RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

quarta-feira, 8 de março de 2017

Todas as Mulheres...




            “Um corpo trans
 numa abordagem policial.
 Transgressão não, irmão
 baculejo
 violência
 Essa desgraça é mulher
 tapa
 chute
 empurrão
 medo
 vergonha
 desumanização
 ninguém sente
 ninguém se comove
 não é gente
 sem-lugar
 se matasse ali mesmo
 homens e mulheres de bem
 ainda iam nos culpar
 Quem mandou inventar?
 ainda é carnaval, cidade...”
(Tito Carvalhal)

Quem escreveu isso e permitiu que essas palavras caminhassem em nosso picadeiro de terra batida e lona furada de circo foi um camarada da Bahia, que conheci no dia-a-dia dos estudos pelas terras soteropolitanas.
Tito nasceu mulher... percebeu-se e tornou-se homem.
E estas (não todas) palavras de Tito não foram escritas para o 8 de março... são escritas para e por todos os dias...
Mulheres...
Mulheres Brancas ou Negras...
Mulheres Brancas ou Negras Pobres...
Mulheres Brancas ou Negras Pobres Analfabetas...
São Mulheres...

Mulheres...
Mulheres que não eram mulheres... tornaram-se...
Mulheres que eram mulheres... tornaram-se homens...
Mulheres que continuam mulheres...
Mais homens do que os homens...
Mais homens-mulheres... e que outros homens temem (pela violência) tanto quanto...

Nosso picadeiro de terra batida e lona furada de circo sempre se faz presente no 8 de março. E sempre opta por também expor a vigilância ao machista que está lá dentro, escondido da/na gente.
E Tito, nosso camarada Tito, nos inspirou para, por mais um ano, continuarmos a celebrar as mulheres que amam e que lutam.
Celebrar as mulheres que não cedem seus sonhos às vontades alheias ao seu lugar feminino.
Celebrar as mulheres Lutadoras do Povo, claro!

E continuarmos vigilantes... e quando a vigilância falhar, cobrar mais vigilância.
Vigilante ao tapa e ao silêncio...
Vigilante ao empurrão e ao silêncio...
Vigilante ao medo e ao silêncio...
Vigilante à vergonha e ao silêncio...
Vigilante à desumanização... e ao silêncio à nossa muitas vezes seletiva humanização.



E que a Emancipação Humana seja, verdadeiramente, nosso grande momento histórico para, nas palavras de Clara Zetkin, celebrarmos a luta, ombro a ombro, que estabelecemos contra a sociedade capitalista.
E que a Emancipação Humana seja, profundamente, e em marcha, como as primeiras (e que foram o berço da Revolução Russa de 1917) convocadas por Aleksandra Kollontai, por “Pão e Paz”.
E que a Emancipação Humana seja, historicamente a luz, a flor, o povo e seu canto dizendo “Presente” à primavera que chega, mesmo que tardia.

– Russo! Hey, Russo!
– Diga lá, nossa nobre Bailarina da Alegria Arrancada do Futuro!
– E hoje é aniversário de Tito!
– Só podia ser...

Viva, Viva Tito! Vida Longa!
Viva, Viva, às Mulheres!

Venham Todos!
Venham Todas!

PS.: publicamos este texto em tempos os quais a Anistia Internacional publica relatório destacando que o Brasil é um dos piores países da América Latina para se nascer menina... imagina quando as meninas e os meninos tornam-se mulheres... 

sábado, 4 de março de 2017

Conversa ao pé de ouvido de Maria Isis...


Bandeira da Conjuração Baiana


         “Animai-vos, povo bahiense,
 que está por chegar 
          o tempo feliz de nossa liberdade,
 o tempo em que seremos todos irmãos,
 o tempo em que seremos todos iguais”
(Leva da Revolta dos Búzios)
Foto Praça da Piedade



Salve, Salve... com o atrasinho de um picadeiro de terra batida e lona furada de Circo que estava arrumando a casa... Nossa Pequena Maria Isis...
Nossos artistas a recebem com alegria

– O Orientador também, hehehehe (Strovézio).
– Pois é, Strovézio... E a Patrícia sobreviveu!!!!

Chegas como Maria Ísis... que nome maravilhoso, forte, profundo recebestes de seus pais, nossa querida Patrícia e Oswaldo.
Maria, soberana, Ìsis, nascida de ti mesma. É duplamente mãe, nascimento, expressão maternal da vida.
Diz a história da humanidade que, à bem da verdade, éramos uma sociedade matriarcal. Eram as mães (e ainda são, na verdade) as principais referências da vida, dos ensinamentos, do cuidado da vida em comunidade. Afinal, é a mãe que sempre vemos primeiro, não é?

Chegas em 8 de novembro.
E chegas em tempos bastante estranhos, pequena Maria Ísis. E para tempos estranhos, lições sempre são importantes e necessárias.
E, para inaugurar nossos “inxirimentos ao pé de ouvido” de 2017 – em que pese nosso pequeno atraso hehehe – falaremos sobre estas lições e, como tais, servem para você apropriar-se delas ao longo de sua vida, com a sabedoria que seu nome lhe proporciona.
Há uma verdade sobre as datas históricas: elas ainda nos são ensinadas pela “contação” de seus vencedores. Mas nem sempre os vencedores merecem, verdadeiramente, o respeito pelos seus feitos.
A História é construída pelos homens, já dizia um velho barbudo que veste vermelho e que, um dia, você também irá conhecer sua história. Assim espero...
Mas, estamos num tempo em que é bem mais possível confrontar a história contada pelos poderosos com a história contada pelos seus lutadores, do que foi em tempos passados.
O dia em que nascestes, Pequena Maria Isa, é um dia para sempre lembrarmos que, mesmo tombando, houve homens que lutaram por liberdade neste país, e não são aqueles que, em grande parte, estarão nos seus livros escolares de história.

Em 8 de novembro de 1799 foram enforcados na Praça da Piedade, em Salvador, quatro homens: o soldado Lucas Dantas do Amorim Torres, o também soldado Luís Gonzaga das Virgens, o aprendiz de alfaiate Manuel Faustino dos Santos Lira, e o mestre alfaiate João de Deus Nascimento, além do médico, político e filósofo baiano, Cipriano Barata (um liberal, ainda que defensor da independência brasileira... este, não foi condenado).



Eram tempos em que a população pobre muito sofria (talvez tanto quanto hoje), em que sua esperança era assaltada pela necessidade de viver um dia após o outro e a captura, prisão e morte de lideres revolucionários sempre tinha o teor de “servir de lição”, para que outras lideranças não mais surgissem...
Seus crimes?
O Cartaz abaixo nos ajuda a entender... ou não entender:

Foi a chamada Conjuração Baiana (que não se encerrou naquele ano, resistiu durante décadas adiante), também conhecida como Revolta dos Alfaiates e, mais recentemente, batizada “Revolta dos Búzios” e seus nomes estão cravados no “Livro de Aço dos Heróis Nacionais”, localizado no “Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves”, em Brasília.



          A história, principalmente a história dos Lutadores do Povo, sempre nos ensinou que disciplina e prudência são sempre necessárias.
Saber com quem contamos e com quem não contamos vai muito além da simples amizade, mas segue o curso de nos perguntarmos: “lutamos pelas mesmas coisas?”.
Aqui, Pequena Maria Isis, uma importantíssima lição: precisamos sempre estarmos ao lado das pessoas que lutam pelos mesmos sonhos os quais nós lutamos. E se estes sonhos servem para todos e todas, principalmente daqueles que realmente precisam da solidariedade de nossos sonhos, então, mais ainda vale a pena tê-los do nosso lado.
Não é, verdadeiramente, um dos exercícios mais fáceis.
Ah!, pequena Maria Isis... este picadeiro de terra batida, seus artistas e seu público vigiam o tempo todo os próprios sonhos e, principalmente, procuramos aprender e compreender os sonhos dos outros.
Mas, que sejam sempre sonhos de Liberdade...
E por falar em Lutadores do Povo, minha pequena Maria Isis, deixe-me apresentar um grande Educador: Antonio Gramsci.




Um grande filósofo e jornalista do início do século passado, sendo um dos fundadores do Partido Comunista Italiano. Tem gente, hoje em dia (um povo que gosta de bater panela e usar camisa da seleção brasileira pra protestar contra a corrupção... não toda a corrupção, claro) que tem um medo arretado de sua história e legado. Nem vale a pena comentar muito aqui.
O fato principal deste dia, é que foi em 8 de novembro de 1926 que Gramsci foi preso pela polícia fascista de Mussolini, sendo libertado sob condicional 8 anos depois, com a saúde bastante debilitada.
De seu período na prisão, uma obra grandiosa que vale a pena muito ser adquirida e lida com profundidade: são as “Cartas do Cárcere” e “Cadernos do Cárcere”. Dentre inúmeros temas importantes, um que aproxima este “papeador inxirido em ouvidos infantis” e sua mãe, que é a formação o Intelectual Orgânico.
Mas há uma expressão (que tem variações) de Gramsci que vale para nossas lições por este picadeiro: “pessimista na análise, otimista na ação”.



A vida da gente, principalmente aquela que a gente divide com um montão de gente querida, sempre nos colocará diante de provações, de desafios e até mesmo de “desânimos”... uma coisa de “jogar a toalha”...
Por mais que tudo lhe diga: “joguem a toalha, aceitem a derrota”, e, mais ainda, por mais que tudo leve a crer que é isso mesmo, que nada lhes diz para seres otimista, faça do otimismo a ação.
Essa é, realmente, uma grande lição que Gramsci, preso e doente, nos deixou.

E tem a Música. Ah!, a Música, pequena Maria Isis.
Gente bacana tem no 8 de novembro sua chegada ou sua partida. Daqui, destas terras que te recebes, temos o Cantor e Compositor Nilson Chaves, de longa e, algumas vezes, contraditória estrada.
Mas, cá pra nós, adoramos este papo ao pé de ouvido, porque sempre descobrimos coisas legais, músicos que não conhecíamos e mais daqueles que já conhecíamos.
Mas, desta vez, você foi além...


Pois foi em um 8 de novembro de 1887 que o alemão imigrante nos EUA Emile Berliner patenteou o Gramofone... Um objeto estranho, com uma placa redonda e uma agulha enorme que tinha acoplada uma corneta que, com o tempo, foi ganhando um designe mais “cult” e tals...
Bom... para nós, hoje em dia (e talvez para a sua geração), fica até difícil pensar em uma tecnologia que servisse apenas para tocar música, já que nossos aparelhos eletrônicos fazem de tudo. Mas lembre-se que tudo, em particular as tecnologias, tem um começo e o som que escutamos hoje não necessariamente iniciou-se com um Gramofone... Mas ele foi de uma ajuda essencial para que a sociedade pudesse escutar música em casa...

– Mas, Russo... tem o porém, né? (Strovézio).
– Diz aí, meu musicante palhaço!
– A tal “Indústria Cultural” que, hoje em dia... bom... hoje em dia...
– É... não é fácil.

          Pois bom...
          De qualquer maneira, pequena Maria Isis, deixe a música fazer parte de sua vida... Cante, Dança, assobie, bata latas...
Você pode, por exemplo, reproduzir “November Woods” (algo como “Floresta de Novembro” ou “Madeiras de Novembro”... como o mês de seu aniversário), composição clássica de Arnold Bax (Século XIX – nascido em 8 de novembro).


          Mas, se, digamos assim, procurares alguma inspiração musical mais forte, umas ideias de ritmo e melodias e tals, deixamos uma sugestão que tem a ver exatamente com 8 de novembro. Afinal, foi neste dia, lá pelas bandas de 1971, que o MA-RA-VI-LHO-SO Led Zepelin lançou seu Disco (lembra da história do Gramofone, hein?) Led Zepellin IV e canções maravilhosas como “Black Dog”, “Rock and Roll”, a melodiosa “Going to Califórnia” e uma das mais conhecidas obras do Rock’n’roll mundial: Stairway to Heaven”, ou para nossos ouvidos portugueses “Escadaria para o Paraíso”...
Deixamos uma versão ao vivo de presente pra ti... Esta é de 1975,




            É isso, Pequena Maria Isis...
Com história de Lutadores do Povo e alguma música, a recebemos com a alegria que este picadeiro de terra batida e lona furada de circo sempre recebe os Pequenos e Pequenas Lutadores e Lutadoras do Povo...
Porque acreditamos profundamente no amor a humanidade e este só se torna possível na luta.
Seja bem vinda, Pequena Maria Isis.
A ti, nosso sempre forte e caloroso Vida Longa!
Sempre Vida Longa, Maria Isis!

Quadro de Victor Borsov-Musatov
pintor russo de fins do século XIX (Menino com o cachorro)

Venham Todos!
Venham Todas!