"Na parede de um botequim de Madrid, um cartaz avisa: Proibido Cantar! Na parece do Aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: é proibido brincar com os carrinhos de porta-bagagem. Ou seja: ainda existe gente que canta. Ainda existe gente que brinca!"
(Eduardo Galeano)
Não
é de hoje que, vai e volta, a cultura avança ou retrocede.
Sua manifestação local, regional, nacional, de
povos – que é além fronteira – de comunidades diversas, que envolve economia,
educação, produção às mais diversas, claro, sempre estão também, nas mãos de
interesses os mais diversos.
Cultura também envolve estudos, os mais
diversos. Ou seja, não é a simples expressão da música, da dança, do
artesanato, da pintura etc. Pensadores,
Acadêmicos, Filósofos, Professores, tem muita gente aqui e acolá que se
fundamenta em Estudos Culturais (e suas várias correntes) para compreender o
lugar da cultura na história da humanidade.
Claro, nosso picadeiro vê a cultura um tanto
quanto diferentemente dessa galera, pois entendemos que o central da humanidade
é o trabalho, ou seja, a transformação da natureza pelo homem (inclusive, em
cultura).
Mas isso, neste momento, em que pese a
importância para nossas reflexões, tem debate de qualidade em outros espaços.
Para nós, interessa o seguinte:
1. Um povo sem Cultura não é nada... E, claro,
falo de um povo que produz, preserva e transmite sua cultura. De pai/mãe pra
filho/filha e uma outra tuia de parentada e amigos;
2. “Uma cultura” (forma de dizer, né?) que tem
lugar privilegiado apenas no mercado, na indústria, nos negócios (shows,
cachês, “jabás”, programas de auditório (desses “a la Faustão” e cia) NÃO é
cultura;
3. Tem cultura em tudo quanto é canto: no rock,
no frevo, no forró, no sertanejo...
– Menos naqueles que os universitários
resolveram se meter... (Palhaço).
– Tem universitário bacana, Strovésio...
– Ah! Tá!... E o palhaço o que que é?
Também é cultura... Ah! E que cultura...
Palhaço, malabarista, equilibrista, mágico, contorcionista, “gente que avoa”, Globo
da Morte.
A cultura se expressa de maneira quase
resistente... A história, as lutas, as conquistas, os espaços, as manifestações
sintetizam, também, cultura... com ela e por ela, resiste-se. Me perderia (e
convido nosso público para ajudar no registro) na infinidade de citações,
manifestações, exemplos, práticas sociais que nos digam sobre cultura.
O “lado de lá” também...
Em Belém, existe um lugar (e é lugar pra dedéu)
chamado Solar da Beira. Fica no famosíssimo “Ver-o-peso”, que turistas
endinheirados, normalmente, conhecem pouco, pois são conduzidos à “Docas”,
lugar xique, aconchegante até... e caro.
O Solar da Beira é um destes lugares que o
poder público abandona. Repito: fico no complexo Ver-o-Peso... tá bem a vista
de milhares de pessoas todos os dias. Abandonado, moradores de rua e
consumidores de drogas ilícitas e outras por lá ficam e dormem. Artistas, em
defesa do patrimônio público (escutamos esse mantra “defesa do patrimônio
público” tanto nas manifestações de 2013, né não?) resolveram ocupar o espaço,
inclusive dormindo lá, para garantir sua sobrevivência e, mais ainda, chamar a
atenção do poder público sobre não apenas sua conservação... mas sua construção
histórica e cultural, por gerações. Foram 24 dias de ocupação (palavrinha que
dá medo à nossa elite) e atividades culturais de todos os matizes. Teriam que
desocupar... o fizeram, mas como um “Ritual de desocupação”...
O Espaço estava abandonado, sem Política Cultural, artistas ocupam, desenvolvem cultura e... |
Em Pernambuco, a destinação do fim dos caminhos
da cultura ganha contornos mais trágicos... e em forma de Lei.
Como dissemos recentemente, engana-se quem acha
que o problema está apenas no Legislativo Federal. A terra de muitos artistas e
público passantes por essa lona de circo furada canta, dança, brinca e luta em
terras pernambucanas.
Lei 15.516/2015, de 27 de maio, aprovada na
Assembleia Legislativa Pernambucana e sancionada pelo Governador Paulo Câmara
(afilhado de Eduardo Campos, abençoada de Marina Silva, parceirão de Aécio
Neves nas últimas eleições – e isso não é uma defesa ao Governo Dilma), isso
pra não falar no pulha do Deputado Estadual Ricardo Costa que inventou essa
atrocidade.
Em síntese: lascou com os artistas de rua que,
segundo Artigo 2º, são representados no teatro, dança individual ou em grupo,
capoeira, mímica, estatuária viva, artes plásticas, malabarismo ou outra
atividade circense, música, manifestações folclóricas, literatura e poesia (por
meio de declamação ou exposição física das obras).
– Traz pra cá, pro Universal Circo Crítico!!!!
– Va-le-i-me-Marx! Seria uma honra, mas
morreriam de fome!
Cantadores, dançadores, brincantes e
brincadores, pintores e pintados, poetas e declamadores... Belém e Pernambuco
são berços (não os únicos, claro) que estão correndo sério risco de terem sua
maternidade aterrada na história.
Ah! Em Salvador, as chuvas do mês de maio
levaram ao chão um antigo casarão na região do Pelourinho. Com uma pessoa
dentro. Solução? Bota todos os casarões com risco de cair ao chão. Hummm...
Shopping Pelô e Estacionamento Elevador Lacerda à vista?
E tá tão difícil celebrar, brincar, cantar,
poetizar, dançar, rolar, cambalhotear, pintar, representar ultimamente em nosso
picadeiro.
Nos últimos tempos, à bem da verdade, dizer
“Venham Todos! Venham Todas!” está sendo um exercício mais de convocação do que
de “Vai começar o Espetáculo!”...
Mas, resistimos... Nem um passo atrás.
Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa...
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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira