RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

domingo, 30 de outubro de 2016

A Fala da Juventude...

Ilustração de Heitor Vilela
http://blogjunho.com.br/contra-a-escola-sem-partido/ 







“Se a Educação sozinha não transforma a sociedade,
sem ela, tampouco a sociedade muda”
(Paulo Freire)






E eis que chegamos a um tempo que não se encerra nesta chegada... Mas que são tempos cada vez mais complexos, estes o são, verdadeiramente.
A epígrafe que convidamos para este momento é de um dos maiores educadores do país e do mundo. Do país, irreconhecivelmente. Do mundo, reconhecido e enaltecido em várias línguas.
Mas, aqui nesta terra, que não é para amadores, chamada Brasil, há (e muitos) quem o considere até mesmo um criminoso da educação. Já vi e ouvi gente dizendo que “quanto ele foi Ministro da Educação, o país ficou analfabeto”...

– Hein? Opa! Como assim? Quando? Cheirou o suvaco, esse aí? (palhaços, malabaristas, equilibristas, mágicos... impressionados com o relato).
– E a pois, meus caros artistas... Coisa de maluco...

Mas, a epígrafe nos diz sobre o que nos angustia nestes tempos: para que, para quem, contra quem, contra o que a Educação se faz presente? E qual Educação estamos falando?
Os avanços dos ataques a direitos ganham uma força tamanha que nenhum setor que rege este movimento (Mídia, empresários e até nossa Justiça... ah! essa justiça seletiva) tem sequer vergonha de faze-lo...
Ataques contra a previdência estão sendo tocados por abastados políticos... aposentados:



Ataques contra os Direitos Trabalhistas, também em vento e popa... o que se soma a uma tuia de outros ataques e "desproporcionais" perdas à Classe Trabalhadora..


A bola da vez, chamada PEC 241, já mudou de nome... agora é PEC 55/2016, pois já tramita no senado. Resolveram colocar em “consulta pública”. Bom, ontem pela manhã nossos artistas foram lá votar... uma média de 1 voto a favor para 20 votos contra a PEC...
Mas como na política institucional (Congresso Nacional) só falta ao “auxílio óleo de peroba” (que, certamente, custariam milhões aos cofres públicos, pois seria distribuído também para parte do Judiciário brasileiro), a proporção acima pode até aumentar... mas a consulta corre o risco de ser mera “proforma”.
De qualquer maneira, a, agora, PEC 55 soma-se aos ataques à Classe Trabalhadora mais avassaladoramente. Não vem como “um tema pontual”.
Ganhou apelido da imprensa burguesa e dos setores interessados nela de “PEC do teto dos gastos públicos”, com um blá-blá-blá” aritmético. Claro, inúmeros temas não entram nesta aritmética.
Os gastos dos altos salários do Executivo Federal, o Legislativo e seus “auxílios-paletó” e do Judiciário, ah, o Judiciário, e seus super-salários que necessitam, inclusive, de auxilio moradia... De 4 mil reais. Aliás, quem não se lembra do JUIZ FULANO DE TAL defendendo tal estupidez? Já falamos disso, não custa repetir:



Os Movimentos Sociais, alguns Partidos à esquerda (alguns nem tanto, mas acreditam que são) e Sindicatos vem, à luz do contexto de golpe institucional e ataques do atual governo (que só acelerou a velocidade do que o governo anterior – deposto – vinha fazendo) se manifestando...
Mas, mais uma vez, a juventude é quem nos insiste em dizer: “Temos Esperança”.

As Ocupações voltaram...
A “ilha” foi ocupada!

UFPA/Castanhal OCUPADA! Reunião de Planejamento...
Escutei e vi inúmeras manifestações, de jovens estudantes inclusive, com os velhos mantras: “Ocupar não resolve nada”  e até sugerindo ocupar a Câmara Municipal...

– Hein???? Pera aí, Russo, deixa ver se entendi...
– Diz aí, Strovézio...
– Os ataques são do Governo Federal, da Câmara dos Deputados e até do STF... e a sugestão é ocupar a Câmara Municipal, não os espaços onde os ataques do Governo Federal, Câmara dos Deputados e até do STF atingem diretamente...?
– E a pois, Strovézio... algo como culpar o termômetro pela febre...

Também escutamos um mantra que sempre volta às paragens dos momentos de luta e que impregna a mente da juventude, até “bem intencionada”... Aquela frase “Seu direito termina onde e quando o meu começa”.
Frase de base filosófica liberal e que nunca se dá por completa, em que pese satisfazer aos seus verbalizadores.

– Posso tentar, Russo?
– Manda ver, Strovézio...
– O meu direito, portanto, termina quando começa o seu. E, se o seu direito começa no momento em que o meu termina, mas continuo a ter o mesmo direito, o seu direito imediatamente termina no exato momento do início do fim do meu direito começar... ou terminar de começar quando o seu começa de terminar... Se o meu e do seu direito tem início, meio e fim, têm, portanto, fim, meio e início...
– Já tá bom, Strovézio... acho que nosso público entendeu...



Mas, eis que chega e se espalha como um furacão, destruindo as vestes da elite e dos poderosos, uma jovem paranaense de 16 anos de nome Ana Júlia...
Este picadeiro de terra batida e lona furada de circo só é mais um a registrar suas palavras, que nos dois primeiros dias, ganhou o país e, quiçá, o mundo. Daqui, só admiramos...



Uma fala, um depoimento tão forte e verdadeiro, que pela primeira vez, mas pela primeira vez MESMO, vejo uma fala ser interrompida com aplausos e, como ato imediato, a jovem solta um sorriso de orgulho profundo e verdadeiro (aos seis minutos, mais ou menos)... e que lhe dá mais força ainda.
E, para um legislativo que já chamou professor de vagabundo e estudantes de baderneiros, a fala setenciadora: “as mãos de vocês está suja de sangue!”...
Irritam-se os paladinos da corrupção institucionalizada e protegida.
Indignam-se os ternos e vestes chiques de sujos políticos.
Ameaçam não deixar as palavras continuarem a serem ditas... por mais que sustentadas no Estatuto da Criança e do Adolescente, como completa a jovem.
Negar as palavras que foram ditas por Ana Júlia, já martelando na cabeça de vocês, não nega mais o fato: negar o sangue em suas mãos não é suficiente para dizer que não estão sujas. Acostumem-se com isso.
À bem da verdade, são muitos e muitas Ana’s Júlia’s espalhadas por aí... como, lamentavelmente, seus antagônicos também o são.
Mas, nos enaltecemos e mantemos viva nossa chama de luta e esperança naquilo que as Ocupações vem (e já vinham, desde 2015) nos ensinando: Não desistiremos!
As ocupações estão acontecendo por um ideal. E um ideal só o é, de fato, se o for um ideal de mundo, de relações humanas, de Direitos... de luta.
... de Felicidade... E nada como escutar palavras comprometidas com a Felicidade...

Venham Todos!
Venham Todas!


Vamos Ocupar Tudo!

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Conversa ao pé de ouvido de Gaby e Bia...




“E as crianças,
 podendo ser,
 crescem...”
 (José Saramago
 Levantado do Chão)



Sejam bem-vindas Beatriz e Gabriely...
As duas... Muito bem vindas...
Felizes, nossos artistas, pois pela primeira vez (como outras diferentes primeiras vezes que tivemos e ainda chegarão) vamos falar para gêmeas.
– É pra fazer eco, então, Russo? (Strovézio)
– Não, Strovézio... nada de eco...
– Ah! Tá bom... Tá bom... Tá bom... Tá bom... tá bom... tá bom...

Sejam bem vindas, Gabriely e Beatriz... Ou, para o inxirimento deste picadeiro de terra batida e lona furada de circo, Gaby e Bia... Filhas gêmeas de Bruna Hemmile e Willian. Bom, não tivemos ainda o prazer de conhecer o Willian, só a mãe de vocês.
– Mais uma destas alunas que conseguiu sobreviver às viagens docentes do Russo! (Strovézio).
– Boas e necessárias viagens, Strovézio...
– Digamos que a continuidade de cátedra deste picadeiro de “grácedra”, a cátedra da graça...

Chegam, Beatriz (peregrina, a que traz e leva felicidade aos outros) e Gabriely (mulher forte de Deus) em 2 de setembro.
Bom, em nosso picadeiro laico, todas as expressões (respeitando-se) são sempre bem-vindas. Uma coisa em comum das mais diversas religiões é o amor, em que pese muitos “seguidores” e “os que querem ser seguidos” não o utilizarem em sua plenitude.
Para este ateu picadeiro de terra batida e lona furada de circo, amor é amor, não pertence a ninguém e a nenhuma instituição.
Portanto, sejam bem-vindas, peregrinas do amor!

Foi dia 2 de setembro... e, claro, um grande dia, de grandes fatos na história, de pessoas que chegaram e foram-se, mas sempre com suas lições.
Nosso presente de boas-vindas é o nosso bom e velho inxirimento de conversar ao pé de ouvido de vocês sobre este dia.

Este é o dia do repórter fotográfico e, segundo os mais “fotogênicos” estudiosos desta arte, o dia do repórter fotográfico teve seu início, claro, com as primeiras manifestações de fotojornalismo... e – como é incrível a capacidade humana de testemunhar o que se destrói – o primeiro fotojornalismo da história foi a cobertura de um conflito bélico, a Guerra da Criméia (Roger Fenton – fotógrafo oficial do Museu Britânico)



– Mas, Russo... por que dia 2 de setembro? (Strovézio).
– Isso a gente não conseguiu descobrir, Strovézio...
Também é dia do florista e nos ocorreu deixar aqui uma bela animação, feita a partir de uma obra de um escritor que muito admiramos: José Saramago. Em um dos muitos registros da história deste magnífico (e comunista) escritor, em 2 de setembro de 2009 há uma anotação em que afirma buscar, para sua literatura, a “história humana que encaixe”.
Longe de nossa pretensão de dar conta da maneira única com a qual Saramago fazia isso, este inxirido picadeiro de terra batida e lona furada de circo deixa um pequeno “Presente humano que encaixe” e que fica até como as histórias que sua mãe e seu pai (ou tia/o, avô/ó, primo/a...) irão ler e contar pra vocês, seja de manhã, seja na hora de dormir:

A maior flor do mundo!


É um dia também para pensarmos muito a conduta humana consigo mesma, na paz e nas lições que necessitamos tirar delas quando não a encontramos... ou quando seguimos a direção de seu contrário: a guerra.
Em 2 de setembro de 1945 data a rendição oficial do Japão que pôs um definitivo fim à II Guerra Mundial.
Há quem diga que quem se rende é derrotado. Às vezes penso que não... não conhecemos o Japão, o que nos chega é o que os meios (comerciais) de comunicação querem que chegue. Mas, cá pra nós, um país que foi arrasado por duas bombas atômicas (do “democrático” e imperialista EUA) e alguns terremotos e tsunamis consegue ser tão diferente de outros países arrasados pelos interesses bélicos, econômicos e os enfrentamentos da natureza... não me parece um derrotado.
Porém, o mundo é quem não aprendeu com o fim da Guerra, de que ela, a Guerra, não serve a ninguém. Ao contrário, este expediente de relações internacionais passou a ser, na verdade, um grande negócio.
Mais uma pequena lição para este dia, pequenas Bia e Gaby: a paz precisa estar dentro de nossos corações. E só está se a procuramos sempre. Quando há de se enfrentar o inimigo (aquele, que lucra com a guerra... que é grande e forte), é com a paz que está em nossos corações que também o enfrentamos.
Deixem, portanto, que a paz sempre invada o coração de vocês... como diria Gil.



Tem esporte neste 2 de setembro, Pequenas Bia e Gaby...
Foi em 1937 que partiu, desta estranha arena esportiva para outra, um conhecido sujeito chamado Pierre de Coubertin, o “fundador” dos Jogos Olímpicos Modernos...
Hoje, talvez, poderíamos dizer que os Jogos Olímpicos já são pós-modernos, híper-modernos, supra-modernos...

– Modernos e desumanos pra dedéu! (Strovézio)
– Bem isso, Strovézio.

Mas, permitam-me uma pausasinha olímpica...
A história, vez em quando, nos provoca surpresas e “coincidências”: foi em 2 de setembro de 1968 que o então deputado federal Marcio Moreira Alves profere um discurso que deixou muito milico da época de barbas e bigodes em pé. Dizia, entre outras coisas, o seguinte:
“As cúpulas militaristas procuram explorar o sentimento profundo de patriotismo do povo e pedirão aos colégios que desfilem junto com os algozes dos estudantes. Seria necessário que cada pai, cada mãe, se compenetrasse de que a presença dos seus filhos nesse desfile é o auxílio dos carrascos que os espancam e os metralham nas ruas. Portanto, que cada um boicote esse desfile”.
Imaginem, Bia e Gaby, o que significava (e ainda significa) um parlamentar dizer ao povo, na condição parlamentar, para que boicotassem o desfile de 7 de setembro, a manifestação festiva (dantes e hoje) da expressão “porque precisam de nós” da Ditadura Militar (civil, empresaria, midiática e o escambal) brasileira?
Coincidentemente (isso é só uma expressão), no ano que vocês nasceram, o 7 de setembro que se aproximava marcava a abertura dos Jogos ParaOlímpicos brasileiros, além, é claro dos tradicionais desfiles de 7 de setembro...
– Aquele 7 de setembro que, nos desfiles e no Maracanã, o “Capacho de marionete do capital”, presidentezinho mordomo michel temer foi vaiado até constranger a sua alma entreguista? (Strovézio)
– Este 7 de setembro de 2016 mesmo, meu nobre palhaço.

Pois bom...
Sua mãe já deve ter dito a vocês: “Meninas, esse daí no ouvido de vocês viaja, tá? Relevem...”.
O Esporte... nós sempre gostamos de esporte e, a cada dia, nos entristecemos com o que os interesses mais individualistas e mercadológicos fazem dele. Mas, em 7 de setembro (após os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em agosto), a abertura dos Jogos ParaOlímpicos foi marcada pelo “preconceito às escondidas”.
Nos Jogos Olímpicos, a cobertura intensa da TV aberta e uns tantos canais pagos e em tempo real, abertura transmitida nos horários nobres, sem cortes e cobertura intensa da imprensa esportiva... Nos “feicebuques” da vida, tinha até gente que escrevia na hora do jogo, as tensões de algumas competições: futebol, handebol, voleibol e “escambol”!...
Até férias escolares no Rio de Janeiro foram ajustadas para agosto.
Mas... e quando chegam os Jogos ParaOlímpicos?



Cobertura parcial, nada de páginas exclusivas nos sites de notícias, nada de transmissão ao vivo no horário comercial. Nada de “vai Brasil” nos feicebuques em tempo real... Nada de “férias paraOlímpicas”...
Claro, houve a “exploração” da imagem de alguns atletas que se destacaram, tendo até entrevistas ao vivo nos jornalões brasileiros.
Mas, no final ao cabo, o que vimos foi a expressão do preconceito e da (in)diferença... e, pior, uma sensação de que naturalizamos e legitimamos tudo isso. Assim como na ditadura.
Juntando uma história com a outra: naqueles tempos, de 1968, a consequência daquele discurso parlamentar, foi a publicação do AI-5. A consequência dos Jogos Olímpicos e ParaOlímpicos no Rio foi “tudo continua do mesmo jeito”.
Em comum, dois governos alçados por (ainda que com diferentes instrumentos) um golpe e, portanto, ilegítimos.
E, como tal, questionados...
E, por questionarmos, somos perseguidos e censurados, insultados e patrulhados.
Lições bem difíceis aqui, minhas pequenas Gaby e Bia: se o poder se utiliza disso (o poder) para legitimar-se, e seus apoiadores parecem mais preocupados em seus ganhos e vantagens particulares, contestem.
Com palavras e com ações (e a paz no coração), pois as ações definem as palavras.

Ainda assim, naqueles tempos, como hoje, havia resistência. E era firme, determinada. Era inteligente e melódica.
Em 2 de setembro de 1946, Pequenas Bia e Gaby, nascia Aldir Blanc... Ah!, pensem (e escutem) num poeta, compositor e letrista incomum. Nos dias em que seus pais não contarem histórias, peçam a ele/a que cantem poemas.
E, para nós, neste picadeiro de terra batida e lona furada de circo, não haveria maneira mais emocionante do que presenteá-las com uma de suas canções que ainda fazem olhos chorarem e alegrias circenses se fortalecerem...


PS.: queríamos muito encontrar este vídeo sem a “voz da globo” da época... não conseguimos.

Por fim, pequenas Bia e Gaby, tem um nome na história da humanidade que está vinculada ao 2 de setembro. E um nome revolucionário.


Falamos de Ho Chi Minch, grande líder do Vietnam, que conseguir, dentre outras coisas, unificar seu país e, mais ainda, deixar um legado de força e organização que pouco se viu mundo afora, na história da humanidade.
Ele partiu em um 2 de setembro, no ano de 1969. E deixou lições como grande líder, estadista e estrategista militar. Essas lições podem ser resumidas em 8 ideias: Não estrague as colheitas, não insista em comprar o pedir aquilo que as pessoas não querem vender ou emprestar, mantenha a palavra, faça os camponeses sentirem-se livres, ajude-os no seu trabalho diário, no tempo livre conte histórias simples e engraçadas que estimulem a resistência – mas não contem segredos militares –, sempre que possível compre coisas para aqueles que vivem longe do mercado e ensine à população noções de cidadania e higiene.
A síntese? Cuidar e educar seu povo...
O resultado?
Os EUA inventaram uma guerra contra o Vietnam, por sua tentativa de unificar norte e sul. Fez isso após a morte de Ho Chi Minc. Voltaram da guerra envergonhados, pois o povo se uniu para enfrentar uma das (se não a) maiores potências bélicas do mundo já naquele tempo.

Manifestação contra a Guerra do Vietnã, em 1967 - Marc Riboud

Um país tão medíocre (mas não menos poderoso) que, durante fins dos anos 70 e início dos anos 80 investiu em filmes e mais filmes de guerra, para fazer de seu país a vítima e os vietnamitas os vilões...
A história, pequenas Bia e Gaby, não à toa é contada com os interesses de quem a escreve e não são poucas as vezes que são escritas à custa da falta com a verdade.
Tenham sempre paciência histórica para com a compreensão e a tomada de posição com a história.
Enfim...
É 2 de setembro, é dia de Bia e Gaby.
Também é dia de Arnaldo Antunes...
“Escureceu, o sol baixou/
 Anjo da guarda cantarolou/
 Nana neném/
 Nana neném/
 Nana neném”
 (Anjo da Guarda – Tribalistas)


Viva Viva... e Viva Viva
Bia e Gaby
Vida Longa!

Venham Todos!
Venham Todas!


sábado, 22 de outubro de 2016

O que vale a pena...

Meu chapéu... meu cachimbo... um café...






"Tua Memória guardará
 o que valer a pena!"
(Eduardo Galeano) 






Recentemente, participei de um “Encontro de Familiares de Desaparecidos Políticos”, organizado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
A história deste encontro envolve muito daquilo que a juventude de hoje, que acha que a ditadura foi necessária (pena existir jovens assim), sequer compreende.
Um elemento particular deste “muito daquilo” é a história da Vala de Perus... Em 1990, no governo de Luíza Erundina (capital de São Paulo), no Cemitério Dom Bosco, fora aberta uma vala e, nesta, descoberta mais de mil ossadas de indigentes, presos políticos e vítimas do esquadrão da morte (pertencente à polícia militar paulista).

Monumento - Vala de Perus/SP
Sua história remonta dos tempos do Prefeito Biônico (nomeado pelo Presidente Militar) Paulo Maluf que, inclusive, escondeu da opinião pública a morte de centenas de crianças vítimas de meningite naquele cemitério.
A Vala de Perus, inclusive, só foi descoberta porque o projeto de implantação de um crematório (pelo mesmo Maluf) acabou abandonado, por “desconfiança” da empreiteira. Caso contrário, não haveria pó pra contar história.
De lá pra cá, nem mesmo os governos da Era Lula e Dilma deram conta de realizar a devida análise das ossadas.
          Uma boa fonte para este caso é o site dos Desaparecidos Políticos:

http://www.desaparecidospoliticos.org.br/pagina.php?id=39
Mas, estávamos em São Paulo, em um encontro dos familiares de mortos e desaparecidos. As histórias que muitas vezes li em artigos e livros se apresentavam como figuras vivas de companheiros/as, esposos/as, filhos/as, irmãos/ãs, sobrinhos/as e netos/as... assim como eu, neto de Hiram de Lima Pereira.

– Hiram de Lima Pereira, PRESENTE (Strovézio)
– Sempre Presente! (nossos artistas).

E em meio ao trabalho sobre os resultados das pesquisas e entrevistas que o CICV, um momento de troca de pequenas emoções.
Em um cartão feito por um/a jovem estudante de História do Rio Grande do Sul, a empatia de imagem e palavras.

HÀ BRAÇOS!!!!

Nas conversas, a memória de minhas tias sobre o cachimbo de meu avô, com aroma de chocolate.
E, à pergunta provocativa dos jovens que conduziam o trabalho (“O que vale a pena lembrar?”), pequenas palavras se organizam no papel branco à minha frente:

O que vale a pena...

"O que vale...
... ou é pela história!
O que vale...
...ou é a montanha!
O que vale...
... não tem valor aos duros!
O que vale...
... tem valor aos fortes!

O que vale...
... é o chão aberto!
O que vale...
... segredo descoberto!
O que vale...
... é o muito escondido!
O que vale...
... é o dito ao coração!

Mas, não vale a pena não lembrar o que foi.
Não vale a pena continuar assim.
Não vale a pena esquecer o que ainda é.
O que não continua apenas em mim.

Minha memória me vale a pena...
Minha história me vale a pena...
Minha luta me vale a pena...
Meu aprendiz de mim mesmo, sempre vale a pena...

Meu eu, em ti.
Eu e ti, em todos nós.

Presente em vida me ensinaria...
Presente em história me fez homem...
O que vale a pena guardar na memória...
... não cabe nela!
... mal cabe na história!”

Algum dia vira música.

São tempos de necessidade coletiva, trabalhadora, proletária...

Venham Todos!
Venham Todas!