RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Mais solidariedade... Nas Livrarias e na Sala de Aula...


“Quantas estradas um homem precisará andar
Antes que possam chama-lo de homem?
Quantos mares uma pomba branca precisará sobrevoar
Antes que ela possa dormir na areia?
Sim, e quantas balas de canhão precisarão voar
Até serem para sempre banidas?
A resposta, meu amigo, está soprando ao vento”
(Bob Dylan)


            Poderíamos também parodiar essa bela canção de Dylan com outras perguntas:
           
Quanto poemas mais serão repreendidos?
            Quantas aulas serão difíceis de dar?
            Quantas camisas vermelhas serão violentadas das ruas?
            Quantos atos públicos ou em público (ir a uma livraria, a um restaurante, andar de bicicleta, caminhar numa calçada ou desembarcar num aeroporto) serão perseguidos com gritos de violência?
            – Sério, caro apresentador.. (Palhaço)
            – Diga lá, Strovézio, o que seria “sério” para um palhaço?
            – Ora... seguindo a rota das paródias: até quanto poderei usar um nariz “vermelho” sem isso passar a ser coisa de “palhaço comunista”????
            –... Uau! Andas realmente afiado, Strovézio. Mas, de qualquer maneira, és um palhaço comunista...
            – Mas não por causa do nariz, ué!
            – Saquei...

            Semana passada fizemos aqui nossos passeios em Bertold Brecht – com enormes dificuldades e limitações – para conseguirmos sintetizar o que significa um poema ser mencionado em determinados contextos. E, mais ainda, quando estes contextos se transformam em ameaças, em “denúncias” seletivas e o escambal.
            A gente acaba – ingenuamente, talvez – sempre descambando para o “a poeira vai baixar”. Não baixou..
            Tem coisa que a gente nem vê por aí, nas mídias, nas redes sociais, nos noticiários... Claro, nos noticiários tupiniquins não rola. Pois, apesar de ainda formarem (e muito) a opinião pública, são de uma qualidade imensurável.
            – Precisaria de uma régua com mili-milimetros, né não? (Palhaço)
            – É, Strovézio... cansa a vista calcular o tão ridículo é o tamanho de nossa imprensa hegemônica. Paradoxalmente, ainda forma a grande massa da opinião pública.
           
            Enfim, juntam-se (acho que sempre estiveram lado a lado, em que pese sobre táticas diferentes) a Mauro Iasi, que nosso humilde picadeiro de Circo solidarizou-se semana passada, duas figuras que são presentes em nossa história.
            Eduardo Suplicy... Senador por vários anos pelo PT Paulista (Dos poucos políticos bons e sérios que São Paulo tinha, trocaram por... Serra, aquele da vexatória bolinha de papel em 2010), foi meu segundo voto para prefeito na minha vida (perdeu para Paulo Maluf... entenderam como é São Paulo, já há muito tempo?), vai a um ato público, aberto, na Livraria Cultura, em Belo Horizonte... O resto, as cenas abaixo dão conta de registrar:

            Engraçado notar é que a “Visão” da Livraria Cultura está voltada ao poder transformador da informação e da cultura, contribuindo para que as pessoas possam construir e viver em um mundo melhor e mais justo. Entre os “valores corporativos”, a diversidade...
http://www.orkugifs.com/procurar.php?recado=palha%C3%A7o&gifs=2

Também estava presente no ato o Prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Mas, afora ter sido meu “Patrão” quando Ministro da Educação, nada tenho de relação histórica com ele. Diria até que é gente boa... mas como ninguém entende o poema de Brecht, deixa pra lá.
            Assim como aconteceu com nosso camarada Lutador do Povo João Pedro Stedile, em 22 de setembro último, aconteceu com outras figuras neste estranho ano de 2015.
            Estranho ano de 2015 em que pessoas vão para as ruas duas, três vezes, com camisa da CBF gritar “Abaixo a Corrupção”!... E, pra lá de seletivos...
            Estranho ano de 2015 em que ler uma revista (a depender da revista) ou um livro (idem) poderá implicar sem xingamentos e ofensas de quem você sequer conhece... e também não conhece a revista e o livro que estás a ler.
            Estranho ano de 2015 em que usar uma camisa vermelha para ser mais perigoso do que no período da Ditadura Civil-Militar brasileira. Imagina se a camisa tiver o rosto de Che Guevara, a silhueta de Marx ou os históricos foice e martelo sobrepostos.
            Estranho ano de 2015 de bater panelas e matar haitianos parecem falar do mesmo lugar e do mesmo senso de “indignação contra tudo isso aí”.
            Estranho ano de 2015, de Leis contra Terrorismo, Leis contra Marxismo, Leis contra Partido (os marxistas ou pretensos).

            Estranho ano de 2015 em que me afirmar ateu e comunista começa a parecer-me... perigoso.
http://ouniversalcircocritico.blogspot.com.br/2015/10/em-8-de-outubro.html

            Professora Doutora Celi Taffarel, professora da Universidade Federal da Bahia... História de luta e de formação inquestionável... Está no combate onde entende que deve estar, mesmo que, por vezes pontuais, esse picadeiro de terra batida e lona furada de circo divirja. Celebramos, há poucos dias, mais um ano de sua vida e história

            Em sala de aula... trabalhando com jovens, numa Universidade Pública que, durante mais de quatro meses, lutamos bravamente em um extenso e extenuante movimento de greve. Suas palavras:
            – Hoje fui hostilizada na aula de Prática de Ensino por um aluno. Motivo: ser marxista, ser comunista, ser contra o capital.
           
            Vez em quando pensamos por aqui, em forma de pergunta: o que estão fazendo com a nossa juventude? Mas, o que assistimos e, cada vez mais, quase todo dia, está além da juventude.

            Em que pese a pela poesia musicada de Bob Dylan, tenho a impressão que a resposta não está mais ao que vivemos nestes tempos atuais não está apenas soprando ao vento.

            O Universal Circo Crítico se solidariza, na humildade de seu pequeno impacto em terras “bloguianas”, em sua terra batida e lona furada, com Eduardo Suplicy e com nossa companheira Celi Taffarel. Nosso melhor interprete de Bob Dylan na política e nossa incansável formadora.
           
            Somos poucos... mas não mexa com os/as nossos/as não...

            Venham Todos!
            Venham Todas!


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

A força do poema... Solidariedade a Mauro Iasi

https://politicaemimagens.wordpress.com/
  
Quando estou no meu dia-a-dia da sala de aula, pontualmente no diálogo da disciplina Políticas Públicas em Educação Física e Esporte e Lazer, ainda passo um filme, ficção, cujo personagem andou figurando nos (estranhíssimos, mas reveladores) protestos de 2013, no Brasil.
O Filme? “V de Vingança”... E dele, algumas frases bem localizadas no contexto e enredo desta película provocadora. A que destaco vem bem a calhar neste momento: “um homem pode morrer, lutar, falhar, até mesmo ser esquecido, mas sua ideia pode modificar o mundo mesmo tendo passado 400 anos”. Referia-se, esta narração, à historia de Guy Fawkes, o personagem real na história da humanidade, neste filme de ficção.
Pois bem... a luta de um homem se dá, também, pelas palavras e pela poesia. As palavras – como luta... E se há luta, há luta por alguém, por alguma coisa que valha a pena.
– Entããããããooooo... Há luta CONTRA alguém, CONTRA alguma coisa (Palhaço).
– Perfeito, Strovézio. As palavras também incomodam...

Correio do Poder, onde um tal jornalista Alexandre Borges (não é o ator) publica...
O cara parece-me ser fãzão de Bolsonaro’s family, Geraldo Alckmin - premiado governador por sua competente gestão hídrica... no Palácio do Governo - e Rodrigo Constantino - um dos piores e mais desqualificados comentaristas da Veja que já vi.

– Faz sentido, né? Jornalista desqualificado, fâ de colunista desqualificado, de uma revista desqualificada... (Palhaço)
– É, Strovézio... como dizem hoje em dia: “Mitou!”...

O Tal Correio não tem editorial, ou algo pra dizer o que é... Em que pese o nome ser bem sugestivo: Correio do Poder. Mas, passei por lá: Odes e odes ao Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador confesso dos porões da ditadura... Aliás, dirigiu o DOI-CODI em um dos seus períodos mais violentos.
            Pois bom, “O causo eu conto como o causo foi!” (como diria o saudoso jornalista – esse sim – Paulo Cavalcante):

Alguém, amigo de alguém, que leva o cachorro do outro alguém pra passear mandou um vídeo ao jornalista conservador (segundo o próprio). No vídeo, um trecho do discurso de Mauro Iasi, membro do Comitê Central do PCB e professor da UFRJ, nosso candidato a Presidente em 2014, durante evento da CSP-CONLUTAS. Ao final, Mauro Iasi cita um poema de Bertold Brecht:



Abaixo, o poema “Perguntas a um homem bom”, na íntegra:

Avança: ouvimos / Dizer que és um homem bom.
Não te deixas comprar, mas o raio / que incendeia a casa, também não
pode ser comprado.

Manteis a tua palavra./ Mas que palavra disseste?
És honesto, dás a tua opinião. / Mas que opinião?
És corajoso. / Mas contra quem?
És sábio. / Mas para quem?
Não tens em conta os teus interesses pessoais.
Que interesses consideras, então?
És um bom amigo.
Mas serás também um bom amigo de gente boa?

Agora escuta: sabemos / que és nosso inimigo. Por isso
vamos encostar-te ao paredão.
Mas tenho em conta os teus méritos / e boas qualidades
vamos encostar-te a um bom paredão e matar-te
com uma boa bala de uma boa espingarda e encerrar-te
com uma boa pá na boa terra.”
           
            Bom... a expressão do poema parece-me provocativa.

            Mas, preferimos o debate inteiro:



Mas, será que a única manifestação do poema é “vamos matar e enterrar os direitistas, capitalistas, conservadores”? Ou, no final das contas, o poema do velho Brecht, nas palavras de Iasi, querem apenas ironizar que, no final das contas, dizer-se “bom” e estar do lado do opressor é, portanto, ser opressor?
            O próprio Bertold Brecht ajuda a responder, ainda que perguntando:
“Em vosso mundo:
por que o mal é premiado
e o bem não ganha nada?
Quando, por sorte, não é castigado?”
           
            Mais ainda, o velho poeta revolucionário um dia cantou uma “Canção”:

“Eles têm códigos e decretos.
Eles têm prisões e fortalezas.
(sem contar seus reformatórios!)
Eles têm carcereiros e juízes
que fazem o que mandam por trinca dinheiros.
Sim, e para que?
Será que eles pensam que nós, como eles,
seremos destruídos?
Seu fim será breve e eles hão de notar
que nada poderá ajuda-los.

Eles tem jornais e impressoras
para nos combater e amordaçar.
(sem contar seus estadistas!)
Eles tem professores e sacerdotes
que fazem o que mandam por trinta dinheiros.
Sim, e para que?
Será que precisam a verdade temer?
Seu fim será breve e eles hão de notar
que nada poderá ajuda-los.

Eles tem tanques e canhões,
granadas e metralhadoras
(sem contar seus cassetetes!)
Eles tem polícia e soldados,
Que por pouco dinheiro estão prontos a tudo.
Sim, e para que?
Terão inimigos tão fortes?
Eles pensam que podem parar,
a sua queda, na queda, impedir.
Um dia, e será para breve
verão que anda poderá ajuda-los.
E de novo bem alto gritarão: Parem!
Pois nem dinheiro nem canhões
poderão mais salvá-los.”

            Os poemas falam: vocês, homens de bem, terão uma boa cova em uma boa terra... de repente, uma boa morte.
Os poemas falam:
–  São de vocês a imprensa. Oras, vejam quem controla jornais, telejornais, Revistas e tais e, portanto, as informações.
–, São de vocês as Leis e as prisões, com dois pesos e duas medidas, que prendem ladrões de livros e “condenam a trabalhos comunitários” (hein?) os endinheirados e seus herdeiros.
–  São de vocês o que se Educa, porque se educa e para quem se educa e, com as Leis que já são suas, as que virão com a pseudoneutralidade de “Leis contra o Assédio Ideológico” e “Escolas Sem Partido” (ou com a ideologia e os partidos de vocês).
– São de vocês a as armas, os tanques e aqueles que vocês mandam ao front representa-los e seus bens.
A nós, a força e o perigo dos poemas. E a Mauro Iasi, nossa permanente e vigilante solidariedade!

acerco PCB

Venham Todos!
Venham Todas!

PS.: fazemos parte daqueles que lutaram até a última fronteira e limite vencer o capital sem sangue, por uma questão meramente humanitária. Mas não somos ingênuos em acreditar que o Capital se mantém derramando o sangue dos trabalhadores...


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Dia do Professor... e da Professora...



            “O conhecimento nos faz responsáveis”, dizia Che!
            “Seria uma atitude ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que proporcionasse às classes dominadas perceber as injustiças sociais de maneira crítica”, afirmava Paulo Freire!
            Darcy Ribeiro disse uma vez: “Fracassei em tudo que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu!”
            Um dos mais importantes educadores brasileiros da atualidade, Prof. Demerval Saviani nos ensina que “o papel da escola não é o de mostrar a face visível da lua, isto é, reiterar o cotidiano, mas mostrar a face oculta, ou seja, revelar os aspectos essenciais das relações sociais que se ocultam sob os fenômenos que se mostram à nossa percepção imediata”.
            O grande e intrépido revolucionário Leon Trotsky sentenciava: “expor aos oprimidos a verdade sobre a situação é abrir-lhes o caminho da revolução”
            E Rosa? Nossa Rosa Luxemburgo? O que queria nos ensinar quando nos dizia que “quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem”?
            Alguns talvez aqui não conheçam Anísio Teixeira (ou nunca tenham entendido o que é o INEP – o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira). Mas, nestes tempos de atenção com a Educação Pública, ele afirmava já há algumas décadas atrás que “só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país uma máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a escola pública”.
            Confúcio (Mestre Kong), um filósofo chinês lá das bandas dos anos 500... antes de Cristo, já dizia: “Se quiseres prever o futuro, estuda o passado”...
            – Dois mil e quinhentos anos depois, ele certamente diria assim: “Eu te disse, não te disse?” (Palhaço)
            – Taí, gostei, Strovézio...
            E por aí vai. Uma tuia de gente na história falou ou fala alguma coisa sobre educação... Até o idiota do “Olavão”...
            Se tem uma pessoa, um “personagem” da história que segue os séculos e sempre está presente, é o professor e a professora. Em que pese A ProfessorA ser uma baita maioria.
            E hoje, então?
            O que não faltou foi expressões de carinho e reconhecimento sobre “Valeu! Fessor!”, “Viva! Fessora!”... Fotos nas redes sociais, cumprimentos aqui e ali, nos corredores da Universidade. Nos sites de notícia? Bom, não encontramos muita coisa não...
            – A Política anda quente... (Palhaço)
            – E muito mal educada, Strovézio...
            Celebramos, então, 15 de outubro... Celebramos, mas estamos atentos ao que este dia NÃO representa também...
            Deem um passeio no google. Coloquem “15 de outubro” e abram as imagens. O que encontramos? Quadros com os dizeres “Dia do Professor”...


            Bom, arriscaria tranquilamente meus cachos em aposta: a maioria mais que absoluta de nosso público teve, em sua vida escolar, mais ProfessorA, do que professor...
            Mas, nestes tempos e neste dia, em que é sempre possível, celebrar, também celebramos.
            Celebramos...
            Os e As Professores/as das Escolas Públicas estaduais do Paraná, do Pará, de São Paulo, de Goiás, do Rio Grande do Sul que entraram nos noticiários nacionais de 2015 (não apenas) machucados, surrados, com marcas de bala-de-borracha no corpo... E dos demais estados que este humilde picadeiro de terra batida esteja desatento em lembrar.

            Celebramos...
            Os a As Professores/as das Universidades Públicas Federais e algumas estaduais que vem sofrendo com a precarização da carreira, das condições de trabalho, com os cortes na Pesquisa & Desenvolvimento e ainda tem que suportar parte de seus alunos com bandeiras individualistas de “Queremos aula”, porque estão preocupados com o Mercado de Trabalho.
            – Bandos de Idiotas, na acepção mais filosófica do termo (Palhaço)...

            Celebramos...
Os e As Professores/as que estão ameaçados com as Leis estapafúrdias de nosso Congresso Nacional, de “Escola sem Partido” e “Lei contra o assédio ideológico”.
            Celebramos...
Os e As Professores/as que assistem o desmando da educação pública neste país, ainda que resistentes. Um país que já fechou nos últimos 10 anos mais de 40 mil escolas do campo. QUA-REN-TA MIL! Que em São Paulo tem um governo que A-NUN-CI-A que vai fechar escolas e bota a polícia para reprimir os alunos, os que estão defendendo a escola pública... E que a defendem de maneira firme, mas também muito expressivas.
            
Celebramos...
Os e As Professores/as que lutam, todos os dias, dia após dia, por uma educação que verdadeiramente transforme a vida de nossas crianças, de nossa juventude, de nossos adultos e idosos que “perderam” seu outro tempo de estudar...
Celebramos estes e muitos tantos que não sabemos, que não conhecemos, mas que lutam por e como nós lutamos.
Como Professor, agradeço aos abraços, pessoais e virtuais, recebidos... às ligeiras, singelas e verdadeiras homenagens...
E que possamos, neste e todos os dias, celebrar nossa capacidade de lutar e continuar lutando...
Não é este Picadeiro de terra batida e lona furada que trará, neste dia, as melhores palavras para celebrar o Dia do Professor e da Professora. Nem queremos... Porque educação não é constituída de meritocracia... Educação é constituída de sonhos, solidariedade e transformação... E isso tudo não se faz sozinho!

Viva os Professores e Professoras, Lutadores e Lutadoras do Povo!
Venham Todos!
Venham Todas!




segunda-feira, 12 de outubro de 2015

E é Dia da Criança...

Foto publicada no Jornal do MST, fim dos anos 1990/2000...
Falava da Jornada dos Sem Terrinha!

            “As crianças podem suscitar guerras e amores, encontros e desencontros.
            Magas imprevisíveis e involuntárias, as crianças brincam e vão criando o espelho que o mundo dos adultos evita e detesta.
            Têm o poder de mudar o que está em volta delas e transformar, por exemplo, uma rede velha e esfarrapada num moderno avião, numa canoa, num carro para ir a San Cristóbal de Las Casas.
            Um simples rabisco, traçado com um lápis que La Mar dá a eles para casos como estes, lhes dá corda para contar uma complexa história na qual o “ontem à noite” abrange horas ou meses, e o logo mais!, pode querer dizer “o próximo século!, onde (alguém duvida?) eles e elas são heróis e heroínas.
            E o são, mas não só em suas histórias fictícias, como também e sobretudo em seu ser meninos e meninas indígenas entre as montanhas do sudeste mexicano”
            (Subcomandante Marcos – Os Diabos do Novo Século)

            ... E que história, portanto, é esse de Dia da Criança?
           
            Hoje é um tal Dia da Criança...
            Nas redes sociais, muitos e tantos colocam sua velha história no retrato de quando crianças. O que, portanto, parece-nos significar que ela, a nossa criança, é deveras muito importante.
            Mas, e as outras?

            Hoje é um tal Dia da Criança...
            E o “grande” (parece que único) aprendizado que as notícias, imprensa, mídia dão sobre este dia é qual o teto do preço do presente que será comprado.
Matérias “jornalísticas” nas lojas de brinquedo, filmes e desenhos enfocando o consumo, o “– ganho em troca se ficar bonzinho?” e por aí vai... Os ensinamentos de Dia da Criança...
            É assim... aprendemos a poupar, porque há crise!
            E porque há crise e os brinquedos estão caros, aprendemos a dar valor ao dinheiro.
            – Aprendemos a dar valor... ao dinheiro? Que maluquice é essa? (Palhaço)
            – É, Strovézio... é exatamente isso: maluquice.
           
            Hoje é um Dia da Criança...
            É o Dia em que não celebram as crianças indígenas deste país, pois estão sendo exterminadas de maneira muito mais violenta do que a história dos 500 de ocupação destas terras.
            Elas não ganham presentes, não ganham festa. Talvez nem precisem, pois ainda aprendem que o que ganham da natureza (também exterminada) vale mais...
Mas, também não ganham esperança...

Hoje é um Dia da Criança...
Mas não é para as crianças que há meses fogem do Norte da África para a Europa, e, refugiadas, são tratadas como ilegais... criminosas... E morrem sós, afogadas, cansadas, com frio, com fome.
E testam nossa memória... comprovam nosso esquecimento...
 
Procurei a autoria... não encontrei...
Ou quando a memória se transforma em mercadoria...



Hoje é um Dia da Criança...
Mas não o é para as crianças que, mundo afora, no campo e na cidade, perdem sua infância para as “lições de nobreza, honra e virtude” do trabalho. Ao ponto que tudo o que nos chega em mãos, até a lona furada deste circo, passou pelas mãos de uma criança em seu processo produtivo.

Hoje é um Dia da Criança...
Mas não o é para aquelas dos países pobres do Hemisfério Sul deste Planeta. Países explorados pelo Capital a séculos, capital este que, ainda hoje, continua a criar regras para sua proteção. Dentre elas, tirar a esperança de nossas crianças.
E como não é Dia da Criança para essas todas, os outros dias também não foram... também não serão, não é o “Dia da Criança” que celebramos.

– É uma dor, a nós, palhaços, Malabaristas do Amor, Equilibristas da Amizade, o Mágico do Novo Mundo, a Bailarina da Liberdade, o Homem mais Forte e Solidário do Mundo e o Atirador de Facas em Queijo, constatarmos um Dia que não é celebrado para a vida, mas para as coisas. Um Dia de Consumo, por mais que brilhem os olhos de muitas delas, é um Dia pontual em tempos de esconder sonhos...



Celebramos o sonho verdadeiro, os aprendizados verdadeiros, a esperança verdadeira que crianças mundo afora nos ensinam...
E são muitas as crianças que nos dão lições de esperança... Verdadeiras lições de esperança... E com essas crianças, e com os seus e assim como as lições das crianças mexicanas de Chiapas – cuja inspiração abriu nosso espetáculo de hoje – compartilhamos a esperança que nos ensinam as crianças Sem Terra, os Sem Terrinha.


Mas, no nosso cantinho, aqui, embaixo desta lona rasgada, nossa "criança" que queremos dividir com todas as crianças está nesta foto, histórica, do Sítio do Pica-pau Amarelo... 

 Hei... A Emília ali, eu conheço!!!! (Palhaço)
 É, Strovézio... nossa Tia Zodja...
– Viva Emília Zodja!!!!!

Acervo da Tia Zodja... a palavra tá com ela...
E como ela era a Emília, prepara que a palavra vem tagarela!!!!!
Hoje, para nós, é mais do que Dia da Criança... É, como todos os dias, o Dia dos Pequenos Lutadores e Lutadoras do Povo!
          É o Dia da Resistência Indígena e suas crianças, da Venezuela!
          É o Dia Continental da Descolonização e suas crianças, da Bolívia!
          É o Dia dos Povos Originários e do Diálogo Intercultural e suas crianças, do Peru!
          É o Dia das Culturas e suas crianças, do Equador!
          É o Dia do Respeito da Diversidade Cultural e suas crianças, da Argentina!
          Celebremos esses Dias da Criança!

Venham Todos!
Venham Todas!