RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

terça-feira, 29 de março de 2011

Lá vai Leonan...


“Na roda do mundo,
mãos dadas aos homens,
lá vai o menino
rodando e cantando
cantigas que façam
o mundo mais manso,
catingas que façam
a vida mais doce
cantigas que façam
os homens mais crianças...”

(Cantiga quase de roda
– Thiago de Melo)
             




             E lá vai Leonan...
            Homem-menino-jovem, de sorriso sempre estampado e que, certamente, terá este sorriso na memória de todos os seus.
            O Universal Circo Crítico sabia que um dia iria acontecer de falar de seus artistas anônimos, de seu público, de seus jovens. Não os famosos (como já fizemos outrora: Mercedes Sosa, José Saramago...), não os de longe, no tempo e na distância (como o S. Wilson, nos tempos do ArcaMundo, um dos pais da rua de baixo), mas de alguém deste tempo e do convívio desta lona, deste picadeiro, deste público.
            Sabia que haveria o tempo em que teríamos que dizer “e lá vai...” para alguém daqui de perto, do dia-a-dia, da história vivida em foto, em festa, em labutas acadêmico-científicas, em tensões como só aquelas que a sala de aula permite.
            Mas, nem mesmo o Universal Circo Crítico estaria preparado, seja a que tempo fosse... e quis a história que fosse agora. Não queríamos estar preparados... e não estamos.
            Mas, lá vai Leonan...
            Que fosse neste 27 de março, em pleno Dia do Circo! Dia do artista circense! Dia do Palhaço Piolim... Leonan era um palhaço porque fazia as pessoas rirem. E nós não riamos apenas com suas brincadeiras, “tiradas” e risadas. Ríamos COM Leonan, porque ele assim o era. Porque a mera, simples, humilde e gostosa companhia dele nos dava a “danar de rir”. Mesmo nas diferenças.
Porque, mesmo talvez desconhecendo-a, sempre cultivou o riso entre os seus amigos e parentes, ao próprio sabor da Declaração do Riso da Terra, já declamado neste espaço em outro 27 de março:
 “(...) O Riso que resiste ao ódio, à fome e as injustiças do mundo. Cultivemos o riso. Mas não o riso que descrimine o outro pela sua cor, religião, etnia, gostos e costumes. cultivemos o riso para celebrar as nossas diferenças. um riso que seja como a própria vida: Múltiplo, diverso, generoso. Enquanto rirmos, estamos em PAZ. – João Pessoa/PB, 2 de dezembro de 2001”.
Que fizesse chuva durante todo o dia 27, mas que em sua despedida triunfante no dia seguinte, com canções cantadas por mais de duas centenas de vozes, com seus PARCEIROS de faculdade entoando uma das palavras de ordem mais famosas da UFPA (“an! an! an! Viva Leonan!”), o dia se fizesse limpo e ensolarado. Como a celebrar a sua chegada, onde quer que lá chegue.
Conseguiu, este orador de seus colegas de turma, fazer com que o MAIS ATEU (em valores) DE SEUS PROFESSORES acompanhasse por inteira a missa de despedida realizada em sua comunidade. Nem mesmo na celebração cristã (católica e evangélica) de sua formatura eu me fiz presente (pelo meus princípios). Mesmo no meu silêncio permanente durante toda a sua manifestação religiosa que também marcou sua despedida, o meu respeito à sua crença e o meu “auto-convite” a esta sua última celebração cristã. Possivelmente, muito pouco para homenageá-lo de verdade.
Lá vai Leonan... nós ficamos...

“(...) O canto desse menino
talvez tenha sido em vão.
Mas ele fez o que pôde.
Fez sobretudo o que sempre
lhe mandava o coração”

(Epitáfio de “Cantiga quase de roda”
do xará de Leonan, Thiago, o de Melo)

Vida Longa a Thiago Leonan!
Thiago Leonan... Presente!

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira


PS.1: a CTBel, responsável pelo trânsito de Belém já afirmou: não colocará lombadas na 1º de dezembro/João Paulo II, pois é alternativa para os horários de fluxo pesado na Avenida Almirante Barroso... parece que irá vencer a velocidade, não o cidadão.
PS.1: a dona do veículo que o deu para um jovem embriagado e sem habilitação deveria não apenas ser presa (como prevê as Leis de Trânsito e Civil deste país). Deveria sustentar a família ,vítima de sua irresponsabilidade, pelo resto da vida. Por mais que isso provocasse a continuidade da dor da família de Leonan.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Conversa ao pé de ouvido de Luise...


“La soberanía no se discute,
se defiende con las armas en la mano.”
(Sandino)

            Salve, Salve, Pequena Luise Nogueira Fernandes...
            Pela primeira vez, em minha ousada mania de saudar os/as pequenos/as que chegam a este mundo, e sempre me refiro a eles/as como “pequenos lutadores”, posso dizer que o farei na origem. Assim sendo...
            Salve, Salve, Pequena Luise, do latim Luiza, que significa LUTADORA. És, no seu presente de batismo dado por seus pais, lutadora no nome.
            Bom, dos seus pais, só conheço sua mãezinha. E é mãezinha porque é pequenininha. Mas também é grande em seus sonhos e, certamente, estás entre pessoas que cabem em seus grandes sonhos e, assim sendo, os faz crescer com sua chegada.
            Ah! Mas vou logo me desculpando. Estamos prestando essa homenagem em seu primeiro mês de aniversário. É que de vez em quando este nosso pequeno circo (pequeno, mas universal) tem uma demanda grande de artistas, de cenas, de ideias e celebrações. Daí, perdemos o tempo de homenageá-la logo na chegada.
            Mas, mesmo não conhecendo seu pai, Luis, há uma semelhança na história da humanidade que nos leva a ele. Ainda que hoje (de a muito tempo) essa data tenha um olhar comercial e com um corte profundamente conservador sobre “ser pai”, foi uma figura de nome Sonora Luise quem, digamos assim, “inventou” o dia dos pais. Bom, ela o criou para um dia de junho (19, aniversário do pai dela) e, no Brasil, veio lá pelas bandas de 1953, pelas mãos de um publicitário. De qualquer maneira, tá aí algo que seu pai, certamente, não sabia.
            Bom chegaste em 23 de fevereiro. Uma data que, assim como todos os dias de nossas vidas, sempre nos deixam lições. Singulares ou Históricas... E, como sempre, passamos a buscar as lições que o nosso Picadeiro, nossa Lona e nossos Artistas (sempre ciganos) nos deixam para esta data.
            Lá pelos tempos de 1861, nas bandas da América do Norte, a história testemunhou um período grotesco, desumano, da história dos homens. Não bastasse os séculos a fio que escravizaram negros e exterminaram índios (e já defendiam a liberdade, naqueles tempos), os Estados Unidos vivenciaram uma fato, no mínimo, contraditório. O então eleito presidente daquele país, Abraham Lincoln, teve que chegar escondido à Washington para assumir a presidência do país. Os anos que seguiram foram de intensa guerra civil. Um país em que o preconceito e o racismo vigam até hoje ainda visita nossas terras e defende a democracia... americana... ainda que com um presidente negro (que, a poucos anos atrás, só era imaginado em filmes de Hollywood). Mas, é preciso lembrar: muitos foram os motivos daquela guerra civil em longínquos 150 anos nos EUA. Mas o principal deles foi a intolerância, a mais profunda manifestação da ignorância humana sobre si mesmo. Daqui, fica a nossa primeira lição, pequena Luise. Nunca permita que o preconceito, minimamente, faça parte de seus aprendizados.
            Foi em 1919 que, em Portugal, estava por ser fundado o Jornal A Batalha, que teve, segundo o blogueiro português A. Brandão Guedes, uma publicação em forma de Almanaque em 1926. Tratava-se do único jornal diário do movimento operário e sindical em Portugal e vinha na esteira do clima revolucionário russo, transformando em fato a utopia de uma revolução operária. A utopia, que Galeano tão bem nos ensinou como sendo o ato de caminhar. Até onde me consta, o Jornal ainda existe, com os mesmos princípios libertários que o originou. De qualquer maneira, trata-se de um elemento na história da humanidade que nos coloca, hoje, a pensar: qual a relação entre democracia e “liberdade de imprensa”? Bom, Luise. Acho que é cedo para pensares em responder esta questão. Mas, na esteira do significado do seu nome. Nossa segunda lição: a liberdade verdadeira é aquela que não esconde opinião, palavras ou verdades. Busque sempre a liberdade, aquela coletiva, de todos e todas as pessoas deste mundo.
            Uma coisa importante e que seus pais certamente não irão deixar passar: assim que puderes, toma a “gotinha”. E lembre-se: foi num dia assim, 23 de fevereiro, lá pelos tempos de 1954 que um imunologista americado de nome Jonas Salk apresentava a vacina para a poliomielite. Doença que vinha pesadamente em todo mundo, na esteira do pós-Segunda Grande Guerra. Ah! Mas ele não estava sozinho. Vais escutar, principalmente nos tempos de campanha de vacina contra a paralisia infantil (Zé Gotinha e coisa e tal) de outro cara, chamada Albert Sabin. Esse sim, avançou nas pesquisas contra a pólio e inventou a “gotinha”. Veja que massa! Metade do Século passado e a vacina já tinha a forma de gotinha. Não faça careta, hein?
            Em 1961, uma data importante: Erneste Che Guevara assumiria o Ministério da Industria de Cuba, país que já sofria com a sansão econômica imposta pelos Estados Unidos. Uma Ilha “deste tamanhozinho” tendo suas fronteiras econômicas cerceadas pelo imperialismo americano que, já naquela época, inventava guerras e ditaduras. OS critérios de trabalho do então Ministro da Indústria (de um pais agrícola e de manufatura)? Discussão coletiva e responsabilidade única. Ah, se nossos Ministros aqui nas terras brasilianas pensassem assim... em um tempo em que até o Ministro só recebia a comida permitida na caderneta (lembre-se: era uma Ilha, Soberana mas uma Ilha, com embargo econômico), Che ensinava a lição para um estadista: “A realidade sem enfeites, sem medos e sem vergonhas. A verdade nunca é ruim”. Talvez neste sentido seja coerente pensar que a verdade é revolucionária. E que esta seja mais uma lição, pequena Luise: Seja sempre revolucionária, nunca tenha medo da verdade.
            De todos/as aqueles que, até onde pudemos descobrir, nasceram ou morreram em um 23 de fevereiro, destaco um, que partiu nesta data mas, ao partir, deixou uma grande lição: a de que as pessoas vão, mas a idéia fica. Foi em 1934, numa armadilha feita por Somoza Garcia (que deu um golpe de estado em seu país, a Nicarágua e lá ficou por quatro décadas) que Augusto César Sandino, líder revolucionário nicaragüense, considerado o “general dos homens livres” foi morto. Mas seu nome e sua luta ecoaram por toda América Central e Latina. Sandino, como Che, são nomes que não devem ser esquecidos... principalmente em tempos em que o Presidente dos Estados Unidos visita nosso país e toda a imprensa cobre até o horário em que o avião Força Aérea 1 levanta vôo... ao vivo!
            Que também possamos deixar a lição de Sandino, pequena Luise que sempre defendeu a necessidade de lutar acima da possibilidade de ser escravo.
            Como diria o saudoso Chico Science: “Viva Zapata! Viva Sandino! Viva Zumbi! Antonio Conselheiro! Todos os Panteras Negras. Lampião, sua imagem e semelhança. Eu tenho certeza, eles também cantaram um dia” que abria este chamado com uma lição que, mesmo não sendo desta data, pequena Luise, vale para toda uma vida: O medo dá origem ao mal/ O homem coletivo sente a necessidade de lutar/ o orgulho, a arrogância, a glória/ Enche a imaginação de domínio/ São demônios, os que destroem o poder bravio da humanidade”...
            A nossa homenagem completa-se na belíssima voz de Mercedes Sosa, que cantou à Nicarágua e aos Sandinistas.

Viva Luise!

Vida Longa à pequena Luise!

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

 



segunda-feira, 21 de março de 2011

O Universal Circo Crítico... tem coisa que mal dá p’ra acreditar...


            Todo mundo, parece-me, viu. Ou pelo menos soube e, em algum momento, acompanhou reportagens: Barack Obama no Brasil... Eu, mesmo, só vi as reportagens.
            Visitou Brasília, conversou com A Presidenta. Por trás deste “bate-papo” inúmeras reuniões comerciais. Aliás, durante a visita de Obama em Brasília, há notícias de que uma meia dúzia de Ministros de Estado (do Brasil, não dos EUA) passaram alguns constrangimentos na revista... e, daí, as inevitáveis piadinhas que nem contexto tem mais: “Ah! Lembrem-se que estes Ministros são do PT e que na década de 79 e 80 eram terroristas...” Mas, será que revistaram a Dilma??? Deixa p’ra lá...
            No Rio (não consegui acompanhar muita coisa em Brasília), cobertura em tempo real. Aliás,a cobertura em tempo real até determinou a hora em que o Força Aérea 1 decolou do galeão. Exatamente às 9:14 horas... enquanto a aeronave taxeava, blá-blá-blá, blá-blá-blá, blá-blá-blá... tudo isso ao vivo.
            Mas é o dia no Rio que nos chamou a atenção. De um lado, os presos políticos (os militantes do PSTU)... Sim, presos políticos em tempos atuais. Tá, usaram coquetéis molotov lá na sede da embaixada? Não é legal? Pode até não ser legal de se ver, assusta e coisa e tal... mas, convenhamos: essa visita foi a mais explícita manifestação de geopolítica direcionada a uma nova etapa de “colonialismo” que já vimos nos últimos tempos. Acho que nem quando o Bush veio ao Brasil (já em tempos de Lula) isso se evidenciou tanto. Apenas aparentemente...
            Mas esta visita foi outra história. A Imprensa Tupiniquim (a mesma, lembremos, que promoveu um recall eleitoral de 1989, mas com um nível mais baixo) fez de tudo para demonstrar que o Brasil precisa se aliar ao pensamento de estado norte-americano. E aí, uma primeira contradição: não cobriu, concretamente, o que mais “produtivo” aconteceu durante este final de semana (e que, na verdade, iniciou-se semana passada) em função dos acordos comerciais entre os dois países. E, a não ser que procuremos uma mídia mais responsável (Carta Capital, Caros Amigos, Brasil de Fato, Le Monde Diplo/Brasil, dentre outros), que não aceita “babando” as coisas e as notícias, continuaremos órfãos destas.
            Mas, depois de pesquisar com mais calma, encontrei o discurso do presidente americano no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Claro que ao tentar copiar, na íntegra, este discurso (pesquisei e “caí” no site de O Globo), aparece a seguinte mensagem: “Não é permitida a utilização desse (sic!) conteúdo para fins comerciais e/ou profissionais. Para comprar ou obter autorização de uso desse (sic! de novo!), entre em contato com a Agência O Globo pelo e-mail: agenciaoglobo@oglobo.com.br).
            Bom, como o Universal Circo Crítico não cobra ingresso, acho que está liberado. Mas, por outro lado, não tinha qualquer intenção de reproduzir o discurso de Obama por aqui. Assim como, para lembrar-me de reflexões semelhantes, não reproduzi a Segunda Encíclica de Bento XVI, em fins de 2007.
            Qual a semelhança destes dois fatos? Oras! A “síntese jornalística” da nossa Imprensa Tupiniquim e, neste particular, os “esquecimentos” de Obama. Citando algumas passagens:
            Primeira passagem: “Nossas terras são ricas com tudo o que Deus nos deu, são um lar para povos antigos e população indígena.”
            Que péssima lição de história aos povos que nos deu o presidente Americano. A grande arte da ocupação de terras nos EUA (e, também, por aqui) foi a dizimação total dos povos originários e escravo (trazido da África) a tal ponto que provocou uma Guerra Civil em seu país. O Lar dos Povos Antigos e Indígenas naquele país está pobre, desvalido e doente, sofreu com a produção da Sétima Arte a mais profunda construção de valores ante-indígenas, de tal maneira que, em uma Nação que sempre vota contra os direitos civis de seus próprios filhos, estão fadados à inevitável extinção.
            Depois desta, uma série de manifestações de juntos isso (umas três páginas), juntos aquilo (até em energia limpa ele falou! Energia Limpa? Nos EUA???)
            Segunda passagem: “Há décadas, justamente do lado de fora desse teatro, na Cinelândia, esse chamado por mudanças foi ouvido. Estudantes, artistas, políticos se uniram com faixas que diziam: "abaixo a ditadura, o povo no poder" . As aspirações democráticas só foram atingidas anos depois.”.
            Poderia... ou deveria, o presidente americano, reconhecer o inegável neste momento: que a ditadura brasileira (e em todos os países da América Latina e Central) se deu com o braço armado e a Escola das Américas norte-americanos. Todos aqueles que tombaram em defesa do “povo no poder” eram chamados de terroristas pelos Estados Unidos. E, ainda hoje, este é o papel que este país exerce mundo afora e, no Brasil, já “caracterizaram” as cédulas terroristas que são um “problema” para a aproximação (exploração) comercial entre os dois países. Destaco os Bravos Lutadores do Povo Campesinos, em especial, o MST.
            Terceira passagem: “Sabemos (...) que nenhuma nação deve impor seu desejo sobre outra. Mas também sabemos que há aspirações compartilhadas por todos os humanos.”. Parece “brincadeira” (mas que não tem espaço em nosso picadeiro). Um país que possui quase mil bases militares em todo o mundo que falar o que de soberania dos povos? Isso apenas para falar no campo militar. Um pouco mais de paciência nos levará também à educação, à cultura, à tecnologia etc. Obama também citou os conflitos no Oriente Médio, justamente com as ditaduras que eram (talvez ainda sejam) importantes para os interesses comerciais e energéticos dos Estados Unidos.
            Quarta passagem, retomando a continuidade da reflexão do discurso do presidente americano destacado na segunda passagem: “Filha de imigrantes, sua participação no movimento a levou à prisão. Foi torturada pelo próprio governo. Logo, ela sabe o que é viver sem o direito mais básico pelo qual tantos estão lutando hoje. Mas ela também sabe o que é perseverar, o que superar, pois hoje essa mulher é a presidente desta nação, Dilma Rousseff.”. Bom... essa passagem é interessante por dois motivos: primeiro, porque não foi nada estadista ao “silenciar-se” (de novo) ante a inquestionável contribuição do Tio Sam nas torturas realizadas nos porões militares dos anos de chumbo no Brasil e na América Latina e, assim, a possibilidade de Dilma nunca ter saído viva de lá. Mas, e aí vem o que eu me dispus a assistir (os noticiários do “the day after”) e que chega a ser “coisa de menino com bico”. Quer queira, quer não, Obama fez um baita elogio a atual presidenta e ao processo histórico que levou uma “terrorista” à presidência do país. E as sínteses do jornalismo tupiniquim nem quis nem saber de destacar esta fala em seu noticiário matinal ou da hora do almoço. Aliás, o mesmo o fez quando falou, an passan, na “criança pobre de Pernambuco (que) pode sair do chão de fábrica (...) e chegar ao cargo mais alto do país” e, de novo, as sínteses jornalísticas silenciaram-se...
            Mas, por fim, o “gran finale”... Temos autores maravilhosos, escritores da mais alta qualidade, educadores reconhecidos no mundo todo. E todos eles possuem reflexões e falas sobre este nosso país, muito mais “verdadeiras”: Paulo Freire, Carlos Drumond de Andrade, Mario Quintana, Machado de Assis, Cecília Meireles e por aí, vai. Fechar com Paulo Coelho??? Ah! Sim... é um “famoso”.

            Difícil fechar estas reflexões com “Venham Todos! Venham Todas!”

            Vida Longa!

            Marcelo “Russo” Ferreira

quinta-feira, 10 de março de 2011

Mulheres (parte III – Palavras de Formatura)


“Um povo sem passado é um povo sem futuro”
(José Martí)

            Em um contexto de Dia Internacional da Mulher, celebrado a dois dias mas que toma esta semana de manifestações, também me dirijo à Turma 2007 com este perfil de substantivo feminino (no português gramatical): A Turma 2007.
            Durante os tempos em que nos aproximávamos desta data, deste evento, desta celebração, refletia a feliz coincidência de a termos em uma semana que, de maneiras antagônicas (consumidoras ou cidadãs), lembram (superficial ou radicalmente) o significado do Dia Internacional da Mulher. Mesmo não sendo, hoje, dia 8 de março, entendia como coerente buscar, para minhas palavras, o real significado desta data.
            Em que pese (e isso não é ruim) termos, durante os semestres que compuseram nossa relação docente e de amizade, evidenciarmos nossas posições políticas e ideológicas entre a mera diferença e o profundo antagonismo, farei, das minhas palavras neste momento, aquelas que sempre me ensinam: de aprendiz de lutador do povo a jovens aprendizes de lutadores do povo. Aos que assim se entendem, um mero combustível à nossa luta e aprendizado. Aos que assim não se entendem, o convite constante ao debate, representação clara e verdadeira do diálogo, com o qual a sua ausência não possibilita o aprendizado verdadeiro e compromissado.
            A turma 2007, sujeito coletivo feminino...
            Podem não acreditar, mas a história de vocês tem início em 1917, quando um dos, talvez o mais importante, estopim da Revolução Russa acontecia em 8 de março daquele ano (28 de fevereiro, pelo calendário russo). É verdade que em 1909, em Nova York, pelo Partido Socialista da América, era celebrado neste mesmo dia, em memória à greve das operárias da indústria têxtil daquela cidade. Mas foi na Revolução Russa de 1917 que a mulher foi protagonista, não mera homenageada, pois elas lutavam contra a fome, contra o Império e contra a participação do país na Primeira Grande Guerra. Nas palavras de Leon Trotsky, “Em 23 de fevereiro (8 de março no calendário gregoriano) estavam planejadas ações revolucionárias. Pela manhã, a despeito das diretivas, as operárias têxteis deixaram o trabalho de várias fábricas e enviaram delegadas para solicitarem sustentação da greve. Todas saíram às ruas e a greve foi de massas. Mas não imaginávamos que este ‘dia das mulheres’ viria a inaugurar a revolução”.
            Que esta data, e toda a sua história e contradição, possa ser o combustível ideal a todos vocês. Que vocês possam inaugurar um tempo para a Universidade, para a Formação Docente, para a Educação e, no nosso particular, para a Educação Física.
            E é nesta perspectiva que aqui me refiro, de pensar a saída de vocês da “institucionalidade” da relação acadêmica como um preceito de volta à esta Universidade. E se assim vocês comigo pensarem, vou repetir o desafio que já manifestei a turmas anteriores, quando de seus particulares momentos de formatura: “precisamos pintar a Universidade de preto, de povo, de operário, de camponês. Precisamos pintar a Universidade de índio, de mulher, de trabalhador”... e nada como fazer um convite assim durante a semana que celebra o Dia Internacional da Mulher.
            Este data central, queridos e queridas professoras, que agora se legitimam, ao longo dos anos nos coloca um desafio profundamente histórico. Cada vez mais o Capital coloca o “sujeito-coisa” como central em todas as lutas populares e históricas. A mulher, a cada ano, vem ganhando (é verdade) o respeito às suas sutilizas, levezas, “singelidades”... As questões reais da feminilidade têm ganhado espaço, mas, ao mesmo tempo (e perigosamente) vem sendo cada vez mais “coisificadas”. Quanto vale e quanto se ganha com esta celebração de resistência e luta de um segmento? Luta esta que, à bem inquestionável da verdade, surgiu e fortaleceu-se na luta da classe trabalhadora e no enfrentamento das lutas de classe... A cada Dia Internacional da Mulher, experimenta-se um vácuo de sua ausência... durante 364 dias, “consumimos” uma mulher objeto, dos produtos de beleza à cerveja, dos desenhos infantis às novelas, a mulher é consumida, é objeto, assim como o é a classe trabalhadora. Suas lutas são transformadas, diuturnamente, em concessões, em pequenas flexibilidades de relações de poder e, pior ainda, de força.
            Não obstante, não são as âncoras dos programas de auditório ou dos Bom Dia’s ou Tardes e seus BBB’s e similares colocados à disposição nas programações diárias de nossa mídia tupiniquim (inquestinavelmente idiotizantes) que levam ao seu público, com sua visão pequeno-burguesa, conservadora e frágil, a real importância da Luta das Mulheres. São justamente as mulheres que gritam diante do silêncio desta mesma mídia, todos os dias, dia e noite. Destas, destaco as mulheres do campo, as lutadoras do povo forjadas na própria luta. No brado forte e suave das mulheres campesinas, em 2009, neste mesmo Dia Internacional das Mulheres, sua bandeira nos convoca: Reafirmamos a luta como única saída para as transformações sociais! E temos o direito de lutar! (...) Seguiremos lutando e organizando as mulheres, os homens, a juventude trabalhadora e as crianças para defender os nossos direitos de viver no Brasil justo, igualitário e soberano”.
            Mulheres camponesas, caros professores e professoras aqui formados e formadas. Mulheres camponesas que não apenas nos dão mais uma lição nesta data (a de vocês também) e em nossas vidas e que afirmam: “temos o direito de lutar!”. Somam-se, vocês, ao conjunto de trabalhadores da educação. E somos muitos. Somam-se, vocês também, à luta pela transformação social – como direito que também tem, sempre tiveram, e continuarão a ter – de lutar, no conjunto da sociedade, pela justiça, pela profunda e radical igualdade social e pela soberania de nosso povo. Reafirma-se nosso compromisso social, agora na condição de Professores e Professoras, aqui legitimados/as.
            Mulheres, independente até desta data histórica, também devem ser re-lembradas neste dia e, particularmente, na Formatura de vocês. Convido-as a se fazerem presentes neste que, parece-me, será um dos dias mais importantes da vida de vocês. Convido, meio que para serem Patronas da Memória e da Luta de vocês até este dia, mulheres como a escrava Nagô-brasileira Luisa Mahin, a educadora revolucionária russa Nadhezda Krupskaia, a Militante Comunista Rosa Luxemburgo, a ex-primeira-dama hondurenha Xiomara Zelaya e a componesa Rose.
Luisa Mahin, escrava africana do século XIX, mãe do abolicionista Luis Gama. Mais do que mãe de um abolicionista, foi uma lutadora contra a escravidão na então província da Bahia, quase se tornando Rainha da Bahia se os levantes por ela organizados tivessem êxito. Afinal, era rainha quando foi escravizada no continente africano. Pouco se sabe de sua história, mas as palavras de seu filho são suficientes para mais uma lição:  "Sou filho natural de negra africana, livre, da nação nagô, de nome Luísa Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã. Minha mãe era baixa, magra, bonita, a cor de um preto retinto sem lustro, os dentes eram alvíssimos, como a neve. Altiva, generosa, sofrida e vingativa. Era quitandeira e laboriosa."... Reconheçamos: as palavras de Luis Gama parecem entoar que se tratava de uma mulher sem civilidade ou respeito às leis cristãs. Da minha parte (e, creio, também da parte dele), o reconhecimento de quem, muito antes de Carlos Marighela, já dizia a si e aos seus “não tenho tempo para ter medo”... e assim o fez pelo seu povo. Pensemos nisso a cada dia de nossa labuta, de nossos estudos contínuos, de nossas relações provenientes de nosso trabalho. Por quem o farei? Luisa Mahin! Presente!
Nadezhda Krupskaia, mais do que a esposa de Wladimir Lenin, foi uma educadora revolucionária, que colocou toda a sua vida (em tempos e condições sofridas do início do século XX em um país tornado pobre pelo imperialismo russo) a serviço da educação de seu povo. Antes mesmo da revolução de 1917, ensinava a trabalhadores fabris as letras, a escrita e a aritmética e, ao mesmo tempo, proporcionava-lhes a formação revolucionária necessária à transformação de sua relação de exploração. E, desta história e compromisso, num país de iniciação fabril e profundamente campesino, defendia a importância da organização da juventude e da educação e, para tanto, a necessidade de acesso a livros e demais materiais pedagógicos. Antes mesmo do maior educador que este nossa país já teve (Paulo Freire), uma educadora que defendia o direito do ainda analfabeto povo trabalhador russo ler e escrever, como instrumento necessário ao forjar de uma vida mais gratificante.
Em tempos de acesso superficial ao conhecimento (em que as cópias das Enciclopédias sem a apoderação do que se copiava fora substituída pelo binômio “control C – control V” destes nossos tempos de avanço da tecnologia), entrar no mundo do conhecimento, de sua produção e sistematização é, cada vez mais, um grande desafio de nossa formação superior. Pergunto-me se deixamos passar, com vocês, este sentimento de “dosar” o conhecimento e a informação necessária à formação de vocês. De minha parte, tenho plena certeza de que não dei este exemplo. Em que pese vocês já terem testemunhado esta postura por outros pares, desde os tempos das primeiras letras de vocês e, talvez, durante a formação superior à qual vocês agora concluem uma etapa.
Mas que fique o ensinamento de Krupskaia: ler as letras e reescrevê-las, é como ver o mundo e transformá-lo. Nadezhda Krupskaia! Presente!
Rosa Luxemburgo, militante polonesa de família judaica, já no ensino médio demonstrava sua altivez e autonomia, com compromisso social e revolucionário, tornou-se doutora en Economia Política aos 27 anos de idade, ainda no século XVIII. Mulher, jovem, deficiente física e doutora, num tempo em que apenas homens o eram e, diferente destes tempos atuais, jovem doutora de verdade. A sua história, melhor bibliografada do que a de outras que aqui passaram nestas reflexões, fala por si só. Sua luta é seu ensinamento, tornando suas frases apenas expressões registradas às futuras gerações daquilo que há de mais importante de suas lições: “Não estamos perdidos, pelo contrário, venceremos se não tivermos desaprendido a aprender”. A educação burguesa nos ensina (ou tenta, constantemente) que, de tempos em tempos, podemos interromper nosso aprendizado e, quando não, o faremos apenas para avançarmos sobre outros e outras, iguais a nós... Que não desaprendamos, coletivamente, a aprender. Rosa Luxemburgo! Presente!
Xiomara Zelaya, diferente das que a antecederam nestas palavras, está viva, entre nós... Esposa de Manuel Zelaya, presidente deposto de Honduras em 28 de junho de 2009. Em 7 de julho daquele ano, Xiomara Zelaya liderou uma passeata (das muitas violentamente atacadas pelo governo golpista daquele país) em Tegucigalpa, exigindo juntamente com o povo nas ruas o retorno de seu marido à presidência do país e a restauração da democracia hondurenha. Neste ato suas palavras ecoaram mentes e corações da soberania popular hondurenha e do mundo:
“É indignante, companheiros, que todos estes crimes não sejam punidos, jamais poderemos guardar silêncio; e esta manhã peço a todos os presentes que nos fiquemos de pé e levantemos as mãos para fazer um juramento em nome dos caídos e dos familiares das vítimas, juramos não descansar jamais até que acabe esta terrível impunidade e se capture e condene os assassinos!!!”. Em nome das mulheres hondurenhas, destacava a nobre liderança que eram elas, as mulheres, as primeiras a falar PRESENTE! naqueles recentes tempos sombrios hondurenhos.
Xiomara Zelaya ainda se faz presente, em vida, na luta contra a violência impune do capital e do imperialismo que, não esqueçamos, passou a mão na cabeça dos golpistas hondurenhos, numa inarrável postura imperialista do velho pensar norte-americano: “se pensarem como nós queremos que pensem, então, apoiamos”. Espero que compreendam, todos os dias, o que significa a luta contra a violência que os ataca no direito que passam a ter de exercer a profissão que escolheram.
Rose, simplesmente Rose, militante camponesa do MST, participante de uma das maiores ocupações de terra improdutiva da história deste país, ainda no rasteio da ditadura militar expressa durante o Governo de José Sarney. Tratava-se da ocupação da Fazenda Anoni, cujo processo de desapropriação havia iniciado-se em 1972, já reconhecida, naqueles tempos, como latifúndio improdutivo. Após 13 anos de burocracia improdutiva, a Fazenda Anoni foi ocupada por 1,5 mil famílias de pequenos agricultores sem terra, dentre elas, a família de Rose. Durante o período de ocupação, em documentário que, depois, foi conhecido como “Terra para Rose”, a camponesa, mãe, mulher dizia sobre as tensões daqueles tempos: “não... não sentia medo nenhum (...) Eu, p’ra trás, eu não volto. Daqui, é só se eu ir p’ra frente, porque p’ra trás eu não volto (...) E eu fui, com muita coragem e fé em Deus!”. Rose, camponesa, mãe, mulher, em uma ocupação marcada pela tensão e violência de jagunços e, também do Estado Brasileiro, morreu naquele acampamento. Vítima desta mesma violência. Mas suas palavras ecoam corações de lutadores e lutadoras do povo, todos os dias, em todas as suas lutas: “não sentia medo nenhum”. Há, em princípio, duas maneiras de não sentir medo. A primeira, é estar do lado do algoz. A segunda, é olhando em seus olhos, de frente. Rose e milhares de lutadores e lutadoras do povo fizeram a segunda opção. Rose! Presente!
Muitas e muitas mulheres deveriam passar por estas palavras, minha homenagem a vocês. Mulheres trabalhadoras, pensadoras, educadoras; mulheres negras, imigrantes, indígenas, camponesas, ciganas; mulheres que são muito mulheres e que perpassaram em minha mente, durante estas reflexões: Olga Benário, Dorothy Stang, Clara Zetkin, Clara Charf, Maria da Penha, Maria Bonita, Maria Célia Pereira... Todas Presentes!
Vocês escolheram, aqui, nesta celebração, Mirleide Chaar Bahia. Vocês são A Turma 2007, com o nome de uma mulher a marcar eternamente não apenas o legado de vocês, mas a história que ainda irão construir.

Vida Longa à Turma Mirleide Chaar Bahia!

Turma Mirleide Chaar Bahia! Presente!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

terça-feira, 8 de março de 2011

Mulheres (parte II – O Dia)


                “Eu vo contá uma históra
                Que eu não sei como comece,
                Pruquê meu coração chora,
                A dô no meu peito cresce,
                Omenta o meu sofrimento
                E fico uvindo o lamento
                De minha arma dilurida,
                Pois é bem triste a sentença,
                De quem perdeu na isistença
                O que mais amou na vida (...)”
                (A Morte de Nanã – Patativa do Assaré)


                A dois dias atrás, apenas as primeiras reflexões sobre o Dia Internacional das Mulheres bem na semana de carnaval. Tanto as referências sobre a concentração de renda/salário (e com a inconteste realidade de que as mulheres atingem a qualificação de nível superior de ensino quantitativamente maior do que os homens – o que não deixa de ser também uma expressão da contradição da concentração de renda e exploração da classe trabalhadora), tanto no “qual mulher” se será evidenciada em tempos de carnaval.
                Porém, dialogando com alguns que por aqui passaram (alguns não deixaram depoimento aqui, mas em meu endereço virtual) e levantaram a tese de “carnaval – festa popular”. Ok, gosto de carnaval... Não tenho na minha história de vida muita curtição do carnaval em si. Em meus tempos de terras pernambucanas, brinquei bastante nas ruas de Olinda e Recife. Fora isso, lembro das brincadeiras de carnaval de minha infância, nos salões/matinês do saudoso Clube Tietê, em São Paulo... mas este, claro, não é o assunto destas reflexões divididas em (já anuncio) três partes.
                Patativa do Assaré (vulgo Antônio Gonçalves da Silva – um pequeno agricultor, nordestino, cearense, da região do Cariri), um filósofo trovador nordestino, possivelmente pouco conhecido de nossos jovens, inclusive aqueles que acham a leitura uma perda de tempo, em suas palavras de escrita grosseira, mas poética quase música, nos dá uma bela lição sobre as mulheres, ainda que na perspectiva de sua ausência, de sua perda.
                A recíproca, parece-me, é verdadeira:
                Enquanto não for percebido como um problema de todos as mulheres serem mais exploradas em sua mão de obra (que, destaco, em si já é uma exploração do capital), recebendo menos do que os homens pelo mesmo serviço, não viveremos melhor, nem homens, nem mulheres.
                Enquanto a violência contra a mulher, que não é pior nem mais amena do que a violência com o/a negro/a, contra a infância, contra o/a idoso/a (inclusive a violência silenciosa, quase “legal” de induzi-lo ao “empréstimo consignado” especial para aposentados/as) continuar existindo, não viveremos melhor, nem homens, nem mulheres.
                Enquanto o capital for mais importante do que as pessoas, o lucro mais necessário do que a partilha, o consumidor mais “real” do que o cidadão, não viveremos melhor, nem homens, nem mulheres.
                Enquanto a conduta humana (sic!) de explorar diuturnamente e infinitamente um planeta finito continuar prevalecendo em nossas relações sociais, não viveremos melhor, nem homens, nem mulheres.
                Enquanto o individualismo, a meritocracia, o fetiche, a hipocrisia dos valores morais (urbanos, brancos, ocidentais, “nortistas” e imperialistas) continuarem a conduzir as posturas e relações sociais, fazendo com que até as pequenas (aparentemente) posturas de correlação entre hierarquia e poder (acompanhadas pela força) não forem extintas, subsumidas da sociedade, não viveremos melhor, nem homens, nem mulheres.
                É na ausência do todo que podemos perceber a ausência das partes. Perdemos, cotidianamente, a verdade, o coletivo, a prática social das relações sociais... perdemos a leveza e com ela a sabedoria. Pensamos tanto no agora, que esquecemos o quanto o passado é necessário e o futuro uma condição de existência.
                Mas, se a indignação é compreendida, em sua essência, é verdade a presença da esperança... e não me parece tão casual assim que, do ponto de vista do “português correto” (em que pese sua ausência em Patativa não causar qualquer desqualificação em sua obra), indignação e esperança sejam palavras femininas. A indignação e A esperança.
                Que Nanã, a companheira querida por quem cantava Patativa, possa ser nossa Indignação e nossa Esperança, em suas palavras.

                “Saluçando, pensativo,
                Sem consolo e sem assunto,
                Eu sinto que inda tou vivo,
                Mas meu jeito é de defunto.
                Invorvido na tristeza,
                No meu rancho de pobreza,
                Toda vez que eu vou rezá,
                Com meus juêio no chão,
                Peço em minhas oração:
                Nanã, venha me buscá”

                Se assim vierem Indignação e Esperança, ficaremos...
               Ainda faremos mais uma pequena homenagem nesta semana.

                Venham todos!
    Venham todas!

    Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira