RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O Universal Circo Crítico... a justiça II...

O dia 17 de abril, desde 1996, é um marco no simbolismo e na mística (enquanto processo intrínseco de manifestações de amor e luta, fortemente tratada pelos movimentos sociais organizados, em particular, os movimentos campesinos) da luta pela terra. Há 13 anos, 19 trabalhadores Sem Terra foram assassinados pelo Estado (seus aparelhos), o mesmo Estado que não prendeu seus assassinos.
Nesta semana e, em particular, neste dia, novamente as manifestações se espalharam país afora e na região onde ocorreu o Massacre de 1996, novamente os noticiários deram margem (sob seu ponto de vista) a um novo confronto, desta vez na Fazenda Agropecuária Santa Bárbara, que pertence ao Banco Opportunity (aquele, vinculado ao amigo de Gilmar Mendes, o Daniel Dantas). Os seguranças e a advogada da fazenda deram seus depoimentos, amplamente garantidos na mídia. Do que vi na TV (jornais) apenas uma pequena entrevista com uma liderança do MST do PA, que falava das “armas” do MST: uma espingarda de caça e os sempre presentes facões de trabalho.
Participei já de várias marchas campesinas, principalmente em PE. Sempre vi facões, foices, enxadas... Os instrumentos de trabalho de trabalhadores/as do campo, em sinal de demonstração de sua realidade, de sua história, de sua relação com a terra. Penso que os professores aprenderiam mais um pouco (do muito que estes trabalhadores da educação já sabem) se levassem seus livros, lápis, cadernos, canetas, apagadores em suas manifestações, não abrindo mão da relação com seus instrumentos de trabalhado nestes momentos.
E assim seria:
Músicos se manifestando contra a Ordem Nacional dos Músicos, publicamente, levando seus instrumentos, suas partituras, suas palavras de ordem em forma de música.
Trabalhadores da construção o fariam com seus carrinhos de mão, desempenadeiras, pás e mangotes, manifestando-se contra a ordem de empreiteiros de baratear a obra, misturando areia e isopor, enquanto curtem suas mansões em Miami Beach.

Ou então os motoristas e cobradores, levando suas chaves de roda, rolando pneus e os cofres às ruas, para protestar contra suas jornadas desumanas e os autos lucros dos empresários de transporte urbano.
E, então, todos estariam armados, preparados que estavam para confrontos, já intencionados e conflitos e enfrentamentos corporais. Difícil, aos nossos olhos, acreditar nisso, mas, com anos de luta persistente, pensamos assim da luta campesina e de seus militantes.
Pensei, também, em escritores, pois esta semana que recebi uma mensagem, com o título “Vamos repensar nossas vidas” e vários pontos de exclamação e que tinha, como centro, uma fábula infantil: A Fábula da Galinha Vermelha, de Susanna Davidson. Peço que os que por aqui passarem e lerem esse artigo, possam pesquisar, para conhecer a fábula que, em síntese, conta a história de uma pequena galinha, de penas vermelhas, que convida o porco, o ganso, a vaca e o pato para ajudá-la a fazer o pão, desde seu início (o plantio do trigo). Como ninguém a ajudava, os demais animais reclamaram e a galinha, por ordem “legal”, teve que dividir o pão, que, depois disso, nunca mais o fez.

O final da fábula trazia o que chamaríamos de “moral da história”, a qual reproduzo (retirando termos “desnecessários”):
“Esta 'fábula' deveria ser distribuída e estudada em todas as escolas brasileiras. / Quem sabe, assim, em uma ou duas gerações, sua mensagem central pudesse tomar o lugar de toda essa papagaiada pseudo-socialista, que insiste em assombrar nosso país e condená-lo à eterna miséria. / Em tempo... Qualquer semelhança desses bichos com alguns abaixo (a seguir) é mera coincidência: Sem Terra, Sem Teto, Sem Bolsa Escola, Puxa-sacos, Sem Vergonha, (...)E outros bichos mais”.
O interessante é que em alguns blog’s que visitei e onde encontrei a fábula, esse mesmo comentário final se repete, integralmente. Ou seja, parece que foi incorporada à fábula.
Deste contexto todo, tiro algumas reflexões. A primeira: antes, socialistas (travestidos simbolicamente de comunistas - que são coisas diferentes) comiam criancinhas. Por isso, deveriam ser perseguidos e, quando ocupassem governos, deveriam ser derrubados "em nome da democracia, da família e dos bons costumes" (ou bons coturnos!). Vingando o crescimento do pensamento neo-liberal, passaram a ser "ultrapassados" - o muro caiu! Hoje, é uma idéia papagaiada! Por que o pensamento fundado nos princípios do Projeto Histórico Socialista assusta mais do que as bancarrotas econômicas do estado fundado no Projeto Histórico Capitalista, sempre “cuidado” com arrumações (essas sim pseudos) econômicas que mantém os que especulam no poder?
Sobre a história, cabe lembrar (ou refletir) que trata-se de uma fábula urbana, mesmo falando de animais de fazenda. Trata-se de um olhar enviesado sobre as relações de trabalho e o papel do Estado nestas relações. Porém, penso que a idéia da nobre autora, à época, era mostrar a solidariedade e a coletividade, ainda que sob o aspecto burguês.
Para me fazer entender: todos conhecem (acho) outra fábula, a do incêndio na Floresta em que todos os animais saem em disparada e, de repente, o Leão, no alto de sua majestade, repara no pequeno beija-flor pegando a água no riacho, com seu pequeno bico, e apagando o fogo que lhe era possível. O Leão pergunta: "beija-flor! Tu achas que vai apagar o fogo assim?" e o beija-flor responde: "Não acho, mas pelo menos estou fazendo a minha parte"... Uma bela história, em princípio.
Brinco dizendo que a história não terminou aí. O Leão, após a fala do beija-flor, gritou para a bicharada: "Corre, bicharada, que o fogo já queimou os miolos do beija-flor!".
Essa forma de terminar a história é p'ra dizer que enquanto, na fábula, os animais não forem organizados, nunca estarão preparados para enfrentar coletivamente o fogo. Por isso, não basta o beija-flor ter, sozinho, consciência de sua tarefa. É preciso conscientizar a coletividade dos animais. Até porque, outros que não conseguem correr na velocidade necessária, morrerão no fogo e nem tentarão apagar o incêndio. É o valor burguês dado sobre a solidariedade e à coletividade, não basta cada um fazer sua parte, se não a compreenderem no todo.
Reconheço que parece "pensamento crítico" demais para uma pequena fábula, mas é também a partir delas que os valores vão se constituindo. E, no final da Fábula da Galina Vermelha, vem a pérola. Aliás, as pérolas:
1. Que é preciso tomar lugar (portanto, é o seu antagônico) de "toda essa papagaiada pseudo-socialista, que insiste em assombrar nosso país e condená-lo à eterna miséria". Ops! Então, não existe miséria no nosso país... Aliás, país do eixo central capitalista nenhum tem miséria? Ela, a miséria, é privilégio de países "pseudo-socialistas"? Hum... é, talvez o seja. Cuba é um país pobre, não importa o embargo econômico de 50 anos a aquela pequena ilhazinha no meio da América Central. Que, por sinal, já enfrentou furacões, mas, diferente dos EUA, cuidou de seu povo.
2. Semelhança com Sem Terra, Sem Teto e, depois, uma série de pejorativos desnecessários.
E, neste ponto, resgato o início deste artigo: o confronto entre Sem Terras e os Jagunços ("Seguranças") em Fazenda de propriedade do grupo Oportunity, de Daniel Dantas. E, pasmemos, o INCRA não pode fazer vistoria naquela área, porque assim determinou o STF.
Vivemos num mundo em que, cada vez mais e mais profundamente, homens e mulheres são incoerentes em seus valores. Homens e mulheres falam sobre valores de toda ordem, inclusive a ordem. Defendem direitos, falam sobre justiça, falam de democracia. Mas, não vemos a crítica ao fato de um dos maiores ladrões de colarinho branco da história deste país, Daniel Dantas, andar sob o carinho e atenção de justiça. É esse o patrimônio que o Estado brasileiro defende.

Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira

P.S.: em tempo, na manhã de 27 de abril, recebi um e-mail de uma professora da UEPA sobre o assunto. Em seu conteúdo, consta que o repórter da TV Liberal, afiliada da TV Globo, Victor Haor, depôs ao delegado de Polícia de Interior do Estado do Pará. Em seu depoimento, negou que os profissionais do jornalismo tenham sido usados como escudo humano pelos sem-terra, bem como desmentiu a versão – propagada pela Liberal, Globo e Cia. – de que teriam ficado em cárcere privado.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

O Universal Circo Crítico... a justiça I...

Essa semana, testemunhamos o bate-boca entre o Ministro Joaquim Cardoso e o Presidente do STF, Gilmar Mendes. Creio que, p’ra não errar na conta, metade deste país queria estar na pele (ou talvez ficassem satisfeitos em estar no plenário, assistindo) do Ministro Joaquim Cardoso, só para experimentar a sensação de apontar o dedo na cara de Gilmar Mendes e “dizer-lhe uma tuia de verdades”.
Quem não respirou em frente à TV e disse “Boa, Joaquim!” quando o mesmo falou ao Presidente Supremo do Supremo (não é redundância): “você não está falando com os seus capangas do MT!”... Foi a melhor.
Ficarmos impressionados com a postura de "panos quentes" da mídia, claro que ninguém ficou. Em outras circunstâncias, possivelmente o jornalismo tupiniquim iria fazer pequena e substancial matéria sobre “a que se refere Joaquim Barbosa a falar sobre ‘capangas’ de Gilmar Mendes?”.
Ficarmos impressionados com a nota de oito dos onze juízes do STF, também não dá, né? Afinal, era óbvio que um silêncio sairia muito mal à opinião pública sobre este lado da democracia brasileira, assim como ninguém, nenhum dos oito juízes (nem mesmo o conhecido voraz da Lei do mais forte, Marco Aurélio) queriam, á revelia do bate-boca entre os pretensos ministros, sair mal na foto.
Afinal, não há como negar: o Ministro Joaquim Barbosa falou o que a população brasileira, em maioria p’ra lá de significativa, pensa de Gilmar Mendes. Como este tem argumentos para falar que aquele “não tem moral”? Seria, no fim ao cabo, uma expressão de racismo ás escondidas?
Nem grande mídia (essa conhecida por sua máscara de jornalismo verdade... a que lhe interessa, claro), nem o STF. Apenas os órgãos e movimentos respeitáveis e compromissados com os reais interesses da classe trabalhadora (ainda que, possivelmente neste caso particular em questão, muitos oportunistas de carreira opinem a favor das falas do Ministro Joaquim Barbosa) que buscam manter acesa a atenção pública ao que representa nossos dirigentes e, neste, a figura policialesca e carcomida do Presidente do STF.
Na atenção ao que ainda se procura veicular sobre o fato, sintetizo o que recebi por e-mail e que acho que, no mínimo, vale pelo registro. O que a mídia, se interessada na verdade (como sempre se auto-afirma) faria?
1. Investigaria o "assassinato" de Andréa Paula Pedroso Wonsoski, jornalista que denunciou o seu irmão, Chico Mendes, por compra de votos em Diamantino, no Mato Grosso, assim como a natureza da sua participação na campanha eleitoral de Chico Mendes em 2000, quando era advogado-geral da União e em 2004, quando já era ministro do Supremo Tribunal Federal;
2. Investigaria as “suspeitas” relações com o Grupo Bertin, condenado em novembro de 2007 por formação de cartel;
3. Investigaria os contratos sem licitação que o Instituto Brasiliense de Direito Público (da qual Gilmar Mendes é acionista) recebeu durante o governo de Fernando Henrique Cardoso;
4. Tornaria pública a coincidência de mais de 30 ações impetradas contra o seu irmão (Chico Mendes, não aquele que tombou no Acre) ao longo dos anos jamais terem chegado sequer à primeira instância;
5. Alexandre Garcia, Joelmir Beting, Marcos Nascimento e outros “comentariam” a afirmação de Daniel Dantas, de que só o preocupavam as primeiras instâncias da justiça, já que no STF ele teria "facilidades";
6. Resgataria, na fala do Ministro Joaquim Barbosa de que está se destruindo a imagem do judiciário brasileiro pelo seu atual presidente, o segundo habeas corpus (dois hábeas corpus???) concedido espuriamente a Daniel Dantas, logo após a apresentação de um vídeo que documentava uma tentativa de suborno a um policial federal (ai! Que flagrante público!);
7. E o grampo? Nada até agora? Quer dizer... nada que a mídia não queira inculcar no imaginário popular;
8. Lembraria a população que assiste seus telejornalismos que, quando Advogado-Geral da União, depois de derrotado no Judiciário na questão da demarcação das terras indígenas, recomendou aos órgãos da administração que não cumprissem as decisões judiciais;
9. Revelaria (e explicaria) as relações de Gilmar Mendes com o site Consultor Jurídico e as relações entre a empresa de consultoria Dublê, de propriedade de Márcio Chaer, com a BrT.

Fica o registro.

Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira