Este é um tema espinhoso.
Mesmo fazendo
parte deste universo no Ensino Superior brasileiro, falar de pesquisa,
inovação, desenvolvimento e pós-graduação vai muito mais além de se ter
dinheiro para pesquisa e vaga para pós-graduação.
No caso deste
picadeiro de terra batida e lona furada, ser ou não ser Doutor pouco importa,
ainda que a experiência de caminhar em direção a este título ser bem
interessante.
– Doutor! Tô cuma
dô aqui no cutubelo! Tem cura? (Palhaço).
– Esses não são
doutores, Strovézio... a não ser que façam um doutorado.
– Hum... ah!
Tá!... Tendi...
A verdade é que
após quase quatro meses de greve nas Universidades e Institutos Federais, além
de alguns Colégios de Aplicação, vivemos a contradição de muito (e muitos)
lutarmos por ela, por sua qualidade pública, laica, gratuita e ainda
enfrentarmos um obstáculo de comunicação profundo com a sociedade, de modo que
possa não apenas entende-la, mas também defendê-la.
Não é, claro, um
exercício fácil. Diríamos que é, até, hercúleo.
– Trabalho de
Hércules!
– Isso,
Strovézio...
– Olha ele aí!
(foto do
Hércules)...
– Não,
Strovézio... nosso cachorro não...
Pois bom...
Não se trata
apenas das aulas e, portanto, dos salários dos professores para dar aulas. É
uma pena que parte considerável de nossos estudantes (e não apenas eles),
aqueles que ainda chegam ao privilegiado espaço da Universidade Pública –
reconhecemos o crescimento nos últimos 12 anos, mas, ainda está aquém da
demanda – só a compreendam em função da sala-de-aula. E, assim, reduzem a
Universidade ao professor que fica na frente, escrevendo no quadro ou usando
power-point e o escambal.
Desconhecem,
muitas vezes, o quão é necessário estabelecer neste dia-a-dia a relação entre o
Ensino (o “dar aulas”, vamos assim dizer), a Extensão (que é aquela frente de
trabalho da Universidade com a comunidade) e a Pesquisa.
E é na Pesquisa
que vemos, principalmente, o que anunciamos: os cientistas batendo em
retirada... Claro, é uma expressão generalista, pois até mesmo aqui debaixo de
nossa lona furada muitos pesquisadores transitam.
Mas, há aqueles
que afirmam que a Universidade não pode parar, porque a pesquisa não pode
parar... Mesmo se a pesquisa estiver se arrastando.
Matéria do “O
Globo” (que, de longe, não é uma imprensa sempre confiável... mas para o que se
dispôs nesta matéria, atende nossas reflexões), de 10 de setembro, e que, nos
espaços zapzapianos da vida foi
acompanhada do seguinte comentário de um pesquisador: ”Vamos ver se conseguimos alguma coisa no exterior”. Segue o link
da matéria:
imagem da própria matéria... seja lá o que ela queira dizer... |
Daí, algumas coisas bem pontuais
podem ser apresentadas sobre o caso:
Primeiro:
É... como fazer a pesquisa entrar em greve? Mas,
como continuar a pesquisa se ela está sendo gangrenada? Se pensarmos a
pós-graduação – e, aqui, reflete um aluno em doutorado com prazo para voltar ao
seu trabalho – que diz respeito ao tempo investido na formação de mestres e
doutores, como continuar a seguir pesquisando, cumprindo prazos se, no frigir
dos ovos, as condições de funcionamento da mesma pós-graduação está sendo
sangrada?
Segundo:
Se temos programas qualificados e, também,
professores, mestres e doutores que investem seu tempo e disposição para
pesquisar em pró ao desenvolvimento da ciência, da pesquisa, do conhecimento
BRASILEIRO (sem bairrismo, apenas um desabafo), porque não priorizar justamente
a produção do conhecimento em nossas universidades públicas?
E, aqui, tem um detalhe interessante: as
Universidades Públicas são aquelas em que, verdadeiramente, o tempo e vontade
dedicados à produção e sistematização do conhecimento (ou seja, a pesquisa) tem
disposição permanente e, mais ainda, inclinada a formar mais e mais jovens.
Terceiro:
E aqui a coisa complica. Diz aí, Strovézio:
– Ô doutorzinho! Tu pesquisa pra que, moleque? Pra
quem? Quem queres favorecer DI-RE-TA-MEN-TE com suas pesquisas? E – ah!, essa é
notável – contra o que e contra quem queres pesquisar? Tu acha que “lá fora”
querem o que do nosso país?
... Querem o que de nossas reservas minerais?
... Querem o que de nossas florestas?
... Querem o que de nossos trabalhadores?
... Querem o que de nossas terras agricultáveis?
Sinceramente... quando vejo, escuto, leio ou o
escambal um professor falar que precisamos pesquisar para atender os interesses
de fora, dá mais do que um nó no estômago e uma dor no coração... bate a
indignação de saber que até quem tem acesso ao conhecimento, prefere vê-lo
vendido aos interesses privados.
... e talvez se contente com um dinheiro a mais no
orçamento doméstico... uma viagem ou mais ao exterior... “reconhecimento”...
E, mais uma vez, afirmamos: lutar pela nossa Universidade
é, também, lutar pelo fortalecimento de sua pesquisa. E uma pesquisa que
responda verdadeiramente as demandas da sociedade. Não que finja responder as
demandas da sociedade, preparando-a para responder aos interesses do capital...
Ah! É verdade... não é uma luta fácil... Ainda assim...
Venham Todos!
Venham Todas!
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