“Dormi sozinha e acordei cantando a nossa canção/
Canção que só escutei num sonho que eu não lembrei/
Mas juro, havia paixão.”
(Breve Canção de Amor - Zélia Duncan)
Salve,
Salve, nossa Pequena Bella Liah.
Em nossa
última Conversa ao Pé de Ouvido de 2016, o Universal Circo Crítico te saúda e
te celebra.
Chegas
com o nome de Bella Liah, que significa...
– Opa!
Calma, Calma, Russo... péra um cadin (Strovézio).
– Mas me
diga, meu nobre palhaço... qual o problema.
– É que
a gente sempre se aventura nesta de explicar aos pequenos e pequenas que chegam
sobre a origem de seus nomes, possíveis significados e tals... Mas, com a Bella,
deixemos a própria Karina, a mãe dela, fazer isso... que tu achas?
– Sempre
inovamos aqui, Strovézio...
–
Karina... quer ter a honra? (Strovézio)
– Muito
grata... Vem de Isabella. Mas o nome é Bella Liah, Bella (do italiano, Isabela,
que significa “consagrada a Deus”. E Liah é o hebraico Leah. Foi a primeira
esposa de Jacõ e significa olhos doces...
Pequenos
Olhos Doces consagrados a Deus...
É... que
bela homenagem logo na chegada.
E
chegas, tipo chegando, né, Pequena Bella Liah? Já tô vendo tu dando seus saltos
em piscinas mundo afora. Afinal, que ideia (e coragem) genial de seus pais em
proporcionarem seu nascimento NA ÁGUA!!!!!! É quase que uma narração de saída
de “tiro de 100 metros”
–
Atenção! Prepara! Em suas Marcas! (O Apresentador!)
TCHIBUMMMMMM!!!!!!
– E lá
vai Bella Liah em suas primeiras braçadas!
Mas é
assim que faremos essa nossa conversa ao pé de ouvido, de um picadeiro de terra
batida e lona furada de circo... até debaixo d’água.
Chegas
em 28 de outubro, Pequena Bella. E, claro, passeamos um pouco, mas bem
pouquinho mesmo, na história desta humanidade que te recebe, para –
inxiridamente – deixarmos algumas humildes lições e homenagens. E sempre
encontramos fatos bacanas e pessoas arretadas para este papo da gente.
Particularmente,
achamos muito legal nasceres no dia em que a primeira animação (desenho animado
mesmo) foi tornada. Isso mesmo! Foi em 28 de outubro de 1892 que Émile Reanaud
exibiu o primeiro desenho animado e a gente foi atrás desta obra prima.
É
interessante quando comparamos esta revolucionária exibição de mais de 120 anos
atrás com os desenhos de hoje e percebemos o quanto que as coisas evoluem...
até mesmo no desenho.
Pequena
Bella Liah, chegas em tempos estranhos, sabe? Muita coisa pra tentar entender
mas, principalmente, um tempo em que o homem se aprimora cada vez mais para sua
extinção do que para sua vida. Se é verdade que 120 anos de história dos
desenhos animados nos deram, hoje, desenhos super legais para assistir, o mesmo
não podemos dizer com outros temas, com outras “necessidades” humanas. É tanta
energia para o caminho errado...
Daí,
nossa primeira lição está posta: comece desenhando, visse? E peça o quanto
antes uma boa quantidade de folhas de papel...
– FOLHAS
DE PAPEL??????? Na-na-ni-na-não!!!! (Strovézio).
– Oxi,
por que não Strovézio?
– Eu, se
fosse a Bella, pedia logo um par de parede! É bem mais legal...
–
Eita...
Bom, já
que falamos de desenho animado, arte, criatividade humana e tals, vamos falar
de uma pessoa, que nem nasceu e nem partiu em um 28 de outubro mas que tem,
nesta data, um fato marcante em sua vida.
Falamos
de Raquel de Queiroz, escritora brasileira de obras maravilhosas. De repente
seus pais até gostem muito dela e nem sabemos.
Mas a
história dela demonstra como que a nossa história, a história do povo
brasileiro, é realmente repleta de estranhamentos sobre a liberdade de
expressão e, também, sobre a frágil democracia brasileira. Neste dia, lá por
volta de 1937, ela oi presa no Ceará, acusada de ser comunista...
Quando
ficares mais velha, mais grande, sabendo mais das coisas, irás saber, também,
que nasce em um tempo em que ser comunista, defender os ideais do comunismo é
quase que um grande perigo de vida.
Mas o
interessante da vida de Raquel é que mesmo com este “currículo” e suas ideias
progressistas da época, em 1964, apoiou o golpe civil-militar e, depois,
“desapoiou”...
– Eita,
Russo... muita confusão para a cabecinha da Belle Liah (Strovézio).
– Pois
é, meu nobre palhaço... pra você ver como que 28 de outubro traz tanta coisa,
mas tanta coisa (mesmo em poucas coisas que trazemos aqui), que a gente até
fica meio... meio... hããã...
–
Debaixo d’água! (O mergulhador dos mares da vida planetária, um dos nossos
artistas)...
–
Isso...
Pois
bom.
Ainda
tem coisas deste outro fato de Raquel (o ano de 1964, em particular), mas,
dela, deixamos algumas ideias de leituras que, acreditamos, irão fazer suas
ideias, seus sonhos, suas viagens seguirem longe. E se tiveres as paredes para
pintar então...
Que
possas, em seus primeiros anos de vida, curtir as obras infantis de Raquel de
Queiroz: O Menino Mágico, Cafute e a Pena-de-Prata e Andira... Literatura e
desenhos: que combinação perfeita, Bella Liah.
Uma das
histórias (e lições controversas) que este 28 de outubro também nos deixa,
Pequena Bella Liah, diz respeito a um dos países mais poderosos do mundo (e que
deu uma mãozinha danada no Golpe de 1964): os Estados Unidos da América – vulgo
USA. Este país é capaz de criar guerras (e não controla-las) para criar mercados
e fazer isso em nome da Liberdade...
E é por
falar em “liberdade” que lembro, aqui, que foi em 28 de outubro de 1886 que a
mui conhecida Estátua da Liberdade (que na literatura também é denominada de “A
Liberdade iluminando o mundo”) foi inaugurada em Nova York, palco dos
auto-atentados de 11 de setembro de 2001.
No pé
desta enooooooorme estátua, tem o seguinte poema, escrito por Emma Lazarus:
“Não como o gigante bronzeado de grega fama,
Com
pernas abertas e conquistadoras a abarcar a terra
Aqui nos
nossos portões banhados pelo mar e dourados pelo sol,
Se
erguerá uma mulher poderosa, com uma tocha cuja chama
É o
relâmpago aprisionado e seu nome
Mãe dos
Exílios.
Do farol
de sua mão brilha um acolhedor braço universal;
Os seus
suaves olhos comandam o porto unido
Por
pontes que enquadram cidades gêmeas.
‘Mantenham antigas terras sua pompa
histórica!’
Grita
ela com lábios silenciosos
‘Dai-me
os seus fatigados, os seus pobres,
As suas
massas encurraladas ansiosas por respirar liberdade
O
miserável refugo das suas costas apinhadas.
Mandai-me os sem abrigo, os arremessados pelas
tempestades,
Pois eu
ergo o meu farol junto ao portal dourado”.
Sim, um
pelo poema, a falar de uma Liberdade que acolhe os fatigados e os pobres.
Sei não,
Pequena Bella Liah.
À esta
altura de nossa inxirida conversa o pé de ouvido, seus pais (e, talvez mais sua
mãe, que foi aluna deste brincante aprendiz de lutador do povo) devem estar
pensando: “que viagem este Marcelo!”...
Mas,
Liberdade é palavra séria, palavra que expressa a luta do oprimido contra seu
opressor. Liberdade é uma ideia que se estabelece no forjar da vida.
E esta
Liberdade, palavra construída pela história da humanidade e tão maltratada
pelos homens é, possivelmente, um de seus grandes desafios em sua vida. E, para
tanto, deixamos aqui uma canção que, à bem da verdade, não tem muito a ver com
o 28 de outubro... mas muito a ver com a Liberdade. E de um cantor que já não
está mais entre nós, mas que este Circo sempre curtiu muito...
E já que
falamos de música, é sobre ela – e este picadeiro não vive sem uma boa conversa
ao pé de ouvido sem falar de música – que vamos comentar um cadin.
Sua mãe
é professora e, neste ano – difícil – celebramos o Dia dos Professores com um
passeio na história cinematográfica deste tema. Um filme de nossas infâncias
(talvez mais deste que vos fala do que de sua mãe), um clássico chamado “Ao
mestre com carinho”...
Numa das
cenas, mais perto do final, um baile, com estudantes e o professor
(interpretado por Sidney Poitier). E, nesta cena, uma banda tocando “It’s
getting harder all the time”, algo como “Está ficando mais difícil o tempo
todo”...
A banda
era The Mindbenders, do cantor Wayne Fontana, que nasceu em um 28 de outubro.
Tem um
que de “especial” poder falar desta cena, porque, à bem da verdade, foi também
sua mãe junto com suas amigas da Turma de Letras, lá pelas bandas de 2001, que
me chamou nos corredores da UFPA (onde ela estudava) para um convite
surpreendente, cativante e emocionante: ser homenageado como paraninfo da
Turma.
Portanto,
pequena Bella Liah, sempre reconheça aqueles que estarão em sua vida, lhe
ensinando na concordância ou no conflito. Sempre entendi que ensino mais no
conflito... não sei porquê. Mas, como a ideia é ler sempre e desenhar tudo, acho,
sinceramente, que irás também caminhar pelo fantástico caminho das muitas
ideias a se pensar e muitas coisas a se fazer.
Ah!
E também
a super Zélia Duncan é de 28 de outubro... Reconhecemos que pouco sabemos do
trabalho dela, mas uma canção (quando começamos a organizar nosso papo contigo)
nos veio a mente... aquela história de “lembro ter escutado” e, violá, lembramos de “Breve Canção de
Sonho”... Uma canção de amor, mas, para nós, também uma canção ao pé de ouvido.
E é
claro que seus pais são apaixonados por ti, Pequena Bella Liah.
Chegamos,
por fim, ao que mais toca o coração revolucionário, e sempre aprendiz de
Lutador do Povo, deste picadeiro de terra batida e lona furada de circo, nossa
Pequena Bella Liah.
Em 28 de
outubro de 1959, o primeiro ano da Revolução Cubana – resistente e histórica
Revolução Cubana – havia tombado, em um acidente aéreo, o grande revolucionário
Camilo Cienfuegos.
Bravo
revolucionário Cubano, do povo cubano, e de coragem a alegria indescritível
(mesmo nas várias obras que o descreveram) durante todo o processo de luta
naqueles anos que findavam a década de 50, naquela pequena ilha do caribe.
Não me atreverei
a muitas histórias sobre o que entendemos desta particular, magnífica e
contraditória história de Cuba. Mas, me atreverei uma pequena lição sobre o que
aprendi desta história e do que ela significa na pessoa de Camilo: lutar ao
lado daqueles que precisam lutar. Lutar pela vida de todos, contra aqueles que
a quer apenas para seu bem pessoal e particular. Lutar pela solidariedade, pela
liberdade, pela classe trabalhadora... Uma Liberdade verdadeira, que não cabe
numa estátua.
Dizia
Camilo: “No, no quiero ser outro cordero” (Não, não quero ser outro cordeiro),
afirmando sua firme convicção de que não está aqui para servir a quem o explora
e explora seu povo. Podemos (e o fazemos) servir por nossa função pública, por
nossa solidariedade, por nossa humanidade... Do contrário, não.
Parecem
palavras estranhas, para quem está acabando de chegar neste mundo de tantas
confusões e, também, de tanta esperança. Acho até que estamos muito embebidos
destas lutas e esperanças todas.
Mas,
para este humilde picadeiro de terra batida e lona furada de circo, poder
conversar ao seu pé de ouvido, saudá-la e homenageá-la sem sua chegada, neste
dia, com esta história, e com o amor revolucionário que tentamos, todos os
dias, cultivar em nossos corações e nos corações dos que estão à nossa volta...
bom... Somos nós quem agradecemos sua chegada.
Por isso
a saudamos, Pequena Bella Liah.
Vida
Longa, Vida Sempre Longa, Bella Liah!
Venham
Todos!
Venham
Todas!
Professor, Marcelo. Como vai?
ResponderExcluirFiquei feliz em saber que a chegada da Bella tenha ajudado a refletir algumas coisas desse mundo.
Dentre os inúmeros desafios que teremos com ela, creio que um dos maiores será ajudá-la a se tornar sujeito, humana, sensível nesse mundo louco. A Bella chegou em um momento que podemos chamar de furacão! Quantas transformações, quanta desigualdade, quanta injustiça, quanta intolerância... são tantos quantos que as vezes me falta esperança, confesso.
Mas resistiremos, lutaremos...
De coração, espero que ela contemple um mundo melhor, mais justo...
Olhe, nos sentimos honrados com a homenagem para nossa Bella.
Bella manda um abraço no tio Marcelo.
E eu lhe dou um outro abraço saudoso.
Prezadíssima Karina.
ExcluirSaudações deste nosso picadeiro.
Ficamos também honrados com sua palavras e felizes por receber este pequeno circo em sua casa, em seu aconchego e nos braços de nossa Pequena Bella Liah...
Mas é também por Bella Liah, e por milhares e milhares de Bella Liah no país, na América Latina e Central, no Continente africano e Oriente e em tantos lugares longinquos em que o grande capital insiste em destruir seu futuro...
Que Bella Liah chegue para ser o Furacão de uma transformação necessária.
Vida Longa!