Abaixo, texto do Educador Popular Raimundo Gomes da Cruz Neto, de Marabá/PA... Mais uma liderança camponesa tomba... Mais um Lutador do Povo que cai por suas ideias, seu humanismo, sua luta constante por uma vida melhor para todos e todas... Inclusive Todos e Todas do Universal Circo Crítico...
Por essas e outras continuams Circo, continuamos Universal, continuamos Crítico... continuamos aprendizes de Lutadores e Lutadoras do Povo.
Vida Longa a Mamede!
"Hoje, às 10 horas, nos despedimos de mais um grande
companheiro das nossas fileiras de lutas pela verdadeira reforma agrária e pela
transformação da sociedade. Foi enterrado o corpo de Mamede Gomes de Oliveira,
assassinado brutalmente na manhã do dia 23 de dezembro. O assassinato ocorreu
no seu lote, a 200 metros de sua casa, no Projeto de Assentamento Mártires de
Abril, município de Mosqueiro, Estado do Pará.
O assassino é casado com a filha de um também
assentado, não residia no Projeto de Assentamento, já foi identificado e preso
mas até o momento não revelou qual a sua motivação ou interesse para tirar a
vida de Mamede, com o disparo de dois tiros fatais sem que a vitima pudesse se
defender.
Para nós foi uma perda imensurável, por tratar não apenas
de um assentado, como deverá ser divulgado pela imprensa medíocre deste país,
mas por tratar de um exemplar de homem que viveu para construção de uma
humanidade, que ainda está por ser construída por todos(as) aqueles(as) que não
se cansam e nem se entregam diante das barreiras impostas.
Mamede tinha 57 anos muito bem vivido como fazem todos(as)
que desde cedo encaram o desafio de construir seu próprio destino. Nasceu no
Estado do Piaui, viveu sua juventude até adulto no Estado do Maranhão, no
município de Pedreiras, no final da década de 1980 veio para o Pará, trajetória
de muitos nordestinos, em busca da terra prometida.
Foi no ano de 1999 que militantes do MST e Mamede tiveram o
grande prazer de se encontrarem, nas mobilizações realizadas na cidade de
Ananindeua, área metropolitana de Belém do Pará, para ocupação dos latifúndios
naquela região. Nesta época Mamede militava na Comunidade Eclesial de Base, com
a experiência trazida do Maranhão. Experiência desenvolvida para enfrentar a
opressão imposta pelas famílias latifundiárias, corruptas e assassinas daquele
Estado, dentre elas a de José Sarney.
Com a luta organizada as famílias de trabalhadores
conquistaram uma área de terra no município de Mosqueiro, que depois as
famílias e o movimento fizeram ser criado um projeto de assentamento, pelo
INCRA,o Projeto de Assentamento Mártires de Abril, em memória ao massacre de 17
de abril de 1996, na curva do S, no município de Eldorado de Carajás, contra
militantes do MST, realizado pela policia do Estado, quando governador Almir
Gabriel.
Ali no assentamento Mamede se realizava e construía
experiências e ensinamentos para companheiros(as) e para o mundo. Junto com sua
esposa passaram a se dedicar em um grande projeto que viesse apontar para a
transformação da sociedade. Homem culto, não abonava suas leituras dos
revolucionários, de Marx, os marxistas, ao poeta Maiakóvski.
Pelo seu afinado conhecimento e forma de lhe dar com as
pessoas desempenhou importante papel como comunicador, educador e dirigente do
movimento, sem nunca se propor a abandonar a luta e deixar de enfrentar as
grandes dificuldades que se apresentavam no dia a dia.
A sua dedicação maior, sem desprezar a militancia, a
educação e acultura, mas fazendo destas uma interação necessária e
produtiva, foi com a agroecologia. Seu lote era um exemplo de
diversificação de cultivos de plantas para fins medicinais, ornamentais e para
produção de alimentos, e a criação de pequenos animais. Dedicação na transformação
de plantas em produtos de uso medicinal e alimentício.
Mas como para a crueldade não há defesa e precaução
suficiente par evitá-la quando ela nos ronda permanentemente,em um momento de
vivência e dedicação com seu a fazer, Mamede foi covardemente assassinado
quando reparava a situação de umas colméias.
Portanto, não foi só o MST, mas sim o mundo que perdeu, na
flor da idade, um grande exemplar de homem educador, comunicador, dirigente,
defensor e praticante da agroecologia, que acreditava na transformação da
sociedade, com a destruição do capitalismo a partir de de acúmulos de
fundamentações teóricas pelos indivíduos mas também necessariamente com a
prática.
Lamentamos profundamente que a barbárie se alastra pelo
mundo sem que nossas forças sejam suficientes para barrá-la. Lamentamos
profundamente que diante da situação muitos(as) valiosos(as) lutadores(as) do
povo se deixem levar pelos imbróglios da conjuntura política retrógrada e
alienante que impera no país. Lamentamos profundamente pela perda de mais um comunista.
Como foi na casa de Mamed, quando da participação de um
encontro estadual do MST, que tomei conhecimento do poeta russo Maiakóvski, em
memória vou citar um dos poemas que de imediato me chamou a atenção:
E então que quereis?...
Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.
Não estamos alegres,
é certo,
mas também porque razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
haveremos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.
Mamede.
Presente!
Até a
vitória sempre!
Marabá,
25 de dezembro de 2012.
Raimundo
Gomes da Cruz Neto
Educador
Popular CEPASP-Marabá"
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