RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Meu Amigo Secreto...

            

            “Tenho nos olhos quimeras
            Com brilho de trinta velas
            Do sexo pulam sementes
            Explodindo locomotivas
            Tenho os intestinos roucos
            Num rosário de lombrigas
            Os meus músculos são poucos
            Pra essa rede de intrigas
            Meus gritos afro-latinos
            Implodem, rasgam, esganam
            E nos meus dedos dormidos
            A lua das unhas ganem
            ... e daí?”
            (Milton Nascimento)


               Começou a alguns dias, pelas redes sociais...
            Não vi como começou, quem deu a ideia, o que queria inicialmente... Mas, muita gente disse, bem ao estilo de “antes do presente”, quem era o amigo ou a amiga secreta, fazendo disso uma silenciosa (talvez carapuçamente) manifestação de desmascaramento... Ao que entendi, o alvo eram os machistas, os que violentavam suas mulheres, companheiras, namoradas, revelando suas hipocrisias.
            Bom... optamos por participar circencemente desta celebração pero no mucho e troca de presentes. Neste caso, mantemos o princípio de presentear com aquilo que diz mais de nós (que presenteamos) e que acreditamos ser importante.
           
Primeiro, Meu Amigo Secreto...
            Meu Amigo Secreto é Bom, sim, ele é bom... diz que frequenta a Igreja, que é de bem, que trabalha duro na vida e, por isso, defende a meritocracia, e investe em coisas boas para as pessoas que necessitam. Uma esmola aqui, “Criança Esperança” todo ano, e cumpre com os desígnios do amor e pena ao próximo.
            Ele se importa com o meio ambiente, com o desenvolvimento sustentável. Até apoia e desenvolve pesquisas para reflorestamento de pinheiros por um lado e a produção de sementes resistentes a fungos e outras pragas. Tem compromisso e Tradição (com “T”, de Transgênico) com a preservação do meio ambiente e produção de alimentos.
            Ele é preocupado com a Educação... mas, extremamente preocupado com a formação de crianças e jovens. Decide o que, como, quanto tempo ensinar. E também o que NÃO ensinar. Por exemplo, trata a política como a pior coisa a ser aprendida nas escolas. Mas sempre preocupado com o futuro delas e sua formação para o Mercado de Trabalho.
            É também é preocupado com a formação superior, com a pesquisa. E só pesquisa bacana, para o bem do mundo. O fato de poucos ganharem muito dinheiro com as pesquisas que financia é apenas um detalhe inconsequente de Farmacêuticas, Bancos, Empreiteiras, Mineradoras. O que importa é que produz conhecimento.
            Ele defende a paz... e  arma todo mundo e O Mundo para ter certeza que a humanidade ficará em paz. Só não acha que tem culpa por não ter dado certo ainda. Afinal, o que mata não é a arma (ou a ordem), mas quem puxa o gatilho. A perfeita harmonia entre pombas e bombas.
            Adora Esporte, Cultura, Música e tals... apoia grandes eventos esportivos, grandes espaços culturais e shows para a população se esbaldar de cantar e dançar. Estádios/Arenas, Campos de Golfe e casa de espetáculos ou enormes palcos ao ar livre. Ingressos caros? Moradias demolidas e famílias expulsas de seus lares? “Cultura” de qualidade suspeita? Oras... eles apenas financiam, né? Esporte faz bem, Cultura ensina, Música todo mundo gosta...
            Por fim – nossa, é tanta coisa pra falar de meu amigo secreto! – ele é um “grande homem”. Um Homem com “H”... defende a moral o zelo da família, os bons costumes e a decência. É um extremamente irredutível, inflexível, intransigente ao que considera errado, vulgar e indecente de nossa boa e ordeira sociedade. E se preciso for usar a violência em nome da família (e violência implica injúria, ofensa, surra e o escambal), ainda assim entende que será sempre uma pessoa de bem... como disse na minha primeira fala sobre “Meu Amigo Secreto é...”
            Oque ele gostaria de ganhar? Ah! Isso eu sei...



            Mas, como disse, nós damos o presente que, do nosso ponto de vista, faça sentido, faça “sair do lugar”, ver algo diferente...
E o nosso presente é para ele estudar e tentar descobrir o que está fazendo, por que está fazendo, por quem está fazendo... Talvez ajude...
           


           Enfim... meu Amigo Secreto não é gente... se faz de humano, mas despreza a humanidade. Mas o que ele é, que faz dele o que ele pratica, é gente. Senhor/a de seus atos.
            A ele, meu desprezo e as palavras de Milton Nascimento...

            “Iguarias na baixela
            Vinhos finos nesse odre
            E nessa dor que me pela
            Só meu ódio não é podre
            Tenho séculos de espera
            Nas contas da minha costela
            Tenho nos olhos quimeras
            Com brilho de trinta velas
            ... E daí?”

            Aos verdadeiros amigos, companheiros, camaradas... Lutadores e Lutadoras do Povo, meu agradecimento por existirem.

            Celebramos Todos!
            Celebramos Todas!    
         

            



sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Me gritaram "Negra!"


“Racismo e capitalismo
são faces da mesma moeda”
(Steve Biko)

            E hoje é 20 de novembro... Dia em que muitos municípios (ou seja, não o Brasil) celebra o Dia da Consciência Negra, assim mesmo, como “data comemorativa”. Alguns outros tantos, é feriado, assim como em alguns Estados...
            Neste picadeiro, sempre será dias de celebração. Assim como as datas que representem a Luta do Povo contra o poder, a celebração de Lutadores do Povo.
            Mas, tenho (temos) humildade também. Até hoje nos entendemos como APRENDIZES de Lutador do Povo. E não é uma humildade de oportunidade, mas uma humildade de reconhecimento histórico, de nossas raízes, nossos valores, nossos aprendizados, nossa história. Sempre procuramos o machismo, o racismo, a homofobia, o preconceito que está escondido dentro da gente. E ainda os encontramos... e porque procuramos e encontramos, ainda os enfrentamos... e enquanto isso acontecer, seremos aprendizes.
            Sou branco numa sociedade racista, sou homem numa sociedade machista... não tenho nem ideia do que é ser negro, do que é passar pelos constrangimentos pelos quais passa uma pessoa negra. Claro que sei de racismo, da “desmeritocracia” que existe em nossos dias entre brancos e negros, homens brancos e homens negros, mulheres brancas e mulheres negras, homens, brancos e mulheres negras.
            Mas, insisto: busco o racismo que há dentro de mim todos os dias... vigio-o e destruo-o dia-após-dia. E não sou eu, ou este picadeiro, quem irá medir o quanto avanço (porque é isso o que busco)...
            Aqui, neste picadeiro de terra batida e lona furada de circo, humildemente nos esforçamos a dizer que lugar estamos: da Classe Trabalhadora e de todos/as aqueles/as que lutam contra qualquer injustiça cometida em qualquer lugar do mundo seja contra quem for (como diria Che)
            Ademais, o que existe de mais qualificado para este debate, nos colocamos definitivamente no lugar de aprendizes... mas, cometemos nossas ousadias.
            Saudamos essa celebração de 20 de novembro como Solomon Burke. E não é a primeira vez que ele canta por aqui. A beleza musical ao cantar “ninguém de nós é livre enquanto um de nós estiver preso” não é a única impagável canção de liberdade...
            Cantar a Liberdade em tempos de escravidão sempre será um ato de Liberdade propriamente dita.
Cantar a Liberdade em tempos de exploração do homem pelo homem (o trabalhador pelo serviçal dos interesses do capital) sempre será um ato de Liberdade propriamente dita.
Cantar para expor nossos próprios preconceitos sempre será o nosso ato de Luta pela Liberdade.
E cantamos, hoje, com Victoria Santa Cruz... porque ou aprendemos o nosso racismo (o nosso machismo, o nosso preconceito, a nossa homofobia) ou não cantaremos... ou não seremos livres.

ME GRITARAM NEGRA!
Tinha sete anos apenas
apenas sete anos,
que se anos!
Não chegada nem a cinco!
De repente umas vozes na rua
me gritaram “Negra!”
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!
“Por acaso sou negra?” – me disse SIM!
“Que coisa é ser negra?” Negra!
E eu não sabia a triste verdade que aquilo escondia.
Negra!
E me senti negra, Negra!
Como eles diziam
Negra!
E retrocedi
Negra!
Como eles queriam
Negra!
E odiei meus cabelos e meus lábios grossos
e mirei apenada minha carne tostada
E retrocedi
Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Neeegra!
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!
E passava o tempo
e sempre amargurada
Continuava levando nas minhas costas
minha pesada carga
E como pesava!..
Alisei o cabelo,
Passei pó na cara,
e entre minhas entranhas sempre ressoava a mesma palavra
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Neeegra!
Até que um dia que retrocedia, retrocedia e que ia cair
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra!
E daí? E daí?
Negra! Sim
Negra! Sou
Negra! Negra! Negra!
Negra! Sou!
Negra! Sim!
Negra! Sou!
Negra! Negra! Negra sou.
De home em diante não quero alisar meu cabelo
            Não quero
            E vou rir daqueles, que por evitar – segundo eles – que por evitar-nos algum dissabor chamam aos negros de gente de cor
            E de que cor!
            NEGRA
            E como soa lindo!
            E que ritmo tem!
            Negro! Negro! Negro! Negro! Negro! Negro! Negro!
            Negro! Negro! Negro! Negro! Negro! Negro! Negro!
            Negro!
            Afinal
            Afinal compreendi
            AFINAL
            Já não retrocedo
            AFINAL
            E avanço segura
            AFINAL
            Avanço e espero
            AFINAL
            E bendigo aos céus porque duis Deus que negro azeviche fosse minha cor.
            E já compreendi
            AFINAL
            Já tenho a chave!
            NEGRO! NEGRO! NEGRO! NEGRO! NEGRO! NEGRO!
            NEGRO! NEGRO! NEGRO! NEGRO! NEGRO! NEGRO!
            NEGRO!
            Negra sou!”

            O que você é? Quem você é? Pelo que você é?

Viva 20 de novembro!
Venham Todos!

Venham Todas!

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Lama, Escolas e Paris

Ribs: Cientista Político
(sem formação, segundo ele)



            “Aquele que não conhece a verdade
            é simplesmente um ignorante (aquele que ignora)
            Mas aqueles que a conhece e diz que é mentira,
            Este é um criminoso”
            (Bertold Brecht)



            Esses últimos dias, creio que não apenas nosso humilde e respeitável público, mas também muita gente além lona furada de circo tomou nota de muitas notícias... mas, três delas estão expressas aqui, neste texto... em certa “ordem” temporal.
            I – O Rompimento da Barragem da Empresa Samarco, em Mariana/MG, da qual nós já nos pronunciamos. Aliás, após a publicação, as coisas pioraram em todos os sentidos;
            
Não descobri a origem da foto
            II – A ocupação de Escolas Públicas em São Paulo (inicialmente na capital e seguido da região metropolitana e interior. Hoje, 17 de novembro, as notícias falam de 38 escolas ocupadas, segundo a Revista Fórum;
            
Revista Fórum
            III – O atentado em Paris, com cerca de 140 mortos (inicialmente), realizado pelo Estado Islâmico, na noite de 13 de novembro. Uma sexta feira 13 (que, para nós, é apenas um dia do mês em um dia da semana) que não foi a pior em termos de atentados à vida em nossos tempos atuais.
           


            Apenas esses três fatos foram suficientes para deixar os artistas deste picadeiro de terra batida com perguntas sem respostas, respostas sem perguntas. Isso não é incomum, aqui. Afinal, não somos um BLOOOOOG, tipo Blog de blogueiro. Somos um circo, em que a nossa dinâmica particular também influencia nossa capacidade de sistematizar nossas reflexões.
            Buscamos, mesmo assim, algo mais... simples: o que há em comum nestas três situações (e, claro, outros acontecimentos não menos importantes)...
            – Senta que lá vem viagem... (Palhaço)
            – Talvez, Strovézio... talvez...
            A barragem Mariana (e também tem a de Santarém, com riscos de rompimento) pertence às todas poderosas Vale e BHP Billiton (anglo-australiana). Elas são poderosas porque mandam (mais aqui, menos ali) nos governos e nos legislativos dos países onde atuam. Definem Leis que “flexibilizam” a atuação das mineradoras, sua exploração, sua segurança com trabalhadores e população onde atuam e com o meio ambiente...
            – Tem lógica... pra elas, se já é “meio” ambiente, deixa logo sem nada... (palhaço)
            – Piada infame, Strovézio...
            Recebe multa de 250 milhões e, depois, a determinação de elaborar um plano de recuperação de 1 bilhão... O primeiro é, digamos, imediato. O Segundo é parcelado... Em 2014, a SAMARCO (ou seja, nem a Vale, nem a BHP) lucrou 2,4 Bilhão...
            Não sabemos quanta pessoas de fato morreram. Quantos animais (domésticos e selvagens) morreram. Quanto da flora se perdeu... Um Rio (o Rio Doce) já é considerado morto e não se tem ideia de quanto tempo a região se recuperará... Se se recuperará. Os povos locais, inclusive indígenas, choram a dor que as minerados não conhecem. Santa Cruz do Escalvado, que era um espaço de vida e lazer da população local, está absolutamente tomado pela lama... Entenda: A-B-SO-LU-TA-MEN-TE tomada pela lama.
            O que não foi alterado nisso tudo: os lucros da Mineradora. Da filha (SAMARCO) e dos Padrinhos (Vale e BHP)...
            – Hei... o padrinho foi Fernando Henrique Cardoso... FHC... que rima com BHP! (Palhaço).
            As Escolas em São Paulo estão passando com um maldito “processo de reestruturação”. O Secretário Estadual de Educação já esteve até no Roda Vida (que já não é o mesmo a muito tempo) defendendo a proposta e declarando abertamente a defesa da privatização da Educação Pública no Estado.
            Estudantes ocupam as Escolas. Teve diretora que não gostou. Teve pais e professores que apoiaram pra dedéu. Venceu o apoio.
            Eram estudantes, ocupando e preservando as Escolas que o Governo Estadual quer acabar. Jovens, muitos adolescentes, defendendo uma educação pública sucateada pelo mesmo Governo (assim como vem fazendo o Governo Federal com as Universidades e Institutos Federais).
            A Justiça paulista chegou a lançar mão de “reintegração de posse”... Voltou atrás. O Governador manda a polícia. E não só a PM, mas também aquelas usadas em conflitos de ruas e tals. Em princípio, para garantir a reintegração de posse. Agora, anda pacífica. Passeio no site da Secretaria de Segurança Pública de SP, que nem menciona essa ação...
            – Dããããã... claro que não, né? (Palhaço).
            – Mas o mais “legal”, Strovézio. Primeiro, é certo que muitos dos homens e mulheres da segurança pública paulista TÊM seus filhos estudando em Escola Pública. Imagina a contradição que vivenciam. Além disso, no final de semana teve Fórmula 1, em São Paulo. Daí, “cai” em nossa plateia um senhor chamado Sargento Galesco, que posta o lanche que PM’s receberam para exercer a segurança na Corrida do último domingo... Foram 12 horas de trabalho em um evento particular.
            
A foto é do próprio Sargento Galesco
            E por fim, os atentados em Paris... Violento.
            Essa semana, praticamente essa foi a notícia. Bandeiras da França (ou suas cores) em “tudo” quanto foi lugar. Loooooongas matérias jornalísticas, com uma pausasinha aqui, outra ali, pra falar de Mariana/MG e da Seleção Brasileira de Futebol, em semana de Eliminatórias.
            Atentados mundo afora não comovem nem a Imprensa, nem o Velho Mundo, nem o “feicebuque”. Claro, tem as exceções. Mas, no geral, a dor é do assassinato de europeus ou quem está na Europa. Mundo afora, não...
            E essa não é uma fala a toa, é preciso deixar bem claro. Estamos falando de um grupo que se fortaleceu nas últimas décadas (o Estado Islâmico) e que foi armada, fortemente armada justamente pelos países que hoje são atacados. O que foi a invasão ao Iraque? O que foi a tal “Primavera Árabe”? O que está sendo na geopolítica os ataques à Síria? O que é o silêncio às ações de Israel contra a Palestina? E os DOIS MIL nigerianos assassinados pelo Boko Haram?
            ... quantas bandeiras e cores deixamos de expressar?
            Mas, o que há em comum nestas três situações e suas adjacências?
            O Capital... o lucro...
            As Mineradoras – e isso é mundo afora – pouco se importam com a segurança de seus funcionários, com o meio ambiente, com os povos no entorno, com a vida presente onde estão atuando. O que garante seus lucros é o baixo custo do que fazem e os altos lucros do que exploram. Comprar pareceres, Leis, silêncios é sempre mais barato.
            As escolas públicas sucateadas, esvaziadas e fechadas é mais espaço para o quase “imparável” processo de privatização da Educação. A Educação deixa de ser direito, passa a ser “coisa”, aquilo que se compra e se vende... e dá lucro.
            A Guerra tem, de um lado, a disputa por privatização de petróleo, água, minérios. E as armas. O maior mercado mundial (disputa com o financeiro, especulativo) é o da tecnologia armamentista. Só os EUA concentram 49% do mercado de armas no mundo. E não vendem armas apenas para “países de bem”...
            A exploração de minérios e outras riquezas é um negócio lucrativo... A Educação é um negócio lucrativo... A Guerra é um negócio Lucrativo...
            Percebamos... a cada dia que passa, há mais o que fazer... há muito o que fazer... e há necessidade de fazermos.

            Venham Todos!
            Venham Todas!



segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A Mina...



“No mar de silêncio
retoma como uma sombra.”
(“La voce del silenzio”)



            Mina é um termo que em minha juventude já usava para falar daquela menina, garota, colega que queria ficar, sair, namorar...
            – Aquela mina, Russo? (Palhaço).
            – É... aquela mesma...
            Aliás, em que pese um termo de minha adolescência, “Mina” superou o tempo. Afinal, são inúmeras as músicas (ou algo parecido com música) que o utiliza como, digamos, composição: “As mina pira”, “Essa mina é mó zueira” (“mó” também fez parte daqueles tempos meus), “essas é as mina bandida!”, “a mina certa”, “a mina do cachorro quente” e uma tuia de porcaria fácil de encontrar com a ajuda do Google.
            Mina também é o nome de uma artista e cantora italiana e que deixou a cena musical por vontade própria, bem no auge da carreira (fim dos anos 1970). Talvez por isso conhecemos tão pouco seu trabalho. Em “La cove del silenzio” (uma canção de amor), o trecho que abre este texto.
            
            Mina no plural soa “Minas”... Minas Gerais, que embala desde a velha canção-segundo hino mineiro “Oh, Minas Gerais, quem te conhece, não esquece jamais” ou a ma-ra-vi-lho-sa canção de Fernando Brant, Marcio e Lô Borges que ganhou o mundo na voz de Milton Nascimento, “Para Lennon e McCartney”... sou do mundo, sou Minas Gerais...
            E Minas Gerais tem muita coisa, inclusive Minas...
            E uma delas fica... ficava em uma pequena cidade chamada Mariana.
            Existem muitas Mariana’s, que são de Minas Gerais ou não... Mas, Minas, terá uma a menos.
            Afinal, Mina também é um termo objeto: mina de ouro, mina de prata... Mina de Ferro... Como da Samarco (parceirona da Vale), em Mariana/MG.
            A Vale é cria da doada e extinta Companhia Vale do Rio Doce, no Governo FHC. Patrimônio na época de mais de 90 bilhões de reais (ou dólares, não lembro... isso aqui soa só como adjetivo), vendida a 3 bilhões. Com financiamento do BNDES, ou seja, o governo emprestou dinheiro para o comprador comprar a Vale do Governo. Tipo “venda sua bicicleta, mas empreste o dinheiro para o comprador compra-la”...
            A Samarco, responsável pela represa de minérios em Mariana/MG, tem ativos de sociedade da Vale, que é a maior produtora de minério ferro do mundo. Já fechou ano com lucro de 9 bilhões de reais (em 2012), mas, coitadinha, em 2014 amargou um lucro de apenas 954 milhões de reais.
            Era pouco para evitar catástrofes... ops! Acidentes...
            Mundo afora, é preciso lembrar, minas matam pessoas e essas mortes não alteram seus lucros:  A Mineradora Britânica Lonmin em Marikana/África do Sul matou 34 mineiros em 2012... a bala. Na Turquia, onde também a mineração faz parte da economia do país, 13 mil (isso, 13 mil) acidentes em 2013 e 301 mortos em 2014.
            Assim como lá, aqui, em terras brasileiras, a relação Estado e Mineradoras é de cumplicidade. Aqui, como lá, não é o primeiro acidente... catástrofe...
            ...
            Não é a primeira vez que a cumplicidade entre Estado e Capital se manifesta em mortes, em degradação ambiental, em destruição: Mineradora Rio Verde/São Sebastião de Águas Claras (2001); Mineradora Rio Pomba Cataguases em Miraí e Muriaé (2006); Herculano Mineração em Itabirito (2014) são tragédias que se somam ao que acontecem em Mariana/MG, no último dia 5, e que tem como componentes desta conta, os lucros desenfreados do capital estrangeiro e a cumplicidade do Estado brasileiro e suas flexibilizações legais com o meio ambiente e a exploração de minérios no país, verdadeira exploração.
            Da mídia? Aff... falar o que? Essa, no Brasil, não serve pra nada.
            A Mina de Mariana deu lucro para a Samarco e para a Vale...
            A Samarco e a Vale acabaram com a Mina de Mariana, com a vida de Mariana, com as vidas em Mariana.

            Faltam pouco menos de dois meses para terminar o ano de 2015... Lá pelas bandas de fevereiro do ano que vem, tentaremos nos lembrar de acompanhar os noticiários econômicos para conferir os lucros das duas.
            Essas minas dão riquezas a poucos e exploram por demais a terra e suas pessoas.
Mas em Mariana (voltando à canção da Mina italiana), um mar de lama, mas não em silêncio, levou tudo... e continuará levando até chegar ao mar.
            E Minas Gerais não tem mar...
            Em nosso picadeiro de terra batida e lona furada, nossa solidariedade parece-nos tão pouco, diante do que aconteceu, diante de tudo o que muitos já falaram (mais rápido de que este circo). Mas ainda achamos que fazemos mais do que aqueles que silenciam, inclusive pro cumplicidade...
            Venham Todos!
            Venham Todas!

PS.: Pra não esquecer... não é apenas o minério. Lembremos que em 6 de outubro, 5 mil bois estavam em naufrágio de um navio de bandeira libanesa, em Barcarena, município paraense. A trágica consequencia ambiental se traduz em poluição por combustível e carcaças em decomposição no município e região... 

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Os comunistas...


            “Os Comunistas guardavam sonhos! // Os Comunistas! Os Comunistas!"

            Hoje, fui presenteado com a memória de uma história transformada em ficção.
            Ontem, fui presenteado pela memória de um comunista, em uma canção.
          Não diria de Carlos Marighela e Guy Fawkes se encontram perfeitamente em suas histórias e suas lutas. Marighela era um comunista. Fawkes lutava contra o parlamento e a coroa britânica, em nome de um catolicismo real.
            De Marighela, guardo sempre as poucas histórias de amizade com meu avô, Hiram de Lima Pereira, que ouvi de Clara Charf, em uma oportunidade de acompanhar uma palestra sua e uma de minhas frases preferidas, proferidas também pelo comunista baiano: “Não tenho tempo para ter medo”.
            De Guy Fawkes (que, diz a lenda, é considerado por alguns como sendo o único homem que entrou no parlamento britânico com intenções honestas), apenas as expressões de luta e liberdade em sua expressão cinematográfica e ficciosa de “V de Vingança”.
            Marighela tombou em um 4 de novembro. Guy Fawkes foi preso em um 5 de novembro.
            Poucos encontros...
            Mas, recebo estes presentes.
            E recebo em dias que venho pensando muito... em coisas próximas e coisas distantes...
            Tempos de Projetos de Lei de Escola Sem Partido e Assédio Ideológico...
            Tempos de Escolas Fechando em São Paulo e no Campo...
            Tempos de Silêncio cada vez mais ensurdecedor, seletivo e complacente de nossa Mídia, Jornalismo e Jornalistas...
            Tempos de entreguismo total e permanente da Universidade Pública aos interesses privados, de educação como negócio...
            Tempos de genocídio contínuo de indígenas e “Jogos Indígenas Mundiais” no Brasil... com a presença de Kátia Abreu...
            Tempos de armar cidadãos “de bem” (o escambal)...
            ... de mais prisões ao invés de escolas...
            ... de mais agrotóxicos ao invés de agroecologia...
            ... de jovens sem esperança, de manifestação como ato terrorista e o mundo sem memória
            ... de panelas vazias batendo seletivamente com a camisa verde-amarelo da CBF e contra a corrupção...
            ... de piadas sem graça e violentas em TV aberta (de concessão pública), de legislativos arcaicos, de religião fundamentando o Estado...
            ... de famílias definidas pela Bíblia (hein?) e não pelo amor com o qual se constituem. Em que os direitos das mulheres é tratada como perigosa “Ideologia de Gênero”... Em que direitos civis de homossexuais é tratado como “Ditadura Gay”... Em que a luta contra o racismo é tratada como privilegio negro/a...
            ... Imigrantes são mortos e achincalhados por serem... imigrantes...
            ... trabalhadores escravos são feitos de escravos por serem... isso, escravos...
            Disse, recentemente, aqui neste picadeiro e em conversas não circenses: caminhos difíceis, que muitas vezes se escondem nas palavras que (acho) sei usar... Aqui e alhures... uma luta contra o ceticismo que me cerca todos os dias e a esperança que me alimenta, ainda que na escuridão...
            Tem os burgueses nestes tempos... Tem os que amam o capitalismo e o querem mais e mais. Tem os que acham que família é homem e mulher e fim de papo. Tem os que definem quem tem direito a Direitos e quem não tem...
            Estes são muitos...
            Precisamos ser fortes...
            Em tempos de inflexões, de respirar para retomar a caminhada, de enfrentar os pseudo-heróis do bem, as palavras, o picadeiro de terra batida e de lona furada de circo se apresenta como humilde espaço e trincheira de luta... Em que tenhamos a Liberdade como expressão verdadeira de toda humanidade e o Amor como expressão desta Liberdade...
            Venham Todos!

            Venham Todas!