RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Deu na Carta Capital: o Vale-tudo das "Olimpíadas"...


            “O senhor Gerente da 19ª GERÊNCIA DE CONSERVAÇÃO da SC/SUBEC/CGC, abaixo assinado, de acordo com o Art. 72 do RPT do Dec. “E” 3.800/70, determina a(o) COMUNIDADE VILA HARMONIA encontrada(o) na(o) AVN DAS AMÉRICAS 19019 E DEPOIS - RECREIO DOS BANDEIRANTES, que em obediência ao presente EDITAL, fica obrigado a, no prazo máximo de 0 dia(s) a contar do recebimento deste, DESOCUPAR ÁREA DE LOGRADOURO PÚBLICO – ÁREA RESERVADA AO TREVO (PRAZO IMEDIATO) - REFERENTE AO PROCESSO Nº 02/375342/2010 na(o) AVN DAS AMERICAS, ÁREA RESERVADA A TREVO - RECREIO DOS BANDEIRANTES, de acordo com as Normas da SC/COR...”
(Carta Capital, nº 642
20 de abril de 2011 - grifo nosso)

            O Esporte é Paz... o Esporte é Educação... o Esporte é Saúde.
            Jargões comuns, permanentes, quase inquestionáveis para este fenômeno historicamente construído, socialmente determinado: o Esporte!
            Em nome do Esporte, assistimos a alguns anos atrás a hipocrisia do futebol brasileiro, em vésperas de Copa do Mundo (2006), legitimar a ocupação de um país que a mais de século já o havia sido (ocupado), além de vendido, comprado e empobrecido por nações ricas do hemisfério norte: o Haiti.
            Em nome do Esporte, atletas “heróis da Copa de 1994” (quando o Brasil foi Tetracampeão mundial) fizeram um jogo amistoso na Chechênia (início de março deste ano) sem sequer conhecerem o contexto de conflito separatista e de estado, que desde os anos 90 do século passado tiram vidas. Foram jogar bola. Alías, Raí se arrependeu (www.rai10.com.br) e Cafú disse que "Fomos inaugurar um estádio e ponto final. Qual é o problema do cara que manda no país jogar com a gente? Se ele é um ditador ou se é gente boa não é problema nosso. Isso é um problema dele com o país dele - disse o ex-capitão da Seleção” (http://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2011/03/cafu-comenta-partida-na-chechenia-e-revela-surpresa-com-critica-de-rai.html).
            Em nome do Esporte, as grandes corporações da mídia esportiva brasileira e a CBF estão definindo o que assistiremos e, certamente, quem serão as equipes ad-eternas da primeira divisão do futebol brasileiro. Mais ainda, estão dizendo para o Norte, o Nordeste e o Centro-oeste brasileiros quais times temos que torcer.
            O Esporte já demonstra suas faces racistas e homofóbicas, há tempos. Para quem achava que havia sido apenas nos tempos de Hitler e da Segunda Guerra Mundial que esporte servia para mostrar quais raças são superiores e viris, é cego, mesmo se torcedor.

            Em tempos de preparativos para Copa do Mundo e Jogos Olímpicos (estes sempre confundidos com as Olimpíadas, que trata-se de outro fenômeno e momento do Movimento Olímpico), o que testemunhamos (tardiamente, pois as desocupações aconteceram em outubro de 2010) não acontece e/ou acontecerá apenas no Rio. Mais lá, por conta do evento de 2016.
            Aliás, há tempos testemunhamos a população mais carente sempre pagando a conta da viúva.
            A Copa do Mundo da África do Sul deixou um lucro para FIFA e patrocinadores folgado. Ao país africano uma dívida pública de cerca de 2 bilhões de dólares. A Vila Pan-americana (Jogos Pan-americanos do Rio, 1997) se transformou em empreendimento imobiliário apenas para quem tinha folgada disposição financeira. Nem o Universal Circo Crítico consegue montar sua lona ali perto.
            A Edição dos Jogos Olímpicos (não as Olimpíadas) do Rio, em 2016, já mostra mais uma face do Esporte moderno. Promover a privatização de uma riqueza cultural múltipla, global, manifesta em práticas corporais as mais diversas. E uma destas maneiras é expulsar o povo de sua história e, possivelmente, de suas populares práticas corporais. Isso, a título de valores baixíssimos de indenização ou moradias distantes.
            Antes dos Jogos Olímpicos, teremos a Copa do Mundo. Eu gosto de futebol, muita gente gosta de futebol. Mas será interessante que um evento desta magnitude demonstre, dois anos antes dos Jogos Olímpicos, o quanto de dinheiro e miséria, riqueza e pobreza será produzido nestes mega-eventos.
Tudo isso em nome do Esporte.
Um jargão, pelo menos, eu concordo: o Futebol promove ascensão social. Da forma, maneira e condição que o Capital quer – uma concentração de ascensão social – mas promove.

Venham todos!
Venham todas!... é preciso!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

Em tempo: a CPI da CBF já era, antes de ter sido. Argumentam os parlamentares que uma CPI contra a CBF poderia prejudicar as obras dos Estádios e Aeroportos, já bastante atrasadas... ainda que lé não tenha nada a ver com cré!
Em tempo 2: por falar em “lé” e “crê”: Jogos Olímpicos é o evento! Olimpíada é o espaço entre uma edição e outra dos Jogos Olímpicos. Sacou?
Em tempo 3: Em princípio, o uso de qualquer marca dos Jogos Olímpicos (inclusive os históricos e os termos) são de exclusividade do Comitê Olímpico Brasileiro. Isso quer dizer que serei preso, neste artigo, 11 vezes diretamente e 2 indiretamente... Muito para um Circo tão... miudinho.
           

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Entre dias de luta...

Monumento Eldorado Memória

            “Seu dotô pede que eu cante
            Coisa da filosofia;
            Escute que eu vou agora
            Cantá tudo em carretia;
            O senhô pode escutá,
            Que se as corda não quebrá;
            Nem fartá minha cachola,
            Eu lhe atendo num instante;
            Nada existe que eu não cante
            Nas corda desta viola.”
            (Patativa do Assaré
Filosofia de Um Trovador Sertanejo)


            Ontem foi 17... Amanhã é 19!
            Talvez um dia essa pequena frase vire canção... Tem um rockzinho parecido, mas o tom é bem diferente.
            Até porque, o “ontem 17” e o “amanhã 19” só o são em abril. Em nenhum mês mais.
            O Universal Circo Crítico sempre se posicionou, e assim continuará, ao lado dos Lutadores e Lutadoras do Povo, seus professores mais importantes. E, neste mais um “Abril Vermelho”, em que os Movimentos Sociais Organizados Campesinos (principalmente) não deixam passar em branco o 17 de abril de 1996.
            Para esta “entre data”, que também indica um “ocidental e branco” Dia do Índio (não para estes, claro), lembramos que ainda estamos (e, aparentemente, ainda experimentaremos esta sensação durante muito tempo) muito distantes de uma Justiça Social no Campo e na Cidade para brancos pobres, negros, índios, campesinos, quilombolas, ribeirinhos, favelados. E sem luta, não a conseguiremos.
            Mas, os Lutadores e Lutadores do Povo sempre ensinam. E, nesta nossa singela homenagem, enquanto aguardávamos esta data, reproduzimos carta do Prof. Dr. Gilberto de Lima Garcias, do Curso de Medicina Veterinária da UFPel ao Reitor da mesma, após ministrar uma disciplina a alunos provenientes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que deram mais uma lição à Universidade Pública Brasileira.

“Magnífico Reitor da Universidade  Federal  de  Pelotas
Prof.  Dr. Cesar Gonçalves Borges

            Prezado Prof. Cesar
Encaminho-lhe esta correspondência para relatar uma excelente experiência pedagógica pela qual eu passei e, com isso, ratificar a boa escolha que nossa Universidade fez em relação ao Movimento dos Sem Terra. Devo declarar que aceitei a incumbência de trabalhar no processo de avaliação do grupo especial de vestibulandos para  o curso de Veterinária,  apenas pela dificuldade de dizer não a um amigo. Quando o Coordenador do Colegiado de Curso da Veterinária me convidou para trabalhar os conteúdos  de Biologia, a minha primeira intenção era dizer não, no entanto como  “ex-Veterinário”  e por mais de vinte anos professor de Biologia do ensino médio, achei melhor esquecer um pouco que atualmente sou Médico e aceitar o convite.  Nunca tive posições bem claras em relação aos sem terras, mas na maioria das vezes eu era contrário aos seus posicionamentos e a sua forma de agir. Foi com essa forma de pensar que me dirigi à cidade de Veranópolis para uma revisão de Biologia e posterior avaliação dos alunos.
A minha surpresa iniciou quando tive o primeiro contato com os alunos. Possivelmente nestes meus quase trinta e cinco anos de magistério ainda não tinha encontrado um grupo de estudantes tão dedicados em uma sala de aula. Alguns com maiores dificuldades e outros com menores (como é de costume em qualquer turma de estudantes), porém todos com um entusiasmo contagiante. Lá passei dia e meio. Nossas aulas iam das 8 horas às 19h, com pequenos intervalos e ninguém esmoreceu. Tenho certeza que aquele grupo irá formar um dos mais interessantes conjuntos de acadêmicos da nossa Universidade. Espero que os seus colegas de outros semestres sejam suficientemente sensíveis para que possam usufruir dessa convivência tão rica.
Parabenizo Vossa Magnificência pela coragem e por não ter esmorecido nesta empreitada. Outros professores, semelhante ao que aconteceu comigo, mudarão muitos dos seus conceitos e preconceitos após conhecer estes jovens.
Este é o meu mais sincero testemunho.

E.T.  - Na última aula um aluno recitou uma poesia de Antonio Gonçalves da Silva – O Patativa do Assaré: Homenagem aos Professores. Aí me lembrei que já faz algum tempo que muitos  alunos nem sequer se  despedem dos professores,  no final da aula...
                                              
          Prof. Dr. Gilberto de Lima Garcias
          Coordenador do Colegiado de Curso de Medicina
          Mestre e Doutor em Genética”


            Vida Longa ao MST!
            Vida Longa à Via Campesina
            Vida Longa!

            Venham Todos!
            Venham Todas!

            Marcelo “Russo” Ferreira


segunda-feira, 11 de abril de 2011

Dilemas das Relações Sociais: a juventude!



“esse silêncio todo me atordoa /
atordoado, permaneço atento.”
(Gilberto Gil e Chico Buarque)




            Jovens vão a shows, bebem, alguns usam drogas de todo tipo, saem em seus carros e motos a tiram vidas violentamente.
            Jovens atacados por jovens em Universidades e escolas país afora! Ora com facas, ora com capacetes.
            Jovem que entra em escola (onde estudou por cinco anos) e atira, não tão indiscriminadamente, em crianças que estão em sala de aula.
            Gangues numerosas (em quantidade – 25 só na capital paulista – e membros) racistas e homofóbicas crescem nos grandes centros urbanos e atacam indiscriminadamente pelas ruas destas cidades, “exportando” suas práticas e violência.
            Jovens participam de festas que prometem “brindes” (um colar, um ingresso para show) para as meninas que mais ficassem com meninos, em MG.
            Jovens que não conseguem sair do mundo das drogas, do crack e que são mais vítimas do que algozes, mas, mais fácil para nossa sociedade é vê-los como algozes, bandidos e criminosos e, desta maneira, mais fácil pensar em seu extermínio.
            E o esporte, este altar da educação, paz e saúde e que reiteradamente é palco de racismo e homofobia, agora coloca o voleibol brasileiro na berlinda que, até pouco tempo, só noticiava o futebol como palco destas expressões. O atleta Michael dos Santos (Vôlei Futuro), assumidamente homossexual, sendo achincalhado impiedosamente em partida realizada em Contagem/MG.
            Por outro lado (mas do mesmo lado), representantes públicos falam abertamente em imunidade parlamentar para defender a tortura, a homofobia, o racismo, ao ponto de incitarem o ódio até mesmo ao Continente Africano, vítima de uma ocupação européia de séculos a fio e que levou ao seu povo a guerra, a doença, a tristeza, a miséria.
            Já a mídia tupiniquim brinca, espetaculariza, banaliza e comercializa a tal ponto estes fatos que sequer percebemos o absurdo “jornalismo da exclusividade” na tentativa de entrevistar uma criança, saindo abalada da escola, tremendo até a alma, e saber o que aconteceu dentro da Escola Tasso da Silveira, no Realengo/RJ.
            Mídia e Estado (por suas representações públicas, típicas da democracia representativa) investem, e não assumem essa responsabilidade, na divulgação de valores racistas, consumistas e de uma desumanidade tacanha e individualista.
            Basta passearmos pelas ruas, a pé, de carro, de ônibus e percebermos as informações visuais e “escutacionais”. Outdoors de “popozudas” (mulheres de costas e em posição erotizada) ou com a proposição de produtos de padronização de beleza e juventude.
            Comerciais e programas regulares da TV aberta e fechada enfatizam, insistentemente, o TER em detrimento do SER, onde você é o que tem e (que ironia) não o que é.
            A tempos este nosso espaço, nossos artistas e público vem refletindo com mais cuidado estas questões, destacando que temos a sincera, humilde mas CONVICTA sensação: vivemos um tempo em que nossa juventude não tem esperança. E o que é esperança?
            Esperança é aquilo que todos sabemos e não temos a mínima ideia de como tê-la. É compreender que é possível e necessária uma vida melhor para todos e todas. É viver o presente, acreditando no futuro sem enterrar o passado. E o combustível, a força, a principal disposição de fortalecimento da esperança, para nós, é a indignação. Não aquela que nos toca momentaneamente... mas a que nos conduz diuturnamente nossos valores e atos.
            É olhar para os malabaristas e não esperar a hora de aplaudir seus feitos. É olhar para o domador e entendê-lo em sintonia com a natureza, e aplaudir esta sintonia. É rir com o palhaço e com suas brincadeiras e estas não são nem homofóbicas, nem racistas.
            Esperança é não apenas dizer o que espera do futuro, mas o que esperamos e fazemos do presente e o que necessitamos do passado, este também necessário.
            O fato de o Universal Circo Crítico ter esperança na juventude não nos impede nem nos desresponsabiliza da obrigação de denunciar: nossa juventude perdeu a esperança. E esta denúncia é, também, nosso sinal de esperança.
            O Universal Circo Crítico segue em “respeito silencioso”, daquele silêncio que ensurdece. Perdemos, dia a dia, jovens e mais jovens. E não falamos apenas daqueles que tombam: nosso artista Leonan, as crianças do Realengo, os jovens mortos pelas gangs racistas e homofóbicas. Falamos, também, daqueles que estão vivos, perdemos e deixamos seguirem seus caminhos... sem esperança.
            Venham Todos!
Venham Todas!... é necessário!
Marcelo “Russo” Ferreira