RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

domingo, 28 de fevereiro de 2010

O Universal Circo Crítico... O Andarilho...


          Era 2000... Diferente de muitas das canções que por aqui registrei, não foi de um período tão distante.
          Naquele ano, na época em que fiz esta canção, estava iniciando uma relação com a casa onde morava, na Madalena (bairro tradicional do Recife) pois havia retornado de um período de três meses de pesquisa de campo em meu Mestrado, realizada na Catalunha, um Assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), na cidade de Santa Maria da Boa Vista, no sertão de PE.
          Havia ficado um tempo sem compor, por conta das circunstâncias objetivas. A principal delas, não tinha um violão à disposição. Dividia a casa na Madalena com um Professor da Universidade Estadual de Pernambuco e ele tinha um violão, que praticamente não usava. Durante aquele ano, naquele belo bairro de Recife (quem conhece, sabe que bairro “mágico” é aquele), entre leituras da Dissertação, atividades com o Setor de Educação do MST/PE, aproximação com a então iniciada gestão do então Prefeito João Paulo (já em 2001 – Égua da eleição que dá arrepio só de lembrar) e um cotidiano de final de semana com o mar, quando pegava o ônibus aos sábados e domingos, bem cedinho, e ia caminhar na praia de Boa Viagem/Piedade.
          A volta daqueles três meses no Assentamento Catalunha (que, antes, era propriedade de Antônio Carlos Magalhães, o próprio – ACM Malvadeza) realmente me deixou com inúmeras idéias, projetos e desejos de sociedade e de mundo. Andar pelos sertões pernambucanos, na cotidiana companhia de companheiros e companheiras, educadoras e crianças campesinas provocava um turbilhão de pensamentos e, para uma época em que o violão ainda fazia parte de minha relação pessoal comigo mesmo, veio do andarilho, um sujeito muitas vezes urbano, de história própria e sofrimentos profundos, mas de lutas cotidianas ante a incompreensão (aliás, a total incapacidade de compreensão) de nossa sociedade sobre a luta diária e a história de vida de uma pessoa que é literal e verdadeiramente ignorada pela sociedade, pela “civilização”. Muitas vezes, inclusive, uma pessoa tratada como objeto de “burilação”, desrespeito e usufruto da capacidade de exercício da desumanidade... a incrível capacidade do homem de expressar, focado no pseudo-direito de divertir-se, sua des e inumanidade. Assim o é, também, com os trabalhadores e trabalhadoras da periferia, da favela, do campo, do quilombo, aqui e acolá. Assim o é com este sujeito só, o qual apenas chamamos de louco, maluco, perdido... andarilho.
          Apresento: “O Andarilho”, uma pequena expressão e voz de

          “As vezes eu caminho contra o tempo / em busca de um segundo. / Mas as coisas que se passam / em um segundo no mundo./ Sol e chuva, noite e dia, / desencontram.
           Ando contra o vento / sou quase imóvel./ O meu corpo não o vence./ Mas o vento é tão inútil aos meus sentimentos./ Miragens de minhas viagens./ Viagens de minhas miragens.
           Mas o tempo passa/ e as pedras sempre vão rolar./ Em algum lugar, seguro,/ talvez possamos brincar / no nosso quintal./ Ainda protegidos do frio concreto.
           Passo a passo nós daremos passos de andarilho./ Passo a passo o andarilho não procura escuridão. / Nem espaço distancia minhas léguas desalucinadas./ Minha luz sempre irá brilhar.
           Adivinha para onde nós iremos?/ Não sabemos,/ pois não existe esse lugar./ Não há tempo para a gente parar.
           Quem viaja em minha estrada não viaja só.../ Quem viaja em minha estrada não viaja só por viajar.”

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira


P.S.1: Lembrando que as letras estão registradas em cartório comum. Não vale a pena “plagiar”. A melodia... um dia desses...

P. S.2: A foto, no violão, é velhinha... 1997!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Conversas ao pé de ouvido de Arthur...



















“Ruas da minha infância/
Quantas lembranças deixaram em mim/
Augusta, Hortas, Alecrim/
De travessas e becos hoje desmoronados/
Daqueles carnavais em que eu menino/
Fugia com medo dos alegres mascarados”
(Nelson Ferreira – Evocação nº 7)


          Salve! Salve! Pequeno Grande Arthur...
          Que chegada triunfal em um dia maravilho, histórico... Nasceste em um “Nove de Frevereiro”, como diria nosso querido Antõnio Carlos Nóbrega.
          E como sempre, a cada nascimento de nossos pequenos lutadores do povo, o Universal Circo Crítico presta sua homenagem para dizer “Seja Bem Vindo, Pequeno Grande Arthur”, nome nobre e generoso e que, certamente, e em respeito à origem Do mesmo, há de ser um grande líder, um grande e verdadeiro Lutador do Povo. Um nome que, em si, traz a marca da ousadia e que será superior à teimosia, também “característica” de seu nome... Pelos pais que tem, a primeira prevalecerá sobre a segunda.
          Aliás, é de se registrar: o calendário foi, certamente, instrumento precioso para que chegaste exatamente num 9 de fevereiro... Ouso dizer (sem teimosia, lembre-se) que Renata e Gojoba, em maio de 2008, iniciaram seu infalível e detalhado plano de ter um/a filho/a no Dia do Frevo! E cá estamos, celebrando o Dia do Frevo e o Dia de Arthur.
          Poderia lançar mão, como d’outras “conversas ao pé de ouvido...”, de lembrar fatos importantes, precisos, vitoriosos, representativos de nossa história e sociedade... mas, como fazer isso no Dia do Frevo??? Mas vou tentar.
          Poderia lembrar nos nossos tempos de império, em que as estradas de ferro eram, inicialmente, construídas para levar a corte de um lugar ao outro, como a primeira Estrada de Ferro Central do Brasil (iniciada em 1855) e a segunda entre Recife e São Francisco (em 1958). É evidente que as lições de união dos lutadores deste nosso país (não apenas) vem da contradição destes primeiros relatos que, em síntese, dizem que aos trabalhadores a labuta, à corte às beneses da labuta trabalhadora, já que as ferrovias serviam a estes... Por isso a importância de nossos lutadores do povo! Ensiná-los desde pequenos, Caro Arthur, é construir sua verdadeira liberdade desde pequenos.
          Nove de fevereiro foi um dia espalhado na história dos homens e mulheres: aviões inauguraram voos, cidades e estados foram criados, pessoas encontraram pessoas (e é incrível como a submissão, às vezes, nos é contada como um grande fato histórico). E também nos serviu de lições que foram insistentemente silenciadas. Por exemplo, foi em 1965 que as primeiras forças de combate dos Estados Unidos seguiram para o Vietnã. Todos nós sabemos que não foram apenas mortes inocentes e uma guerra espúria do imperialismo americano, posterior e humilhantemente derrotados, que ficaram no saldo desta Guerra. No seu próprio quintal os EUA ainda hoje precisam prender (prender?) pessoas que foram àquela guerra e retornaram às suas famílias destruídas por dentro.
          E o que dizer de nosa história recente que, lamentabilissimamente, nosso país insiste em ser o único vitimado pelas ditaduras instauradas na América Latina e América Central a dizer, institucionalmente, que abrir os arquivos da ditadura é puro revachismo... Até bem pouco tempo atrás, este significativo ato do Estado Brasileiro (contar a verdadeira história da ditadura brasileira) era, segundo a elite conservadora e as forças armadas brasileiras, um risco à segurança nacional e soberania do Estado. Porém, nossos “hermanos” argentinos, chilenos, paraguaios, bolivianos, uruguaios seguiram esse caminho de passar a limpo a história de seus países, de seus lutadores, de seus desaparecidos e nenhuma instabilidade foi verificada. E duvido que a mídia destes países não tentaram desestabilizar este ato (como bem a faz nossa mídia tupiniquim). Neste aprendizado de luta, pequeno Arthur, do homem contra o poder e da memória contra o esquecimento (Milan Kundera), nunca devemos nos esquecer da Lei de Imprensa de 1967, que regulava a “liberdade de manifestação do pensamento e da informação”. Hoje, nossos algozes de 64 bradam aos quatro cantos por essa liberdade... mas isso é outras história. Porém, por ironia, foi em um 9 de fevereiro, em 2006, que o ex-oficial argentino Ricardo Taddei foi preso, em Madrid, acusado de 161 sequestros e práticas de torturas durante a ditadura militar argentina... Ah! A história dos homens...
          Caro Arhur: Carmem Miranda, Manuel Castells (o marxista que nunca o foi, pois se tornou ex-marxista) nasceram neste dia, entre esportistas, atores, atrizes, estadistas, intelectuais, escritores/as, militantes de diferentes bandeiras. Destaco apenas um nome que, agora com você, tornaram o 9 de fevereiro uma data que nos presenteou de grandes lutadores: Apolònio de Carvalho, militante convicto em defesa do socialismo, militou no PCB e na Aliança Libertadora Nacional (de Carlos Prestes e Olga Benário), além da inegável luta contra a ditadura militar no Brasil (de novo ela). Nele, nos inspiramos a continuarmos socialistas, não importa a nossa idade, não importa onde estamos.
          Também deixaram essas convivências terrenas outros tantos. Bill Haley, na minha humilde opinião, um militante do rock (sim, nós também somos militantes) nos deixou em 1981, sem o devido reconhecimento. Coisas da “memória” da humanidade. Também nos deixou, em 1964 (que ano sinistro), Ary Barroso, autor de Aquarela do Brasil, pianista de primeira, radialista esportivo. Diz a lenda que quando narrava jogos do Flamengo, seu time do coração (fazer o que...) assim dizia quando o adversário avançava ao gol rubro-negro: "Ih, lá vem os inimigos. Eu não quero nem olhar.". Bem melhor e honesto que nossos narradores de hoje em dia.
          Mas, por fim caro Pequeno Grande Arthur, neste Dia de Kuan Yin (protetora das mulheres na mitologia chinesa), neste Dia do Zelador (nunca deixe de dar “Bom Dia!” ao seu Zelador), o Universal Circo Crítico arma sua lona, convida seu “Respeitável Público!” a cantar e dançar sob as bençãos de Capiba, Edgard Moraes, Duda, Michels, Carnéra, Severino Araújo, Lourival Oliveira, Getúlio Cavalcanti, Nelson Ferreira, Zumba, Ademir Araújo, Alírio Moraes, Antônio Maria, Clóvis Pereira, João Tiago e Clóvis Maméde a nossa infinita biografia, musicografia, FREVOGRAFIA que esta data representa, para dizer “Seja Bem Vindo! Bem Vindo o Arthur!”
          E não deixe de me convidar para brincar o “Frevo do Arthur” em seus aniversários. Por hora, um desenho p’ra tu pintar, certo?



          Vida Longa ao Pequeno Grande Arthur!



          Venham Todos!
          Venham Todas!

          Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Cartas revolucionárias...




“Vivemos para a alegria, /
por ela fomos para o combate /
e por ela morremos: /
Que nunca se junte /
a tristeza ao nosso nome”
(Julius Fučik – 19 d maior de 1943,
na prisão da GESTAPO em Praga)







          Em 11 de fevereiro de 1955, o Legado da República da Tchecoslováquia no Rio de Janeiro, o sr. Jirí Kadlec, em carta endereçada a Hiram de Lima Pereira (meu avô, preso/torturado/desaparecido pelos porões da ditadura dos anos de chumbo, jornalista e militante histórico do Partido Comunista Brasileiro), comentava:
          “Quanto ao retrato de Fučik (Preso no dia 24/04/1942, pela Gestapo – nota milnha) vou remetê-lo agora, em separado, numa caixinha de madeira, e estou certo que desta vez não haverá contratempos”. Nesta época, Julius Fučik tratava-se de um jornalista tcheco, executado pelos nazistas, em 08 de setembro de 1943.
          O contexto da carta já foi descrito por aqui, quando demos boas vinda a Ágatha Lídice (Conversas ao pé de ouvido de Agatha Lídice... de 10 de novembro de 2008). Trata-se da histórica relação que minha tia Sacha Lídice tinha com a pequena cidade Tcheca (Lídice), invadida pelo exército nazista e liberta pelos soldados camaradas vermelhos da antiga União Soviética.
          E, nas lições desta pequena carta que recebia meu velho lutador do povo Hiram, uma história de mais um grande lutador do povo, que reconfortava e alimentava, anos depois, a luta de Vietnamitas, Cubanos e Latino Americanos contra o imperialismo norte-americano. A importância deste nome – que, sinceramente, não conhecia – ganhou um poema de Pablo Neruda que afirmou, durante o II Congresso dos Defensores da Paz, em 1950, o seguinte: “vivemos na época que amanhã se chamará a época de Fucik, época do heroísmo simples… Em Fucik há o sentido não só de um cantor da liberdade mas de um construtor da liberdade e da paz”.
          A morte prematura (40 anos de idade), as condições objetivas daquele período (escrever em cárcere e, anos depois, ter seus escritos publicados é realmente de impressionar até o mais vil conservador burguês de nossa atualidade), o amor incondicional pela humanidade, pela liberdade dos trabalhadores e trabalhadoras do mundo e, no seu singular, por sua amada companheira Gusta Fuciková (Gustina) e a história de seu povo natal (a Tchecoslováquia brutalmente invadida pelos nazistas na II Grande Guerra) nos mostram como que os homens são imensuravelmente injustos com sua própria história, ao ponto de não encontrarmos nada sobre esse bravo lutador, nem nos livros de história das escolas, nem na imprensa, na mídia etc.
          Mas aqui, o que mais me chamou a atenção da história deste homem, está em suas cartas escritas ainda em cárcere que, com a ajuda de um guarda da prisão de nome Kolinsk, viabilizou que pudessem chegar às mãos de sua amada companheira Gustina e, assim, transformar-se na pequena, mas histórica obra “Reportagem sob a Forca” que, possivelmente, será encontrado em algumas pequenas livrarias de sebo país afora... o meu livro assim foi adquirido.
          Ao saber que sua Gustina seria deportada para o trabalho forçado na Polônia, dizia o jovem Fučik que, mesmo com a saúde abalada, tinha o “coração cheio de Gustina” e a força para continuar a escrever sua obra.
          Porém, uma passagem na vida destes me leva, inevitavelmente, a meus avós, o Velho Hiram e “Dona” Célia (como painho a chamava): em tempos de tortura – o que coloca a ditadura militar e o nazismo da II Grande Guerra no mesmíssimo patamar – ameaçou o chefe da seção da Gestapo ao jovem Fučik ante a negativa e o silêncio dele: “Tem uma hora para reflectir. Se passado este tempo aquela cabeça teimosa não ceder, são fuzilados esta tarde. Os dois”, já se dirigindo à ainda encarcerada Gustina. Sua resposta, colocando o projeto de General no seu devido tamanho, não poderia mais humana: “Senhor comissário, isso para mim não é uma ameaça. É o meu último desejo. Se o executarem a ele, executem-me a mim também”. Penso que a luta de meus avós tinham esta exata medida...
          Poderiam tirar-lhes a vida... mas o amor entre eles e sua honra jamais. Eis um princípio de falarmos sempre “Vida Longa!”... Que as idéias sempre tenham Vida Longa!

          Venham Todos!
          Venham Todas!



          Vida Longa... sempre!



Marcelo “Russo” Ferreira



PS.: mais sobre esta pequena obra e seu nome, Julius Fučik, é encontrado em http://www.avante.pt/noticia.asp?id=10765&area=19&edicao=1654 (do Partido Comunista Português) e http://darlanreis.blogspot.com/2009/05/julius-fucik.html (do historiador carioca em terras cearenses Darlan Reis Jr.), que me foram importantes instrumento de consulta.


domingo, 7 de fevereiro de 2010

Carta a um/a amigo/a... em 07 de fevereiro de 2010.

O Universal Circo Crítico... Carta a um amigo...





“(...) mas acontece que não posso me furtar
a lhe contar as novidades...”
(Chico Buarque e Francis Hime).


          Olá, velho/a amigo/a
          Saudações... quanto tempo.



          Rogo (espiritual e revolucionariamente) que esta o encontre e aos seus/suas com saúde, paz, harmonia e força. Em tempos de “suspeita desesperança”, para mais ou menos furtar as palavras de Chico Alencar e Pablo Gentile, em seu “educar em tempos de desesperança”, de idos 2002 (não vou ficar colocando referencial bibliográfico aqui, né camarada?), nada como saúde profunda, paz entre os nossos, harmonia no pensamento e no projeto histórico e força, nem que seja dos mais rincões de nossa esperança e subjetividade, para seguir em frente, sem deixar de reconhecer o que ficou p’ra trás, pois são sustentáculos de nossos caminhos adiante.
          Possivelmente estás a me perguntar: “o que aconteceu? Marcelo sempre foi mais brando, mais informal nos seus inícios de carta...”. Digamos que posso parafrasear com um dos acontecimentos em minha vida nestes últimos tempos em que não nos comunicamos mais.
          Como sabes, além de adquirir um imóvel por essas bandas de Belém, havia (e “continua havendo”) iniciado pequenas reformas na casa. A última demanda? A fundação (fiz parte dela somente) não existe e estou tendo que fazê-la por completo. E é justamente disso, desta “comparação”, que estou falando: sou obrigado a olhar para o que NÃO tinha na casa para pensar o que a casa irá ter. E é assim que penso a vida, as relações sociais, a luta social, nossos projetos de homem/mulher, mundo e sociedade. Não posso deixar de olhar para o que tivemos e/ou não tivemos para pensar no próximo passo, não concorda?
          Veja se não estou certo (ou se estou “viajando” muito, como costumam dizer meus alunos): nosso país está se destacando, na América Latina, como o único país que trata sua história recente (os anos de ditadura) com apenas duas categorias, duas possibilidades: a primeira, é que o país se tornou uma democracia e, atualmente, uma grande liderança mundial sem ter aberto os seus porões aos (no mínimo) livros de história e a segunda, que aqueles que querem o amplo e irrestrito conhecimento público sobre o que aconteceu nos anos de chumbo seriam, meramente, revanchistas. Ou seja, sabermos integralmente a história de nosso país, para esses pulhas, não “infrói nem contribói” para a construção de nossa nação. Daí, o que pensarmos disso tudo? Que a história seria exatamente esta, desta forma, neste tempo se não fôssemos justo com a nossa história? Olhar para o passado é andar p’ra trás e o país não pode perder tempo? Oras...
          Bom, a casa é isso mesmo... não tem fundação. Foi construída apenas subindo-se tijolos acompanhando uma “idéia” do que ela teria (onde fica a sala, onde ficam os quartos etc.) e, agora, preciso ir re-fazendo-a aos poucos. De qualquer maneira, ainda que seja algo a ser feito em médio-longo prazo (penso que mais longo do que médio), continuarei com a idéia que dividi contigo em minha última carta: ampliar o espaço livre e construir algo mais p’ra cima. Coisas de quem cachorro hehehe.
          Continuamos com nossas lutas por aqui. Lembra quando comentei do Movimento Nacional Contra a Regulamentação do Profissional de Educação Física - MNCE? Pois então: estamos fortalecendo cada vez mais nosso trabalho e nossa luta e, junto a isso, a coisa (mais) bacana: fortalecendo nossos laços de amizade. Sabe aquela história de saber o tempo e o lugar – quando necessário – de cada coisa, tema ou assunto? A capacidade de lidar com a crítica sem a-bso-lu-ta-men-te jogar fora ou até mesmo deixar em xeque a amizade? Saber fazer a crítica aos companheiros, quando for o tempo da crítica, e saber beber uma cerveja ou uma cachacinha, cantando, tocando violão, dançando um carimbó, quando for esse o momento? Quer mais? Não estabelecer simplesmente uma “separação” destas coisas: luta para um lado, celebrações para o outro lado. É conseguir fazer com que as duas sejam parte de um mesmo processo. E, assim sendo, que também as nossas “pequenas coisas e causas” fazem parte deste processo, mesmo quando não atingimos aquilo que realmente gostaríamos de atingir.
          Falo, por exemplo, de meu trabalho na Universidade: ano passado (ok, desculpa, isso eu devia ter dividido contigo em dezembro... foi mal) orientei para defender em 2009 mesmo, quatro Trabalhos de Conclusão de Curso (chamamos aqui de TCC), além de uma co-orientação (a que dou uma de “inxirido” hehe). Não saberás, possivelmente, de quem estou tratando: Elys e Denise (amissímas, coladas com superbond – aliás, é a dupla que divergia de minha linha de reflexão que comentei na última carta, lembra?) que fizeram um belo trabalho bibliográfico e documental sobre o “Lúdico e o Trabalho Infantil”; a Bruna e a Patrícia, que também fizeram um trabalho bibliográfico e documental sobre políticas públicas (mas quando um aluno de ensino superior vai querer estudar sobre políticas públicas???? Dá p’ra imaginar?); a Nadine e o Allan que fizeram um Trabalho de campo sobre a Ginástica Laboral, mas não ficaram falando as mesmas coisas, esse blá-blá-blá de que a atividade física é salvadora da saúde e coisa e tal (haha... ela trabalha em Academia e ele é personal trainner, dá p’ra tu?); e Anaile e Tayná, que estudaram uma das principais praças públicas de Castanhal e, em síntese, concluíram que tem muito pouco de “pública” nela, a começar pelo acesso. Isso sem falar de Beth (Docinho) e Mylle, que toparam dar um corte sócio-econômico a um trabalho sobre atividade física e capacidade funcional de idosos. Imagina o que é elas visitarem 60 idosos/as, de casa em casa!!! Bom... um dia, espero, falarei mais destes trabalhos. Mas posso dizer, sem sombra de dúvidas: esses trabalhos também são fatos para comemorar, para celebrar com os meus pares de luta e celebrações... Percebe? Humm... ou será que meus alunos estão certos? Tô viajando...?
          Mas acho que é isso... estou voltando e espero receber sua resposta, também... Não se avexe se não conseguir, ok? Sei que são muitas as suas lutas, também. E espero que continuem crescendo, como continuará crescendo nossa capacidade de lutar.
          De resto, a molecada (Kaia, Janis e Hércules) está bem, ando aprimorando algumas regras com eles. Infelizmente (um pouco p’ra mim, vamos assim dizer), estou tendo que sair para passear com eles só depois das 21 horas. Bom, sabes que todo cão é curioso, principalmente quando vê outro cão. O problema é que Kaia e Hércules são “grandes curiosos” e um morador reclamou que eles não estavam de fucinheira. Acho, sinceramente, uma maldade, um incômodo a fucinheira para cães passearem. Isso faz com que o passeio não seja bacana... Assim, estou tendo que sair com eles sempre mais tarde, para garantir que passeiem em um horário incomum a passeios com cães – na visão dos homens... Mas eles estão bem.
          No mais, o violão saiu da caixa, ando praticando um pouco mais... Saramago continua (sempre) na minha cabeceira... continuo reclamando dos serviços privados (internet, telefone, atendimento em lojas hehehe).
          Ah! vou ministrar uma disciplina num curso de Especialização em Lazer, por aqui! Quanto pagam? Não é p’ra pagar... entenda: a Universidade é pública, não deve cobrar por essa atividade. Portanto, é minha obrigação, vamos assim dizer, topar ser professor neste curso. Afinal, o conhecimento não é privado, certo? ... Certo?
          Como das outras cartas, continuo cantando, brincando, lutando (que a luta é necessária) e acreditando, como sempre, na vitória do povo e seus lutadores.
          Espero vê-lo/a(s) em breve. Ando com saudades de vocês.



          Forte abraço e que em 2010 sigamos nossa alegria de sermos quem somos e fazermos do mundo o que ele merece e precisa ser!



          Vida Longa!


Marcelo “Russo” Ferreira

P.S.: isso é apenas uma carta. Ajuda para retomar o espaço do Universal Circo Crítico, mas não é, acredito, algo que valha a pena ser plagiado.