RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

domingo, 22 de fevereiro de 2009

O Universal Circo Crítico... Conversa ao pé de ouvido de Gabriela...

“Um coração, de mel de melão
De sim e de não
É feito um bichinho no sol de manhã”
(Beto Guedes)
Olá, Gabriela. Pequena “enviada de Deus” ou “Força de Deus”, conforme a origem hebraica do nome Gabriel e a história que os livros nos ensinam sobre a origem de seu nome.
Celebramos sua chegada com bastante alegria. Primeiro, porque tens pais maravilhosos. Confesso que não conheço muito sua mãe, mas o seu pai, o bom e velho Alex (cabra de mil e um apelidos), ah! esse eu conheço de longa data, mesmo reconhecendo que estamos bem distantes (espacialmente falando) a muitos anos. Contamos com alguns encontros, vez por outra. A maior parte deles, em Recife, quando coincidia de lá estarmos. E, aí, a primeira referência para teres orgulho imensurável de seu pai.
Eu te explico: ainda na Faculdade, em Recife, trabalhamos juntos em um projeto de extensão universitária, com vôlei, para crianças, adolescentes e jovens da Comunidade Santo Amaro, que era ao lado da Escola Superior de Educação Física da UPE. Alternávamos final-de-semana um, final-de-semana outro. Em determinadas épocas, optávamos por trabalharmos juntos, porque queríamos desenvolver alguma coisa diferente e coletiva.
Foram dois anos de um belo trabalho e o resultado disso é que nossos alunos da comunidade sempre ficavam atentos às nossas passagens por Recife, para nos reencontrarmos. E isso continuará a acontecer por muitos e muitos anos, com toda certeza.
Para teres uma idéia do quanto nós “aprontamos” por lá, assim que saímos do Projeto (por conta de terminarmos nosso curso superior), a coordenação do projeto tentou implementar novas regras no projeto. Sempre ficamos com a sensação de que nossa presença, e de mais outros tantos companheiros/as de lá, retardavam essas tentativas de mudança, pois sabiam que iríamos impor restrições às mesmas. Mas não contavam que estávamos formando aqueles jovens, não apenas ensinando a jogar vôlei, futsal e basquete. As mudanças, mesmo depois que saímos, não foram implantadas (pelo menos nos primeiros anos após nossa saída), porque aqueles garotos e garotas sabiam tomar posturas coletivas, sabiam identificar verdades e máscaras, sabiam ouvir palavras e escutar entrelinhas.
Mas, neste dia 23 de fevereiro, em plena segunda de carnaval, estarás chegando. O dia seguinte será feriado, e que baita feriado. Penso que é em sua homenagem também.
Mas, como sempre faço em minhas humildes boas-vindas às/aos jovens-pequenas/os lutadoras/es do povo que se somam a nós, busquei mais sobre esse dia p’ra ti, e as lições que possivelmente nos ensinam tantos outros 23 de fevereiro’s. Aliás, foram muitos e muitos importantes 23 de fevereiro’s.
O seu dia é um dia em que, dentre tantas bandeiras e lutas, devemos sempre nos lembrar de enfrentarmos com dignidade e altivez a discriminação, pois é o dia do Surdo-Mudo. É neste dia em que irás seduzir inúmeros corações às sua volta (desde seu nascedouro), pois é o dia da sedução (essas baboseiras que o homem inventa para vendar mais alguma coisa). E, também, é o dia da Paz e da Compreensão Mundial. E, neste particular, a primeira lição: a paz e a compreensão mundial só tem valor real se constituídas num mundo de justiça e igualdade, num mundo em que não hajam exploradores e explorados. Essa, neste dia importante, há de ser nossa grande bandeira.
Interessante a origem de seu nome e a data em que nasceste – a referência cristã – pois, em 1455 a primeira impressão da Bíblia foi realizada, por Johannes Gutemberg. Seu nome verdadeiro era Johannes Gensfleisch e é considerado o criador da tipografia.
É neste dia do ano de 1961, ano em que o império norte-americano rompe com as relações diplomáticas com Cuba (seguido quase que imediatamente pela maior parte dos países latino-americanos), Ernesto Guevara (Che) é nomeado Ministro da Indústria. Segundo historiadores, ao assumir, Che disse aos seus: “Vamos passar cinco anos aqui e depois vamos embora. Dentro de cinco anos ainda estaremos em idade de poder fazer uma guerrilha”. A segunda lição: nunca acredite na possibilidade de que suas tarefas terminaram quando alcanças uma meta. Enquanto não transformares o todo, continues lutando.
Essa mania de os EUA acharem que tudo lhes pertence não é de hoje. A exemplo disso foi, dentre outras, a Batalha de Buena Vista, em 1847. E veja que interessante: as fontes históricas dizem que a batalha aconteceu “no México” e as forças americanas derrotaram as forças mexicanas na região conhecida como Texas, a terra do assassino mundial George W. Bush. A terra do petróleo americano (que não deu conta da voracidade consumista daquele “american way if life”). A terceira lição, querida Gabriela: a soberania de um povo é, talvez, o que ele tem de mais importante. Lute por ela, mesmo que sejam pedras contra canhões.
E para falar só mais uma vez dos EUA, veja se não é irônico, principalmente se considerarmos o fato de, hoje, aquele país é comandado por um Negro. Em 1861, o Presidente dos EUA, Abraham Lincoln, chega secretamente a Washington para assumir a presidência, após ter sofrido um atentado fracassado, em Baltimore. Escondido...
Muitos nasceram em 23 de fevereiro. Da minha parte e particularidade, dão mais sentido a esta data um camarada chamado Bezerra da Silva, um nordestino-carioca, que lançou cerca de 23 trabalhos (entre LP’s e CD’s), quase sempre marcados por sua irreverente maneira e popular linguagem com que descrevia o outro lado da trincheira da guerra civil não declarada, o lado daqueles que mais resistiam e ainda resistem. Nasceram também Aldo Rabelo, Peter Fonda e um piloto de avião que decididamente mudou a história da humanidade: Paul Tibbets, piloto do Enola Gay que lançou a bomba atômica em Hiroshima, em 6 de agosto de 1945. Mais uma lição, não só para ti, mas para todos nós, não concorda? O homem é capaz de construir para a vida o que constrói para o fim dela.
Ah! Tem uma coisa importante, que seus pais não podem esquecer: sua vacina contra a poliomielite. Até porque, foi em 23 de fevereiro de 1954 que o imunologista norte-americano, Jonas E. Salk, apresentou ao mundo a vacina para a pólio.
Somos, cara Gabriela, o único animal que sabe que irá morrer, e acho que é importante falarmos daqueles que se foram em um 23 de fevereiro. Particularmente, dois nomes me saltam aos olhos.
Foi em um 23 de fevereiro que morreu um dos maiores escritores russos de seu tempo, Aleksey Nikolayevich Tolstoy (1945), de vasta obra literária (ainda que não seja um de meus preferidos).
Porém, o mais importante, aquele que tombou em luta (pois sua morte foi consequencia de uma traição) em 1934: Augusto César Sandino, lider revolucionário nicaraguense que deixou um legado político e de luta e foi assassinado por Anastásio Somoza (que tomou por golpe aquele país).
E é lembrando de Sandino que me despeço neste momento, peqena Gabriela, novamente saudando a sua chegada. Que seja, também, a partir de agora, Dia de Gabriela:

“São demônios os que destroem
o poder bravio da humanidade.
Viva Zapata! Viva Sandino!
Viva Zumbi! Antônio Conselheiro!
E todos os panteras Negras
Lampião, sua imagem e semelhança
Eu tenho certeza, eles também cantaram um dia...”

(Chico Science e Nação Zumbi)

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa à Gabriela!
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira

domingo, 8 de fevereiro de 2009

O Universal Circo Crítico... Carta a um amigo...

“Meu caro amigo me perdoe por favor,
Se não lhe faço uma visita...”
(Chico Buarque).

Olá, velho/a amigo/a
Espero que esta lhe encontre bem, assim como os seus.
Dispenso-me, por respeito a ti, a desculpa por mais um certo período sem lhe escrever. Sempre faço isso, não é verdade? “Ah! Lamento a demora em responder. Aconteceu isso, aquilo e aquilo outro...” e assim seguimos com as desculpas, justificativas, motivos para demorarmos com nosso contato. Como das outras vezes, acredito que é importante o fato de estar escrevendo e, mais ainda, a certeza que sempre lhe escreverei.
Mas, à bem da verdade, teve um motivo essencial para não ter feito isso pelo menos um mês mais cedo. Um bendito vírus no meu computador que apagou tudo, inclusive seu endereço. Como mandar uma carta p’ra ti sem seu endereço?
Mas essa situação, que no momento, furtou-me aproximadamente um litro de lágrimas e, de cara, muito me angustiou (documentos, fotos, textos para estudo e trabalho, minha dissertação e meu projeto de doutorado e alguns “etc.”s), por outro lado mostrou-me o quanto o mundo anda dependente da tecnologia e não o seu contrário. Vê se não estou errado: ela, a tecnologia, avança infinitamente mais rápido do que a capacidade de ser dominada por todos e todas que a ela tem acesso. Não é verdade? Eu, que até apago e-mail’s de amigos/as por qualquer boba desconfiança, que não entro em sites sem o cadeado a vista, que não abro e-mail (de) estranhos, vacilei. Chego até a comparar a forma como as pessoas escrevem com e-mail’s que recebo no nome destas pessoas, com arquivos anexos (“mapa do convite, convite de formatura”). Mas, não é que um vírus ficou ali, meio que hibernando no meu computador e, quando o liguei no dia 1º de janeiro, lá estava ele. Mesmo assim, a idéia que estava construindo contigo é: cada vez mais estamos dependentes da tecnologia e cada vez menos a dominamos. E o pior: não se trata apenas de dominar a tecnologia ou não. Trata-se de sermos levados a aceitar padrões tecnológicos que determinam nossas vidas... Como diz o povo daqui: fumou´-se!
Para além disso, tem também o lance de não termos mais fotos “palpáveis”... Elas ficam em nosso computador, e não mais em nossos livros de fotos. Xi! Tem gente que nem sabe o que é isso. E, daí, vão textos, cartas (que viram e-mail’s). Lembro de uma frase, não sei se era do Mário Quintana, ou do Mário Prata: “A viagem é a paisagem”, bem na linha de “o caminho, caminhante, faz-se no caminhar” e, há tempos não vivemos os momentos de nossas viagens e, até mesmo, de nossos pequenos passeios. Hoje em dia, tiramos fotos em máquinas digitais (até aí, tudo bem, cabem 200, 300, 400 fotos) e, quando voltamos para casa, salvamos em nosso computador. Nem mais curtimos as fotos...
Bom... Mas deixa eu mudar de assunto, afinal, aos poucos vou recuperando o que tinha no meu computador. Se tiveres alguma foto aí, texto, sei lá... manda, certo? Prometo que farei mais “Back up’s” e impressões...
Por aqui, as coisas vão se ajeitando e, prometo, detalharei melhor em próximas cartas.
Tivemos o Fórum Social Mundial em Belém. Por um lado, conheci pessoas fantásticas, revi amigos de luta, toquei violão e baixo, dancei, levei chuva, andei p’ra dedéu e acompanhei algumas coisas. Mas, o que mais me chamou a atenção é que o FSM foi social para quem vinha de fora... Acreditas que os campos de pelada dos bairros próximos ao local do Fórum foram “proibidos” de funcionarem? Proibiram as comunidades de auto-organizarem suas atividades lúdico-esportivas!!!! No Fórum Social Mundial??? Realmente, outro mundo não apenas é possível, mas necessário. Socialismo ou Barbárie (que sabe “vestir-se” de social, abramos os olhos).
No meio do Fórum, tivemos mais um Carimbo aqui em casa. Desta vez com gente de vários lugares e que estavam no evento: Ceará, Distrito Federal, Pernambuco, daqui do Pará (claro)... Isso porque o povo da Paraíba e do Rio Grande do Sul acabaram não vindo. Como sempre, uma grande festa que, como novidade, teve a participação dos vizinhos. Dizem que se tiver eleição para vereador no condomínio, posso ser eleito. O Hércules é um grande cabo eleitoral e as festas, regadas com o mais rico manifesto da cultura paraense, ajudam.
As aulas ainda não começaram, mas, como no semestre passado, estou ansioso. Desta vez, vou assumir a disciplina de recreação e lazer. Ah! Não tem p’ra onde. Vida Longa ao Lúdico-revolucionário... Não vejo a hora.
No mais, caro amigo/a: Hércules, Kaia e Janis Joplin vão bem, já bastante acostumados com a nova casa (os vizinhos, acho, ainda não). Ando tocando mais a viola e, acredito, prestes a desenferrujar a veia poética. Junto com isso, estamos bolando uma idéia musical por aqui. Fazer uns trabalhos novos, leituras de músicas conhecidas (ou não), a saidera de nossos Encontros de Carimbó, nada profissional, não é essa a idéia.
E assim, caro/a amigo, continuo cantando, brincando, lutando (que a luta é necessária) e acreditando.
Espero vê-lo/a em breve. Ando com saudades de vocês.
Forte abraço
Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

P.S.: isso é apenas uma carta. Ajuda para retomar o espaço do Universal Circo Crítico, mas não é, acredito, algo que valha a pena ser plagiado.