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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Conversa ao pé de ouvido de Alexsandra


"A palavra tem um lugar que é só dela"
(Chico Cesar)

Salve, Salve, Pequena Alexsandra.
Nossa mais nova pequena Lutadora do Povo e, mais uma vez, assim a “batizamos”, como outros/as tantos/as Pequeno/as Lutadores/as do Povo que aqui, honradissimamente, recebemos.
Filha de novos amigos desta nossa humilde lona de Circo (que nos ensina diuturnamente o significado de indignação e esperança), nossos queridos Alex e Fernanda, chegas com um nome que marca, um nome escolhido como certeza de que lado estarás em sua Vida Longa vida: Alexsandra, defensora da humanidade, traz em seu nome a personalidade de uma liderança, entusiasta e decidida e, por isso, lhe dizemos: Seja Bem Vinda!
Chegaste, na referência da mitologia romana, no dia dos “Deuses dos Lares”. Bom, é preciso dizer que este brincante escriba não é muito afeto as questões religiosas (e nosso Circo é laico, diga-se). Mas é um belo dia nascer com nossos Lares protegidos, não é verdade?
Sempre celebramos a chegada de Pequenos e Pequenas, filhos e filhas de pessoas mais do que queridas, importantes, significativas em nossas vidas. Celebramos a chegada de filhos e filhas de pessoas que nos ensinam a arte da amar... revolucionariamente. E como sempre, pesquisamos aqui e ali para saber o que (para nós) aconteceu de importante em datas assim. Para ti, Pequena Alexsandra, o que aconteceu de valoroso e significativo neste que é, a partir de sua chegada, também o seu dia, dia 26 de janeiro, dia de Alexsandra.
Bom... nossas “conversas ao pé de ouvido” são sempre assim. Repletas de fatos históricos importantes e a coragem de estabelecer um ponto de vista sobre elas para, assim, tirarmos nossas lições. Lições que servem para tal: aprendermos com o que elas nos ensinam. Nada de exemplos, apenas lições. E, neste caso, as lições do dia 26 de janeiro.
Vivemos um mundo, Pequena Alexsandra, em que há algumas décadas sentenciaram: “Acabaram-se as fronteiras! Agora, vivemos num mundo globalizado!”. Mas, nunca disseram que, na verdade, ao “extinguirem” as fronteiras em nome da globalização, isso iria acontecer numa única direção: dos poderosos aos mais fracos; dos imperialistas à periferia; do hemisfério norte ao hemisfério sul. Difícil, né? Mas seria como dizer o seguinte: Vamos globalizar um ou outro estilo de música que seja de fácil pegada, com refrão simples e repetido, que dure o tempo que precisar durar para gerar lucro e depois a gente troca por outra música, mesmas notas, muda as palavras, mas os gestos são mantidos: “ai se eu te pego!”, que não é diferente de um recente (que virou caso de polícia) “Reboletion!” e “créu!” que não eram diferentes de um mais distante “Segura o Tchan!”.
E por que esta reflexão, pequena Alexsandra?
Bom, é que foi em um 26 de janeiro (há quem diga que foi dia 25, outros dia 16... ficamos aqui a esperar alguém que conheça da data certa) que a vida levou para outras bandas um raro nome da música brasileira: Codó (como era conhecido o pescador-violinista / cantor e compositor Clodoaldo de Brito) partia em 1984. Ah!, pequena Alexsandra: em tempos em que cada vez mais a música vale menos – enquanto que o mercado cada vez mais cria refrões que tem o poder apenas de “produzir frases que peguem”, temos não apenas a expressão de um cantor e compositor, mas a expressão da própria capacidade humana de o criador criar, por completo, a sua expressão laborativa e cultural. Se não bastasse a bela obra que nos deixou, trata-se, Codó, de um violinista que, antes das obras, construiu seu instrumento, com madeira e cordas de piaçava. Um músico que constrói seu instrumento antes de construir sua obra... Daí, pequena Alexsandra, nossa bela, belíssima lição: a capacidade humana de produzir intensamente obra de valor está em nós... está em você. Os músicos do Universal Circo Crítico, se tiverem esta honra, adorariam acompanhar suas criações.
Mas a música nos presenteou nascimentos em um 26 de janeiro, Alexsandra. Como sabes (ou fica sabendo agora, né?) este brincante que te saúda também tem em sua veia musical o bom e velho rock’n’roll e foi em outro 26 de janeiro que nasceu um dos maiores guitarristas que já conhecemos (tem aqueles, claro, que são... incomparáveis. Que não precisa dizer “foram os maiores”, tá?): Eddie Van Halen, que também foi um destes que construiu o próprio instrumento. Mas o que dizer de Chico Cesar, músico, compositor e cantor de rara qualidade e ousadia, uma espécie de artista que resolveu dizer o que pensa, lutar pelo povo sofrido de sua e outras terras e, claro, colocado no esquecimento musical daqueles que não querem ouvir o que escutam. Culturas diferentes, posturas “políticas” também... Assim é a música. Escolha a melhor das opções, pois elas ainda existem.
Países se formaram e se perderam (portanto, fronteiras) ao longo da história, e também num 26 de janeiro. Um fato mais antigo foi a perda de territórios por parte da Turquia, lá pelas bandas de 1699. Historiadores mais experientes poderiam nos dar mais detalhes sobre perdas e conquistas, vidas humanas – entre povo e nobreza (esta, que sempre é preservada, ainda hoje, nas guerras que produz) – em países que se formam ou deixam de existir. Hungria, Transilvânia e Ucrânia se tonaram países neste dia, num Tratado denominado “Paz de Karlowitz”. O Peru, aqui mais perto da gente, também conquistou sua independência da Colômbia em um 26 de janeiro, isso já em 1827, assim com a Índia, em 1950 estabeleceu sua independência. E aqui, pequena Alexsandra, nossa segunda lição: a soberania de um povo também se faz pelo direito à história de seu povo e de seu país. Não devemos defender nosso país em nome de seus proprietários (num mundo globalizado, eles existem aos montes), mas, sim, defender um país pelo seu povo. Defenda seu povo, sempre, pequena Alexsandra. Sempre vale a pena.

Temos sempre uma grande alegria de saudar a vinda de nossos Pequenos e Pequenas Lutadores/as do Povo em dias que também outros lutadores e lutadoras do povo fizeram suas lutas neste dia. E vez em quando a história nos conta a necessidade da luta também por suas derrotas. Assim foi em 1939, quando o facismo espanhol de Franco avançou sobre Barcelona (dos socialistas e trabalhadores do campo e da cidade), pondo fim a um processo revolucionário que pouco se conta na história. E também em um 26 de janeiro (já em 1969, mas ou menos no dia em que, digamos, fui “gerado”) que o capitão Carlos Lamarca saia, com mais alguns soldados rebelados, do quartel de Quitaúna (São Paulo) com armamento para a resistência popular à ditadura militar brasileira. Carlos Lamarca, assim como milhares de bravos lutadores tombaram durante a Ditadura Brasileira (entre 1964 e 1985). Eis aqui mais uma importante lição, pequena Alexsandra: os heróis somos nós, aqueles que acreditam no seu povo, na liberdade e na justiça social. Que labutam dia e noite sem querer o que é do outro p’ra si, mas sempre querendo o melhor para todos. Assim lutaram trabalhadores do campo e da cidade na Espanha em 1939; assim era a resistência à Ditadura Militar brasileira... e continua.
Mas, temos que aqui trazer uma curiosa informação histórica neste seu dia, pequena Alexsandra. Em tempos de globalização, que também é da informação (a grande parte controlada, diga-se de passagem), há aqueles “lugares” que conseguem ser interessantes, pois permitem de um lado, colocar em dúvida se o fato e a história está no lugar certo, do jeito certo. Mas também permite que a história seja contada por outros que não conseguem contá-la. É estranho, mas é interessante. Bom, foi em um 26 de janeiro que a Revista Semanal Veja (só leia para saber as bobagens conservadoras e reacionárias que a imprensa brasileira produz, certo?) publicou que a Wikipedia (uma espécie de Enciclopédia virtual) é feita por quem quiser e, assim, todos os fatos históricos lá apontados se tornaram duvidosos. Fiquei pensando se isso era inteiramente verdade ou se, também, algumas verdades estavam se tornando públicas demais e incomodou alguém.
De qualquer maneira, Pequena Alexsandra, história é um pouco assim. Meio relação entre caçador e leão. Dizia um grande amigo desta Lona de Circo que “a história contada pelo caçador, leão sempre é culpado!”. Por isso que gostamos das lições que a história nos conta. Se o dia é certo ou não, bom, isso é outra... história.
Seja Bem Vinda, Pequena Alexsandra.

Nosso Circo, de novo, Celebra!

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa à Pequena Alexsandra!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira.

PS.: Não conhecia Codó. Sugiro o blog http://clodoaldobrito.blogspot.com, que tem um denso e belo material para aprofundarmos o nosso conhecer de nosso povo e nossa música.