RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Aos que odeiam Che...


            Já disse recentemente: Ernesto Che Guevara é, possivelmente, uma das figuras mais admiradas e intrigantes da história mais recente da humanidade.
            Não faria, num picadeiro tão pequeno, uma enquete para sabermos de nossos artistas e respeitável público quais seria as 10 personalidades mais importantes que iriam se lembrar: talvez nomes como John Lennon, Gandhi, Jesus Cristo, Lula (é... Lula)... Talvez Obama (aff!)...
–  Quem sabe  Messi, Neymar, Robinho, Cristiano Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Fenômeno...
– Não sacanea, Strovésio...
Então... muitos (mais de 10) seriam os nomes, alguns até muito bem-vindos em nosso picadeiro de terra batida.
À nós, alguns nomes já foram muito bem tratados.
E nos perguntamos: o que diriam esse que ficam arrotando que conhecem tim-tim por tim-tim a história de Che e, assim, que ele era facínora, assassino, racista, ditador e o escambal.
Já vi gente que, nesta loucura, ampliava suas referências e ofensas à Karl Marx (duvido que esses aí tenham lido uma única linha de sua obra) e que Lenin recebeu dinheiro de – ninguém mais, ninguém menos – Adolf Hitler, para implantar o comunismo na Rússia... Lenin morreu quando Hitler tinha 24 anos...
Mas, fico pensando que, por coerência, esses que odeiam El Comandante, precisam, portanto, odiar (de ódio mesmo) outros nomes. E, aí, fico pensando... como odiá-los?
Como odiar Mercedes Sosa, com sua voz marcante, firme e suave e suas canções e interpretações memoráveis de “Gracias a la vida”, “Solo le pido a Dios”,”Volver a los 17”, “Canción com todos” e mais de três centenas de outras canções?
Vão ter que NÃO escutar canções de Violeta Parra, Victor Jara, Raíces de América, Silvio Rodrigues, Quilapayun, Inti-Illimani, Buena Vista Social Club... e ao escutar essas canções, vai cair do cavalo, pois são canções tão lindas quanto as cantadas por Mercedes Sosa (que cantava algumas canções de Violeta e Victor, por exemplo).
– E vai ter que odiar Cuba...
– O problema é quando os reaças vaiaram bandeiras de outros países achando que está vaiando a bandeira de Cuba...
E serão muitos rock’s (e, sim, parece-nos claro que Che não gostava de Rock, pelo que presentava na luta contra o imperialismo da época) e muitas canções brasileiras (cujas letras e emoção nos levam a outra perspectiva de sociedade).

Aliás, vão ter que desferir esse ódio vazio de explicação à juventude chilena (e de outros países da América Latina) que já lotaram Estádios para assistir a shows em homenagem a Che, como apresentado na postagem http://ouniversalcircocritico.blogspot.com.br/2015/06/che-vive.html.
Vão ter DE-TES-TAR Saltimbancos, e a união do cachorro, do jumento, da gata e da galinha contra o Latifúndio, a Burguesa, o Patrão e cantarem "Todos juntos somos fortes, não há nada pra temer"...
Ou, também, como odiar José Saramago, com sua literatura maravilhosa e seu prêmio Nobel da Literatura de 1998 e obras como “A Caverna”, “O Evangelho segundo Jesus Cristo”, “Todos os nomes”, “A viagem do Elefante” ou “Ensaios sobre a cegueira”...
– Que virou filme... assistiu, reacinha?
– Duvido...
Mas, damos uma canjinha, com “A maior flor do mundo”...


Vão, também, ter que ter ojeriza de Brasília e de tudo que tem por lá: Asa Norte, Asa Sul, Catedral, Teatro Nacional, Praça dos Três Poderes, Museus... Afinal, quem projetou, quem foi o grande mentor da cidade em forma de avião? Um comunista chamado Oscar Niemayer... que para angústia da direitona, passou dos 100 anos.
– Será que entraria na conta Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude, Paralamas? (Palhaço).
– Seria até coerente, né, Strovézio?

Mas, e isso para nós é importante...
Vai ter que desferir seu ódio a nós, a esse picadeiro, a seus artistas e, possivelmente, parte de seu público... Nem somos ainda 100 seguidores (para usar a linguagem “bloguiana”)... então, nem vai dar trabalho. Talvez mais uns tantos que são constantes por aqui mas que a ferramente do blog não considera.
Mas, ao mesmo tempo, vai ter que se coçar... porque vai esperar sentado que nós façamos o que acham que comunistas fazem.
– Vai doer a bunda! (Palhaço)
– Possivelmente...
– Aproveita que tá sentado e estuda... seriamente... (Palhaço)
– Mas eles não precisam se preocupar... Há o que eles possam admirar por aí. Inadimirável, claro, aos olhos deste Picadeiro...
– Zyzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.... (Palhaço)
– Bem pior, Strovézio... Bem pior...

Não somos nós os desumanos... Não somos nós os intolerantes... Não somos nós os antidemocráticos... Não somos nós os racistas, os homofóbicos, os fascistas, os xenófobos... Não somos nós que promovemos golpes, financiamos guerras, idolatramos o consumo, ignoramos os pobres.
Não...
Nós somos aqueles que sempre expressaram nossa condição de Lutadores e Lutadores do Povo e essa fronteira vocês não passarão...
Há aqueles em que o debate até vale a pena... não leem a Veja, possivelmente...
Nós?
Celebramos e celebraremos SEMPRE ao Comandante Che.

Venham Todos!
Venham Todas!


Mas venham apenas se valer a pena... 

terça-feira, 23 de junho de 2015

Corpo e Machismo: um par complicado...

desenho de Vitor Teixeira em
http://webjornalunesp.com/2014/11/14/eu-preciso-tu-precisas-ela-precisa-feminismo-para-que/

            Por esses dias, vi/li um texto que falava de um tal de Zyzz (e o “um tal” não é deboche). Fiquei espantado com minha ignorância. Como assim, eu, professor de Educação Física e que forma professores de Educação Física nunca ouvir falar deste sujeito?
            O texto em questão tinha um título: “ACADEMIA NÃO TRAZ RESULTADOS? CONHEÇA A HISTÓRIA DE VIDA DE ZYZZ”, assim, em caixa alta mesmo. Não faltam textos e referências na internet.
            Zyzz...
            – (pow) peguei...! Mosca maldita!!!! (Palhaço)
            – Calma, Strovézio... o zunido é nome.
            – Ah! Foi mal...!
            Zyzz, em síntese, era um jovem que largou os jogos em computadores e passou a malhar até se tornar um fisiculturista. Teve um irmão preso por porte/comercialização de anabolizantes (e parou aí a história do irmão). Zyzz morreu subitamente, aos 22 anos. Assim, em três linhas.
            Encontrei alguns vídeos dele. Confesso, tive paciência de jó para assisti-los, pois, na opinião deste humilde (mas não ingênuo) professor, eram cansativos e vazios... absolutamente vazios. Por isso cansativos.
            Além dos erros bobos de língua portuguesa em algumas legendas (parece cada vez mais comum isso hoje em dia), eles colocam o tal do Zyzz apenas dançando (ruas, boates e o escambal), fazendo poses de musculação e – isolado, mas existiram – gestos obscenos, exercícios e caretas, “outros caras fortões” e, talvez o que nos interessa para nossas reflexões aqui, seus depoimentos sobre seu progresso com as meninas.
            Destes vídeos, um que é citado como principal chamasse “Zyzz, o legado”, apontado como um dos mais vistos no youtube. Um legado vazio... e eu ainda assisti a outros dois.
            Neste vídeo-legado, seu depoimento (como estava na legenfa):
            “Todos tem um pouco de Zyzz dentro de si! Só que ainda não sabem... E para aqueles que dizem que sou homo, só falam isso por causa do meu corpo. Porquê no final de tudo só vão dár atenção a isso. ‘Os odiadores irão te odiar’. Então entenda isso. Se você for definido e SickCunt, você consegue tudo que quiser, as pessoas vão dizer ‘não gosto de você’. Mas eu não quero saber, entendeu? Se quer ser grande definido, transar com garotas, ser um sick cunt, não ligue para a opinião de ninguém. Porquè quem tá vivendo é você. Eles não sabem nada sobre você irmão! É isso que o Zyzz faz irmão. Isso é a revolução, então vái lá fazer! Seja feliz!”.
            Já no texto citado, um trecho também chama a atenção: “O que muitas vezes acontece é que pessoas com sobrepeso ou magras demais se dão a desculpa de que estão bem e que não ligam para a opinião de terceiros, o que geralmente é uma besteira pois todo e qualquer ser humano deseja se enquadrar nos padrões e ser belo na visão dos outros”.
            E fecha com a pérola: ”Segundo Zyzz, as mulheres gostam mesmo é de ‘caras rasgados’, ou seja, homens com abdômen tanquinho aparente, baixa gordura corporal e músculos desenvolvidos”.
            Enfim, um texto vazio para completar os vídeos vazios.
http://i.ytimg.com/vi/WJIgbKAsER4/hqdefault.jpg

           Ao texto e aos vídeos...
            – Haja paciência, hein? (Palhaço)
            – Pois é, Strovézio... Pois é...
            ... comentários os mais diversos. E são neles que a minha preocupação como professor que forma professores se manifesta de maneira profunda. Mesmo entendendo que não sou o único e, portanto, não posso me sentir responsável por aqueles que, como professores que são ou que virão a ser, seguem caminhos divergentes ou antagônicos aos que tento mostra como melhores.
            A ode ao cara por “pegar muitas garotas” (ou o uso de termos mais chulos) e de “saber curtir a vida” (morrer aos 22 anos????) e a relação com a musculação pareceu-me a mais intrínseca e importante.
            É o corpo se mostrando cada vez mais importante do que o sujeito? A embalagem melhor que o conteúdo?
            Todos querem estar enquadrados aos padrões de beleza?
            Será, realmente, que as pessoas que não são saradas, musculosas e tals não são felizes? Ou não podem ser felizes e saudáveis?
            “Pegar menininhas” é o que dá sentido à vida destes que tem em Zyzz um ícone, uma lenda, um mito ou sei lá que porcaria usam para o adjetivar?
            E professores ou futuros professores professam isso?
            Sério?
 
Mafalda, ícone dos anos 1970, provocando discussões pertinentes também sobre o machismo
            Penso, sinceramente: enquanto valores como essa expressão de machismo continuar a ter seus ícones, teremos sempre muros enormes a derrubar.
            Parece que conheço alguns de seus fãs... Isso é fato.
            Mas, a sala de aula tem destas armadilhas que não temos domínio: lá estão os machistas, os homofóbicos, os fascistas, os racistas... Mas ainda bem que tem os indignados, os esperançosos, os solidários.

            Vai que aqueles vem zuar no meu ouvido...!?
            –  Não seria “zyzz-ar”? (Palhaço).

            Venham Todos!

            Venham Todas! 

segunda-feira, 22 de junho de 2015

A greve V... A Corrida...







“A Universidade Pública não será destruída
por aqueles que a fazem mal,
mas por aqueles que os olham
(que não param,
que dão aulas durante a greve,
que não querem atrapalhar suas férias)
e não fazem nada”
(parafraseando A. Einstein)




            Atenção!
            Vai ser dada a largada!
Preparar! Partiu!
            – Bora, Russo! (Palhaço)
            – Bora, Strovésio!
            – E aí, dá conta desta corrida? (Palhaço)
            – Desta? Claro!
            – Mas é longa! Haja resistência! (Palhaço)
            – Sempre estive pronto, camarada Strovésio... E não corro sozinho!
            – Sim, também tô correndo contigo, né? Uf! Uf! E tá lá o malabarista do amor, a equilibrista da amizade, o mágico de um novo mundo, a bailarina da liberdade, o homem mais forte e solidário do mundo, o atirador de facas em queijo... (Palhaço)
            – Mas não é só tu e nossos artistas, não...
            – Hein? Como assim? (Palhaço)
            – Somos muitos...
            – Pois é, todo mundo querendo chegar primeiro... uff! uff! um-dois, um-dois... (Palhaço).
            Aí é que tá, Strovésio... tem os que querem chegar primeiro... mas só um chegará em primeiro...
            – uff! uff! uff! mas... não é assim a corrida? Viji, passou mais um... (Palhaço).
            – É, tem essa corrida... mas a que estou participando, mesmo dentro desta, é de outra... E, nesta, somos muitos...
            A corrida que corremos é em defesa desta Universidade... para que seja verdadeiramente pública, de qualidade, laica, para todos.
            A corrida que corremos é para garantir que nossas aulas, nossas pesquisas, nossos projetos de extensão possam crescer e avançar cada vez mais, transformando para melhor a vida dos trabalhadores e trabalhadoras de nosso país e além fronteira.
            É uma corrida que não fazemos para fugir daqueles que querem privatizar nossa Universidade. Mas corremos na direção deles, contra eles... Eles que corram da gente.
            Também não corremos para fugir daqueles que querem defender apenas a formação para o Mercado de Trabalho, mas também corremos na direção deles, contra eles... Eles é que não sabem nem justificar o que ensinam... ensinam por ensinar...
            – Mais ainda, caro Strovésio, corremos para evitar que as outras corridas acabem...
            – uff! uff! uff!... Água! Água!... uff! Glub-glub-glub... essa... uff! que a gente tá... uff! correndo, também?
            – Essa também...
            – Parece tão estranho! uff! uff!!!
            ­– Mas não é... nesta corrida de correr em busca do primeiro colocado, é verdade, todos curtem, é legal... tem os que brincam até, correm fantasiados... Mas, querem chegar em primeiro, querem SER o primeiro. Não é assim errado...
            Mas a corrida que estamos correndo, não tem primeiro, não tem último. O que ganharmos, é para todos... inclusive os que correram sozinhos ou que não correram... É, também, para aqueles que não sabem correr... para aqueles que não sabem que existe esta corrida.
           
Palhaço correndo do cão
Shirley Martos Daniel - Vevei


 – Ai ai ai... sai daqui, cachorrinho!!! Não me morde, não!!! (Palhaço)...
  – kkkk...
  –  Uff! Uff! Uff!... E tu não cansa, não? (Palhaço).
  – Claro que não, Strovésio... quando se corre sozinho, é só uma corrida. Eu corro com um monte de gente, Lutadores e Lutadoras do Povo... Corremos juntos...






           E ao final, poderemos dizer. Não fomos campeões. Nem queríamos ser. Mas, somos companheiros, somos camaradas, somos Lutadores desta Universidade!

             
            Venham Todos!
            Venham Todas!

           E venham correndo!


domingo, 21 de junho de 2015

Conversas por aí: fazer o bem...


Gabriel Oruzco “The essence of life: from My Hands are My Heart


            “Você não pode comprar o vento
            Você não pode comprar o sol
            Você não pode comprar chuva
            Você não pode comprar o calor”
            (Latinoamérica – Calle 13)


            Vez em quando tratamos esse tema... ainda que por diferentes caminhos.
            Um papo aqui, outro ali, e ficamos a pensar nos nossos valores e nas nossas posturas.
            Há algum tempo, uma jovem aluna disse algo mais ou menos assim: “respeite aos outros para teres, dele, o respeito de volta”.
            É... uma relação bem clara, simples. Trate bem as pessoas e deverás ser bem tratada. Respeite-as, sejas honesta e verdadeira, educada e solidária e receberás respeito, honestidade, verdade, educação e solidariedade em troca.
            Uma manifestação, aliás, bastante senso comum, no sentido desta relação.
            Será?
            Há muito venho pensando nas coisas que escuto, nas notícias que assisto, nas coisas que vejo sobre temas afins.
            Dia destes, numa máquina de café, fui colocar umas moedas num total de R$ 2,00 para um café com chocolate. Na primeira moeda que coloquei, ela passou direto (não foi computada) para um dispositivo de saída à frente da máquina. Ao resgatá-la, vi que tinha uma moeda de R$ 1,00 no compartimento, esquecida por alguém que se serviu de café antes de mim... ao devolver ao balcão da Livraria (onde a máquina se localizava), a atendente estranhou e disse?
            – Oxi! Tu tá me entregando? Coisa rara...
            A moeda não era minha. E não a devolvi para ganhar um lugar no céu ou, nem mesmo, um elogio. Apenas não era minha.
            Dias depois, antes de voltar pra casa, parei numa vendinha de quitutes e resolvi levar um pra casa, ao invés de comer na hora. Sabe como é, lembrei de duas latinhas na geladeira de casa e pensei “hummm... aquelas cervejas!”.
            No caminho, encontrei uma moradora de rua. O clima estava meio chuvoso, ela se apertava abaixo de uma marquise, ao lado de seu carrinho de supermercado. O carrinho mais pra dentro da marquise do que ela, como que se, ainda que dormindo e exposta ao frio, ela o protegesse.
            Cheguei a passar dois passos a frente. Parei, olhei para trás... Duas pessoas passavam também, sem parar. Voltei, deixei o saquinho com o quitute e retomei o caminho de casa.
            E assim, segue-se inúmeras atitudes do dia-a-dia: abrir a porta e deixar quem te acompanha passar na frente, pagar um café a um amigo, ser solidário a outro/a pessoa que está passando por algum momento particular mais complexo e desafiante (mesmo que apenas com palavras), dar lugar no ônibus, cumprimentar os funcionários da portaria e da limpeza de seu local de trabalho (preferencialmente, chamando-os pelo nome) e até trocar um “bom dia” com alguém que passa por ti no meio do caminho que caminhas...
            Mas, o mundo está cheio de pessoas que pensam, falam, agem, irrompem antagonicamente ao que tu pensas, ao que tu fala, ao que tu faz... e, daí, usa exatamente a mesma métrica que iniciou essa postagem: “ah! estás a me destratar? O mundo dá voltas!”...

            E assim seguimos na história da humanidade...
            Sério mesmo que precisamos agir por conta de um retorno? Fazemos o bem para receber o bem de volta?
            Para mim, talvez os artistas deste humilde picadeiro de terra batida e lona furada, isso não é mais do que uma expressão comercial, consumista e, por que não, capitalista das relações humanas... valores como relação de troca.
            Há, talvez, quem me diga:
            – A Moeda que devolveste e o quitute que doaste, o bom dia que deste e com o nome chamaste, o lugar que cedeste e em pé no ônibus ficaste terá, em breve, um dia (ou na morte) um justo recompensar
            – Caraka! É poesia!!!
            – Saiu sem querer, Strovésio...
            ... Enfim.
            Acho que para o mundo ser melhor, para a humanidade ser mais “humana”, além do que já defendemos aqui, enquanto Projeto Histórico de Sociedade (o comunismo), um bom exercício singular seria esse: incorporar a radicalidade do fazer o bem sem ver a quem...
            Não somos ingênuos... olhamos quem explora, escraviza, desumaniza crianças, mulheres, trabalhadores, idosos... olhamos quem suga, seca, destrói o ambiente, a flora e a fauna... olhamos quem dizima povos e tradições.
            Fazermos o bem sem sermos ingênuos...
            Parafraseando José Saramago: Como pode o mundo ser salvo sem se fazer o bem? Como podemos fazer o bem e o mundo continuar se acabando?

            Venham Todos!
            Venham Todas!

Nem Cães, nem Sapos... Os homens é quem ainda tem o mal hábito
de ter amigos por interesse...

quinta-feira, 18 de junho de 2015

A Greve IV... A Universidade e a Praça...


Pracinha - Zica Bergami - 1990
"Numa praça tem um banco
inerte e calado
apenas experimentando
abraços, sorrisos e prantos,
conversas acaloradas
e pessoas caladas,
dando colo a quem precisa,
descanso pra quem busca
e paz,
mas só pra quem a procura"
(Professor Maurício Ferreira
blog "O Pensador")

            Esses dias dissemos aqui: “Castanhal é uma Ilha!” (http://ouniversalcircocritico.blogspot.com.br/2015/06/a-greve-ii-ou-castanhal-e-uma-ilha.html... Claro, nos referíamos ao fato de a UFPA/Castanhal não ter aderido à greve das Universidades, como que se os efeitos dos cortes em Educação e Ciência e Tecnologia não chegasse a aquele Campus. Claro que chega...
            Mas, precisamos reconhecer: a Universidade é uma Ilha!... Claro, há vários dentro desta Universidade que constroem pontes para a sociedade entrar e sair dela. São bravos docentes, estudantes, técnicos-administrativos que desde o “bom dia, Fulano!”, “bom dia, Siclana!” até as relações com comunidades as mais distantes estabelecem o desafio de superar seus próprios muros, suas próprias certas, seus mares infinitos.
            Mas, nestes tempos de greve, a Universidade foi pra praça...
            Tinha Professores e Professoras, Estudantese Técnicos/as administrativos...
          Tinha, também, trabalhadores terceirizados: porteiros/as, seguranças, trabalhadores e trabalhadoras da limpeza e da manutenção... e muitos com salários atrasados. Bem atrasados.
            Mas também tinha as pessoas da/na praça...
            Tinha um homem pra lá e pra cá, com o celular na mão, dando bronca em alguém...
            Tinha um vendedor de CDs, tocando-os para que todos pudéssemos escutar. Escutávamos, sem precisar comprar...
            Tinha os moradores de rua...ah! Tinha. Bebiam sua cachaça pela manhã, arrumavam e dividiam o cigarro, e brincavam um com o outro... e tinha as moradoras de rua...
            Tinha gente passando, pra lá e pra cá: menino e menina indo e vindo da escola, senhor e senhora e os jovens que chegavam, paravam, seguiam...
            E a Universidade estava na praça...
            Tinha carro-de-som e microfone e uma “tribuna livre”, em que, de A a mais ou menos Z, cada um com seu cada qual sobre a Universidade, o Governo, as Leis e projetos de Lei, as Políticas e A Política...
            Tinha Faixas, uma maior que a outra, impressa ou grafitada. Cartazes, muitos cartazes... uns prontos, outros sendo feitos... uns “ar-re-ta-dos”, outros mais simples. Coisa de artista e de quem gosta de desenhar...
            Tinha batucada, tinha moça cantando, tinha duas travinhas e um futebol, tinha teatro... E nisso tudo, quem lá estava, quem lá passava escutava, batia palmas e até dançava; jogava bola, Menino contra Menina, Menino E Menina e a grade esperando para a próxima partida; o teatro e seu “Deus lhe pague!” era assistido, com atenção e sorriso no rosto; e estudantes atendiam adultos e idosos medindo pressão e orientando sobre saúde; e teve poesia, linda poesia: “Tem gente com fome! Tem gente com fome! Tem gente com fome!”...
Mas, e o menino com uniforme escolar: esperando seus pais ou admirando a poesia? Não sabemos... E não sabemos, por que?
           
https://fmichelle04.wordpress.com/2013/08/13/jerga-adolescente/
            Tem um abismo entre a Universidade e a Praça.
            Mas, é preciso destacar: este abismo não tem nada a ver com a greve. É um abismo histórico, que vem da própria origem da nossa Universidade, criada para atender as demandas do capitalismo dependente brasileiro. Esta história da nossa Universidade é inegável... e ainda está presa umbilicalmente à ela.
            Teve Futebol na praça? Teve. Mas que futebol é esse que a Universidade faz?
            Teve Teatro na praça? Teve. Mas que teatro é esse que a Universidade faz?
            Teve saúde, teve música, teve poesia...
            Mas, que Universidade é essa que o povo vê? Conhece? Sabe?
       Ou transformamos essa Universidade, tirando-a desta amarração de umbigo e levando-a para o povo, ou ele, o povo, vai continuar não sabendo que Universidade é essa? Para quê, para quem, contra o quê e contra quem ela está lá...
            A Universidade estava na praça. Mas ela ainda não é DA praça...
            Precisa ser...

            Venham Todos!

            Venham Todas!

            Pra Universidade e pra Praça!

segunda-feira, 15 de junho de 2015

A greve III... Fechar portões...




"quem não se movimenta
não sente as correntes
que o prentem"
(Rosa Luxemburgo)




            A greve (não apenas nas Universidades Federais, mas nelas em particular) continua e, segundo dados, vem avançando.
            Segundo a ANDES, são 30 seções sindicais (lembrando que algumas não estão vinculadas ao ANDES e, sim, ao famigerado PROIFES – que assinou um acordo em 2012 sem qualquer representatividade e legitimidade) e, na região Norte (minha casa institucional), todas as IFES pararam.
            As razões, ainda que não todas, sobre o porquê se faz necessário cruzar os braços já foram expostas aqui. Seria deveras repetitivo, ainda que se trouxesse novos dados (como o cancelamento da Educação do Campo na UFPA, a suspensão de bolsas “sanduíche” para programas de pós-graduação, a interrupção de apoio a participação de eventos científicos – que é obrigatório para quem está fazendo pós, diga-se de passagem), penso e sinceramente acredito que até os docentes que continuam com suas atividades acadêmicas tem acordo que a coisa está complicada.
            – Mas continuam dando aula, pô! (Palhaço).
            – É, Strovésio... é o argumento que já criticamos aqui de “não quero prejudicar os alunos”, dentre outros. Tentando se esconder atrás de cortina de fumaça.
            Daí, o movimento de greve – que é sempre o que sofre mais, que faz mais sacrifícios, que se expõe mais etc. – acaba, por necessidade, tendo que construir estratégias.
            E vejam que diferença gritante.
            De um lado, os que “furam greve” (já escutei professor dizer exatamente assim, “vou furar greve!”) tem, como única estratégia...
–  Tchan-tcha-tchan!!!! (Palhaço)
Nenhuma estratégia... Simples. A estratégia de quem não adere a greve é simplesmente continuar fazendo a mesmíssima coisa que fazia. Talvez um Olha! Deixa eu dizer porque não parei!” em sala de aula, o que, claro, não é estratégia nenhuma.
De outro lado, o Movimento Grevista... como fortalecer a luta? Como fortalecer a greve (último instrumento de qualquer trabalhador)? Como trazer a sociedade? Como enfrentar a “criação” de novos Sindicatos que querem apenas legitimar os acordos? Como vencer a desinformação da mídia e dos jornais?
– Caraca, essa é difícil! (Palhaço)
Daí, vem do Pará (mas já constatei em outras universidades), mais uma ação corajosa: fecharam os portões da UFPA, em Belém...
camaradas da ADUFPA - me representam!!!!!!!
Já vimos isso em Castanhal, quando os técnicos administrativos, em greve (2012) fecharam os portões...
Quer dizer.
Não tem portão em Castanhal...
Mas fecharam o acesso e, nos anos seguintes, fecharam a porta do prédio administrativo.
– Mas, Castanhal é uma ilha... (Palhaço)
– Pois é, Strovésio.
Mas não é a primeira vez que fechar portões se torna estratégia, e é preciso sair do miudinho da história e percebê-la enquanto mais um instrumento de luta da classe trabalhadora.
Outras Universidades fecham e fecharam portões e acessos em momentos de greve.
Metrôs e Trens fecham portões e acessos em momentos de greve (já tentaram fazer o contrário, como foi o caso dos metroviários de São Paulo que, em 2013, sugeriu manter o serviço de trens, mas com catraca livre... a Justiça não autorizou).

Trabalhadores da Construção Civil fecham portões e acessos em momentos de greve.
Fábrica da Toyota - Sorocaba - 2013
Belo Monte fecha portões e acessos em momentos que são até maiores do que greve, mas de sobrevivência, humanidade, cidadania e meio ambiente.
Belo Monte
A Petrobrás tem uma história épica, nos anos 1990 (1995, para ser mais exato), com a paralização em defesa da empresa e contra sua privatização. E fecharam portões...
Assembleia de Petroleiros - 1995
E não é apenas por essas terras que se fecham portões.
 
Metrô de Atenas - Grécia - 2013
Não... decididamente fechar portões não é um ato antidemocrático, como bradam vocês, não importam como se entendam... Fechar portões é uma ação a mais, e sempre mais difícil a quem a assume. Mas continua sempre sendo em defesa daquilo que seus críticos ACHAM que defendem.
Por aulas, por pesquisa, por ações na/com a comunidade, pela formação, pelo compromisso da Universidade com o crescimento e desenvolvimento do nosso país e, principalmente, da população que mais necessita dela.
Os mesmos motivos, portanto...

Nada como “fechar portões” para mostrar às pessoas (aos que proclamam que “greve não serve pra nada” ou aos patrões) o quanto são importantes manterem-nos abertos.

Venham Todos!
Venham Todas!

Fechemos os portões e fiquemos em frente deles...

PS.: antes que ladrem, aqui, sobre o contra-ponto dos portões fechados no Instituto de Geologia da UFPA, semana passada, vai a nota da ADUFPA: http://www.adufpa.org.br/693/ADUFPA-retifica-informa%C3%A7%C3%A3o-e-refor%C3%A7a-a-necessidade-de-di%C3%A1logo-.html