“No mar de silêncio
retoma como uma sombra.”
(“La voce del silenzio”)
Mina
é um termo que em minha juventude já usava para falar daquela menina, garota,
colega que queria ficar, sair, namorar...
–
Aquela mina, Russo? (Palhaço).
–
É... aquela mesma...
Aliás,
em que pese um termo de minha adolescência, “Mina” superou o tempo. Afinal, são
inúmeras as músicas (ou algo parecido com música) que o utiliza como, digamos,
composição: “As mina pira”, “Essa mina é mó zueira” (“mó” também fez parte
daqueles tempos meus), “essas é as mina bandida!”, “a mina certa”, “a mina do
cachorro quente” e uma tuia de porcaria fácil de encontrar com a ajuda do Google.
Mina
também é o nome de uma artista e cantora italiana e que deixou a cena musical
por vontade própria, bem no auge da carreira (fim dos anos 1970). Talvez por
isso conhecemos tão pouco seu trabalho. Em “La
cove del silenzio” (uma canção de amor), o trecho que abre este texto.
Mina
no plural soa “Minas”... Minas Gerais, que embala desde a velha canção-segundo
hino mineiro “Oh, Minas Gerais, quem te conhece, não esquece jamais” ou a
ma-ra-vi-lho-sa canção de Fernando Brant, Marcio e Lô Borges que ganhou o mundo
na voz de Milton Nascimento, “Para Lennon e McCartney”... sou do mundo, sou
Minas Gerais...
E
Minas Gerais tem muita coisa, inclusive Minas...
E
uma delas fica... ficava em uma pequena cidade chamada Mariana.
Existem
muitas Mariana’s, que são de Minas Gerais ou não... Mas, Minas, terá uma a
menos.
Afinal,
Mina também é um termo objeto: mina de ouro, mina de prata... Mina de Ferro...
Como da Samarco (parceirona da Vale), em Mariana/MG.
A
Vale é cria da doada e extinta Companhia Vale do Rio Doce, no Governo FHC. Patrimônio
na época de mais de 90 bilhões de reais (ou dólares, não lembro... isso aqui
soa só como adjetivo), vendida a 3 bilhões. Com financiamento do BNDES, ou
seja, o governo emprestou dinheiro para o comprador comprar a Vale do Governo.
Tipo “venda sua bicicleta, mas empreste o dinheiro para o comprador compra-la”...
A
Samarco, responsável pela represa de minérios em Mariana/MG, tem ativos de
sociedade da Vale, que é a maior produtora de minério ferro do mundo. Já fechou
ano com lucro de 9 bilhões de reais (em 2012), mas, coitadinha, em 2014 amargou
um lucro de apenas 954 milhões de reais.
Era
pouco para evitar catástrofes... ops! Acidentes...
Mundo
afora, é preciso lembrar, minas matam pessoas e essas mortes não alteram seus
lucros: A Mineradora Britânica Lonmin em
Marikana/África do Sul matou 34 mineiros em 2012... a bala. Na Turquia, onde
também a mineração faz parte da economia do país, 13 mil (isso, 13 mil)
acidentes em 2013 e 301 mortos em 2014.
Assim
como lá, aqui, em terras brasileiras, a relação Estado e Mineradoras é de cumplicidade.
Aqui, como lá, não é o primeiro acidente... catástrofe...
...
Não
é a primeira vez que a cumplicidade entre Estado e Capital se manifesta em
mortes, em degradação ambiental, em destruição: Mineradora Rio Verde/São
Sebastião de Águas Claras (2001); Mineradora Rio Pomba Cataguases em Miraí e
Muriaé (2006); Herculano Mineração em Itabirito (2014) são tragédias que se
somam ao que acontecem em Mariana/MG, no último dia 5, e que tem como componentes
desta conta, os lucros desenfreados do capital estrangeiro e a cumplicidade do
Estado brasileiro e suas flexibilizações legais com o meio ambiente e a
exploração de minérios no país, verdadeira exploração.
Da
mídia? Aff... falar o que? Essa, no Brasil, não serve pra nada.
A
Mina de Mariana deu lucro para a Samarco e para a Vale...
A
Samarco e a Vale acabaram com a Mina de Mariana, com a vida de Mariana, com as
vidas em Mariana.
Faltam
pouco menos de dois meses para terminar o ano de 2015... Lá pelas bandas de
fevereiro do ano que vem, tentaremos nos lembrar de acompanhar os noticiários econômicos
para conferir os lucros das duas.
Essas
minas dão riquezas a poucos e exploram por demais a terra e suas pessoas.
Mas em
Mariana (voltando à canção da Mina italiana), um mar de lama, mas não em
silêncio, levou tudo... e continuará levando até chegar ao mar.
E
Minas Gerais não tem mar...
Em
nosso picadeiro de terra batida e lona furada, nossa solidariedade parece-nos
tão pouco, diante do que aconteceu, diante de tudo o que muitos já falaram (mais rápido de que este circo). Mas ainda achamos que fazemos mais do que aqueles que silenciam, inclusive pro cumplicidade...
Venham
Todos!
Venham
Todas!
PS.: Pra não esquecer... não é apenas o minério. Lembremos que em 6 de outubro, 5 mil bois estavam em naufrágio de um navio de bandeira libanesa, em Barcarena, município paraense. A trágica consequencia ambiental se traduz em poluição por combustível e carcaças em decomposição no município e região...
Um mar de lama, (em todos os sentidos) criado pela união promiscua entre Estado e Capital!
ResponderExcluirCaro amigo Roberto...
ExcluirSeria suficiente para desmascarar a sempre desmascarada relação entre Capital e Estado... Mas, sinto que ainda não será desta vez, haja vista o papel que Mídia, das próprias empresas e do Estado... Muito o que fazer ainda...
Vida Longa, caro amigo