que “O povo não deve temer o seu governo
o governo deve temer o seu povo.” (de “V
de Vingança”). Hoje, como Torturadores, colocam o povo contra aqueles que o
defendem.
A eles, a lição que esqueceram, de que
nunca mais devemos permitir toda e qualquer tortura contra seu povo. A nós, a perseverança e a certeza de que seguimos lutando!
A dor é torturante, mas alimenta nossa Luta! E, nela, estamos firmes!
Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!
Marcelo
"Russo" Ferreira