“Seu
garçom, faça o favor de me trazer depressa /
Uma boa média que não seja requentada /
Um pão bem quente com manteiga à beça /
Um guardanapo e um copo d’água bem gelada”
(Conversa de Botequim – Noel Rosa)
Quando
era mais jovem, nos tempos ainda paulistanos, da sair de casa de madrugada e só
retornar bom no final da noite pra casa, uma dinâmica que a gente ia aprendendo
era parar na Padaria (perto do trabalho) e pedir uma “média com pão na chapa”.
Era um
café simples, que praticamente “enganava” a lida da manhã toda até a hora do
almoço. Naqueles tempos, um bandejão no restaurante da Mercedes Benz.
A “média”
era um café com leite, meio a meio. O pão na chapa sempre era o do tipo “pão
francês”... o “pão careca” das nossas bandas paraenses. Manteiga suficiente
para “melar” e pronto.
Pois
bom...
Quando
vi, como o país inteiro viu, o lançamento da proposta de Reforma do Ensino
Médio do governozinho de meia pataca temer e o seu lançamento – com “recuo do
recuo” – a “toque de caixa”, de cara, duas coisas ficaram inquestionavelmente seladas:
1. É
realmente um governo que está feliz em ser capacho de marionete dos interesses
privados dos mais inumeráveis setores da economia atual;
2. Não
sabem patavina do que fazem, o que quer dizer que se contentam com o status
(mesmo que vergonhoso na forma) de presidente e ministros e o salário que
ganham para fazerem o que os outros mandam (outros, vide “coisa 1”).
Não me
restam dúvidas de que eles apenas são ridículos, mas perigosos, porta-vozes do
que não elaboram. Nada me tira da cabeça que o tal mendoncinha sequer sabe o
que foi proposto... Isso, claro, está a cargo de suas Secretarias, em
particular a de Educação Básica e, claro, da Secretaria Executiva.
Mas,
como dissemos, os debates em torno de mais um desatino do governo federal foram
intensos desde então (quinta-feira, 22 de setembro) e, a este picadeiro de
terra batida e lona furada, talvez caiba apenas um mero depoimento do como
acompanhamos isso. Gente e entidades mais sérias (ou não) do que este blog já o
fizeram isso.
Claro,
sempre coisas impressionantes no seu desenvolvimento.
O papel
da mídia é um exemplo. Vez em quando não sei diferenciar o quanto ela é omissa,
e o quanto ela é protagonista. Talvez uma coisa meio “protagomissa”???
Mas
foram realmente impressionantes as matérias que se seguiram até o “grand finale”
(e depois) da assinatura da MP do Ensino Médio: estávamos testemunhando uma “verdadeira
revolução” na Educação Básica.
E, pra
fechar, hoje, 26 de setembro, não satisfeita, a Globo (em seu jornal matutino)
ainda coloca a Miriam Leitão para reforçar o seu apoio a esta reforma com algo
parecido com “professores podem trabalhar menos que outras profissões” e,
portanto, “precisam trabalhar mais”, com um falssiê
grosseiro de “o professor vai ficando cada vez mais sábio, com mais
conhecimentos, precisa ser aproveitado”.
Aff...
nem hipocrisia mais é.
Aliás, para
não dizerem que as matérias só tinham manifestações do Governo, colocaram a
sociedade civil representada apenas pelo tal “Todos pela educação”...
... e
seus quatro BANCOS como parte do “quem somos”. Não esquecendo, também, da
influência dos organismos internacionais, como o Banco Mundial, que exerce
inquestionável influência sobre o Governo.
– Hey,
Russo... e tem a DPASCHOAL... é necessário né? (Strovézio).
– Como
assim, Strovézio?
– Ora...
pneus de prêma. Pra avançar “a toque de caixa” uma proposta desta, pneus
bons... velocidade estonteante...
– Apesar
de horrorível, Strovézio, é uma piada com sentido... Deixemos ao nosso público
a avaliação.
– Melhor
que deixar para o governo, né? (Strovézio)...
Num país
em que são várias e importantes as instituições que pesquisam a Educação
(ANPED, SBPC, vários grupos de pesquisa espalhados pelas Universidades públicas
brasileiras como nossa inestimável LEPEL/UFPA,
pesquisadores de inquestionável acúmulo e notoriedade etc.), foi realmente dois
desserviços: da Mídia (de omitir que o Brasil tem de pesquisadores sérios) e do
Governo (que, como já dissemos, não passa de capacho de marionete dos
interesses privados).
Sobre a
proposta de reformulação e as matérias jornalísticas:
... nenhuma
manifestação acerca da precariedade das escolas públicas neste país.
...
nenhuma menção sobre o sofrido trabalho dos docentes da Educação Básica pública
(com salários baixos, intensas horas de trabalho, distantes locais para dar
aula, salas superlotadas e uma lista de outras tensões).
...
nenhuma crítica assumida ou reconhecida.
Uma
proposta sem diálogo com nenhum setor (a não ser os que estão usufruindo das consequências
do golpe recente).
Uma
proposta que acompanha a PEC 241 (congelando, por 20 anos, gastos sociais e,
claro, com a Educação).
Uma
proposta que não explica como fica, por exemplo, as classes multisseriadas ou o
estudo noturno (aquele, em que o estudante trabalha – ou procura emprego – o dia
todo, também em empregos sem sentido... e ainda querem detonar a CLT).
Isso para
não falar de barbaridades como o mal uso da expressão “notório saber” e a
retirada de disciplinas (Educação Física, Artes, Filosofia e Sociologia)...
temas para reflexões que ainda faremos.
– Mas
Russo, e a média com pão? (Strovézio)
– Pois
bom...
Os
trabalhadores, aqueles que carregam este país nas costas, de ponta a ponta, tem
neste a sua primeira refeição. Médiazinha com pão na chapa (ou sem chapa, até).
A Elite
ensinou que basta isso como refeição matutina para garantir a primeira parte da
rotina de trabalho.
É a
mesma elite que está por trás da superficialização “média com pão” do Ensino
Médio, e com a mesma defesa: tiram conhecimentos da Educação da Classe
Trabalhadora, que ela se forma do mesmo jeito... e é baratinho!
Mas,
sempre há de termos esperança...
Hoje, em São Paulo: http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2016/09/1817078-estudantes-fazem-ato-em-sp-contra-reforma-temer-para-o-ensino-medio.shtml
Hoje, em São Paulo: http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2016/09/1817078-estudantes-fazem-ato-em-sp-contra-reforma-temer-para-o-ensino-medio.shtml
Estudantes fazem ato em São Paulo contra a Reforma do Governo Federal para o Ensino Médio... |
Se em
Sampa (e, depois, desencadeando a outros Estados da Federal), as escolas foram
amplamente ocupadas por conta da tentativa de Reforma do governo estadual...
estamos apostando agora numa ocupação nacional... E que a mobilização seja ampla e forte...
Ah! E
escolas ocupadas e com aulas de Filosofia, Sociologia, Artes e Educação Física.
Venham
Todos!
Venham
Todas!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira