RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

quarta-feira, 28 de março de 2012

Discurso de Formatura...


“É preciso trabalhar todos os dias pela alegria geral.
É preciso aprender esta lição todos os dias
e sair pelas ruas cantando e repartindo a esperança,
a mão cristalina
a fonte fraternal”
(Thiago de Mello)

            Prezado professor Stéfano Andrade, Coordenador Acadêmico do Campus de castanhal da UFPA, minha saudação.
            Saúdo, com amizade, carinho, admiração, nossa Querida Maele, homenageada da turma, a professora Kátia Kietze, também homenageada e minha querida Mirleide Chaar Bahia, que, mais uma vez, recebe a justa homenagem de nome da turma.
            Minha saudação, claro, especial, aos alunos, agora professores de Educação Física 2008, agora “Turma Mirleide Chaar Bahia”, seus familiares e amigos presentes, estendendo, também minha saudação a aqueles que estão, para vocês presentes em seus corações, pelos caminhos e esquinas da vida que não os conduziu até este momento.
            Desde que aqui cheguei, ao Pará, à Castanhal, à esta Universidade, tendo vivenciado todas as celebrações de conclusão de curso dos alunos desta casa. E sempre numa posição bastante privilegiada. Evidente que os caminhos e descaminhos que esta Universidade, seus alunos, seus docentes irão trilhar nos próximos anos, evidentemente me proporcionarão outros assentos. Mas, mais do que esta nova alegria de falar com vocês neste momento, de participar desta festa, de entregar alguns diplomas em mãos, falo de outra posição privilegiada, que tem muito mais sentido do que “sair na foto de formatura” da turma (o que, claro, é uma alegria muito grande): a posição de aprendiz... um docente de ensino superior que sempre persegue seu aprendizado de humanidade e divide, todos os dias, com seus alunos. Essa posição, assim espero, me conduzirá por toda a minha vida.
Portanto, ao falar para vocês como professor, falo, na verdade, como aprendiz.
            Sempre falarei, aqui ou nos espaços onde minhas palavras ganham vida (a sala de aula, os diálogos com meus alunos, a minha casa e minha família os eventos científicos, o bom e velho Universal Circo Crítico, as canções que faço, mesmo que não mais nos últimos tempos), sobre os dias de nossa celebração e as lições que podemos tirar... neste caso, falo sobre o dia 16 de março de 2012, e as lições que a curta mas longa história de vocês humildemente nos ensina, ou gostaria de ensinar
            Para tanto, e como bom brincante e viajante de minhas idéias, farei isso pensando em outro, um único 16 de março diferente de hoje, em um longínquo ano de 1962. Naquele dia, os Estados Unidos da América impunham de maneira mais autoritária, imperialista e globalmente o embargo econômico contra Cuba – como diria Frei Beto, “uma Ilha deste tamanhinho”, se comparada ao colosso continental daquele país que sabia, como nenhum outro, promover Guerras em terras alheias.
Longínquos 50 atrás... uma Pequena e Lutadora Ilha do Caribe estava condenada à miséria econômica e ainda assim resistiu. Tenho menos idade do que o tempo deste fato de nossa história moderna e dela sei a bem menos tempo ainda, já que os livros de minha escola, e talvez da escola de grande parte daqueles que estão aqui, hoje, nunca nos disseram o que era isso.
          É interessante falarmos sobre esta história, pois ao longo de nossas vidas, principalmente quando somos pequenos ainda, aprendemos, com outras palavras, o significado da palavra “embargo econômico”. E penso nisso bem ao estilo de “apertem os cintos” e “coloquem seus capacetes”. Quantas vezes escutamos o “comporte-se durante o ano para ganhar um presente do Papai Noel”? Até mesmo as reflexões que nos levam a aceitarmos as condições sociais e econômicas que nos são impostas para “termos nosso lugar no céu” quando daqui partirmos? Sei que parece uma reflexão mais dura até. Mas desde pequenos somos ensinados, quase que civlizadamente, a sermos, no final ao cabo, escravos da coisa, do prêmio, do “não nos acontecerá nada se assim fizermos”, parafraseando um dos nossos maiores e mais esquecido poeta sertanejo deste país, Patativa do Assaré, em “A escrava do dinheiro”:
“Dinhêro transforma tudo / dinhêro é quem leva e traz / eu nem quero nem dizê/ tudo o que o dinheiro faz /apenas aqui eu conto que ele pra tudo tá pronto / ele é cabrero treidô é carras e é vingativo / só presta prá ser cativo ,não presta pra ser senhô / A pessoa neste mundo / Bota o pé na perdição / Quando ela dêxa o dinhêro / governá seu coração.”
.
E é possível, caros hoje professores e professoras, que vocês serão levados a essa condição a partir de agora. Talvez alguns até já tenham vivido isso durante seus anos de estudantes e até escutado conselhos “não reclame, não questione, aceite as regras” enquanto se sentiam explorados em seus postos de trabalho ou, como vocês gostam de caracterizar, seus postos de “escraviários” – os escravos do estágio. Aceitem as regras e conquistem o espaço no Mercado de Trabalho.
Em 1962, Cuba não aceitou as regras... e não aceitou bem no quintal da maior potência bélica do mundo (do ponto de vista do Estado e do ponto de vista da Indústria). E há 50 anos, com palavras mais distantes do “economês”, o povo cubano não ganha o presente de Natal, não irá para o céu quando morrer e não terá seu espaço no Mercado de Trabalho. Os que impuseram esta regra, por incrível que pareça, não são vistos como algozes. Assim como nunca serão algozes os nossos patrões. Ledo engano...
Assim, queridos e queridas professores e professoras, deixo aqui uma primeira lição: enfrentem este engessamento das relações humanas e que conhecemos com o nome de “mercado de trabalho”. Pois é o trabalho, não o mercado, o que nos dignifica enquanto seres humanos. E como sabem, falo do trabalho como condição de nossa humanidade, de nossa capacidade de transformar a natureza. Precisamos transformar, portanto, o nosso próprio trabalho, onde quer que cada um venha a atuar, precisamos transformá-lo. É a condição de existência da própria humanidade, transformá-lo. E, não tenho dúvida disso, transformando-o, nos transformamos. E, assim, talvez, apenas talvez, retomaremos o caminho que contraditoriamente a humanidade abandonou: sua própria humanização.
Não quero, e vocês me conhecem, fazer discursos pessimistas. Quero apenas continuar no meu caminho de viajante, apenas isso. E neste caminho, construir a boa e importante relação da condição humana de sermos “pessimistas na análise, otimistas na ação”. Pois quando o homem acha que tudo é imutável, ele morre.
Lembro das palavras de Bertold Brecht; “E se fôssemos infinitos? Tudo Mudaria. Como somos finitos, tudo permanece”. Pensarmos, infinitamente, agirmos em nossa finitude e isso é um agir otimista e revolucionário.
Continuo com meu pensamento voltado ainda a aquela mesma data: 16 de março de 1962.
Os fatos desta história e, principalmente, os valores que foram construídos e divulgados de maneira massificada nos quatro cantos do mundo, nos levam a quase naturalizar outra armadilha: somos o que o Mercado de Trabalho diz que somos, “cada qual no seu igual”, como diria o ditado popular.
E ao sermos isso, deixamos de ser “Nós” e passamos a ser “eu”. Não a toa, e já inspirado neste momento que agora estamos, escrevi, dias atrás, minha “Carta aos Estudantes” no bom e velho picadeiro do Universal Circo Crítico, prefaseando-a com Chico Buarque, em Saltimbancos: “Ao meu lado há um amigo que é preciso proteger / todos juntos somos fortes, não há nada pra temer”... A armadilha do individualismo, a armadilha do “eu sozinho”, a armadilha do amigo-inimigo. Talvez um dia nos encontremos numa mesa de bar, numa fila de banco, num passeio de domingo. E talvez vocês me digam “professor, ainda não entendi o sentimento que tive ao disputar um lugar em uma escola, uma academia, com meu amigo de Faculdade”. Acreditem, isso já aconteceu comigo.
Mas a lição explicitada nesta reflexão sobre os valores é que não tenhamos medo, receio de sermos mais um... que sejamos mais um e muitos “mais um”. Mais ainda, que vocês saiam daqui com a coragem de formarem muitos outros “mais um”... Não premiem ninguém, não dêem atenção aos mais fortes, rápidos, bonitos e espertos, não privatizem aquilo que aprenderam e ainda irão aprender. Que tenhamos a coragem, CORAGEM, caros professores, de sermos “mais um”. Não há nada de errado nisso...
Mas as lições de 16 de março continuam...
Penso também naquilo que pudemos, todos nós, docentes que vivenciaram este difícil mas belo caminho que vocês trilharam nos últimos anos, experimentar, acompanhar e referendar. Aliás, em um de nossos últimos encontros eu fiz questão de tratar sobre a obra que vocês construíram nesta Universidade, o tal do Trabalho de Conclusão de Curso.
Sabemos, nós, que vocês poderiam ter feito mais, que tinham condições e os instrumentos para tal construção. E, claro, não estou falando da nota final, do conceito que mediu os sacrifícios, a disciplina, a concentração e as noites mal ou não dormidas desta tarefa, grande e pontual tarefa Talvez a luta entre a formação da coisa e a formação da humanidade que, desde a escola, persegue nossos estudos tenha, vez em quando, permitido a ascensão da coisa em nossas produções, por exemplo, a nota. Mas ainda assim, e inclusive na contradição, o labor de vocês compõe esta Universidade. Mas nem vocês, nem nós docentes, nem esta Universidade está pronta e acabada, o que dirá do tal TCC. E nem estaremos distantes nesta construção, só porque saem desta casa. E neste sentido, quero não mais dividir apenas com vocês, novamente, as palavras de Bertold Brecht, das quais seleciono algumas passagens:
Quanto tempo / Duram as obras? Tanto quanto / Ainda não estão completadas. / Pois enquanto exigem trabalho / Não entram em decadência. / / Convidando ao trabalho / Retribuindo a participação / Sua existência dura tanto quanto / Convidam e retribuem. / (...) / 2 / Assim também os jogos que inventamos / São incompletos, esperamos; / E os objetos que servem para jogar / O que são eles sem as marcas / De muitos dedos, aqueles lugares aparentemente danificados / Que produzem a nobreza da forma; / E também as palavras cujo sentido / Muitas vezes mudou / Com os que as usaram. / 3 / Nunca ir adiante sem primeiro / Voltar para checar a direção! / Os que perguntam são aqueles / A quem darás resposta, mas / Os que te ouvirão são aqueles / Que farão as perguntas. / / Quem falará? / O que ainda não falou. / Quem entrará? / O que ainda não entrou. / Aqueles cuja posição parece insignificante / Quando se olha para eles /  / Quem dará duração às obras? / Os que viverão no tempo delas. / Quem escolher como construtores? / Os ainda não nascidos. / (...) / Por isso o desejo de emprestar duração às obras / Nem sempre deve ser saudado.
Todos nós não estamos prontos, eis aqui esta lição.
E se não estamos prontos e acabados, deveremos sempre olhar os nossos caminhos. O já percorrido, reconhecendo que o passado é necessário, o lugar em que estamos – e ninguém fala de lugar nenhum – e o caminho a ser percorrido. E assim ensinarmos, todos os dias, os nossos professores, os nossos alunos, a nossa Universidade a sempre olhar seus caminhos. Se tivermos sempre este olhar, penso que estaremos sempre prontos e despreparados, mas sempre caminhando.
            Como aprendiz, me levo de novo às palavras do Poeta Thiago de Melo, em sua “Vida Verdadeira”: “Não, não tenho caminho novo. O que tenho de novo é o jeito de caminhar. Aprendi (o caminho me ensinou) a caminhar cantando como convém a mim e aos que vão comigo. Pois já não vou mais sozinho”. Sabemos que “o caminho se faz caminhando, caminhante”, mas ele é contraditório e muitas vezes somos levados a cada vez mais longe do real caminho que precisamos perseguir, o caminho do coletivo forte. E dentre tantos que poderiam aqui se fazer presentes para falar sobre os caminhos coletivos (Paulo Freire, Florestan Fernandes, Leon Trotsky, Wladimir Lênin, José Saramago ou mais contemporâneos nossos, como Frei Beto, Celi Taffarel, Michele Ortega), escolho quem, em silêncio, celebrou 124 anos de seu nascimento, Anton Semyonovich Makarenko:
“(...) Num coletivo desses, a incerteza dos caminhos individuais não podia determinar uma crise. Pois os caminhos individuais nunca são bem claros. E o que é um caminho individual claro? É a renúncia do coletivo (...): uma preocupação tão precoce, tão tediosa, quanto ao pedaço de pão futuro, quanto àquela decantada formação profissional”.
E quando faço esta reflexão, faço-a no sentido de trazer o que já disse, e continuarei a dizer, a colegas que já passaram por esta casa, aos que estão passando e aos que ainda estão a chegar: Voltem! Voltem a esta casa. Não importa em qual lado da trincheira estarão, ainda que eu sempre possa contar com mais lutadores e lutadoras do povo nesta casa. E, se assim o são, se assim continuarem a ser, estarei do lado de vocês, assim como acredito que estarão do nosso lado (lembrem-se, sou um de muitos “mais um”). Se estiverem do lado de lá das trincheiras desta Universidade e de nossa sociedade, também serão bem vindos, pois testemunharão a transformação desta casa.
E se aceitarem o convite o estendo mais ainda, sem perder a oportunidade de, mais uma vez, para mais uma nova turma que se forma, dizer o que precisamos fazer nesta Universidade, em palavras já ditas por outro grande visionário, outro grande lutador do povo, Ernesto Guevara, o Che: precisamos pintar esta universidade de Preto, de Índio, de Mulher, de Camponês, de Trabalhador... Não apenas no acesso, como são as importantes políticas de inclusão. Mas na sua concepção. Nenhum, e isso é uma convicção, nenhum docente, por mais doutor que se arrogue, é sabedor do mundo. Muitas vezes, não é sabedor nem de onde está. Porque, dentre outras coisas, não sabe o que é ser negro, o que é ser mulher, o que é ser índio, o que é ser camponês, o que é ser trabalhador... E esta é mais uma lição: escolhermos, sem receio, sem medo, o lado em que estaremos e, mais ainda, não tenham medo das suas palavras. Nem dêem sequer tempo ao medo. É disso que esta Universidade, a brasileira, ainda precisa. Somos muitos “um” que não tem medo, mas há muitos que plantam o medo. Mas, como disse um dia o cantor-poeta nordestino, Ednardo: “Eles são muitos, mas não podem voar”.
            Quero caminhar para minhas considerações finais. Mas sempre olhando para o 16 de março e, talvez, a lição que considero fundamental. Um povo sofrido, em 1962, não aceitou o medo como imposição de sua condição de povo e encarou de frente aqueles que queriam atrelar sua soberania aos seus interesses espúrios. Falam o tempo todo do Projeto Histórico que vigora naquele país, mas não falam que os princípios que levaram as principais potências econômicas e bélicas do mundo, de tempos em tempos, aprofundam-se em sua própria crise. Hoje, a Europa condena seu povo à miséria, à fome, ao desemprego e à perda de direitos sociais de toda ordem. “Não o Capitalismo, mas ganância de banqueiros e outros grandes ricos do mundo”, dizem... Como se este sistema social a qual conhecemos como capitalismo não investisse justamente na ganância, no individualismo, no poder centralizado para continuar a existir.
            A lição? Simples e complexa, como minhas viagens: não aceitem derrotas, construam vitórias... e, claro, as coletivas. Bertold Brecht talvez estivesse lendo as mentes e os pensamentos de muitos aqui, neste local:
            “Você diz:/ Nossa causa vai mal./ A escuridão aumenta. As forças diminuem. / Agora, depois que trabalhamos por tanto tempo / Estamos em situação pior que no início./ Mas o inimigo está aí, mais forte do que nunca./ Sua força parece ter crescido. Ficou com aparência de invencível./ Mas nós cometemos erros, não há como negar. / Nosso número se reduz, Nossas palavras de ordem Estão em desordem. O inimigo Distorceu muitas de nossas palavras / Até ficarem irreconhecíveis. / Daquilo que dissemos, o que é agora falso: Tudo ou alguma coisa? / Com quem contamos ainda? Somos o que restou, lançados fora Da corrente viva? Ficaremos para trás / Por ninguém compreendidos e a ninguém compreendendo? / Precisamos ter sorte? / Isso você pergunta. Não espere Nenhuma resposta senão a sua.”
Minhas palavras são assim, caros professores e professoras de Educação Física que aqui se formam. Palavras que sempre acreditaram na formação de novos revolucionários... e revolucionários são como guerreiros: Guerreiros são pessoas / São fortes, são frágeis / Guerreiros são meninos / No fundo peito / Precisam de um descanso / Precisam de um remanso / Precisam de um sonho / Que os tornem perfeitos / É triste ver meu homem / Guerreiro menino / Com a barra de seu tempo / Por sobre seus ombros / Eu vejo que ele berra / Eu vejo que ele sangra / A dor que tem no peito / Pois ama e ama / Um homem se humilha / Se castram seu sonho / Seu sonho é sua vida / E  vida é trabalho / E sem o seu trabalho / Um homem não tem honra / E sem a sua honra / Se morre, se mata / Não dá pra ser feliz / Não dá pra ser feliz”
Precisamos, no fim das contas, sermos felizes... um, mais um, mais um, mais um... felizes.

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa à Turma 2009!
Vida Longa à Turma Mirleide Chaar Bahia!

Vida Longa!

quinta-feira, 8 de março de 2012

Nossas Mulheres...


                As mulheres do Universal Circo Crítico são Mulheres...
                As Mulheres do Universal Circo Crítico são sensíveis, subjetivas, misteriosas até...
                As Mulheres do Universal Circo Crítico são guerreiras, guerrilheiras, lutadoras do povo, aprendizes e ensinantes...
                As Mulheres do Universal Circo Crítico são artistas, cantoras, dançarinas de várias e inúmeras artes, músicas e danças...
                As Mulheres do Universal Circo Crítico são professoras, educadoras do mundo, da vida, da graça e da humanidade...
                As Mulheres do Universal Circo Crítico são mães, irmãs, tias, avós, esposas, companheiras a toda prova de nossos artistas e público, de nossos homens e de nossas mulheres também...
                As Mulheres do Universal Circo Crítico são todas e somente elas...
                As Mulheres do Universal Circo Crítico são todas as mulheres... todos os homens... toda a humanidade...
                As Mulheres do Universal Circo Crítico lutam contra o poder e os poderosos, contra o esquecimento e o fim da história, contra a intolerância e os tiranos, contra a violência e a força bruta, contra toda a forma de exploração, em qualquer tempo, em qualquer lugar do mundo, contra qualquer pessoa...
                As Mulheres do Universal Circo Crítico enchem de orgulho, todos os dias, nosso picadeiro, nossa humilde lona...
                As Mulheres do Universal Circo Crítico são todas aquelas as quais homenageamos, por sua história, por sua luta, por tombarem e permanecerem firmes e vivas em nossas idéias e princípios, em nossas bandeiras e lutas, em nosso sonho de sociedade, justa, igualitária e socialista...
                As Mulheres do Universal Circo Crítico são minha mãe, minha irmã, minhas tias, minhas primas, minha amada esposa e companheira, minha querida segunda mãe, minhas comadres “velhas de guerra”, minhas amigas de perto e de longe...
                As Mulheres do Universal Circo Crítico serão sempre razão de nossa existência...
                Mas, o principal desta pequena, humilde e merecida homenagem é para dizermos, nossos artistas e nosso estimado público, que as Mulheres do Universal Circo Crítico são TODOS OS DIAS...
                Vida Longa às Mulheres do Universal Circo Crítico!
                Venham Todos!
                Venham Todas!
                Vida Longa!



Marcelo "Russo" Ferreira



terça-feira, 6 de março de 2012

Carta aos Estudantes...



“Ao meu lado há um amigo/
que preciso proteger/
Todos juntos somos fortes/
Não há nada pra temer”
(Chico Buarque – Saltimbancos)

            Falo, neste momento, aos Estudantes que andam por aí, nos bancos universitários, que acabam de entrar ou que já estão ensaiando a festa de formatura.
            Mas acho que falo também aos que já saíram deste espaço tão complexo, dinâmico, contraditório... ao mesmo tempo inovador, quase revolucionário, mas conservador e elitista, que é a Universidade.
            E (por que não?) falo também aos que, assim como eu, lá estão, ano após ano, a formar jovens, adultos, até idosos, em diversas, quase que incontáveis, áreas de conhecimento. Professores que ensinam com o pé no chão e professores que se afundam no mais profundo orgasmo catedrático.
A Universidade, há tempos, vem me empurrando para reflexões de toda ordem. Por um lado, há uma lógica nisso, afinal, desde 2008 estou em uma Universidade Pública... No norte do País... aliás, no nordeste do Norte do País.
“É pouco tempo” diriam alguns que vociferam-se em seus muitos anos, talvez décadas, de Ensino Superior – em que pese alguns somarem os seus anos de estudante para “inchar” os dados de “sou da Universidade há...”. Quase contam nos dedos quantas pessoas formaram, quantas pesquisas desenvolveram, quantos livros, capítulos, artigos, textos, papers já produziram. E não é incomum na nossa Universidade, a pública, a brasileira, docentes em todo o país colocarem seus orientandos a escreverem e, por ser “orientador/a”, colocarem seus nomes.
Mas, ainda que pouco, somam-se aos meus “poucos anos” outros tantos anos vividos em diferentes lugares. Não me tornei professor de Ensino Superior (este termo soa estranho algumas vezes) apenas quando adentrei no quadro de docentes de uma Universidade Pública. Tornei-me em um tempo que, talvez, nem saberia dizer. E continuo “me tornando” professor. Todos os dias, o dia todo.
Mas foram tempos que me dão a certeza de qual professor me sinto, de qual professor me transformo... claro, não sou um professor pronto e acabado. Assim como sempre serei um aprendiz de lutador do povo, serei sempre aprendiz de minha própria docência.
E, por tudo isso, falo aos Estudantes que andam por aí... Ouso falar também a seus pais, seus irmãos e/ou irmãs, seus/suas companheiras, seus entes e amigos/as. Afinal, em um país como o nosso (democrático...), que ainda não consegue garantir o acesso amplo e irrestrito ao Ensino Superior – nem à educação básica de qualidade – que faz com que aqueles que estão nos bancos universitários sejam, no final das contas, parte da pequena parcela que ainda acessa a Universidade, não se trata apenas da superação individual, mas daqueles que estão juntos, apoiando e ao mesmo tempo torcendo e ansiosos por verem seus filhos, irmãos/ãs, companheiros/as e amigos alcançando um espaço na Universidade.
De tantas coisas que acho que a Universidade precisa garantir e que vocês, estudantes, precisam não apenas “cobrar”, mas acreditar na capacidade desta mesma Universidade atender, é a humanização. A Universidade precisa “formar gente”. E formar gente, obviamente, é o contrário de “formar coisas”.
E formar gente parece-me, a cada dia que passa, uma tarefa não apenas hercúlea, mas uma tarefa a qual muitos docentes em nossas Universidades há muito tempo abriram mão.
Premiar os primeiros colocados de vestibular não é formar gente.
Dizer aos nossos alunos “sejam O profissional, não mais um” não é formar gente.
“Corram atrás do conhecimento” (cada um por si) não é formar gente.
Ocupar um espaço no Mercado de Trabalho não é formar gente.

O que não apenas vocês, Estudantes, precisam é formarem-se continuamente, como o fazem desde que “viraram gente”. É, aquela coisa de “desde que me entendo como gente”, frase comum para dizer sobre o tempo em que começamos a compreender o quão grande é o mundo e o quão pequenos somos nele. Viramos gente e, quando nos aproximamos da vida universitária (e a conquistamos) vamos deixando de ser, porque precisamos ser mais espertos, mais rápidos, mais competentes.
E a Universidade precisa aprender, de uma vez por todas, a formar gente! E formar gente é, inquestionavelmente, formar mais um, mais um, mais um... numa grande composição que diga, a cada muitos “mais um” que formar, “somos fortes!”.
Parafraseando Victor Jara, devemos ser mais um, sempre mais um para que, todos os “um” unidos, possamos construir e formar uma Universidade nova... um país novo... um continente novo... um mundo com novos homens e mulheres.
Pensem nisso, caros estudantes...

Campesinos, soldados, mineros,/
la mujer de la patria también,/
estudiantes, empleados y obreros,/
cumpliremos con nuestro deber.
Sembraremos las tierras de gloria,/
socialista será el porvenir,/
todos juntos haremos la historia,/
a cumplir, a cumplir, a cumplir.
(Trecho da música “Venceremos”, hino da Unidade Popular, última canção entoada por Victor Jara, no limite de suas forças, após dias de tortura no Estádio do Chile em 1973.)

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira