Aqui é o local onde o picadeiro tem realidade e fantasia.
Os artistas são personagens e pessoas reais.
A música perpassa nossa história e nosso povo.
É onde sempre nos encontramos...
Vida Longa!
Quem escreveu isso e permitiu que essas
palavras caminhassem em nosso picadeiro de terra batida e lona furada de circo
foi um camarada da Bahia, que conheci no dia-a-dia dos estudos pelas terras
soteropolitanas.
Tito nasceu mulher... percebeu-se e tornou-se
homem.
E estas (não todas) palavras de Tito não foram
escritas para o 8 de março... são escritas para e por todos os dias...
Mulheres...
Mulheres Brancas ou Negras...
Mulheres Brancas ou Negras Pobres...
Mulheres Brancas ou Negras Pobres
Analfabetas...
São Mulheres...
Mulheres...
Mulheres que não eram mulheres...
tornaram-se...
Mulheres que eram mulheres... tornaram-se
homens...
Mulheres que continuam mulheres...
Mais homens do que os homens...
Mais homens-mulheres... e que outros homens
temem (pela violência) tanto quanto...
Nosso picadeiro de terra batida e lona furada
de circo sempre se faz presente no 8 de março. E sempre opta por também expor a
vigilância ao machista que está lá dentro, escondido da/na gente.
E Tito, nosso camarada Tito, nos inspirou para,
por mais um ano, continuarmos a celebrar as mulheres que amam e que lutam.
Celebrar as mulheres que não cedem seus sonhos
às vontades alheias ao seu lugar feminino.
Celebrar as mulheres Lutadoras do Povo, claro!
E continuarmos vigilantes... e quando a
vigilância falhar, cobrar mais vigilância.
Vigilante ao tapa e ao silêncio...
Vigilante ao empurrão e ao silêncio...
Vigilante ao medo e ao silêncio...
Vigilante à vergonha e ao silêncio...
Vigilante à desumanização... e ao silêncio à
nossa muitas vezes seletiva humanização.
E que a Emancipação Humana seja, verdadeiramente,
nosso grande momento histórico para, nas palavras de Clara Zetkin, celebrarmos
a luta, ombro a ombro, que estabelecemos contra a sociedade capitalista.
E que a Emancipação Humana seja, profundamente,
e em marcha, como as primeiras (e que foram o berço da Revolução Russa de 1917)
convocadas por Aleksandra Kollontai, por “Pão e Paz”.
E que a Emancipação Humana seja, historicamente
a luz, a flor, o povo e seu canto dizendo “Presente” à primavera que chega,
mesmo que tardia.
– Russo! Hey, Russo!
– Diga lá, nossa nobre Bailarina da Alegria
Arrancada do Futuro!
– E hoje é aniversário de Tito!
– Só podia ser...
Viva, Viva Tito! Vida Longa!
Viva, Viva, às Mulheres!
Venham Todos!
Venham Todas!
PS.: publicamos este texto em tempos os quais a Anistia
Internacional publica relatório destacando que o Brasil é um dos piores países
da América Latina para se nascer menina... imagina quando as meninas e os
meninos tornam-se mulheres...
que está por chegar o tempo feliz de nossa
liberdade,
o tempo em que seremos todos irmãos,
o tempo em que seremos todos iguais”
(Leva da Revolta dos Búzios)
Foto Praça da Piedade
Salve,
Salve... com o atrasinho de um picadeiro de terra batida e lona furada de Circo
que estava arrumando a casa... Nossa Pequena Maria Isis...
Nossos
artistas a recebem com alegria
– O
Orientador também, hehehehe (Strovézio).
– Pois
é, Strovézio... E a Patrícia sobreviveu!!!!
Chegas
como Maria Ísis... que nome maravilhoso, forte, profundo recebestes de seus
pais, nossa querida Patrícia e Oswaldo.
Maria,
soberana, Ìsis, nascida de ti mesma. É duplamente mãe, nascimento, expressão
maternal da vida.
Diz a
história da humanidade que, à bem da verdade, éramos uma sociedade matriarcal.
Eram as mães (e ainda são, na verdade) as principais referências da vida, dos
ensinamentos, do cuidado da vida em comunidade. Afinal, é a mãe que sempre
vemos primeiro, não é?
Chegas
em 8 de novembro.
E chegas
em tempos bastante estranhos, pequena Maria Ísis. E para tempos estranhos,
lições sempre são importantes e necessárias.
E, para
inaugurar nossos “inxirimentos ao pé de ouvido” de 2017 – em que pese nosso
pequeno atraso hehehe – falaremos sobre estas lições e, como tais, servem para
você apropriar-se delas ao longo de sua vida, com a sabedoria que seu nome lhe
proporciona.
Há uma
verdade sobre as datas históricas: elas ainda nos são ensinadas pela “contação”
de seus vencedores. Mas nem sempre os vencedores merecem, verdadeiramente, o
respeito pelos seus feitos.
A
História é construída pelos homens, já dizia um velho barbudo que veste
vermelho e que, um dia, você também irá conhecer sua história. Assim espero...
Mas,
estamos num tempo em que é bem mais possível confrontar a história contada
pelos poderosos com a história contada pelos seus lutadores, do que foi em
tempos passados.
O dia em
que nascestes, Pequena Maria Isa, é um dia para sempre lembrarmos que, mesmo
tombando, houve homens que lutaram por liberdade neste país, e não são aqueles
que, em grande parte, estarão nos seus livros escolares de história.
Em 8 de
novembro de 1799 foram enforcados na Praça da Piedade, em Salvador, quatro
homens: o soldado Lucas Dantas do Amorim Torres, o também soldado Luís Gonzaga
das Virgens, o aprendiz de alfaiate Manuel Faustino dos Santos Lira, e o mestre
alfaiate João de Deus Nascimento, além do médico, político e filósofo baiano,
Cipriano Barata (um liberal, ainda que defensor da independência brasileira...
este, não foi condenado).
Eram
tempos em que a população pobre muito sofria (talvez tanto quanto hoje), em que
sua esperança era assaltada pela necessidade de viver um dia após o outro e a
captura, prisão e morte de lideres revolucionários sempre tinha o teor de “servir
de lição”, para que outras lideranças não mais surgissem...
Seus
crimes?
O Cartaz
abaixo nos ajuda a entender... ou não entender:
Foi a
chamada Conjuração Baiana (que não se encerrou naquele ano, resistiu durante
décadas adiante), também conhecida como Revolta dos Alfaiates e, mais
recentemente, batizada “Revolta dos Búzios” e seus nomes estão cravados no “Livro
de Aço dos Heróis Nacionais”, localizado no “Panteão da Pátria e da Liberdade
Tancredo Neves”, em Brasília.
A
história, principalmente a história dos Lutadores do Povo, sempre nos ensinou
que disciplina e prudência são sempre necessárias.
Saber
com quem contamos e com quem não contamos vai muito além da simples amizade,
mas segue o curso de nos perguntarmos: “lutamos pelas mesmas coisas?”.
Aqui,
Pequena Maria Isis, uma importantíssima lição: precisamos sempre estarmos ao
lado das pessoas que lutam pelos mesmos sonhos os quais nós lutamos. E se estes
sonhos servem para todos e todas, principalmente daqueles que realmente
precisam da solidariedade de nossos sonhos, então, mais ainda vale a pena tê-los
do nosso lado.
Não é,
verdadeiramente, um dos exercícios mais fáceis.
Ah!,
pequena Maria Isis... este picadeiro de terra batida, seus artistas e seu
público vigiam o tempo todo os próprios sonhos e, principalmente, procuramos
aprender e compreender os sonhos dos outros.
Mas, que
sejam sempre sonhos de Liberdade...
E por
falar em Lutadores do Povo, minha pequena Maria Isis, deixe-me apresentar um
grande Educador: Antonio Gramsci.
Um grande
filósofo e jornalista do início do século passado, sendo um dos fundadores do
Partido Comunista Italiano. Tem gente, hoje em dia (um povo que gosta de bater
panela e usar camisa da seleção brasileira pra protestar contra a corrupção...
não toda a corrupção, claro) que tem um medo arretado de sua história e legado.
Nem vale a pena comentar muito aqui.
O fato
principal deste dia, é que foi em 8 de novembro de 1926 que Gramsci foi preso
pela polícia fascista de Mussolini, sendo libertado sob condicional 8 anos
depois, com a saúde bastante debilitada.
De seu
período na prisão, uma obra grandiosa que vale a pena muito ser adquirida e
lida com profundidade: são as “Cartas do Cárcere” e “Cadernos do Cárcere”.
Dentre inúmeros temas importantes, um que aproxima este “papeador inxirido em
ouvidos infantis” e sua mãe, que é a formação o Intelectual Orgânico.
Mas há
uma expressão (que tem variações) de Gramsci que vale para nossas lições por
este picadeiro: “pessimista na análise, otimista na ação”.
A vida
da gente, principalmente aquela que a gente divide com um montão de gente
querida, sempre nos colocará diante de provações, de desafios e até mesmo de “desânimos”...
uma coisa de “jogar a toalha”...
Por mais
que tudo lhe diga: “joguem a toalha, aceitem a derrota”, e, mais ainda, por
mais que tudo leve a crer que é isso mesmo, que nada lhes diz para seres
otimista, faça do otimismo a ação.
Essa é,
realmente, uma grande lição que Gramsci, preso e doente, nos deixou.
E tem a
Música. Ah!, a Música, pequena Maria Isis.
Gente
bacana tem no 8 de novembro sua chegada ou sua partida. Daqui, destas terras
que te recebes, temos o Cantor e Compositor Nilson Chaves, de longa e, algumas
vezes, contraditória estrada.
Mas, cá
pra nós, adoramos este papo ao pé de ouvido, porque sempre descobrimos coisas
legais, músicos que não conhecíamos e mais daqueles que já conhecíamos.
Mas,
desta vez, você foi além...
Pois foi
em um 8 de novembro de 1887 que o alemão imigrante nos EUA Emile Berliner patenteou
o Gramofone... Um objeto estranho, com uma placa redonda e uma agulha enorme
que tinha acoplada uma corneta que, com o tempo, foi ganhando um designe mais “cult”
e tals...
Bom... para
nós, hoje em dia (e talvez para a sua geração), fica até difícil pensar em uma
tecnologia que servisse apenas para tocar música, já que nossos aparelhos eletrônicos
fazem de tudo. Mas lembre-se que tudo, em particular as tecnologias, tem um
começo e o som que escutamos hoje não necessariamente iniciou-se com um
Gramofone... Mas ele foi de uma ajuda essencial para que a sociedade pudesse
escutar música em casa...
– Mas,
Russo... tem o porém, né? (Strovézio).
– Diz
aí, meu musicante palhaço!
– A tal “Indústria
Cultural” que, hoje em dia... bom... hoje em dia...
– É...
não é fácil.
Pois bom... De
qualquer maneira, pequena Maria Isis, deixe a música fazer parte de sua vida...
Cante, Dança, assobie, bata latas...
Você
pode, por exemplo, reproduzir “November Woods” (algo como “Floresta de Novembro”
ou “Madeiras de Novembro”... como o mês de seu aniversário), composição
clássica de Arnold Bax (Século XIX – nascido em 8 de novembro).
Mas, se,
digamos assim, procurares alguma inspiração musical mais forte, umas ideias de
ritmo e melodias e tals, deixamos uma sugestão que tem a ver exatamente com 8
de novembro. Afinal, foi neste dia, lá pelas bandas de 1971, que o
MA-RA-VI-LHO-SO Led Zepelin lançou seu Disco (lembra da história do Gramofone,
hein?) Led Zepellin IV e canções maravilhosas como “Black Dog”, “Rock and Roll”,
a melodiosa “Going to Califórnia” e uma das mais conhecidas obras do Rock’n’roll
mundial: Stairway to Heaven”, ou para nossos ouvidos portugueses “Escadaria
para o Paraíso”...
Deixamos
uma versão ao vivo de presente pra ti... Esta é de 1975,
É isso,
Pequena Maria Isis...
Com
história de Lutadores do Povo e alguma música, a recebemos com a alegria que
este picadeiro de terra batida e lona furada de circo sempre recebe os Pequenos
e Pequenas Lutadores e Lutadoras do Povo...
Porque
acreditamos profundamente no amor a humanidade e este só se torna possível na
luta.
Seja bem
vinda, Pequena Maria Isis.
A ti,
nosso sempre forte e caloroso Vida Longa!
Sempre
Vida Longa, Maria Isis!
Quadro de Victor Borsov-Musatov
pintor russo de fins do século XIX (Menino com o cachorro)