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“A Luta do homem contra o poder
é a luta
da memória contra o esquecimento”
(Milan
Kundera)
Reconheço...
para um comunista, é um pouco ousado iniciar algumas reflexões com alguns nomes
da história da humanidade que tem, digamos, “algumas divergências” de Projeto
Histórico de sociedade.
Mas
sempre gostei destas palavras do tcheco-franco Milan Kundera. Elas são
“vigilantes”, não deixam escapar que o poder precisa ser enfrentado e
derrotado, inclusive quando ele está “do lado de cá”. Mas que sem memória
(história), não se luta contra o que na história sempre quer nos destruir: a
síntese de se destruir a vida para tentar viver melhor. Perigosa aparência.
É de
Lenin a expressão “a verdade é sempre
revolucionária” e sempre dissemos aqui, direta ou indiretamente, que o
processo revolucionário se dá em movimento, não como “um dia deu-se a
revolução”. Não à toa, sempre escolhemos a ousadia, em nossos “Discursos de
Formatura”, de fazer o convite aos jovens que se formam a “tornarem-se
revolucionários”. Em movimento, escolhendo lado, o lado da verdade.
Afinal,
do contrário, seria como um convite ao reacionário (vale mentir, para se viver
melhor... isso não cola).
Mas,
voltando ao ensejo, nosso picadeiro de terra batida e lona furada de circo
(assim como durante os Jogos Olímpicos) passa acompanhar este período de “Jogos
Políticos” e que, ao que tudo indica, será selado com o impeachment da
Presidenta Dilma Rousself.
Li na
tal “Linha do Tempo” de Facebook de um conterrâneo pernambucano (na minha
opinião, um crítico a todos os que são corruptos, mas seletivo à presidente
afastada) a seguinte expressão:
“Vai começar a cirurgia para retirada do TUMOR
que quase acaba com o Brasil... Depois vem a quimioterapia para realmente
limpar o resto do câncer que se instalou no Congresso e no Senado”.
Em que
pese ser uma manifestação pública, em espaços de rede social, optaremos por
preservar a autoria.
Impossível,
à luz de um “brincante aprendiz de lutador do povo”, que não tem a eloquência e
poder de síntese de inúmeros blogueiros, cronistas, cientistas políticos e o
escambal, não pensar sobre o que esta manifestação expressa e, à bem da
verdade, se reproduz Brasil afora: a contradição de um processo que troca um
muito ruim (à classe trabalhadora, por sua aliança com o Capital) por um “mais
pior do que ruim” (porque a aliança com o Capital está no seu DNA). E da
maneira mais vil possível, o que entendemos ser um “mero” julgamento político
entre pares de um mesmo projeto de sociedade.
O que
mais vimos nos últimos meses que antecederam o afastamento da presidenta em
maio era uma insistente busca por extirpar toda e qualquer expressão de
corrupção do Estado Brasileiro. Os donos de empreiteiras, bancos e o escambal,
meros instrumentos para a punição de agentes públicos e políticos.
Mas sem
o capital privado, não tem como a corrupção acontecer de fato e nos montantes
denunciados por operações da Polícia Federal (alías, eram certa de 600
operações em 2015, algumas com valores – e personagens – mais vultuosos do que
a Lava Jato) e compartilhados pela nossa imprensa meia-pataca.
O
Impeachment iniciou-se com o mais larápio de todos, Eduardo Cunha (denunciado
antes de Dilma, e nem temos sobre de seu afastamento para breve...)
– Opa,
Russo... não dá pra ter certeza de que ele é o mais larápio (Strovézio)
– Como
assim, meu nome palhaço...
– Ainda
não inventaram o “larapiômetro”... não dá pra saber quem é mais, quem é o
primeiro, qual coletivo de larápios é mais larápio...larapiotéia?...
– É...
tens razão.
Pois
bom...
Seguiu-se
com a cena de 17 de abril deste ano, com a demonstração, um a um, do que já
sabíamos: nossa Câmara dos Deputados reúne, inconteste, o que temos de pior de
representantes deste país... E ao que tudo indica, algo que se reproduz nos
Legislativos Estaduais e nas Câmaras Municipais... que será “renovada” este
ano.
Daí, o
Senado ficou atento. Tinha que dar um ar de mais “sobriedade”... tamanho o
papelão (inclusive na imprensa internacional) da casa vizinha.
Depois
de longo tempo (e silêncio da imprensa), o presidente da Câmara é afastado...
Mas até hoje, quebra recordes de “empurração” do julgamento. Poderoso o cara?
Claro que sim... e arrastando com ele a “larápiotéia”.
Segue a
novela: o tal do “#AqueleQueNãoPodiaFalarONome” durante alguns dias dos Jogos
Olímpicos segue interinamente, mas com avanços nada interinos aos direitos da
Classe Trabalhadora, da destruição do Estado Brasileiro, à entrega das estratégicas
riquezas naturais de mão (mais) beijada ao capital estrangeiro, à destruição da
Universidade Pública e um catatau de violências do Capital sem precedentes...
FHC deve estar morrendo de inveja.
O Senado
faz um debate daqueles, chama testemunha de acusação e defesa, vai daqui e vai
dali e, de repente (não para este picadeiro) começa a ficar difícil a manutenção
da tal acusação de crime. É político, não é jurídico.
E não
nos esqueçamos. No senado, tem uma meia dúzia e mais alguma coisa de Senadores
que foram Ministros de Lula ou Dilma e estão, digamos, “magoados” com a Dilma.
Um levou “puxão de orelha” aqui, outro “não convidava ela pra viajar acolá” e
por aí vai... E, hoje, não tenhamos dúvida: eles votam por conta das mágoas...
É como
você ser chamado a testemunhar um crime cometido por uma pessoa que você não
gosta, não vai com a cara. Mas, à bem da verdade, você não é testemunha de
nada. Só quer ver essa pessoa se dando mal...
Mas não
tem problema: o Partido que perdeu as eleições em 2014, que contratou a tríade
que preparou o processo de impeachment e que preside o Senado que avalia o
processo que contratou segue em mares tranquilos.
E eis
que chegamos ao julgamento final...
Parece
que celebram os que acreditam que o Tumor será retirado. Mas é incrível como
acreditam que os cirurgiões que irão tirar este tumor serão, depois “tratados”
como quimioterapia.
Reparemos:
quem irá tirar o Tumor, segundo meu conterrâneo, são aqueles que ele acredita,
piamente, que serão “limpados” à base de quimioterapia.
– Mas,
se a alegoria fosse justa, a quimioterapia limpa o Câncer... Neste caso, o
Câncer que vai tirar o Tumor... Mas, então, o Tumor era OUTRO tipo de Câncer. O
Câncer a ser tratado com quimioterapia tira o Câncer que será apenas
“retirado”... Retira-se o Câncer do Tumor cancerígeno com o outro Câncer, mas
sem dizer qual “temer” ele tem de tumor...
– Cê
entendeu alguma coisa, Strovézio?
– Acho
que nem ele, Russo... nem ele.
Falamos
aqui, ainda nos tempos de abril, que a Teoria do Dominó (cai o primeiro, cai o
resto) não iria rolar... E não está rolando e nem vai rolar.
Até o
STF está começando (junto com o agora silêncio noticiador de nossa mídia
tupiniquim de meia patada) a jogar areia no fogaréu que a Lava Jato está
mantendo acesso. Pois, claro, chega a Justiça maior sua participação nas relações
entre Estado e Capital Privado.
Em
síntese: existe tanta informação (conhecimento seria mais justo), que a tática
da desinformação é mais eficiente, pois o que é mais importante é garantir os
ataques à Classe Trabalhadora que, como expressão máxima de resistência, tem,
de um lado, amealhado alguns Partidos, Movimentos Sociais e Sindicatos com
diferentes capacidades de mobilizar as ruas, mas sem força na política e, de
outro, com o limite das manifestações “#ForaTemer” durante os Jogos
Olímpicos...
Aliás,
acho até que Temer está adorando o fato de quase não terem sido vendido ingressos
para os Jogos Paraolímpicos e, também, a cobertura superficial que a mídia
esportiva e geral irá dar a este evento... Menos vaias, menos cartazes etc. e
tals.
Mas, o
que está mais certo ainda, são as palavras sóbrias e atentas de nosso grande
docente José Paulo Netto: “Quem erra na análise, erra na política. Acertar na
análise não quer dizer que você terá uma intervenção política exitosa... [...]
Mas quem erra na análise, erra na política”.
Não é
câncer, não há quimioterapia.
E ninguém sabe como "Fora temer" realmente poderá se dar.
Não é
apenas uma opinião... é a memória (por isso Kundera cai bem), mas é a história,
é a política (enquanto ciência), é a economia é a educação...
E é isso
que, parece-me, não temos hoje... nem no mais alto grau de representação.
... mas,
infelizmente, tem mais.
Venham
Todos!
Venham
Todas!
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Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
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Marcelo "Russo" Ferreira