“Elas estão dançando com os desaparecidos.
Elas
estão dançando com os mortos.
Elas dançam
com os invisíveis.
Elas
dançam com suas angústias silenciosas.
Elas
estão dançando com seus pais.
Elas
estão dançando com seus filhos.
Elas
estão dançando com seus maridos.
Elas
dançam sozinhas.
Dançam
sozinhas”
(They
Dance Alone/Cueca Solo – Sting)
Há, nas
histórias e tradições populares da América Latina, uma interessante e intensa
manifestação de memória aos desaparecidos políticos. Falo do Chile.
Neste pais
hermano, sabe-se que há um movimento de viúvas, noivas, irmãs, filhas que
perderam seus maridos, noivos, irmãos e pais na Ditadura de Pinochet. Naquele
movimento, elas dança a cueca, uma dança nacional chilena. Dizem que sua dança
nunca terminará até que se reúnam com seus companheiros novamente.
Nosso humilde
picadeiro de terra batida e lona furada presta sua singela (e limitada
poeticamente homenagem aos desaparecidos de toda América Latina e que os nomes
que aqui se seguem possa representa-los.
João’s
nunca mais deram notícias...
José’s
não voltaram pra casa...
Paulo’s,
Pedro’s, Luiz’s e Luis’s...
Maria’s,
onde estão...?
Era
Adriano, era Aluísio, era Andre...
Ana
Rosa, não se sabe...
Era Arildo,
era Armando, era Aylton...
E de
Áurea, também não se sabe...
Aonde?
Foi
Bergson, foi Caiuby, e foi Celso...
Cilon,
Ciro e Custódio também...
... e
não voltaram ainda...
Brutal
ausência, Cansativa espera...
Daniels,
David, Dênis e Dermeval...
Dinaelza,
Dinalva, Divido e Durvalino...
Doces
lembranças! Digam, onde estão!
E vocês
que o sabem!
Edgard,
Edmur, Eduardo...
Ou então
Elmo, Elson ou Henrique...
Ezequias
entre eles também...
Então,
então... onde estão?
Forte
dor de suas ausências...
Gilberto
e Guilherme, também...
Golpeados
e também ausentes...
Heleni,
Helenira, Hélio e Honestino...
Tantos quantos
igual a Hiram...
Sejam
Honestos, digam onde estão...
Idalício,
Ieda, Ísis não mais os vemos...
E também
Issami, Itair, Ivan...
Ignoramos
seus paradeiros.
E vocês
ignoram nossa dor.
Jaz no
silêncio não apenas Joãos e Josés...
Jaz
também Jaimes e Jana...
Joaquim,
Joaquinzão, Joels e Jorge... sem Santo...
Kleber,
solitário... até hoje, quem sabe?
Libertem
a ausência de esperança de Luíza e Lúcia...
O que
aconteceu com Manuel, Márcio, Marco e Marcos?
Mariano,
Márcio, Maurício e Miguel voltarão?
Por que
massacram nossos corações
com o
silêncio de seus destinos?
Nada, Nada,
Nada sabemos
de
Nelson, Nestor e Norberto...
Nada o
sabem também?
Onde,
onde, onde estão...
Onofre,
Orlandos e Onofre...
Rondo as
horas por Ramires, Rodolfo, Rosalino...
Rubens,
Ruy Carlos e Ruy Frazão...
Ruiu-se
a esperança de novos encontros...
Se
voltassem Sérgio, Stuart e Suely...
Silêncio
de vocês, Saudades sempre presente...
Talvez saibam
de Telma, Thomaz e Tobias...
Tombaram
de pé na frente de vossas covardias?
Usurparam
de nossa convivência Uirassu, Umberto e Wilson...
Vitoriosos
em sua história que eram
Vandique,
Virgílio e Vitorino...
Wlakiria,
Walter Ribeiro e Novaes...
Valeram-se
de vossas pseudo-valentias para também silenciarem-nos...
Não
desapareceram apenas aqui...
Não
desapareceram apenas vários brasis...
Hay
desaparecidos en Chile...
Hay
desaparecidos en Argentina...
Hay
desaparecidos en Bolívia...
E hay
muchos de danzam solos...
Hoje, 30
de agosto, a memória continua a ser celebrada para que nunca mais tenhamos que
testemunhar o que celebram os algozes da Ditadura e seus herdeiros.
Celebro
com todos/as os que também dançam só... comem só... bebem só... sentam só... Celebro com todos aqueles/as que também conheci estes ano, com suas histórias e suas lições.
Encontro dos Familiares de pessoas desaparecidas - Caso Vala de Perus Promovido pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha - abril de 2016 |
Venham
Todos!
Venham
Todas!
PS-1: As imagens foram presentes do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em celebração ao Encontro dos Familiares de Pessoas Desaparecidas, em abril de 2016.
PS-2.: “Vocês”
está sempre indicando o Estado, seus instrumentos, seus arquivos, seu silêncio. "Vocês", aqui, representa a "Covardia escondida atrás de armas"...
Emocionante! Um Grito poético.
ResponderExcluirSalve, Salve, "Lazer em Belém"... gratíssimos pela visita e pelas palavras... Sinta-se sempre a vontade e bem vindo ao nosso picadeiro de terra batida e lona furada...
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