RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

domingo, 25 de abril de 2010

O Estado tem medo...



“Tocar nos corpos para machcá-los e matar. Tal foi a infeliz, pedaminosa e brutal função de funcionários do Estado em nossa pátria bresileira após o golpe militar de 1964.
Tocar nos corpos para destruí-los psicologicamente e humanamente. Tal foi a tarefa ignominiosa de alguns profissionais da Medicidna e de grupos militares e paramilitares durante 16 anos em nosso país. Tarefa que acabamos exportando ao Chile, Uruguai e Argentina. Ensinamos outros a destruir e a matar. Lentamente e sem piedade. Sem ética nem humanismo”
(Paulo Evaristo Arns – 21 de novembro de 1994 – prefácio do Livro “Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos a partir de 1964)



          No próximo dia 28 de abril – quarta feira – no Supremo Tribunal Federal, em Brasília, será julgado a Arguiçãi de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 153 que, em síntese, defende que a Lei de Anistia (de 1979) não se aplica aos crimes comuns praticados pelos agentes da repressão contra os seus opositores políticos, durante o regime militar, assim como já fizeram outros países.
          Os crimes praticados durante a ditadura, como tortura, assassinato e desaparecimentos forçados, são crimes contra a humanidade e nesta medida não podem ser anistiados.
          Está-se falando de algo que, talvez (apenas talvez) a nossa juventude desconhece. Parte deste “desconhecimento”, à bem da verdade, obra do Estado mais covarde que se tem conhecimento na história da humanidade.
          Quando o Brasil assiste e testemunha o Ministro da Defesa Nelson Jobim e o alto Comando Militar falar, quando da constituição da Comissão da Verdade em função da terceira versão do Programa Nacional de Direitos Humanos, chamar de “revanchista” a constituição de uma comissão com este fim, ou seja, de resgatar a verdade da nação, ele denuncia de maneira escancarada. Diz o Estado Brasileiro: “nós prendemos, nós matamos, nós fizemos desaparecer aqueles que não aceitaram o Regime que impomos ao país”... as aspas são minhas.
          É a estupidez em forma de Estado, que traz consigo, também, a covardia em estandarte de poder e força e que, algumas vezes, preocupam. Preocupam porque já vimos a extensão das vontades particulares, em 2006 – sem entrar no mérito – na eleição presidencial. Naquela oportunidade, assim como o foi no lançamento do Plano de Direitos Humanos, os setores conservadores deste país, com destaque à Igreja Católica (historicamente ao lado do poder e da elite), à mídia nativa (diga-se, meia dúzia de pessoas) e os latifundiários (principais responsáveis pela destruição ambiental do país) tudo fizeram para emplacar o mandatário que queria. Perdeu por incompetência do escolhido e sua estrutura de campanha. Perderam acolá, venceram na mordaça à história recente deste país.
          Sobre o que acontecerá no próximo dia 28, no STF, minha razoável sapiência jurídica, que não me impede de tomar posição do ponto de vista legal, há tempos me diz que há algo mais estranho do que o medo de nossa taberna militar em revelar o que fez com militantes, estudantes, professores, jornalistas, artistas, trabalhadores de toda ordem – em atenção, claro, aos que tombaram e não puderam estar entre nós – resultado de ações de tortura, diga-se, em nome do Estado Brasileiro.
          Diz a Lei de Anistia que esta (a anistia) será concedida a todos aqueles que cometeram crimes políticos ou conexos a estes e, portanto, praticados por “motivação política”. Pois bem, entende-se (juridicamente falando) que crime político é aquele praticado contra a ordem vigente. E, até onde vai minha vã filosofia, o Estado Brasileiro e seus órgãos de repressão, em tempos de Regime Militar, não atuavam contra a ordem vigente. Ou seja, a Lei de Anistia não anistia os agentes terroristas do Estado Brasileiro.
          Claro que é possível o Estado agir contra a ordem vigente. Assim o foi no Golpe em 1º de abril de 1964. E este, este único argumento, é o que preocupa aqueles que são e estão a favor da constituição e liberdade (e isso é importante) da Comissão Nacional da Verdade e do que acontecerá no dia 28 próximo, no STF. A questão é: o que podemos esperar de uma justiça que dá habeas corpus a banqueiro corrupto como foi o caso de Daniel Dantas?
          Aqui, no nosso pequeno universo, na humildade de alcance que o Universal Circo Crítico sabe e reconhece que alcança, fincamos uma bandeira, fazemos uma convocação: aos que defendem os direitos à vida, à justiça, à memória, à verdade, que possamos estar atentos e cobremos da justiça brasileira o cumprimento de sua tarefa. Ser justa!
          E que possamos celebrar a nossa memória!



“Eles estão dançando com o ausente
Eles estão dançando com os mortos
Elas dançam com os invisíveis
Sua angústia é não dito
Eles estão dançando com seus pais
Eles estão dançando com seus filhos
Eles estão dançando com seus maridos
Eles dançam sozinhos Eles dançam sozinhos
Um dia nós vamos dançar sobre suas sepulturas
Um dia vamos cantar a nossa liberdade
Um dia vamos rir de nossa alegria
E nós vamos dançar”
(They dance alone – Sting)



Venham Todos!
Venham Todas!



Vida Longa!



Marcelo “Russo” Ferreira



PS.: Ainda é possível assinar o Manifesto Contra a Anistia aos Torturadores. Faço o convite: http://www.ajd.org.br/anistia_port.php

domingo, 4 de abril de 2010

Páscoa...

          “Jesus morre, morre, e já o vai deixando a vida, quando de súbito o céu por cima da sua cabeça se abre de par em par e Deus aparece, vestido como estivera na barca, e a sua voz ressoa por toda a terra, dizendo, Tu és o meu filho muito amado, em ti pus a minha complacência. Então Jesus compreendeu que viera trazido ao engano como se leva o cordeiro ao sacrifício, que a sua vida fora traçada para morrer assim desde o princípio dos princípios, e, subindo-lhe à lembrança do rio de sangue e de sofrimento que do seu lado irá nascer e alagar toda a terra, clamou para o céu aberto onde Deus sorria, Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez. Depois, foi morrendo no meio de um sonho, estava em Nazaré e ouvia o pai dizer-lhe, encolhendo os ombros e sorrindo também, Nem eu posso fazer-te todas as perguntas, nem tu podes dar-me todas as respostas. Ainda havia nele um resto de vida quando sentiu que uma esponja embebida em água e vinagre lhe roçava os lábios, e então, olhando para baixo, deu por um homem que se afastava com um balde e uma cana ao ombro. Já não chegou a ver, posta no chão, a tijela negra para onde seu sangue gotejava” (444 – 445)
(O Evangelho Segundo Jesus Cristo – José Saramago)

          Quando li essa magnífica obra de José Saramago, estava em meio às minhas leituras obrigatórias do Mestrado, cursado em Recife. Lembro que depois de lê-la, imediatamente tomei-me pelas mãos com “Levantado do Chão”, também de Saramago, que me acompanhava, um capítulo por dia, no meu percurso de casa ao trabalho, numa van em uma viagem de cerca de uma hora a uma e meia hora.

          Saramago sempre, sempre inspirou-me na relação subjetiva da realidade. Tanto que desafiei-me, a época de fechar minha Dissertação de Mestrado, a utilizá-lo em algumas importantes passagens, não apenas como alegoria e/ou epígrafes, mas como argumentação. Foi, inclusive, alvo de debate na defesa.

          Em “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” pude, ainda que em uma literatura, ver o homem, ser humano, com história, com desejos, com ideais, com princípios, com labuta, chamado Jesus. Aquele que líderes revolucionários em tempos recentes caracterizaram como o primeiro revolucionário, o primeiro socialista que se tem registrado na história da humanidade.

          Ele não leu Marx ou Engels. Ele não confabulou nas Florestas da Bolívia, na Sierra Maestra ou em Angola com Che Guevara, El Comandante. Não conversou com Fidel, com Agostinho Neto, Salvador Allende...

          Mas ele dividiu o pão e o peixe com milhares e milhares de pessoas, fazendo do Milagre da multiplicação destes em um ato de solidariedade que apenas seres humanos além de seu tempo poderiam ter.

          Não pretendo, à bem da verdade, criar intrigas com o tema. Passeando em vários blogs, sites os mais diversos possíves, vi que esse tema às vezes chega às rugas de debates inflamados e ofensivos... e talvez por pessoas que sequer se conheçam. Talvez, maiores passeios pelas ondas da internet me colocariam diante de debates mais “violentos”.

          Eu, da minha parte, venho prestar neste final de feriado, minha singela homenagem Pascoalina, depois de dias em que os comerciais de TV e rádio nos inundaram com suas ofertas de peixes e ovos de chocolote, e não apenas estes, aparentemente típicos desta data, mas também “Bota Fora”s de Páscoa: carros, eletrodomésticos, supermercados etc.

          A Páscoa é, até onde entendo, na perspectiva dos religiosos mais praticantes e disciplinados, uma data que representa o renascimento.

          Ao Universal Circo Crítico não cabe outra posição, outro convite: que possamos fazer renascer nossa capacidade de solidariedade, nossa manifestação de vida, nossa transformação social ampla e irrestrita. Nossa capacidade revolucionária... como nos ensinou o primeiro grande revolucionário da humanidade.

          Venham Todos!
          Venham Todas!

          Vida Longa!


Marcelo “Russo” Ferreira


PS.: Não vou negar: saudade do Projeto Nossa Escola, onde desenvolvi anos de prática pedagógica no ensino infantil e fundamental. Na Páscoa, voltava p’ra casa carregado de chocolate.