RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Natal...!





"Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez”
(José Saramago – O Evangelho segundo Jesus Cristo”




                De tempos em tempos, vivemos “tempos de...”
                Alguns são rotineiros, regulares e precisos, em sua expressão, em sua manifestação, em seu comércio e a perfeição da “coisificação” do homem.
                Tivemos, ao longo da história, tempos de ditaduras e, claro, tempos de resistência. E como as ditaduras sempre voltam, em formas diferentes, sempre precisamos resistir. Por isso que este espaço sempre saúda seus visitantes com “Vida Longa!”. Não é uma mera saudação, que caracterize o homem, o artista, o revolucionário (ou aprendiz de...). É um princípio.
                Assim, imbuídos e respeitosos (ainda que críticos) dos sentimentos que perpassam mentes e corações mundo afora, de conhecidos, não-conhecidos e desconhecidos, de familiares e amigos (que nos ensinaram, de maneiras diferentes, a verdadeira arte de amar: pelas suas coerências e pelos seus erros), de pessoas de bem e pessoas não tão de bem (que que sempre são vistas assim, em “tempos de...”), desejamos Vida Longa neste Natal...
                Vida Longa aos que ainda lutam contra a opressão. Opressão aos campesinos, aos indígenas, aos quilombolas que até (mais aqui, menos ali) também queriam celebrar seu Natal, mas o Santa Claus de longe não passa em suas casas.
                Vida Longa aos Educadores e Educadoras mundo afora. Que em sua labuta de ensinar e aprender, enfrentam mesmices ou não, reproduzem ou transformam, recuam ou avançam em sua labuta que, cada vez mais, se torna tão necessária e tão contraditória na construção de um Mundo que consiga enfrentar sua própria destruição.
                Vida Longa às crianças nas ruas, nas favelas, nas esquinas... no Brejo da Cruz. Não as queremos nas ruas, nas favelas e nas esquinas em suas formas opressoras que, inclusive transformam seus pais em algozes. O são, tanto quanto somos nós que aceitamos a arte de nos valermos pelo que temos. Quase não dá p’ra defender que precisamos ser o que somos (as crianças ainda pode ser, mas é cada vez mais difícil até para elas), pois cada vez mais nos dizem “sejam o que tenham... tenham o que querem ser!”. Vida Longa a Liberdade criativa, transgressora destas crianças. Vida Longa à Rua, à Favela, à Esquina como locais de encontros, de ideias, de fantasias reais, de música, arte e resistência.
                Vida Longa aos animais, domésticos ou não. Sempre expressão daquilo que melhor temos ou tínhamos no mundo, ao mesmo tempo “infeliz” expressão de desumanização da humanidade. Animais que servem apenas para patê ou roupas de grife, animais arrastados, enterrados e jogados contra a parede, animais cercados em seus habitat’s pelo avanço desenfreado da “civilização”, animais maltratados em locais que servem (em seus maus tratos) como “espetáculo” (nunca no Universal Circo Crítico).
                Vida Longa aos Jovens. Os jovens da Palestina que enfrentam canhões com pedras. Só os jovens que sonham de verdade enfrentam canhões com pedras... Os Jovens do Chile que “de férias” (como ironicamente comentavam os âncoras jornalistas de nossa im-pres-si-o-nan-te imprensa tupiniquim) continuam a lutar por educação... Os jovens da “Primavera Árabe” que não se mobilizaram pela internet, mas pela resistência e luta contra a opressão e a fome... Jovens na Bolívia (que já tinham em sua história a luta contra a privatização da água... da chuva) lutam contra a apropriação de terras indígenas para serviço ao capital. Vida Longa aos Jovens que sabem o significado da palavra esperança.
                Vida Longa as ideias de luta, de sabedoria, de lições das quais este picadeiro, esta lona, seus artistas e seu público sempre é aprendiz. Vida Longa aos ideias de Che, de Zumbi, de Subcomandante Marcos, de Antônio Conselheiro, de Rosa Luxemburgo, de Zapata, de Sandino, Bolivar, Gregório Bezerra... o velho Hiram de Lima Pereira e tantos outros e outras que tombaram firmes em seus propósitos.
                Vida Longa ao nosso aprendizado e às nossas lições.
                Vida Longa à nossa tolerância, pois dela fazemos nossa luta contra a intolerância. Nela, nos sustentamos inclusive para sermos muitos e muitas, que toleram nossos limites e até necessitam deles, ao mesmo tempo que nos ensinam o sentido do amor e da luta, da indignação e da esperança...
                Vida Longa a este Natal, que nos revela o mundo em sua realidade absoluta e nos ensina que “tempo de amor” é tempo de lutar. Que “Tempo de partilhar” é tempo de solidariedade (socialista, não burguesa). Que “tempo de servir” é tempo de aglutinar. Que “tempo de sorrir” é tempo de celebrar! Celebrar! Celebrar nossa consciência, nossa certeza sobre de que lado estamos, nossa certeza de que PRECISAMOS de um novo “tempo de...”...
                Vida Longa ao Natal pelo qual lutamos...
               
                Venham Todos!
                Venham Todas!

                Vida Longa!

                Ps.: Como todo Natal em que por aqui passamos, sempre lembramos. Dia 25 é aniversário de Painho, Seu Ardigam, o “Ardigam bucho-de-zebra!”...
                Vida Longa a Seu Ardigam!

sábado, 10 de dezembro de 2011


O Universal Circo Crítico... Plebiscito no Pará...

"Os indígenas, os quilombolas e os trabalhadores da região nunca estiveram na frente do movimento pela criação do Estado do Tapajós, porque essa não era sua reivindicação e também porque não eram convidados. Esse movimento foi iniciado e liderado nos últimos anos por políticos. E nós temos aprendido que o que é bom para essa gente dificilmente é bom para nós".
(Conselho Indígena dos rios Tapajós e Arapiuns)

            O Universal Circo Crítico não fez um plebiscito entre os seus artistas e público. Por isso, está fazendo agora.
            Nos chama a atenção o fato de, por nossa militância, tanto de nossos artistas, quanto de parte significativa de nosso público, acompanharmos inúmeras campanhas por plebiscitos em nossas terras tupiniquins. Algumas, não saem do papel, a exemplo do Plebiscito para o Limite de Terras no país. Mas esta, da divisão do Pará (assim como foi a divisão de Goiás) saiu por caminhos bem menos complicados.
            Outrossim, queremos, na verdade, refletir sobre o fato (vai acontecer o plebiscito) e a forma... mais sobre a forma que, nesse caso, diz respeito às campanhas.
            Cá p’ra nós... só não dá pra dizer que está sendo uma “palhaçada” a campanha, por dois motivos: o primeiro (e, claro, mais importante deles) é que respeitamos pro-fun-da-men-te os trabalhadores palhaços, palhaços trabalhadores, gente digna, trabalhadora (já o dissemos) e respeitosa e que, neste mundo que a cada dia avizinha sua auto-extinção, continuam lutando pelo direito ao riso. O segundo, mais político, é que mais uma vez se evidencia o marketing, a “ideia” para se vender produto do que o produto em si.
            As pessoas mais importantes deste plebiscito são seus “coordenadores de propaganda e marketing” e suas “sacadas” de imagens e chavões para vender a ideia melhor: rachar o Pará em três ou mantê-lo daquele tamanhão (maior, mas muito maior – em espaço – do que nosso humilde picadeiro e lona de circo).
            O interessante é que esta história de marketing político vem, nas várias últimas eleições que este país experimentou, sendo sempre a primazia das campanhas. Mas, nestas, pelo menos, ainda se vota em gente – e, claro, não vou entrar no mérito.
            Neste plebiscito, a ideia é mais... mais... intrigante: as campanhas políticas estão, com mais foco, vendendo “algo”... Tipo “uma ideia sobre uma coisa” chamada território.
            Mas o que é mais interessante (e fiz uma pequena pesquisa sobre as campanhas na TV): a pobreza, a concentração de riqueza, a falta de saneamento, a grilagem e o latifúndio (danem-se esses “marketeiros” que inventaram essa de “agronegócio” para melhorar a imagem do latifundiário... sempre o marketing dando conta destas coisas, aff!), o não-desenvolvimento, o analfabetismo... tudo isso é mote de campanha dos dois lados.
            Daí, a pensar na qualidade do debate que é feito sobre esta questão, a coisa figura de maneira mais preocupante. De novo, como dantes, os dois lados dizem “o que não falam é sobre as verdadeiras consequências para...” e, assim, e em conjunto com a máquina de fazer maquiagem, entramos na mais profunda pasteurização do debate político de uma região.
            Só há um motivo, certo, concreto, definitivo para lançarmos mão de uma opinião (e, daí, a forma como estamos lançando a enquete): votamos “não e não”, mas com jeito de dizer o primeiro “não!” como opinião e o “segundo” como determinação de nossa opinião.
            Tá, vai ter gente que vai dizer assim: “xi! Parece-me menino mimado que, se possível, iria dizer “não, não, não, não, não...” (até vi propagando assim...).
            Mas, falando sério (como sempre o fizemos, ainda que brincantes): o que menos está claro neste plebiscito é a clareza de seu debate.
            As palavras do Conselho Indígena do Rio Tapajós e Arapiuns é, também, para provocar... mas, cá p’ra nós, esta é uma verdade, né não?
            Em defesa da soberania do povo brasileiro!

            Venham Todos!
            Venham Todas!

            Vida Longa!

            Marcelo “Russo” Ferreira
           

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

E lá vai o Doutor...





“Um líder de verdade deve ser ouvinte, não falante”
Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira
... ou Sócrates, para quem gosta de futebol

            E lá vai o Doutor...
            Lá vai Sócrates...



            Nosso público, acredito, também está triste. Nossos artistas, tenho certeza...
            Esta Lona, desde que foi levantada pela primeira vez, fez algumas poucas despedidas, sempre celebrando seus protagonistas. Duas delas, de nossas relações de amizade, carinho e amor por pessoas de nossa própria lona e picadeiro (a mais recente, no esteio de nossas palavras, expressa na nossa última publicação): Seu Bastião e Leonan.
Outras três, com a admiração de quem olha, escuta, assiste, lê aquelas figuras e ficam assim, meio que pensando: “Por que só existe um?”.
            Despedimo-nos do Doutor Sócrates com a mesma admiração expressa em nossa despedida à Mercedes Sosa (La Negra) e a José Saramago.
            Quando nos despedimos de Mercedes, falávamos: “O Universal Circo Crítico presta sua pequena homenagem à voz dos peregrinos, à voz dos pobres, à voz dos lutadores e lutadoras do povo.”. Talvez tivéssemos muito mais a dizer de La Negra.
            Quando nos despedimos de José Saramago, dizíamos o quanto o escritor nos mostrou a importância de dizer de que lado estamos e contra que lado estamos; pelo que lutamos e contra o que lutamos; pelo que celebramos e contra o que celebramos”.
            Não temos dúvida nenhuma de comparar Sócrates a Mercedes e Saramago... é como juntar tudo o que há de mais rico na história da humanidade nestas homenagens que fizemos e agora fazemos: a música que liberta, as letras que assumem um compromisso, o esporte consciente, belo, elegante e DO povo.
            Nos últimos tempos, o Doutor (aqui, em nossa lona popular e aprendiz) afastou-se de nossa única forma de conversar com ele, uma vez por semana, quando adoeceu. É na Revista Carta Capital (talvez um dos únicos semanários sérios neste país) que encontrávamos as palavras na marca do pênalti e sem medo de assumir a responsabilidade de cobrar.
            Voltou, publicou por três semanas seguintes e, agora, partiu... Celebrando!
            Nestas três publicações, lições que, possivelmente, irão passar longe da hipocrisia daqueles que, hoje, conduzem – no público e no privado – o esporte bretão e todas as outras possibilidades de práticas corporais esportivas que a humanidade tem conhecimento.
            Foi Sócrates quem deu uma lição a Edson Arantes do Nascimento, o Pelé (que se esconde no personagem... ou o contrário): “de uma coisa sabemos de há muito: Pelé jamais sonhou com o que quer que seja”, no momento em que o presidente da FIFA desfilava palavras de intolerância e racismo e o “atleta do século” (assim mesmo, com letra minúscula) assinava embaixo.
            O Universal Circo Crítico presta sua homenagem e pede licença à Carta Capital para, aqui, na nossa popular lona de circo e picadeiro de terra batida, reproduzir um trecho de uma de suas últimas publicações:
“Um líder de verdade deve ser ouvinte, não falante; deve ser cordato e assumir todas as responsabilidades maiores, ser aquele que bate o pênalti no último minuto e que briga pelo coletivo e nunca por ganhos pessoais. O líder autêntico tem de ser o melhor, o exemplo; o que protege seus liderados, que enfrenta as dificuldades resguardando os demais. Jamais foge das responsabilidades tentando transferi-las e suporta toda e qualquer crítica que se faça ao ambiente em que está inserido. Deve ser o esteio, afortalezaonde os outros podem se sentir seguros e protegidos. Deve encaminhar o time para o lugar correto, que lhes ofereça mais possibilidades de sucesso, e exigir posturas compatíveis com a expectativa de todos. Deve respeitar as diferenças e muitas vezes estimulá-las e torná-las de conhecimento solidário, para que as potencialidades possam emergir sem limitações. / Um líder não pode ser fraco ou omisso, não pode ser negligente nem apresentar imperícia naquilo que faz. Não pode deixar que as coisas andem sem o seu dedo demarcando o caminho a seguir. Não pode ser um impostor tirano, que agride, oprime e destrói aqueles que devem ser tratados com carinho e afeto para que possam ter desempenhos adequados, para que um time chegue à vitória final. Por fim, cuidado com os falsos líderes. Eles são um perigo” (Revista Carta Capital, Ano XVII, nº 672, novembro de 2011).

Um jogador de futebol com a inteligência, clareza, compromisso que mais do que inédita no futebol e esporte brasileiros, é artigo quase extinto. Falava como um revolucionário... Jogava como um Lutador do Povo!
Vida Longa ao Doutor Sócrates!

Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira 

PS.: quando moleque, ainda nos tempos “paulistanos” de minha vida, era são-paulino... Daqueles tempos, preservo apenas a expressão tricolor, que se fortalece em meu time do coração, o Santa Cruz do Recife... Detestava (coisa de criança) o Corinthians, que sempre fazia o São Paulo um “freguês” no Morumbi... Painho, por sua vez, era palmerense... Mas como jogava o “Magrão”...

domingo, 27 de novembro de 2011

E lá vai Seu Bastião...


“Por sorte somos todos os infernais /
E agora eu vivo em paz /
O mundo é bão, Sebastião /
O mundo é bão, Sebastião” (Não Reis)

            E lá vai Seu Bastião...

Pois é, foi em 13 de novembro...
Foi em 13 de novembro que, parece-me, a última gota de estrela que cruzou os céus do Canadá até o México passou...
Eu não estava lá... E na internet – que nem sei muito se ele era adepto – tem-se notícia de que lá pelas bandas de 1833, uma “chuva de estrelas” foi vista naqueles céus.
Mas sabe como é, né? Chuva assim, das grandes, que não passa no Pará, não é chuva. E tem hora p’ra chover, não importa se é de dia ou de noite.
Uma chuva que dura 178 anos é algo inimaginável... Mas, sim, pelos céus de nosso Circo, aqui dentro da lona (porque coisas assim, magníficas, espetaculares, revolucionárias acontecem em lugares como o nosso), uma chuva terminou 178 anos depois e com a gota mais importante.
E lá vai o Velho Bastião...
Diz a lenda que sua partida, como última gota da chuva de 1833 foi tão sentida, que o Papão se aperreou e não subiu para a segundona... Sei não, acho que é responsabilidade demais e “desculpa” boba de quem não soube viver o quanto o Velho Bastião viveu. Bastião subiu, o Papão ficou.
Lá vai seu Bastião... vai cantar forró com um cabra de uma terra boa, terra do Velho Hiram, caicoense de primeira linha. O bom forrozeiro Elino Julião (que também já foi) é de 13 de novembro e, mesmo nordestino, mesmo forrozeiro, também falava da terra do Velho Bastião:
““Carimbo vem de lá de Belém / Porque lá é que tem carimbo verdadeiro
Carimbo / que a moçada se embala / Começa na sala que vai pro terreiro”
Lá vai Seu Bastião...
O Universal Circo Crítico, seus artistas, seus aprendizes de lutadores do povo, seu público sempre estimado presta sua homenagem...
O Mundo á bão, Sebastião...
Não ficou tão bom, neste dia.
Mas, resolvemos festejar sua vida em nossas vidas que, inquestionavelmente, sempre deixavam o mundo... bão!

Vida Longa ao Velho Bastião!
Vida Longa!

Venham Todos!
Venham Todas!

Marcelo “Russo” Ferreira

Conversa ao pé de ouvido de Davi Samuel...


“O menino quer um burrinho /
que saiba inventar histórias bonitas /
com pessoas e bichos /
e com barquinhos no mar./
E os dois sairão pelo mundo /
que é como um jardim /
apenas mais largo /
e talvez mais comprido /
e que não tenha fim.”
(Cecília Meireles)



            Salve, Salve, Pequeno Davi Samuel...
            Seja bem vindo nosso mais novo Pequeno Lutador do Povo...
            E, claro, da parte desta humilde e lutadora lona, nasce com sangue de pequeno lutador do povo.
            Temos uma enorme honra e alegria, pois seus pais, Robson e Zaira, lutadores do povo que são, são, também, padrinhos desta nossa lona. São como artistas de todos os dias e de todas as lutas, de todas as “tiragem de poeira” e conquistas.
            Nossa alegria com a sua chegada é, verdadeiramente, imensurável.
            É Davi Samuel, e de seu nome de origem duplamente hebraica, temos nossa “bença” para seu espírito leal e ousado que seu nome trás em marca. Lealdade, como um princípio humano da maior importância e ousadia no sentido dado por um grande mestre dos ensinamentos dos lutadores do povo, Lênin, a quase um século profetizou: “a ousadia é o que dá sentido à vida!”... Em sendo verdade, e entendemos que sim – e a verdade é revolucionária – chegaste para dar sentido a todos nós, artistas e público do Universal Circo Crítico.
            E nossas conversas ao pé de ouvido, pequeno Davi Samuel, é sempre um enxerimento à parte. Oras, chegamos quietinho, de mansinho, falando ao ouvido pequeno, sem pedir licença!
            P’ra que licença? Nós vamos é de repente, em nossa homenagem a sua chegada e ao Aniversário de 25 anos da Casa do Cantador do Brasil.
           
“Na casa de meus compadres,
Nego Bob e Dona Zaira/
Nasceu mais um de seus herdeiros
E quem nasce, sabe, ainda que não ensaia/
Pequenino, ousador...
Mistura de lealdade/
Davi é Samuel e será grande na flor da idade...”.

            A Casa do Cantador do Brasil, Pequeno Davi Samuel, é nossa expressão de uma importante lição que queremos deixar aqui. A lição de cultura popular e nacional que os cantadores repentistas e poetas de cordel nos dão, de literatura e luta dia-a-dia. E a lição de um grande home, Oscar Niemeyer, secular e comunista, como está circo se pretende e é. E nesta troca assim, solfejada no cantinho de nossa lona, cantamos esta pequena e primeira lição.
            Nas história de seu dia, pequeno Davi Samuel, Tivemos Napolão e o Golpe do 18 Brumário da Revolução Francesa, a Fundação de Mossoró – no Rio Grande do Norte – o Camboja se declarando independente da França e a queda do Muro de Berlin... fatos de nossa história que falam de um mundo complexo, mas ainda dirigido pelo capital, pelo pensamento econômico onde as coisas valem mais do que as pessoas. Talvez com menos ímpeto na fundação da Terra do Sal (Mossoró). Mas, ainda assim, em nossas terras brasileiras, a “criação” de um município e de um Estado sempre tem, como sujeitos de desejos, alguns poucos gatos pingados, poderosos, ricos e, claro, enormes interesses privados e econômicos.
            Além da alegria de sua chegada, pequeno Davi, outros chegaram em outros tempos da história. A poesia e a literatura nos deram Ivan Turgeniev e a demonstração do quanto que as obras que estão fora do eixo europeu são importantes e significativas. Em um outro 9 de novembro, também ganhamos para as letras o escritor húngaro Imre Kertész, Nobel da Literatura em 2002 por uma escrita que confirmava a frágil experiência do individuo à arbitrariedade bárbara da história.
            Que as letras lhe sejam inspiradoras, Pequeno Davi e que também possam mais do que manifestar a barbaridade da humanidade sob a égide do capital, nos tragam esperança, luta, solidariedade, ludicidade...
            O Nove de novembro, pequeno Davi... Dia de música também...
            Tom Fogerty, guitarrista e vocalista principal do Creedence Clearwater Rivival, uma “bandaça” de rock dos anos 60 e 70. Há, Davi, este artista aqui não nega suas raízes musicais que perpassam o rock’n’roll. Mas diga lá, “I want to know, have you ever seen the rain? / Comin' down on a sunny day” (“Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva? / Caindo em um dia ensolarado?”).

            Mas as bandas de cá também cantaram e, com um cara que, lamentavelmente, expressa – como só a humanidade consegue fazer – a falta de memória de um povo. E por isso que sempre lutamos com artistas de muitas outras lonas, pela memória, pela cultura popular, pelos nossos compositores. Um poeta, cantor e músico brasileiro nasceu, também, em um nove de novembro: Torquato Neto.
Parceiro de nomes que sempre gostamos de cantar por aí, um dia, lá pelas bandas dos anos 70, ele dizia: "Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela (…). Quem não se arrisca não pode berrar."

“Você me chama / Eu quero ir pro cinema
Você reclama / Meu coração não contenta
Você me ama / Mas de repente / A madrugada mudou
E certamente / Aquele trem já passou
E se passou, passou  / Daqui pra melhor, foi
Só quero saber do que pode dar certo
Não tenho tempo a perder”
... pois é, do Torquato Neto...

            E também é dia de Cecília Meireles, em que pese “declamarmos” sua despedida neste dia. Mas, deixa estar, pequeno Davi. Afinal, foi Cecília que presenteou nosso povo – e seus pequenos – com a primeira Biblioteca Infantil do Brasil... de Cecília, nossa pequena viagem na abertura deste papo ao pé de ouvido...
            Mas, queríamos a todo custo, com toda vontade, com nosso ímpeto de sempre sermos aprendizes, não deixar de trazer – ainda que não em um nove de novembro – uma lição revolucionária: durante todo o processo revolucionário, em Cuba, o Comandante Che sempre defendeu a importância de todo o povo cubano estudar... e jogar xadrez.
            Pois bem, pequeno Davi... foi em um nove de novembro que nasceu um dos maiores campeões de xadrez do mundo: Mikhail Tal... Estudos e estratégias, essa é uma lição para toda a vida.

            Seja Bem Vindo, Davi Samuel...
           
            Venham Todos!
            Venham Todas!

Vida Longa a Davi Samuel...

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira