“E as crianças, podendo ser, crescem”
(“levantado do Chão /
José Saramago)
Estávamos em dívida.
Afinal, o Tribunal Popular da Terra aconteceu no Bairro do Capão Redondo
(que ficou conhecido pela voz e obra de Ferréz), periferia paulistana, entre os
dias 20 e 22 de abril deste ano.
É verdade que os “grandes” meios de comunicação, inclusive para suas “brincadeiras”
jornalísticas de dar uma de oposição, ficaram calados. Afinal, tratava-se de
colocar no banco dos réus o Estado Brasileiro e sua atuação em defesa de seu
povo, principalmente o mais pobre, o mais trabalhador, o mais sofrido.
As acusações:
1. a farsa da “cidade modelo” sobre Curitiba e o despejo de 600 famílias
– para atender interesses privados (Grupo CR Almeida e a Prefeitura daquela
Cidade) e o assassinato de Celso Eidt, um morador daquela comunidade (conhecida
como Fazendinha), debaixo do nariz da PM – isso para não falarmos das fraudes
da COHAB-CT (Jardim Sabará/Curitiba), Jardim Itaqui na periferia de São José dos
Pinhais e os conflitos com a Mineradora Saara, a comunidade Olga Benário no
falido Projeto Novo Guarituba;
2. os Mega Projetos, sobretudo Belo Monte que, mesmo com 14 ações
judiciais nacionais e duas internacionais, continua avançando com as obras e a
degradação ambiental e expulsão dos povos daquela região;
3. Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, com seu avanço em obras e despejos
de milhares de famílias, em nome da mobilidade urbana (apenas para garantir
essa mobilidade entre a hospedagem – hotéis – e os locais dos eventos),
passando por cima de todo e qualquer organização inclusive prevista para esses
eventos, como os Conselhos das Cidades, os Conselhos de Gestores de Habitação e
o Conselho Nacional da Cidade, privilegiando apenas o boom de interesses
empresarias dos patrocinadores oficiais;
4. Pinheirinho/São José dos Campos, caso conhecido nacionalmente e que
já caiu no esquecimento da imprensa brasileira e da política nacional, mas que
foi conhecida pela ferocidade e violência da PM paulista (com 2 mil homens
armados até os dentes e, alguns, sem a identificação no uniforme – obrigatória,
para o direito do cidadão) para rever um terreno do falido Naji Nahas. Foram 72
duas horas de brutalidade contra 1500 famílias e suas casas;
5. Povos Guarani e Kaiowá, na região do Mato Grosso do Sul, onde o
Cacique Marco Verón foi torturado e morto em 2003 e seu neto, em 2011,
emboscado e alvejado na perna. A mesma coisa, ainda em 2011, aconteceu com o
Cacique Guaiviry, Nisio Gomes, morto e carregado com mais três crianças. Todos
os casos a mando de fazendeiros locais que não respeitam nem mesmo as áreas já
demarcadas;
6. Fazenda Cutrale (Iaras, interior paulista), conhecida após a ocupação
do MST em 2011 e a derrubada de 1% dos pés de laranja e a encenação de
equipamentos já quebrados nas oficinas da Fazenda como fruto da “invasão” do
Movimento. A empresa está envolvida em crimes contra o trabalho (inclusive com
deúncias de exploração de mão de obra – trabalho escravo), crimes ambientais e
contra a economia brasileira.
O Universal Circo Crítico não estava no Capão Redondo entre os dias 20 e
22 de abril. Gostaríamos de estar, de sermos presentes.
Mas, em nome de nosso público e nossos artistas, fazemos a singela,
humilde e esperançosa reflexão para a importância deste Tribunal... Popular...
da Terra.
Somos um lugar, um tempo, uma história em que sempre nos faremos
aprendizes dos lutadores do povo, porque é esse o lado da trincheira que
optamos. Dessa condição, apenas o orgulho de afirmar, sem meias palavras, de
que lado estamos.
Somos um lugar que, quando iniciamos, já afirmávamos: ele funciona como
uma caixinha de surpresas, magias, brincadeiras, equilibristas, animais e o
palhaço. Elementos imprescindíveis de um Circo e que tem, nas crianças (as reais
e as que estão dentro de nós) seus sujeitos mais importantes. Delas e para elas,
nossa reflexão.
Quando poderão brincar as crianças (invisíveis?) da Fazendinha? Quando
poderão desenhar magias e fantasias as crianças de Belo Monte? Quando brincarão
de correr e se esconder as crianças de todas as comunidades varridas pelos
projetos dos Megaeventos Esportivos? Quando experimentarão a fantástica
sensação de equilibrarem-se e fazerem-se voar as crianças de Pinheirinho?
Quando poderão brincar de subir árvores e nadar nos rios e igarapés as crianças
Guarani e Kaiowá? Quando nossas crianças terão frutas, todos os dias, para
refrescarem-se após suas inimagináveis brincadeiras de “ser criança”?
Se acharmos difícil responder essas perguntas, imaginemos o quão
grandioso será falarmos das crianças xiapas, palestinas, mulçumanas, indígenas,
africanas, quilombolas, campesinas mundo afora... e suas famílias... e suas
histórias...
Não estávamos no Tribunal... mas sempre estivemos...
Venham Todos!
Venham Todas!
Vida Longa!
Marcelo “Russo” Ferreira
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Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
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Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira