“Quem me
dera ao menos uma vez
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes.
[...]
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacada por ser inocente...”
(Índios
– Legião Urbana)
Que espetáculo é esse?
Que faz com que 1:32 minuto de violência seja “assistida”
por pessoas amedrontadas (amedrontadas?) que não conseguem mover-se um
centímetro contra ela?
Que faz com que uma “renomada” instituição de
transportes públicos (fonte de recursos) e privados (nós pagamos), com sua
sempre presente segurança a atacar e expulsar vendedores ambulantes e
estudantes que protestam por educação e transporte público com rapidez e
brutalidade, não tenha chegado a tempo de impedir e prender dois homens...
fortes... brancos... bem vestidos... bem alimentados... bem “adereçados” com
seus socos ingleses à mão... e bem “protegidos”, agora, por advogados que
querem transforma-los em vítimas.
Foram 1 minuto e 32 segundos de cenas duras...
e contei quase trinta pessoas (sem compor com os que estavam na bilheteria...
Mas, era trinta pessoas assistindo... apenas
uma, aparentemente, se manifestando em ajuda ao vendedor Paulo Ruas, e também
sendo ameaçado.
Trinta pessoas vendo uma pessoa sendo espancada
até a morte por duas pessoas....
O que as fazem ficar paralisadas?
Por que ficamos paralisados?
Por que é tão difícil uma pessoa, uma só pessoa
pegar duas, três, quatro pelo braço e dizer “Vamos
ajudar aquele senhor!”, “Vamos
salva-lo daquela selvageria!”, “Vamos
salvar uma vida!”...
Claro que tenho “respostas” e claro que também
não entendo minhas “perguntas”... ou as entendo, enfim...
Quantas vezes já escutamos, e em tantas
situações, quase todas sobre violência: “Não
se mete, não tens naca a ver com isso!”, “Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher!”, “Vais arrumar encrenca pra ti, deixa isso
pra lá”...?
Lembrei-me de uma cena de um filme que,
infelizmente, não recordo o nome.
Era um filme sobre o Nazismo, e nesta cena um
judeu prisioneiro em um campo de concentração é amarrado suspenso em um poste.
Fazia muito frio e dois, apenas DOIS soldados alemães (divertindo-se) jogavam
água fria neste prisioneiro, congelando-o.
E 50 judeus, também prisioneiros, assistindo,
imobilizados... Era uma ficção, mas talvez era a expressão de relatos reais
sobre o holocausto.
Mas, ainda que como filme, como assim, 50
homens não conseguem insurgir-se contra dois oficiais que torturam até a morte
um judeu? Um dos seus.
Como assim, 30 cidadãos (alguns passando com
cara de “Nossa! Nem percebi!, Estava tão distraído...”) não conseguem
insurgir-se contra dois, DOIS brutamontes que violentam até a morte um senhor
jogado, por eles, no chão?
Pouco importam as rações destes idiotas... ou o
advogado que quer transforma-los em vítimas.
Mais importa a pergunta: por que não conseguimos
enfrentar a violência?
Paulo Ruas era indígena (até onde entendemos)
morando na capital paulista... Morreu por defender gays. Assim como gays morrem
por defender fracos, negros morrem por ser pobres, indígenas morrem por serem
os reais donos desta terra, mulheres morrem por existirem homens que às querem
inferiores... trabalhadores e trabalhadoras morrem por vender a única coisa que
possuem: sua força de trabalho.
Paulo Ruas vendia a sua com uma barraquinha de
bombons.
À Paulo Ruas, nossa singela homenagem, de um
pequeno picadeiro de terra batida e lona furada de circo... uma homenagem com
ares de vergonha humana.
Convite estranho, deste nosso picadeiro, vez em
quando...
Venham Todos!
Venham Todas!
Não fiquemos mais a assistir...
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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira