RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O Universal Circo Crítico... Escutem nossa mensagem de Ano Novo!



“Esse silêncio todo me atordoa!
Atordoado, permaneço atento!”
(Chico Buarque e Milton Nascimento)


            Mais um ano que, como nosso picadeiro faz todo ano, sempre defendo: não é verdadeiramente fim de algo, início de outro algo.
            O Universal Circo Crítico, mesmo entendendo que a grande maioria de nossos artistas (e nós também) passaremos a virada de ano entre pessoas queridas, bebendo nossa bebida, comendo nossa comida, compartilhando alegria, brincadeiras, carinho e amizade, celebrando nossos sonhos e nossas lutas, celebrando nossos/as companheiros/as, camaradas e nossas bandeiras.
            No final do ano, recebemos alguns presentes de amigos/companheiros/camaradas mundo afora e selecionamos esse que, no dia em que celebramos 54 anos da Revolução Cubana, também nos dá lições de luta. E a lição abaixo é silenciosa. E,claro, a imprensa em terras tupiniquins também o foi...
            O Universal Circo Crítico não...
           
            “Viva Zapata!
            Viva Zumbi!
            Antonio Conselheiro!
            Todos os Panteras Negras...
            ... eu tenho certeza, eles também cantaram um dia!”
            (Chico Science)

No dia 21/12/2012, enquanto o mundo brincava de apocalipse, os verdadeiros descendentes dos maias, vivos e reais, nos mandaram das montanhas de Chiapas uma importante mensagem, que surpreendeu o México hoje de manhã. 
Em diferentes municípios da região Sudeste, milhares de indígenas integrantes do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) iniciaram o dia em grandes marchas por diferentes estradas e cidades. 
A manifestação, organizada até a véspera em sigilo, foi pacífica e surpreendentemente silenciosa. Em todas as marchas, o silêncio foi absoluto. Nenhuma palavra de ordem, nenhum cântico, nenhum grito de protesto. Ao final do dia finalmente foi divulgado um comunicado oficial do líder máximo do EZLN, Subcomandante Marcus, dizendo apenas: 

“Escutaram? É o som do mundo de vocês desmoronando. E do nosso ressurgindo”.

Como sabemos, os maias nunca falaram em “fim do mundo” (tampouco jamais conceberam essa ideia). Ao contrário, em um gigantesco silêncio, nos disseram hoje que um mundo novo, uma nova era, está começando. E que os ideais zapatistas estão de volta.



Vida Longa em 2013!

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira



sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Mamede Presente!

            
           Abaixo, texto do Educador Popular Raimundo Gomes da Cruz Neto, de Marabá/PA... Mais uma liderança camponesa tomba... Mais um Lutador do Povo que cai por suas ideias, seu humanismo, sua luta constante por uma vida melhor para todos e todas... Inclusive Todos e Todas do Universal Circo Crítico...
             Por essas e outras continuams Circo, continuamos Universal, continuamos Crítico... continuamos aprendizes de Lutadores e Lutadoras do Povo.
            Vida Longa a Mamede!

"Hoje, às 10 horas, nos despedimos de mais um grande companheiro das nossas fileiras de lutas pela verdadeira reforma agrária e pela transformação da sociedade. Foi enterrado o corpo de Mamede Gomes de Oliveira, assassinado brutalmente na manhã do dia 23 de dezembro. O assassinato ocorreu no seu lote, a 200 metros de sua casa, no Projeto de Assentamento Mártires de Abril, município de Mosqueiro, Estado do Pará.
O assassino  é casado com a filha de um também assentado, não residia no Projeto de Assentamento, já foi identificado e preso mas até o momento não revelou qual a sua motivação ou interesse para tirar a vida de Mamede, com o disparo de dois tiros fatais sem que a vitima pudesse se defender.
Para nós foi uma perda imensurável, por tratar não apenas de um assentado, como deverá ser divulgado pela imprensa medíocre deste país, mas por tratar de um exemplar de homem que viveu para construção de uma humanidade, que ainda está por ser construída por todos(as) aqueles(as) que não se cansam e nem se entregam diante das barreiras impostas.
Mamede tinha 57 anos muito bem vivido como fazem todos(as) que desde cedo encaram o desafio de construir seu próprio destino. Nasceu no Estado do Piaui, viveu sua juventude até adulto no Estado do Maranhão, no município de Pedreiras, no final da década de 1980 veio para o Pará, trajetória de muitos nordestinos, em busca da terra prometida.
Foi no ano de 1999 que militantes do MST e Mamede tiveram o grande prazer de se encontrarem, nas mobilizações realizadas na cidade de Ananindeua, área metropolitana de Belém do Pará, para ocupação dos latifúndios naquela região. Nesta época Mamede militava na Comunidade Eclesial de Base, com a experiência trazida do Maranhão. Experiência desenvolvida para enfrentar a opressão imposta pelas famílias latifundiárias, corruptas e assassinas daquele Estado, dentre elas a de José Sarney.
Com a luta organizada as famílias de trabalhadores conquistaram uma área de terra no município de Mosqueiro, que depois as famílias e o movimento fizeram ser criado um projeto de assentamento, pelo INCRA,o Projeto de Assentamento Mártires de Abril, em memória ao massacre de 17 de abril de 1996, na curva do S, no município de Eldorado de Carajás, contra militantes do MST, realizado pela policia do Estado, quando governador Almir Gabriel.
Ali no assentamento Mamede se realizava e construía experiências e ensinamentos para companheiros(as) e para o mundo. Junto com sua esposa passaram a se dedicar em um grande projeto que viesse apontar para a transformação da sociedade. Homem culto, não abonava suas leituras  dos revolucionários, de Marx, os marxistas, ao poeta Maiakóvski.
Pelo seu afinado conhecimento e forma de lhe dar com as pessoas desempenhou importante papel como comunicador, educador e dirigente do movimento, sem nunca se propor a abandonar a luta e deixar de enfrentar as grandes dificuldades que se apresentavam no dia a dia.
A sua dedicação maior, sem desprezar a militancia, a educação e acultura, mas fazendo destas uma interação necessária e produtiva,  foi com a agroecologia. Seu lote era um exemplo de diversificação de cultivos de plantas para fins medicinais, ornamentais e para produção de alimentos, e a criação de pequenos animais. Dedicação na transformação de plantas em produtos de uso medicinal e alimentício.
Mas como para a crueldade não há defesa e precaução suficiente par evitá-la quando ela nos ronda permanentemente,em um momento de vivência e dedicação com seu a fazer, Mamede foi covardemente assassinado quando reparava a situação de umas colméias.
Portanto, não foi só o MST, mas sim o mundo que perdeu, na flor da idade, um grande exemplar de homem educador, comunicador, dirigente, defensor e praticante da agroecologia, que acreditava na transformação da sociedade, com a destruição do capitalismo a partir de de acúmulos de fundamentações teóricas pelos indivíduos mas também necessariamente com a prática.
Lamentamos profundamente que a barbárie se alastra pelo mundo sem que nossas forças sejam suficientes para barrá-la. Lamentamos profundamente que diante da situação muitos(as) valiosos(as) lutadores(as) do povo se deixem levar pelos imbróglios da conjuntura política retrógrada e alienante que impera no país. Lamentamos profundamente pela perda de mais um comunista.
Como foi na casa de Mamed, quando da participação de um encontro estadual do MST, que tomei conhecimento do poeta russo Maiakóvski, em memória vou citar um dos poemas que de imediato me chamou a atenção:

E então que quereis?...
Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.
Não estamos alegres,
é certo,
mas também porque razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
haveremos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.

Mamede.
Presente!
Até a vitória sempre!
Marabá, 25 de dezembro de 2012.
Raimundo Gomes da Cruz Neto
Educador Popular CEPASP-Marabá"

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Monólogo de Natal e outros presentes...




O Universal Circo Crítico foi apenas presenteado... e, para nós, os presentes que recebemos a todos e todas pertencem... 
O Monólogo de Natal de Aldemar Paiva foi declamado acerca de 20 anos, em um dos episódios da Escolinha do Professor Raimundo, pelo personagem de Lúcio Mauro, o Aldemar Vigário... um xará, talvez, proposital.
Na imperialista rede de televisão, possivelmente passou discreta e seu público. Da gente, por exemplo, acabou passando...
Reencontramos alguns anos depois.

Ao nosso Público e nossos artistas, nosso registro: não somos insensíveis (ah! Isso não somos mesmo!), nem céticos... Não odiamos o Natal, não temos ojeriza da festa Cristã... Somos realistas, somos revolucionários, celebramos nossa capacidade de continuir lutando para que esta festa seja, verdadeiramente, de todos e de todas. Talvez, apenas talvez, quando isso acontecer, essa festa nem exista mais. Mas porque outra será celebrada, com muito mais sentido e significado!

Com vocês, com um dia de atraso, nosso Presente:

"Eu não gosto de você, Papai Noel!
Também não gosto desse seu papel de vender ilusões à burguesia.
Se os garotos humildes da cidade soubessem do seu ódio à humildade, jogavam pedra nessa fantasia.
Você talvez nem se recorde mais.
Cresci depressa, me tornei rapaz, sem esquecer, no entanto, o que passou.
Fiz-lhe um bilhete, pedindo um presente e a noite inteira eu esperei, contente.
Chegou o sol e você não chegou.
Dias depois, meu pobre pai, cansado, trouxe um trenzinho feio, empoeirado, que me entregou com certa excitação.
Fechou os olhos e balbuciou: “É pra você, Papai Noel mandou”.
E se esquivou, contendo a emoção.
Alegre e inocente nesse caso, eu pensei que meu bilhete com atraso, chegara às suas mãos, no fim do mês.
Limpei o trem, dei corda, ele partiu dando muitas voltas.
Meu pai me sorriu e me abraçou pela última vez.
O resto eu só pude compreender quando cresci e comecei a ver todas as coisas com realidade.
Meu pai chegou um dia e disse, a seco: “Onde é que está aquele seu brinquedo?
Eu vou trocar por outro, na cidade”.
Dei-lhe o trenzinho, quase a soluçar e, como quem não quer abandonar um mimo que nos deu, quem nos quer bem, disse medroso: “O senhor vai trocar ele?
Eu não quero outro brinquedo, eu quero aquele.
E por favor, não vá levar meu trem”.
Meu pai calou-se e pelo rosto veio descendo um pranto que, eu ainda creio,
Tanto e tão santo, só Jesus chorou!
Bateu a porta com muito ruído, mamãe gritou; ele não deu ouvidos. Saiu correndo e nunca mais voltou.
Você, Papai Noel, me transformou num homem que a infância arruinou. Sem pai e sem brinquedos.
Afinal, dos seus presentes, não há um que sobre para a riqueza do menino pobre que sonha o ano inteiro com o Natal.
Meu pobre pai doente, mal vestido, para não me ver assim desiludido, comprou por qualquer preço uma ilusão e, num gesto nobre, humano e decisivo, foi longe pra trazer-me um lenitivo, roubando o trem do filho do patrão.
Pensei que viajara, no entanto, depois de grande, minha mãe, em prantos, contou-me que fôra preso.
E como réu, ninguém a absolvê-lo se atrevia.
Foi definhando, até que Deus, um dia, entrou na cela e o libertou pro céu."
(Monólogo de Natal - Aldemar Paiva)

O Universal Circo Crítico recebeu seu presente de Natal de uma outra revolucionária... Cantada de Natal assim, popular, não tem espaço na festa consumista e elitista que o Natal de transformou há muito tempo... Em nosso picadeiro, são Artistas que aplaudimos de pé!

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!




Marcelo "Russo" Ferreira

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Conversa ao pé de ouvido de Eva e Guilherme...



“Pois cantando neste mundo
Vivo escravo do meu samba,
muito embora vagabundo“
(Noel Rosa)

Saudações aos nossos queridos Pequenos Lutadores do Povo... Eva e Guilherme. Nossa Lona furada, nosso picadeiro de chã batido e nossos artistas revolucionários saúdam, mais uma vez, em 2012. Eva no dia 11 de dezembro e Guilherme no dia 12.
É realmente interessante as coisas que acontecem de um dia para o outro. Num dia, chega Eva, a “Progenitora da humanidade”, no pensamento cristão. No dia seguinte, chega Guilherme, o Protetor.
Talvez viessem, Eva (filha de Sônia) e Guilherme (filho de Eleona e Eleonai), para exatamente isso: ser mãe de uma nova humanidade, de homens e mulheres novos/as, revolucionários/as e para protegê-los todos os novos e novas Lutadores e Lutadoras do Povo. Nascimento e Proteção coletivos... seria isso?
E, claro, a história da humanidade nos mostra (e suas lições) como muitas coisas acontecem de um dia para o outro. Mas, assim como a chegada de vocês, Eva e Guilherme, vocês não chegaram assim, de um dia para o outro... Tudo foi acontecendo, sabíamos que vocês chegariam. A data? Ah! Essa, talvez, só quando estávamos próximos de recebê-los.
Algumas vezes, pequenos Eva e Guilherme, um dia demora muito tempo para o dia seguinte e, desde a chegada de vocês, estávamos pensando exatamente isso: quanto tempo leva para um dia terminar e outro começar?
...
Viagem, né? Nem tanto:
Vocês chegam em um mundo em que cada vez mais as coisas nos são mostradas desta maneira: de repente, é outro dia. E, assim, cada vez mais não entendemos porque as coisas acontecem de um dia para o outro.
Por que crises econômicas acontecem?
Por que escolas são fechadas?
Por que guerras são declaradas (e algumas não)?
Por que países são criados e reconhecidos (e por quem)?
Por que acordos são propostos?
E, assim como vocês, por que pessoas nascem...? E, principalmente, para que?
E, pensando, pensando, pensando, chegamos a algumas conclusões, que nunca as são, de verdade, mas que nos ajudam em nossas sempre lições. E nós aqui, sedentos por dar nossas boas vindas a vocês, trouxemos poucas mas significativas reflexões... nelas, talvez lições.
De todas as datas que conseguimos encontrar (e precisamos, urgentemente, de um “Wikipédia do povo”, porque as datas que encontrarmos como importantes sempre são dos algozes, da elite, dos generais... quase nada das vítimas, do povo, dos soldados), nos deparamos com exatamente o que estava a conduzir o “quanto tempo leva para um dia começar e outro terminar?”.
Diz a lenda que em 11 de dezembro de 1946, um grande empresário americano doa um terreno em Nova York para a construção da sede das Nações Unidades, a ONU, mesmo ano em que é fundada a UNICEF (que, mais de 65 anos depois, não conseguiu resolver o atendimento das necessidades básicas das crianças no mundo, razão de sua criação).
Décadas depois, em 1997, houve a abertura do processo de assinatura do Protocolo de Quioto que, para sermos simples e direto, obrigava a quem mandava fumaça e poluição mundo afora a diminuir essa quantidade em pouco mais de uma década. E o país mais poluidor do mundo (e o que mais promove guerra também) não quis assinar. E, claro, a ONU é promovedora do tratado.
É a mesma ONU que declarou, em 2002, o dia 11 de dezembro como o “Dia Internacional das Montanhas”, meio que preocupada mais com as questões urbanas (afinal, os morros das grandes cidades recebem a parcela mais pobre de suas cidades até o “olhar empreendedor” de nossos empresários imobiliários se estabelecerem – com segurança – nesses locais de vista privilegiada), mas também envolvendo as questões ambientais, de aquecimento da terra, como aquelas do Tratado de Quioto.
Mas são também nas montanhas (principalmente nos países do Hemisfério Sul) que existem as riquezas minerais mais ambicionadas do mundo e, portanto, atenção do grande capital mundial.
... tudo isso no dia 11 de dezembro.
No dia 12 de dezembro, nosso povo perdeu um dos seus brasileiros mais importantes (e que nossos livros escolares pouco valorizam), o sertanista brasileiro Orlando Villas-Bôas que, tempos antes, fez a denúncia abaixo:

Lá estavam eles: índios ianomâmis, na sede da ONU, sendo civilizados para pensarem e aceitarem o desenvolvimento urbano, capitalista, branco, ocidental... De instituição em instituição, de tratados em tratados, de montanhas em montanhas, o dia vira noite e a noite vira dia e cada vez mais temos a certeza de que celebraremos todos os dias a chegada de novos Pequenos e Pequenas Lutadores e Lutadoras do Povo, pela certeza absoluta que é nessa condição que vocês nasceram... a história, claro, nos provará.
 Pequena Eva, Pequeno Guilherme, nossos novos Pequeno/a Lutadora e Lutador do Povo: não se trata de fardo grandioso. Se realmente vierem para o nascimento de um novo tempo e de novos homens e mulheres e para a proteção daqueles que, no longo e histórico tempo de “um dia para o outro”, lutam para que a chegada de vocês continue sempre celebrada, é porque entendemos que de um dia para o outro, nossos olhos tem que estar abertos, nossa mente concentrada e nosso coração revolucionário... E ouso colocar “revolucionário” aqui, como adjetivo, para saudá-los. Porque para nós, do Universal Circo Crítico, revolucionário é mais do que adjetivo. É condição...
Assim como é condição, também, que as nossas celebrações tenham sempre música. E 11 e 12 de dezembro, para nós, também é Dia de Guardel, Dia de Lamarque, Dia de Tango, Dia de Noel, Dia de Ravi, Dia de Tiso. E com tantos dias assim, não foi fácil pensarmos qual música tocarmos e cantarmos para saudá-la/o.





Celebramos Eva! Celebramos Guilherme!
Vida Longa à Eva!
Vida Longa à Guilherme!


Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa

Marcelo “Russo” Ferreira