“Racismo e capitalismo
são faces da mesma moeda”
(Steve Biko)
E hoje é 20 de novembro... Dia em que muitos municípios
(ou seja, não o Brasil) celebra o Dia da Consciência Negra, assim mesmo, como “data
comemorativa”. Alguns outros tantos, é feriado, assim como em alguns Estados...
Neste picadeiro, sempre será dias de celebração. Assim como
as datas que representem a Luta do Povo contra o poder, a celebração de
Lutadores do Povo.
Mas, tenho (temos) humildade também. Até hoje nos
entendemos como APRENDIZES de Lutador do Povo. E não é uma humildade de
oportunidade, mas uma humildade de reconhecimento histórico, de nossas raízes,
nossos valores, nossos aprendizados, nossa história. Sempre procuramos o
machismo, o racismo, a homofobia, o preconceito que está escondido dentro da
gente. E ainda os encontramos... e porque procuramos e encontramos, ainda os
enfrentamos... e enquanto isso acontecer, seremos aprendizes.
Sou branco numa sociedade racista, sou homem numa
sociedade machista... não tenho nem ideia do que é ser negro, do que é passar
pelos constrangimentos pelos quais passa uma pessoa negra. Claro que sei de
racismo, da “desmeritocracia” que existe em nossos dias entre brancos e negros,
homens brancos e homens negros, mulheres brancas e mulheres negras, homens,
brancos e mulheres negras.
Mas, insisto: busco o racismo que há dentro de mim todos
os dias... vigio-o e destruo-o dia-após-dia. E não sou eu, ou este picadeiro,
quem irá medir o quanto avanço (porque é isso o que busco)...
Aqui, neste picadeiro de terra batida e lona furada de
circo, humildemente nos esforçamos a dizer que lugar estamos: da Classe
Trabalhadora e de todos/as aqueles/as que lutam contra qualquer injustiça
cometida em qualquer lugar do mundo seja contra quem for (como diria Che)
Ademais, o que existe de mais qualificado para este
debate, nos colocamos definitivamente no lugar de aprendizes... mas, cometemos
nossas ousadias.
Saudamos essa celebração de 20 de novembro como Solomon
Burke. E não é a primeira vez que ele canta por aqui. A beleza musical ao
cantar “ninguém de nós é livre enquanto um de nós estiver preso” não é a única
impagável canção de liberdade...
Cantar a Liberdade em tempos de escravidão sempre será um
ato de Liberdade propriamente dita.
Cantar
a Liberdade em tempos de exploração do homem pelo homem (o trabalhador pelo
serviçal dos interesses do capital) sempre será um ato de Liberdade
propriamente dita.
Cantar
para expor nossos próprios preconceitos sempre será o nosso ato de Luta pela
Liberdade.
E
cantamos, hoje, com Victoria Santa Cruz... porque ou aprendemos o nosso racismo
(o nosso machismo, o nosso preconceito, a nossa homofobia) ou não cantaremos...
ou não seremos livres.
ME GRITARAM NEGRA!
Tinha sete anos apenas
apenas sete anos,
que se anos!
Não chegada nem a cinco!
De repente umas vozes na rua
me gritaram “Negra!”
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra!
“Por acaso sou negra?” – me disse SIM!
“Que coisa é ser negra?” Negra!
E eu não sabia a triste verdade que
aquilo escondia.
E me senti negra, Negra!
Como eles diziam
Negra!
E retrocedi
Negra!
Como eles queriam
Negra!
E odiei meus cabelos e meus lábios
grossos
e mirei apenada minha carne tostada
E retrocedi
Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!
Neeegra!
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra! Negra!
E passava o tempo
e sempre amargurada
Continuava levando nas minhas costas
minha pesada carga
E como pesava!..
Alisei o cabelo,
Passei pó na cara,
e entre minhas entranhas sempre ressoava
a mesma palavra
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!
Neeegra!
Até que um dia que retrocedia,
retrocedia e que ia cair
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!
Negra!
Negra!
E daí? E daí?
Negra! Sim
Negra! Sou
Negra! Negra! Negra!
Negra! Sou!
Negra! Sim!
Negra! Sou!
Negra! Negra! Negra sou.
De home em diante não quero alisar meu
cabelo
Não quero
E vou rir daqueles, que por evitar –
segundo eles – que por evitar-nos algum dissabor chamam aos negros de gente de
cor
E de que cor!
NEGRA
E como soa lindo!
E que ritmo tem!
Negro! Negro! Negro! Negro! Negro! Negro!
Negro!
Negro! Negro! Negro! Negro! Negro! Negro!
Negro!
Negro!
Afinal
Afinal compreendi
AFINAL
Já não retrocedo
AFINAL
E avanço segura
AFINAL
Avanço e espero
AFINAL
E bendigo aos céus porque duis Deus
que negro azeviche fosse minha cor.
E já compreendi
AFINAL
Já tenho a chave!
NEGRO! NEGRO! NEGRO! NEGRO! NEGRO! NEGRO!
NEGRO! NEGRO! NEGRO! NEGRO! NEGRO! NEGRO!
NEGRO!
Negra sou!”
O que você é? Quem você é? Pelo que você é?
Viva 20
de novembro!
Venham
Todos!
Venham
Todas!
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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
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Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira