RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

domingo, 8 de novembro de 2009

Conversas ao pé de ouvido de Rudá...

“Todo mundo teve infância/

Maomé já foi criança/

Arquimedes, Buda, Galileu/

e também você e eu.”

(Saiba – Adriana Partimpim)


            Salve! Salve! Pequeno Rudá!

            Seja bem-vindo nosso Pequeno Grande Deus do Amor! Assim é seu nome.

            Ao sabermos de sua chegada (e, em tempos de avanços tecnológicos, essas notícias voam, voam), ficamos todos muito felizes, pois seus pais são amigos de longa, longa data. Mais do que amigos, são jovens lutadores do povo e, como tal, nos dão uma lição ensinada pelo Comandante Che Guevara há muitos anos: um grande revolucionário é movido por um grande sentimento de amor. Rudá, Deus do Amor, filhos de nossos Lutadores Janine e Antônio. Aí vem um grande líder.

            Chegaste em 03 de outubro de 2009, data que para este brincante paulipernamcandense (um dia explico esse palavrão) é uma das mais inspiradoras. É realmente uma data que, na história da humanidade, testemunhou fatos de toda grandeza, local ou mundial, particular ou geral. É tanta coisa, tantos fatos, tantas lições em um 03 de outubro, que até fica difícil comentar. Mas, papo ao pé de ouvido não pode deixar de acontecer e aqui vamos nós.

            Você nasceu em um dia o qual este país elegeu 04 presidentes pelo voto direto e universal e um pelo congresso em tempos de ditadura militar (e este presidente aniversariava também nesta data). Vale aqui menos os nomes e mais o fato de pensarmos na liderança, o seu sentido e o seu significado para a construção de uma sociedade e de um país. Presidentes devem ser líderes, devem conduzir seu povo na direção da consolidação de sua soberania e liberdade... não foi, de longe, o caso dos últimos eleitos nesta data (não apenas eles) e, por essas e outras, não quero sujar a ainda pequena história do Universal Circo Crítico colocando seus nomes aqui. Não nesta minha homenagem à sua chegada. De qualquer maneira, gostaria de deixar a primeira lição: seja, porque sabemos que será, um líder! Um líder do povo, pelo povo, para o povo e, sobretudo, COM o povo!

            E isso, realmente, se faz com luta e também temos lições de luta neste 03 de outubro, da qual gostaria de lembrar uma das mais importantes da história da humanidade, a luta contra o apartheid na África do Sul. Uma personagem importante nesta luta chama-se Nadine Gordimer, escritora sul-africana e ativista contra este regime que só serviu para testemunhar a ignorância do homem contra si mesmo. Quando, em 03 de outubro de 1991, ela recebeu o Nobel de Literatura, mais tarde declarou que o dia em que se sentira mais orgulhosa na sua vida, não fora quando recebeu o Nobel, mas quando, em 1986, testemunhara num julgamento, para salvar as vidas de 22 membros da ANC, acusados de traição. Ela era branca, filha de brancos, afrincânderes, que defendiam a supremacia branca sobre os negros e lutou contra isso, com suas obras e seu compromisso com a humanidade.

            O dia 03 de outubro nos deu uma “tuia” de grandes nomes, aqui e longe.

            Por exemplo, lá pelos idos de 1897, nasceu Louis Aragon, poeta e escritor comunista que, em 1957 recebeu o Prêmio Lênin da Paz. Alguns brasileiros também o ganharam: Jorge Amado, Oscar Niemeyer e Eliza Branco Batista (uma comunista brasileira que, num Desfile Militar de 07 de setembro em pleno governo Dutra, abriu uma faixa com os dizeres Os soldados, nossos filhos, não irão para a Coréia”, numa alusão a vontade do governo brasileiro de mandar seu exército na Guerra dos EUA contra a Coréia, nos anos 50), além de nomes como Fidel Castro, Pablo Neruda e Bertold Brecht. Talvez mais do que a bela obra de Louis Aragon, o reconhecimento de seu trabalho, principalmente as novelas e literaturas, na construção de uma juventude avançada e internacionalista, característica imprescindível da difícil arte de ser lutador do povo. A história deste prêmio, que reconheceu tantas pessoas importantes na história da humanidade, é a segunda lição que gostaria de deixar: lutar pela paz é lutar (com o amor do seu nome) contra todas as formas de exploração do homem pelo homem.

            Mas meu pequeno Rudá, veja só quanta gente BA-CA-NA nasceu em 03 de outubro e vou ficar, por hora, só na música, que é algo que tenho muito significativo na minha vida: Orlando Silva (um dos mais perfeitos cantores populares brasileiros), Zé Ramalho (cantor comprometido com seu povo e sua cultura, que não tem medo de cantar “bandeiras”) e Adriana Calcanhoto (que tem um trabalho que, espero, tu irás gostar muito no codinome de Adriana Partimpim). Ah! E também tem o Stevie Ra Vaughan... Sabe como é, né? Sou rockeiro e não dá para deixar de mencionar um dos maiores guitarristas do mundo, mesmo que ele já não esteja entre nós... Assim, espero que a arte, a música, o teatro, a pintura, a literatura, o conto... tudo isso esteja presente em sua vida, pequeno Rudá.

            Mas, também temos algumas “manchas” neste dia. Não culpa deste dia, mas, ainda, responsabilidade das ambições privadas humanas... Em 1942, a Alemanha de Hitler lança o foguete V-2, arma mortífera e secreta, antecedente a tecnologia espacial e em 1952, os britânicos explodem sua primeira bomba atômica, na Austrália. E por isso, aliás, contra isso, pequeno Rudá, que continuamos a ser lutadores do povo! Para lutarmos contra aqueles que querem apenas destruir-nos.

            Outros tantos nasceram e morreram, outros fatos na história, tantos 03 de outubro lhe homenageam ou deixam lições.

            Foi em 03 de outubro de 1968 (ano que todos os jovens deste país deveriam estudar com afinco e seriedade) que estudantes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo da USP e os da Universidade Mackenzie entraram em confronto, naquilo que foi conhecido como a Batalha da Maria Antonia (uma rua de São Paulo). Nesta, os estudantes da USP se mobilizavam contra a ditadura e os da Mackenzie eram pró-militares. Tombou um jovem estudante de ensino médio (na época, era secundarista)...

            Mas a história da ditadura no Brasil, em que pese a perda, tem a sua luz: E essa data, Rudá, é realmente importante: Foi em 03 de outubro de 1913 que nasceu Hiram de Lima Pereira, jornalista potiguar (de Caicó), ator, poeta, militante e dirigente do Partido Comunista Brasileiro, Deputado Estadual cassado no RN (numa das maiores votações de um membro do PCB na história do Partido), militante nos anos de chumbo no Brasil e que tombou nos porões do DOI-CODI e, principalmente, meu avô! E, neste dia (ainda que não mais no exato dia de seu nascimento), quero extender um abraço carinho a ti e seus pais, abraço este que, tenho certeza, toda a família Pereira (filhas, netos/as, bisnetos/as e os que a ela se juntaram) quer dar. Descrever como seria cada abraço, cada carinho dos/as artistas, trabalhadores/as, atletas, militantes de nossa família para celebrar este 03 de outubro é algo praticamente impossível. Mas absoluto em nossos corações e história.

            A, assim, deixo-te de presente, pequenas palavras de Maria Célia, esposa de Hiram. Nossa vó que também era artista completa:


“Ama, com fervor/

E terás desta vida a razão/

Pois, só o amor/

Tem essência, tem luz/

Tem fascinação”

(Falando ao Coração)


            Assim é seu dia, Rudá!

            E por isso o saudamos...


            Vida Longa a Rudá!


            Venham Todos!

Venham Todas!


Vida Longa


Marcelo “Russo” Ferreira

quinta-feira, 5 de novembro de 2009



“O carimbó nunca morre,/

 quem canta o carimbo sou eu”

(Mestre Verequete)


E lá vai Mestre Verequete.

Lá vai Augusto Gomes Rodrigues, a alma, o corpo, a voz, a roupa, o ritmo, a vida do Carimbó, esse ritmo ímpar e plural, particular e universal da expressão mais rica da cultura paraense.

Não posso falar de Mestre Verequete... Não vivi intensamente sua obra.

Sobre sua partida, apenas uma razoável cobertura dos jornais locais, passou em branco nos nossos noticiários fundantes deste país. Mais uma vez o silêncio desta mídia suja, branca, elitizada.

Talvez porque fosse Mestre Verequete (não nossa mídia tupiniquim) nos deixasse como lições simples e necessárias a humildade e o respeito ao povo.

O Universal Circo Crítico presta sua mais absoluta humilde e popular homenagem ao Mestre dos Mestres do Carimbo:


“Ogum Balailê, pelejar, pelejar/

Ogum, Ogum, tatára com Deus/

Guerreiro Ogum tatára com Deus/

Papai Ogum, tatára com Deus/

Ogum, Ogum.


Chama Verequete, ê, ê, ê, ê./

Chama Verequete, ô, ô, ô, ô./

Chama Verequete, ruuum./

Chama Verequete, Oh! Verê!

Oi! Chama Verequete, Oh! Verê!”


Venham Todos!

Venham Todas!


Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

domingo, 1 de novembro de 2009

Silêncio...


“Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas fico calado,

faz de conta que sou mudo”

Meu País

(Orlando Tejo / Gilvan Chaves / Livardo Alves)

Silêncio... “estado de quem se cala / privação de falar / taciturnidade (arte de falar pouco)”, segundo o Aurélio... Assim passou o Universal Circo Crítico nas últimas semanas.

Não foi falta de assunto, como diria Oswaldo Montenegro em “Mudar Dói!” (mas não mudar dói muito). Foi apenas silêncio. Penso que, de um jeito ou de outro, mais ou menos (tempo absolutamente relativo em se tratando de silêncio), sozinho ou não, todos tem seus momentos de silêncio. Tive o meu.

Mas, ainda assim, e inspirado na voz de Zé Ramalho, na real, concreta e bela “Meu País”, meu silêncio, e consequentemente o silêncio do Universal Circo Crítico foi apenas de palavras ditas. Mas, sempre vendo tudo, fazendo de conta que somos mudos... mas. também somos mundo.

O silêncio recebeu Mariana no último dia 13 de outubro, a pequena já lutadora do povo, sobrinha de nosso grande Bruno (Brunão), nosso capoeirista humanizador e também lutador do povo que hoje se encontra lá pelas bandas de SC. Nossa pequena Mariana chegou entre nós com muita luta e assim seguirá sua vida, cercada de pessoas que a amam.

Nasceu também Rudá, mais um filho de lutadores do povo (Janine e Antônio) e que chegou com a melhor expressão daquilo que os une, pais e filho: a luta com amor! Em 03 de outubro, chegou Rudá, deus do Amor! Aliás, que dia especial para chegar o pequeno Rudá, vocês nem imaginam...

O silêncio também desvendou a ciência, a docência, a pesquisa... Ah! desvendou também seus olhares. Diferentes, divergentes, antagônicos olhares. E nós continuamos a defender que nem a ciência, nem a docência, nem a pesquisa e todas as ações e reações correlatas, direta ou indiretamente, não neutras. Ainda que digam que sejam neutros pesquisando, nunca o serão. E, ainda que não na sua superação de fronteiras, desvendou-se a ciência (e falo, neste momento, da Universidade Pública e das Entidades Científicas da Educação Física, onde circulo), comprometida com a manutenção do estado da arte de produtores (homens e mulheres) e seus produtos (resultado de seu trabalho) e continuaremos, infelizmente, testemunhando aqueles que formarão homens e mulheres para a subserviência. Eu não farei parte deste grupo.

O silêncio também angustiou. A América Latina, nossos “hermanos” continuam a nos dar lições de democracia e respeito à sua história. Bolívia, Argentina, Paraguai e, mais recentemente, o Uruguai vem abrindo seus podres porões da ditadura, os financiamentos dos EUA (e ainda mantém a Escola de Formação Militar que baseou a formação dos ditadores latinos), a prisão e condenação dos assassinos e torturadores. Nada disso mexeu um centímetro, uma grama, um mililitro sequer da paz e serenidade de seus estados, e o Estado Brasileiro continua guardando os cofres da ditadura a sete chaves. Na única (pseudo)demonstração de ir à fundo das atrocidades daqueles anos de chumbo (a busca de covas no Araguaia), é justamente as Forças Armadas que estão à frente. A soberania do povo brasileiro se fortaleceria imensuravelmente a partir do momento em que ela dominasse sua história... presente, passada e futura.

O silêncio me fez, mais uma vez, enojar diante de nossa mídia e de nosso jornalismo. Por que 7 mil pés de laranja, se foram 3 mil pés...? E eu não disse “só” 3 mil pés. Mas, porque aumentar? Aliás, 0,25% do total de pés de laranja da Cutrale. E por que assentir à farsa dos equipamentos danificados, se foram todos retirados da oficina da própria Cutrale e espalhados pelo pátio para dar a dimensão de dano provocado pelos Sem Terra? O tal do jeitinho brasileiro para recuperar a oficina, repleta de sucata, ás custas dos Movimentos Sociais ou, em última instância, do Estado? Por que não explicar, na notícia, o que significa 1,2 milhões de pés de laranja? Como assim “produtivo”, se é produção para exportação, apenas? Esse silêncio midiático não é justo, não é honesto e não é ético... Mas um Estado que permite que apenas seis grupos controlam toda a comunicação de um país, nada mais respondido.

Durante meu silêncio, minhas pequenas potiguares primas atletas ganharam medalhas. Illaninha pegou um bronze em Ginástica de Solo em Recife e Dinahzinha ganhou ouro e prata nos Estados Unidos (um tal de “Disney Martial Arts Festival” – nome repleto de contradições), em uma competição de Kung Fu. E, claro, as reflexões referentes a Rio 2016 (Olimpíadas ou Jogos Olímpicos?), que já fazem parte de minhas reflexões científicas, acadêmicas, docentes e políticas, passaram a compor as minhas reflexões familiares.

Durante o silêncio, prevaleceu o preceito de Orlando Tejo, Gilvan Chaves e Livardo Alves, em “meu país” que só uma voz de um cabra como Zé Ramalho pra gravá-la e publicizá-la, em detrimento do lixo artístico-musical que constantemente é lançado em nossos ouvidos.

“Um país que perdeu a identidade / Sepultou o idioma português / Aprendeu a falar pornofonês / Aderindo a global vulgaridade / Um país que não tem capacidade /
De saber o que pensa e o que diz / E não pode esconder a cicatriz / De um povo de bem, que vive mal / Pode ser o país do carnaval / Mas não é com certeza o meu país (...) Um país que dizima sua flora / Festejando o avanço do deserto / Pois não salva o riacho descoberto / Que no leito precário estertora / Um país que cantou e hoje chora /
Pelo bico do último concriz / Que florestas destrói pela raiz / E o grileiro de porre entrega o chão / Pode ser que ainda seja uma nação / Mas não é com certeza o meu país”

Tô vendo tudo...

Venham Todos!

Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira