desenho retirado de www3.fe.usp.br |
“A Educação
Física cuida do corpo...
... e mente”
(João
Paulo Medina).
De início, destacamos...
A
passagem acima, título de livro lançado em 1983, pelo professor João Paulo
Medina, fez parte de um importante momento da Educação Física, no sentido de a colocar
em xeque sobre sua razão de ser na Escola e, também, na Formação Superior.
Destes tempos (inclusive antes), muita coisa boa e ruim foi construída. Mas,
inquestionavelmente, fez da Educação Física uma área de profundas raízes
teóricas e metodológicas, de amplo debate em diferentes campos de conhecimento e
que estão em disputa até hoje.
Não
compartilhamos dos princípios filosóficos de Medina, mas reconhecemos seu papel
pioneiro para a área.
Mas
vamos ao ponto...
Tão logo
anunciou-se a publicização (com posterior “recuo do recuo”) da MP do Ensino
Médio, parecia que voltávamos no tempo: as áreas da Filosofia, Sociologia, Artes
e Educação Física logo foram colocadas em xeque... quase xeque-mate.
No
particular da Educação Física, as entidades institucionais rapidamente se
manifestaram... do pior ao que temos de melhor.
Para
entender esta reflexão, retomemos a matéria sobre a Educação Física que
veiculou na imprensa televisiva.
No JN veiculado
após a assinatura e publicação da MP, a primeira expressão de “critica” à
mesma, destacando justamente a Educação Física. Aliás, matérias repetidas em
outras edições do jornalismo global.
Destaque: aos 2:12 minutos do vídeo – o assunto “Educação Física já tinha caducado na matéria... em incríveis 2 minutos – quem defende integralmente a MP é um representante de uma Fundação do UNIBANCO... Sacou?
É claro
que, ao assistir a matéria, a angústia nos tomou conta. Porque ao invés de mais
do que justificar, explicar porque a Educação Física ser uma disciplina
imprescindível no Ensino Médio, abriu precedente para justamente deixa-la em
segundo plano... como disciplina. Afinal, as cenas apresentadas mais reforçam a
pergunta “por que Educação Física?” do que a esclarecem... venhamos e convenhamos.
Mas,
vamos às entidades...
O
Conselho Federal de Educação Física já havia lançado uma “nota de repúdio”
sobre a tal MP do Ensino Médio. Desta nota, destacamos:
“O CONFEF considera um contrassenso que no
momento em que inúmeras pesquisas apontam o crescimento da obesidade e do
sedentarismo infanto-juvenil, e sabendo que a atividade física é a medida mais
eficaz para evitar esse mal, o Governo Federal proponha a retirada da Educação
Física do Ensino Médio. Sobretudo por se tratar do país que acabou de
atravessar a década de megaeventos esportivos, sediando recentemente os Jogos
Olímpicos e Paralímpicos, onde ficou clara a importância da atividade física na
manutenção da saúde e da formação cidadã”.
Ou seja,
um catatau de nada, vinculando “lé com cré” e ares de “pesquisas”.
– Pelo
menos não disseram “pesquisas científicas”... (Strovézio).
– A
incompetência de alguns setores se demonstra pela capacidade de investigação,
Strovézio... neste caso, tá tudo “serto”.
Primeiro
tiro no pé:
O CONFEF
já se aproxima da “maioridade”... está perto de seus 18 anos de existência. E
neste tempo, esta temática de “atividade física para combater o sedentarismo e
a obesidade” sempre se fez presente. Inclusive na Escola.
Precisaria
explicar porque os níveis de sedentarismo e obesidade continuam crescendo,
mesmo a Educação Física sendo obrigatória... até a assinatura da tal MP pelo
governo capacho de marionete temer.
Segundo
tiro no pé:
Justificar
a Educação Física na Escola (e no Ensino Médio) pelo fato de termos sediados
Megaeventos Esportivos é o ápice da aparência, pois dá a entender que (i) é na
escola que os atletas de ponta se formam (e não é) e (ii) que a Educação Física
se justifica apenas pela “prática esportiva”. Assim, abre precedente para a
opção (da escola ou dos alunos, como defende a MP) de querer ou não praticar
esporte (qual modalidade for, mas sabemos que se limita às suas expressões de “os
quatro fantásticos”: handebol, futebol, voleibol e basquetebol) e, pior ainda,
coloca a nossa disciplina vinculada a eventos.
– Como
diria Eduardo Galeano, “evento, é vento”... (Strovézio).
– Bem
isso, Strovézio...
Terceiro
tiro no pé:
Formação
Cidadã (em que pese um debate de fundo necessário, mas dispensamos por hora) é
importante e tals. Não seríamos contra a formação cidadã. Mas qualquer docente,
e nem muito “safo”, vai dizer “ah! Por isso não... a formação cidadã é tarefa
de toda a escola”.
E, cá
pra nós (sem defender a obra, claro), a MP vai defender uma “formação cidadã”
que, afora o fato de ter mexido com a Educação Física, é a mesma que o próprio
CONFEF defende: a formação cidadã para o mercado de trabalho. É pouco para quem
quer uma verdadeira formação emancipatória humana.
Isso
tudo, para não termos que mencionar que o CONFEF sequer se posiciona sobre os
acontecimentos políticos recentes no país. Perdeu uma boa oportunidade.
Ainda bem
que temos gente séria:
O Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte
(CBCE) destaca, em determinado momento, de nota pública:
“[...] No caso da Educação Física, essa medida (a
MP) negará aos estudantes a oportunidade de apropriarem-se daqueles saberes que
proporcionam a leitura, compreensão e produção das práticas corporais, entendidas
como formas de expressão dos grupos sociais. Isso significa a impossibilidade
de conhecer, desfrutar e transformar uma parcela do repertório cultural
disponível”
Já a Nota
da LEPEL/UFPA sobre a MP destaca, dentre outros:
“A MP que reestrutura o ensino médio é um
ataque covarde que rebaixa o ensino médio com a redução e flexibilização de
carga horária e de conteúdos, um retrocesso ao pensamento crítico e a carreira
docente com superespecialização precoce e a contratação de professores sem
formação adequada, através do discurso do notório saber, negando a formação no
ensino superior pra desenvolver mão-de-obra cada vez mais barata”.
E a Nota da Executiva dos Estudantes de
Educação Física (ExNEEF), portanto, futuros professores em formação:
“Desde os tempos da ditadura militar não se
viam retrocessos tão grandes quanto aos que estamos sofrendo neste momento.
[...]”
E comenta,
também, quando destaca que a partir dos anos 1980, a Educação Física:
“[...] se ressignifica e traz debates
importantes que apontam para que o corpo também é político, e que se comunica
através da linguagem corporal nas diferentes culturas e momentos históricos
(através de práticas corporais como a Capoeira, as lutas, as danças, a
ginástica, os jogos, as brincadeiras, os esportes, as atividades circenses etc.),
e que neste sentido, a mesma deve ser crítica e contribuir na formação dos
diferentes sujeitos do processo educacional. [...] A Educação Física na escola
cumpre seu papel pedagógico e não deve ser função da escola a formação de
atletas como foi prática de outros períodos históricos”.
É
importante destacar: há diferenças (talvez algumas divergências) entre as três
últimas entidades aqui postas (CBCE, LEPEL/UFPA e ExNEEF). Mas reconhecemos que
o tom e o conteúdo destas, de longe, são infinitamente mais consistentes que a
do CONFEF.
Aliás,
as três notas, diferente da corporativista (e superficial) nota desta entidade
mafiosa, não fica limitada à Educação Física. Faz a leitura do todo, preocupadas,
também, com a retirada da Filosofia, Sociologia e Artes do Ensino Médio.
Evidentemente,
muito há ainda o que se fazer não só pela Educação Física, nosso chão particular
de atuação profissional. Mas as notas em destaque deixam claro, ao nosso
pequeno público, que muito já fizemos.
Porém,
as surpresas (neste debate, em particular) parece vir de “lugares” estranhos...
ainda que não nos deixemos enganar, eis que solta a língua o Fausto Silva:
Pois
bom...
À contar
com essa nossa imprensa medíocre (principalmente a imprensa esportiva),
acostumada a golpes e “maquiagens”, sempre caminhando pelo “superficial” do
conhecimento historicamente produzido e sistematizado pela humanidade, não nos
surpreende que em pleno domingo, em um programa de auditório – que, há muito,
não temos estômago para assistir (e, reconhecemos, até perdemos uma coisa
bacana aqui, outra ali) – seu “âncora” largue o verbo...
Este
picadeiro de terra batida e lona furada de circo não se ilude. Basta registrar
que na manhã seguinte (Bom Dia Brasil) nada sobre este comentário e, novamente,
matérias elogiando a tal MP.... E que o temer capacho de marionete do capital até fez questão de ligar para o apresentador, para "esclarecer" a MP... Aguardemos o próximo "Domingão"...
Mero
balão de ensaio?
O gato
do temer subiu no telhado?
Vem
coisa por aí... Muita coisa...
Venham
Todos!
Venham
Todas!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira