RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Greve nas Universidades - Manifesto à População...



Nosso Espaço, nosso picadeiro, nosso público é heterogêneo... Nós reconhecemos isso!
Principalmente entre nosso estimado público, sabemos que há aqueles e aquelas que discordam de nossos sonhos, de nossa ousadia e, principalmente, de nossa posição de Luta da Memória contra o Esquecimento. Há até aqueles e aquelas que discordam existir Luta!
É verdade que nunca testemunhamos, aqui, manifestações destes e destas. Coisas da humanidade.
Mas é verdade, também, que nossa opção é clara: seremos sempre aprendizes dos Lutadores e Lutadoras do Povo... inquestionável e incondicionalmente.
Pois é assim que entendemos o real significado de nossa Lona e de nosso Picadeiro: naõ sermos meramente "pão e circo", a não ser que o Pão seja fruto de nosso trabalho e o Circo de nossa celebração. E por isso seguimos sempre lutando aqui e em outros tempos e lugares.
Já havíamos nos posicionado: Nós apoiamos a Greve nas Universidades! E, por isso mesmo, democratizamos aqui o Manifesto à População, escrito e publicado pelo Andes - Sindicato Nacional.

"A defesa do ensino público, gratuito e de qualidade expressa uma exigência da população brasileira, que há tempos clama por serviços públicos de qualidade e é também parte essencial da história dos movimentos sociais ligados à educação. Vale lembrar que educação, saúde, segurança, transporte, entre outros, são direitos de todos e dever do Estado.
Nas últimas semanas, professores, técnico-administrativos e estudantes das Instituições Federais de Ensino voltaram às ruas para cobrar dos governantes que cumpram seu papel e dediquem atenção, de fato, às reais demandas sociais.
Os trabalhadores da educação federal e estudantes estão em greve, porque estão conscientes de que é imprescindível lutar em defesa das Instituições Federais de Ensino. As negociações com o governo não avançam. No entanto, crescem a degradação das condições de trabalho, ensino e a deterioração da infraestrutura oferecida nas universidades, institutos e centros tecnológicos federais.
Os professores, técnicos e estudantes defendem sim uma expansão, desde que exista qualidade. Não adianta criar novas instituições sem oferecer as condições satisfatórias para que elas funcionem.
A realidade vivenciada pelos professores, técnicos e estudantes é muito diferente do que divulga a propaganda oficial do governo federal. A cada começo de ano fica mais evidente a precariedade de várias instituições federais de ensino, principalmente naquelas em que ocorreu a expansão via Reuni.
Faltam salas de aula, laboratórios, restaurantes estudantis, bibliotecas, banheiros, saneamento básico e em alguns lugares até papel higiênico. Ninguém deveria ser submetido a trabalhar, a ensinar e aprender num ambiente assim.
Além disso, é necessário também oferecer um plano de carreira, que valorize os professores e técnicos e os incentivem a dedicar suas vidas a essas instituições, à construção do conhecimento, aos projetos de pesquisa e de extensão. Só assim, é possível oferecer educação com a qualidade que a população brasileira merece.
No entanto, o governo federal vira as costas para os argumentos e propostas dos servidores públicos e usa seguidamente o discurso da crise financeira internacional como justificativa para não atender às reivindicações que são apresentadas pelos movimentos sociais em defesa da educação.
Não faltam recursos, o que falta é vontade política dos governantes. A verdadeira crise brasileira não é a crise financeira, mas sim ausência de políticas públicas que atendam as necessidades da população.
Priorizar a destinação dos recursos públicos na lógica do setor empresarial financeirizado, como o governo tem feito, causa impactos cada vez mais negativos nos serviços públicos.
Os professores, técnicos e estudantes estão nas ruas para dar um novo rumo ao ensino  federal e, para isso, conclamam toda a população a fazer de 2012 um marco na história da educação brasileira.

ENTIDADES NACIONAIS DA EDUCAÇÃO FEDERAL
ANDES-SN/ FASUBRA/ SINASEFE"



Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira

terça-feira, 26 de junho de 2012

O Universal Circo Crítico... mais um 21 de junho!





Todavía cantamos, todavía pedimos,
todavía soñamos, todavía esperamos
a pesar de los golpes
que asestó en nuestras vidas
el ingenio del odio,
desterrando al olvido
a nuestros seres queridos.
(Todavía cantamos –
Victor Heredia)


O Ano era 1968... possivelmente para uma parte significativa de nossos artistas e público, um ano em que diríamos “hi, eu nem tinha nascido”. Outros e outras dessa Lona também diriam que eram muito pequenos/as. Talvez alguns poucos eram jovens ou até adultos (sabe como é, nunca sabemos o quanto nossos espetáculos e nossos artistas conquistam).
O mundo vivia inúmeras “revoluções”, principalmente por parte da juventude.
Na França, jovens gritavam: “Sejamos realistas! Que se peça o impossível” e uma greve geral se estabelecia a partir de Paris.
Nos EUA, os jovens gritavam “não!” ao Vietnam (vergonhosa derrota daquele país que gosta, de há muito, fazer guerra em país alheio) e defendiam a Força da Flor, jogada contra policiais. Também gritavam com as mãos em punho fechado acima, os Panteras Negra, a Força Negra.
Na Tchecoslováquia, inacreditavelmente, jovens em Praga em barricadas gritavam contra os Tanques de Guerra russos, uma dívida histórica da história do comunismo.
No Brasil, jovens iam as ruas, contra a Ditadura. E em 21 de junho de 1968 ocorria, no Rio de Janeiro, a “Sexta-feira sangrenta”, em que trabalhadores (bancários, comerciários, funcionários públicos) se juntavam deria a luta espontaneamente, devido a violência com a qual a ação policial recebia a manifestação, que teve quatro mortos. Hoje, 26 junho, a histórica Marcha dos 100 mil de 1968 completa 44 anos. Foi também em 1968 que o jovem secundarista Edson Luis de Lima Santos fora alvejado por protestos no “bandejão” do Calabouço.
Historiadores diriam que não se tratava de uma Luta Internacional. Eram pontuais, com bandeiras pontuais. De internacional, existia a vontade de uma juventude em Lutar pelo que acreditava, contra o que acreditavam os pesadelos de seus algozes, todos travestidos de Estado e de Capital.

Fico pensando o que diriam, daqui a 40 anos ou mais, historiadores sobre o mais recente 21 de junho.
Há pouco tempo, nossas reflexões eram mais de “Atentos, Lutadores e Lutadoras do Povo!” do que de cartilha, quando escrevíamos “Como construir uma Ditadura!”. Foi em 7 de abril (http://ouniversalcircocritico.blogspot.com.br/2012/04/como-construir-ditaduras.html). Falávamos que uma Ditadura se investe de legalidade, de falta de investimento da história, de imposição de medo e de violência, de interesses privados (vestidos de Estado) e de uma mídia vendida.
Em 21 de junho, o Paraguai conseguiu sintetizar todas essas nossas atenções. E nem somos tão catastróficos assim. Até temos uma boa capacidade de teorizar a conspiração (nisso, sim, alguns de nossos artistas são “mágicos da realidade e da história”, pois não erram suas teorias), mas, reconhecemos, não estávamos acompanhando diuturnamente os acontecimentos dos últimos meses no nosso latino vizinho (mais lembrado por nós em dias de futebol). E nós mesmos bebemos de nosso veneno: uma notícia não noticiada não é uma notícia que não existiu... O que pensar de dia-a-dia’s de notícias sobre um país?
Na linha do que estamos refletindo ultimamente (sobre a Indiferença), parece-nos que estamos constatando que avançamos, a passos largos, na incapacidade do ser humano importar-se com o que acontece a seus semelhantes em países vizinhos.
Não é apenas no Paraguai que o povo sofre com a ditadura do Capital, seus representantes e seus Estados Nacionais que o prioriza. Mas cá estamos assistindo, no país vizinho, a mais esdrúxula manifestação da hipocrisia e cara-de-pau do um “golpe constitucional” e que, um passeio na nossa mídia nativa e conservadora, manifesta seu mais profundo preconceito contra o que tenha, minimamente, cheiro de povo, rosto de povo, suor de povo, história de povo. Se seus dirigentes forem iguais a ele, povo, precisamos rechaçá-lo.
Mais do que isso, identificamos, nesse Golpe de Estado no Paraguai, a presença de todos os sujeitos e cenários necessários ao seu sucesso (e em tempo recorde, diga-se de passagem): uma mídia a seu favor (inclusive internacionalmente), um país Imperialista parabenizando o golpe (assim como o fez na Venezuela e na Guatemala, bem como nos países do Oriente Médio – e seu petróleo), a Força Militar preparada e avançando contra o povo (ao invés de protegê-lo), uma Lei e os interesses privados (sobretudo, no caso paraguaio, os interesses dos latifundiários) e, voilá: está construída a ditadura!


Greve nas Universidades!
Greve em Hospitais e Centros Médicos!
Greve de Professores na Educação Básica!
Greve em Canteiros de Obras!
Greve de Motoristas e Cobradores!...

... Golpe contra um Povo! Não são fatos tão distantes assim, entre si.

Venham, Venham!
“Um povo só é livre por vontade de espírito coletivo e por ninguém mais que por ele mesmo pode ser libertado.” (Augusto Roa Bastos, escritor paraguaio)

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira



PS.: o Blog do Luis Nassif traz uma das melhores “crônicas de um golpe anunciado” que li desde o último dia 21. Vale a pena conferir, caso queiram construir uma opinião séria sobre o assunto. A citação de Augusto Roa Bastos está na epígrafe da crônica:
Também destacamos o artigo publicado na Carta Capital, pelo economista da PUC/SP, Paulo Daniel: http://www.cartacapital.com.br/internacional/fernando-lugo-realmente-e-um-mau-gestor/?autor=93

            Não dá pra dizer que somos mal informados.         

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Os Indiferentes II




“Vivo, sou militante.
Por isso odeio
quem não toma partido,
odeio os indiferentes.”
(Antonio Gramsci – 1917)

O Ano era 1998... Era professor de Ensino Básico em uma pequena (e grandiosa) escola no Bairro da Iputinga, o bom e imortal Projeto Nossa Escola.
            Em alguns intervalos, lá na pequena sala dos professores, vez em quando acomodava o violão.
            Eram tempos de violência espúria do Estado aos Movimentos Sociais, aos Professores, aos Trabalhadores do Estado que era vendido em pedacinhos, a preços ridículos e com o próprio Estado Brasileiro financiando seu pagamento, via BNDES, o Banco Nacional do Desenvolvimento... Era algo como “compre meu carro e se não tiveres dinheiro para comprá-lo, eu mesmo te empresto”.
            Eram tempos já contatos nesse espaço, no espetáculo anterior de nossa Lona de Circo.
            Andávamos nas Universidades, andávamos nas Escolas, entrávamos em sala de aula, conversávamos com gente próxima (inclusive família) e desconhecida. E eram muitos os indiferentes.
Claro, deu música...
Apresento: “Os indiferentes de Gramsci”

“Tu caminhas pelas ruas. / Sujas ruas, tantas cruas ou coloridas. / Teu passeio é tranqüilo? / O que escondem e aguardam / as sombras do velho monumento. / Tão velho quanto a dor inconseqüente / da violência inconseqüente. / E daí? / ‘Você não tem nada a ver com isso.’
Olho os meus passos, não sustentem. / Se o meu peito e minha mente arrebentam / é magnífico! / São os indiferentes quem odeio. / Sua indiferença não difere / dos indiferentes. / Eles não sabem cantar... / Eles não querem cantar...
A substância no meu prato / é miséria p’ra vocês. / Seu consumo é privilégio zombador, / aprisionando minha escassez. / Em seu embuste, sou inexorável. / Olho nos seus olhos lamuriados / eterno inocente daquilo que você fez, / daquilo que você não fez. / Qual a diferença?
Olho nos seus passos, tão estranhos. / Sua indiferença é abolia, / é covardia,
 é sem vida. / Por isso odeio os indiferentes. / Sua indiferença não difere / dos indiferentes. / ...eles não sabem voar... / eles são sabem de nossa poesia.
Tudo o que transformo me transforma / em asas para eu voar. / Tudo o que eu grito em meu suspiro / só os loucos podem escutar. / Minha insana lucidez...”

            Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira 


terça-feira, 19 de junho de 2012

Os Indiferentes



“Tudo o que transformo me transforma /
em asas para eu voar. /
Tudo o que eu grito em meu suspiro /
só os loucos podem escutar. /
Minha insana lucidez...”
(Os indiferentes de Gramsci
Marcelo Russo/1998)


            Em tempos outros, não tão distantes (cerca de 15 anos), acompanhávamos nos noticiários Brasil afora (da mídia vendida e da imprensa compromissada, claro que com olhares antagônicos), os enfrentamentos que os Movimentos Sociais Organizados mantinham de norte a sul do país, As  greves de Professores (Universidade, Estados, Municípios e até Escolas Particulares), de Motoristas e cobradores (e lembro da operação tartaruga que os motoristas de Recife e Olinda realizaram nos idos de 1999 – 100% de ônibus nas ruas, andando sempre a 20 km/hora), da Petrobrás (que o Governo FHC tentou interromper a bala), de metroviárias e até operários da Construção Civil.
            Naquela época, resgatava um texto que já conhecia (tardiamente, mas em meu tempo) de Antônio Gramsci (aquele que a Revista Veja – vamos falir!!! – chamava de terrorista, em matéria recente). Chama-se simplesmente “Os Indiferentes”, escrito em fevereiro de 1917 pelo educador italiano.
            Em tempos de greves (Docentes e Técnicos das Universidades, Professores em alguns Estados do País – os bravos professores da Bahia, em especial homenagem -  de Canteiros de Obras dos Megaeventos brasileiros – que bom seria se as reivindicações ultrapassassem a relação específica das condições de trabalho – Motoristas, Cobradores e outros condutores de transporte “público” urbano e até expressões significativas de Servidores da Segurança Pública e da área da Saúde), tempos parecidos com 15 anos atrás e, particularmente, com o que vejo e o que não vejo em meu particular local de trabalho (a UFPA/Castanhal), lembrei-me, novamente, deste texto.
            Apenas reproduzo-o...
Para lembrar aqueles/as que lutam, que nossa luta é histórica e só terminará quando vencermos!
Para lembrar aqueles/as que lutaram em outros tempos e agora não lutam mais, (alguns por forças já inexistentes, outros, por assumirem - ou não - outra posição no debate social e político de nosso país) que os princípios, os inimigos e, principalmente, os/as companheiros/as de lutam ,continuam lutando!
E para lembrar aqueles/as indiferentes que nunca serão vítimas disso... Indiferentes o são por consciência...

“Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.
A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.
A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar. A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso. Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.
A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.
Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.
Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.”
            (Os Indiferentes – Antonio Gramsci – fevereiro de 1917)

            Venham Todos!
Venham Todas!... mas não os indiferentes!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

quarta-feira, 13 de junho de 2012

O Tribunal da Terra...






 “E as crianças, podendo ser, crescem”
(“levantado do Chão /
José Saramago)


 
Estávamos em dívida.



Afinal, o Tribunal Popular da Terra aconteceu no Bairro do Capão Redondo (que ficou conhecido pela voz e obra de Ferréz), periferia paulistana, entre os dias 20 e 22 de abril deste ano.
É verdade que os “grandes” meios de comunicação, inclusive para suas “brincadeiras” jornalísticas de dar uma de oposição, ficaram calados. Afinal, tratava-se de colocar no banco dos réus o Estado Brasileiro e sua atuação em defesa de seu povo, principalmente o mais pobre, o mais trabalhador, o mais sofrido.
As acusações:
1. a farsa da “cidade modelo” sobre Curitiba e o despejo de 600 famílias – para atender interesses privados (Grupo CR Almeida e a Prefeitura daquela Cidade) e o assassinato de Celso Eidt, um morador daquela comunidade (conhecida como Fazendinha), debaixo do nariz da PM – isso para não falarmos das fraudes da COHAB-CT (Jardim Sabará/Curitiba), Jardim Itaqui na periferia de São José dos Pinhais e os conflitos com a Mineradora Saara, a comunidade Olga Benário no falido Projeto Novo Guarituba;
2. os Mega Projetos, sobretudo Belo Monte que, mesmo com 14 ações judiciais nacionais e duas internacionais, continua avançando com as obras e a degradação ambiental e expulsão dos povos daquela região;
3. Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, com seu avanço em obras e despejos de milhares de famílias, em nome da mobilidade urbana (apenas para garantir essa mobilidade entre a hospedagem – hotéis – e os locais dos eventos), passando por cima de todo e qualquer organização inclusive prevista para esses eventos, como os Conselhos das Cidades, os Conselhos de Gestores de Habitação e o Conselho Nacional da Cidade, privilegiando apenas o boom de interesses empresarias dos patrocinadores oficiais;
4. Pinheirinho/São José dos Campos, caso conhecido nacionalmente e que já caiu no esquecimento da imprensa brasileira e da política nacional, mas que foi conhecida pela ferocidade e violência da PM paulista (com 2 mil homens armados até os dentes e, alguns, sem a identificação no uniforme – obrigatória, para o direito do cidadão) para rever um terreno do falido Naji Nahas. Foram 72 duas horas de brutalidade contra 1500 famílias e suas casas;
5. Povos Guarani e Kaiowá, na região do Mato Grosso do Sul, onde o Cacique Marco Verón foi torturado e morto em 2003 e seu neto, em 2011, emboscado e alvejado na perna. A mesma coisa, ainda em 2011, aconteceu com o Cacique Guaiviry, Nisio Gomes, morto e carregado com mais três crianças. Todos os casos a mando de fazendeiros locais que não respeitam nem mesmo as áreas já demarcadas;
6. Fazenda Cutrale (Iaras, interior paulista), conhecida após a ocupação do MST em 2011 e a derrubada de 1% dos pés de laranja e a encenação de equipamentos já quebrados nas oficinas da Fazenda como fruto da “invasão” do Movimento. A empresa está envolvida em crimes contra o trabalho (inclusive com deúncias de exploração de mão de obra – trabalho escravo), crimes ambientais e contra a economia brasileira.
O Universal Circo Crítico não estava no Capão Redondo entre os dias 20 e 22 de abril. Gostaríamos de estar, de sermos presentes.


Mas, em nome de nosso público e nossos artistas, fazemos a singela, humilde e esperançosa reflexão para a importância deste Tribunal... Popular... da Terra.
Somos um lugar, um tempo, uma história em que sempre nos faremos aprendizes dos lutadores do povo, porque é esse o lado da trincheira que optamos. Dessa condição, apenas o orgulho de afirmar, sem meias palavras, de que lado estamos.
Somos um lugar que, quando iniciamos, já afirmávamos: ele funciona como uma caixinha de surpresas, magias, brincadeiras, equilibristas, animais e o palhaço. Elementos imprescindíveis de um Circo e que tem, nas crianças (as reais e as que estão dentro de nós) seus sujeitos mais importantes. Delas e para elas, nossa reflexão.


Quando poderão brincar as crianças (invisíveis?) da Fazendinha? Quando poderão desenhar magias e fantasias as crianças de Belo Monte? Quando brincarão de correr e se esconder as crianças de todas as comunidades varridas pelos projetos dos Megaeventos Esportivos? Quando experimentarão a fantástica sensação de equilibrarem-se e fazerem-se voar as crianças de Pinheirinho? Quando poderão brincar de subir árvores e nadar nos rios e igarapés as crianças Guarani e Kaiowá? Quando nossas crianças terão frutas, todos os dias, para refrescarem-se após suas inimagináveis brincadeiras de “ser criança”?
Se acharmos difícil responder essas perguntas, imaginemos o quão grandioso será falarmos das crianças xiapas, palestinas, mulçumanas, indígenas, africanas, quilombolas, campesinas mundo afora... e suas famílias... e suas histórias...


Não estávamos no Tribunal... mas sempre estivemos...

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira