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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Conversa ao pé de ouvido de Ruan Carlos...





"(...) que as vezes a gente começa uma luta por uma coisa e acaba por ganhar outra (...) Mas para ganhar a segunda, tem de se começar a lutar pela primeira”.
(Levantado do Chão – Saramago)
      







      Salve, salve pequeno Ruan Carlos...
            Seja bem vindo, nosso querido e pequeno lutador do povo. Estamos (é, tá certo, sempre dizemos isso... mas é verdade) muito felizes com sua chegada que, em nossas conversas e expectativas, estávamos esperando já fazia tempo. Até achávamos que você “havia esquecido de nascer”... Talvez por isso o seu nome parece-nos tão... preciso. Afinal seu nome vem de João que, como sabemos, é um nome de grande força bíblica e de Carlos que, dentre outros – escolhemos o que melhor nos diz – vem de Lavrador. Se, aparentemente, demoraste a chegar, nada como o tempo do campo, de sua produção, o tempo da semente até a colheira para nos dizer: “o tempo era esse, chegaste na hora que tinha que chegar, pronto, acabado para recomeçar”...
            Talvez por isso, caro Ruan, a nossa primeira homenagem deveria ser realmente esta, de José Saramago, numa obra que fala de cinco gerações camponesas e, mais ainda, nos diz: “primeiro Ruan tinha que chegar... agora, as outras coisas, no seu tempo”.
            És filho de Simone e Josimar. Sua mãe, me honrou por seu trabalho de conclusão de curso (junto com a miudinha Débora), que fala da infância (professora que é) e, mais ainda, reconhecido com um excelente sem ressalvas... o primeiro com esta característica em minhas orientações. Já seu pai, uma pessoa digna, honrada e coerente. És um pequeno lutador do povo porque assim são seus pais.
            Como sempre, pequeno Ruan Carlos, falamos deste dia, o 22 de julho, dia em que celebraremos sua chegada por longos anos. Dia em que a história da humanidade nos brindou com grandes lições. Algumas boas, outras duras. Algumas perdas que nos lembram, algumas conquistas que nos levam ao esquecimento... coisas desta humanidade que tinha a obrigação de ser melhor para recebê-lo... Mas, podemos adiantar-lhe, pequeno Ruan, que é um dia de grandes lições.
            Lá pelas bandas de 1298, a hoje Escócia conheceu o seu maior herói: Willian Wallace. Tem um filme (“Coração Valente”) que vale a pena ser assistido, ainda que nós, daqui debaixo da lona, sempre ficamos com um pé atrás sobre a arte cinematográfica ser fiel à história, quando tenta contá-la. Mas, ainda assim, é possível ver o herói que luta não apenas pelo seu povo, mas com o seu povo, até na frente de seu povo. O mundo criou exércitos e, hoje, os conhecemos pelos seus generais. Estes ficam sempre assistindo a batalha de seus subordinados. Não Wallace. Morreu defendendo seus ideais até o último suspiro (isso já em agosto daquele ano). Em um 22 de julho, apenas uma de suas inúmeras batalhas. Dele, a história remete o seguinte verso, originalmente em latim: "Liberdade é a melhor de todas as coisas a ser conquistada, a verdade, lhe digo então: nunca viva com os grilhões da escravidão, meu filho". Eis nossa primeira lição, pequeno Ruan, cuja tradução já nos basta aqui.
            Já em 1935, tivemos a criação de algo que está em nossas vidas até hoje, mas que a cultura de nosso povo sempre opta por ignorá-la. Também a TV (que neste horário, é de um emburrecimento enorme) ajuda. Foi em 22 de julho de 1935 que o então presidente Getúlio Vargas criou o Programa de Rádio “A Hora do Brasil”, hoje conhecida como “A Voz do Brasil”. A obra de Carlos Gomes, “O Guarani” tem hoje uma versão mais moderna, com toques regionais. É sempre importante para sabermos das notícias do poder... Mas, como diria o grupo “Joelho de Porco” (1985), “nunca mais vamos ouvir o Guarani!”... mas, é porque não temos este hábito mesmo, cultural, nacional. Então, pequeno Ruan, nossa segunda lição: não deixe que o senso comum te guie, principalmente naquilo que traduzimos como “Jornalismo
            A história da humanidade é algo impressionante e, uma pena, cada vez mais pasteurizado. Sua mãe lhe explica, depois, o que é isso, certo? Lembra “pastel”, mas nem tento (hei, por enquanto nada de comer besteira. Só leite, visse?). Em 22 de julho de 1942, temos o registro de mais uma manifestação de intolerância entre a humanidade, quando o primeiro contingente de judeus é removido, do Gueto de Varsóvia (Polônia) para as primeiras experiências doscampos de concentração, que exterminou milhões de pessoas durante a Segunda Guerra Mundial. Hoje, o povo de Israel (com o Imperialismo norte-americano em silêncio) extermina o povo palestino. Nada, nada justifica o extermínio de um povo, nem por seus tiranos, nem pela força de canhões contra badoques... Nossa lição, pequeno Ruan? Bom, num mundo assim, tenha sempre seu badoque (e não mais do que isso) em mãos, certo? Nunca o use contra pessoas ou animais... Se assim o fizeres, permita-nos a franqueza, não serás melhor do que aqueles que promovem a guerra.
Muitos, como sempre, nasceram e/ou partiram nesta data. Entre Papas e filhos de Saddam Hussein que, na opinião deste viajante circense, não são tão diferentes assim... ou não eram, já que não estão entre nós, fisicamente falando.
Preferimos falar de alguns, alguns poucos, mas importantes.

Tem uma pessoa, de muito, mas muito longe, que nasceu neste mesmo dia, em 1972. Ele nasceu numa Ilha chamada Tonga, se chama Ipolito Fenukitau e é atleta de Rugby, um esporte interessante de se assistir (nós gostamos), mas perigoso pra se jogar. Seus atletas dizem que não, mas prefirimos continuar assistindo. Bom, mas nem é tanto por Ipolito, ou pelo Rugby que entendemos este dia importante. Tonga é um país, e para o povo daquele, Tonga significa jardim, ou seja, Ilha de Jardins. Mas, nas palavras de um professor que tive de Introdução à Metodologia Científica e, em períodos anteriores, dirigente de uma (talvez a maior) entidade científica da Educação Física brasileira, lá no meu primeiro ano de Universidade (ainda nos tempos de São Paulo e Sâo Caetano do Sul), Tonga (ou “Ilhas Tonga”, como ele falava em aula, para o riso de meus colegas de sala) significava um lugar perdido onde viviam pessoas ignorantes e sem conhecimento das ciências. Claro que ficamos com a versão de seu povo e, aqui, a lição de todo um povo contra a ignorância da ciência. O nome do professor? Não vou sujar este papo ao pé de seu ouvido, certo?
Um jovem, que procurou vida melhor em outro país (que mundo é esse?) e foi morto pela instituição policial deste mesmo país, confundido com um terrorista, nasceu em um 22 de julho. Seu nome era Jean Charles de Menezes e talvez ele tenha ido, dentre outros motivos, porque tinha nome de príncipe. Mas o nome não ajudou. É estranho, talvez para ti, pequeno Ruan, esta história de terrorismo, né? Como explicar, por exemplo, que em pleno dia de sua chegada, um maluco, num país com fama de pacífico, toque o terror contra sua gente, como foram os Atentados na Noruega? Aqui, pequeno Ruan, entre algo que cada vez mais a humanidade parece temer: o conflito entre privilégios (mesmo que pequenos) de suas regras e a luta pela igualdade. É uma pena que este 22 de julho tenha esta marca. Mas, cá p’ra nós, como sempre fazemos, vale a lição e esperamos que leve em sua vida: a intolerância nunca levará a paz em nossas vidas. Nunca a aceite como algo normal e comum.
A história deu-nos outros grandes e interessantes nomes nesta data, Ruan: Basílio da Gama (poeta luso-brasileiro, que escreveu, dentre outras coisas, “O Uraguai”, obra em que critica os Jesúitas por defender os índios apenas para manter poder sobre eles), Fernando Morais (autor de “Chatô – Rei do Brasil” e Olga”, obras que espero venhas a conhecer), Torbem Grael (o maior medalhista olímpico brasileiro, num tempo em que o esporte moderno, em particular, o olímpico, está elameado até o pescoço – e não há sinais de limpeza breve) nasceram neste dia. Manuel Ouig (escritor argentino, que conhecemos pela bela obra “O Beijo da Mulher Aranha” e Gianfrancesco Guarnieri (ator e diretor brasileiro, que marcou minha vida com “Eles não usam Black-tie”) partiram neste dia.
Mas, aquele com a qual gostaria que nunca esquecesse, e que o conhecesse, e que o estudasse (e que nasceu em um 22 de julho, a quase cem anos atrás) chama-se Florestan Fernandes.
É incrível, pequeno Ruan, que fico com a sensação de que os grandes, mas os verdadeiros grandes nomes deste país (e, claro, da América Latina) são desconhecidos de nossa juventude e Florestan é um destes nomes, destes homens, destas histórias. Dele, pequeno Ruan Carlos, deixamos uma lição de sua própria infância, o quanto ela foi importante para o homem que se fez:

 “Se tinha pouco tempo para aproveitar a infância, nem por isso deixava de sofrer o impacto humano da vida nas trocinhas e de ter résteas de luz que vinham pela amizade que se forma através do companheirismo (nos grupos de folguedos, de amigos de vizinhança, dos colegas que se dedicavam ao mesmo mister, como meninos de rua, engraxates, entregadores de carne, biscateiros, aprendizes de alfaiate e por aí a fora). O caráter humano chegou-me por essas frestas, pelas quais descobri que o “grande homem” não é o que se impõe aos outros de cima para baixo ou através da história; é o homem que estende a mão aos semelhantes e engole a própria amargura para compartilhar a sua condição humana com os outros, dando-se a si próprio, como fariam os meus Tupinambá. Os que não tem nada que dividir repartem com os outros as suas pessoas – o ponto de partida e de chegada da filosofia de “folk” dentro da qual organizei a minha primeira forma de sabedoria sobre o homem, a vida e o mundo”.

Seja bem vindo, pequeno Ruan Carlos, o pequeno lavrador de amigos.
Nosso Circo está em sua colheita!

Vida Longa ao pequeno Ruan Carlos!
Vida Longa!

Venham Todos!
Venham Todas!

Marcelo “Russo” Ferreira