Gabriel Oruzco “The essence of life: from My Hands are My Heart” |
“Você não pode
comprar o vento
Você não pode comprar o sol
Você não pode comprar chuva
Você não pode comprar o calor”
(Latinoamérica – Calle 13)
Vez em quando tratamos esse tema... ainda que por
diferentes caminhos.
Um papo aqui, outro ali, e ficamos a pensar nos nossos
valores e nas nossas posturas.
Há algum tempo, uma jovem aluna disse algo mais ou menos
assim: “respeite aos outros para teres, dele, o respeito de volta”.
É... uma relação bem clara, simples. Trate bem as pessoas
e deverás ser bem tratada. Respeite-as, sejas honesta e verdadeira, educada e
solidária e receberás respeito, honestidade, verdade, educação e solidariedade
em troca.
Uma manifestação, aliás, bastante senso comum, no sentido
desta relação.
Será?
Há muito venho pensando nas coisas que escuto, nas
notícias que assisto, nas coisas que vejo sobre temas afins.
Dia destes, numa máquina de café, fui colocar umas moedas
num total de R$ 2,00 para um café com chocolate. Na primeira moeda que
coloquei, ela passou direto (não foi computada) para um dispositivo de saída à
frente da máquina. Ao resgatá-la, vi que tinha uma moeda de R$ 1,00 no
compartimento, esquecida por alguém que se serviu de café antes de mim... ao
devolver ao balcão da Livraria (onde a máquina se localizava), a atendente
estranhou e disse?
– Oxi! Tu tá me entregando? Coisa rara...
A moeda não era minha. E não a devolvi para ganhar um
lugar no céu ou, nem mesmo, um elogio. Apenas não era minha.
Dias depois, antes de voltar pra casa, parei numa
vendinha de quitutes e resolvi levar um pra casa, ao invés de comer na hora.
Sabe como é, lembrei de duas latinhas na geladeira de casa e pensei “hummm... aquelas cervejas!”.
No caminho, encontrei uma moradora de rua. O clima estava
meio chuvoso, ela se apertava abaixo de uma marquise, ao lado de seu carrinho
de supermercado. O carrinho mais pra dentro da marquise do que ela, como que
se, ainda que dormindo e exposta ao frio, ela o protegesse.
Cheguei a passar dois passos a frente. Parei, olhei para
trás... Duas pessoas passavam também, sem parar. Voltei, deixei o saquinho com
o quitute e retomei o caminho de casa.
E assim, segue-se inúmeras atitudes do dia-a-dia: abrir a
porta e deixar quem te acompanha passar na frente, pagar um café a um amigo,
ser solidário a outro/a pessoa que está passando por algum momento particular
mais complexo e desafiante (mesmo que apenas com palavras), dar lugar no
ônibus, cumprimentar os funcionários da portaria e da limpeza de seu local de
trabalho (preferencialmente, chamando-os pelo nome) e até trocar um “bom dia”
com alguém que passa por ti no meio do caminho que caminhas...
Mas, o mundo está cheio de pessoas que pensam, falam,
agem, irrompem antagonicamente ao que tu pensas, ao que tu fala, ao que tu
faz... e, daí, usa exatamente a mesma métrica que iniciou essa postagem: “ah!
estás a me destratar? O mundo dá voltas!”...
E assim seguimos na história da humanidade...
Sério mesmo que precisamos agir por conta de um retorno?
Fazemos o bem para receber o bem de volta?
Para mim, talvez os artistas deste humilde picadeiro de
terra batida e lona furada, isso não é mais do que uma expressão comercial,
consumista e, por que não, capitalista das relações humanas... valores como
relação de troca.
Há, talvez, quem me diga:
– A Moeda que devolveste e o quitute que doaste, o bom
dia que deste e com o nome chamaste, o lugar que cedeste e em pé no ônibus ficaste
terá, em breve, um dia (ou na morte) um justo recompensar
– Caraka! É poesia!!!
– Saiu sem querer, Strovésio...
... Enfim.
Acho que para o mundo ser melhor, para a humanidade ser
mais “humana”, além do que já defendemos aqui, enquanto Projeto Histórico de
Sociedade (o comunismo), um bom exercício singular seria esse: incorporar a
radicalidade do fazer o bem sem ver a quem...
Não somos ingênuos... olhamos quem explora, escraviza,
desumaniza crianças, mulheres, trabalhadores, idosos... olhamos quem suga,
seca, destrói o ambiente, a flora e a fauna... olhamos quem dizima povos e
tradições.
Fazermos o bem sem sermos ingênuos...
Parafraseando José Saramago: Como pode o mundo ser salvo
sem se fazer o bem? Como podemos fazer o bem e o mundo continuar se acabando?
Venham Todos!
Venham Todas!
Nem Cães, nem Sapos... Os homens é quem ainda tem o mal hábito de ter amigos por interesse... |
Boa Marcelo! Fazer o bem, ser gentil, honesto, solidário é o que nos torna humanos. Esperar agradecimento, recompensa ou reconhecimento por atos voluntários é uma prova de que os atos, verdadeiramente, não foram voluntários. Que sigamos nos humanizando! Abraços.
ResponderExcluirSalve, Salve,Camarada Renilton...
ResponderExcluirBom lhe ver aqui novamente...
O texto é fruto de algumas conversas, boa parte com jovens... Será que precisamos mesmo "esperar" algo de volta?
Claro que não...
Persigamos, incansavelmente, nossa humanidade
Abraço
Há braços!
É assim mesmo...e por ai vai.
ResponderExcluirSeja bem vinda... bem vindo... Nosso picadeiro a/o recebe com carinho a fraternidade, "Meu diário de pesadelos"... e vamos por aí, em frente...
ResponderExcluir