“TRRRRRRIIIIIIIIMMMMMMM....”
– Alô!
– Alô, Russo!? É Strovézio!
– Oxi, de novo! Diz aí... qual foi?
– Tô ligando pra dizer que nasceu Luísa!
– Mas
tu, agora, com essa mania de me ligar pra dizer da chegada dos pequenos deste
picadeiro...
– Mas é
que foi só hoje, um 10 de março, que o telefone do Graham Bell funcionou!
Seja bem-vindo, nossa pequenina Luísa...
Bem
assim, te saudamos. Como sempre (ou quase), um pouquinho atrasados... Coisa de
circenses preguiçosos.
Dani e
Guto. Taí, já chegas com pais apelidados. Já pensou? Não é legal chegar por
aqui e saber que seus pais são sempre carinhosamente chamados de Dani e Guto?
– Tá! Mas
quando a mãe dele chamava pra dentro era “Paulo Augusto, já pra dentro,
minino!” (Strovézio).
– É
possível... Com a palavra, o Guto.
– Diz
aí, Guto... Como era? (Strovézio).
Chegas
em 10 de março, Pequena Luísa. Bom, para um mundo que tem uma tuia de “mil
anos” já acumulada, claro, muita coisa aconteceu em muitos “10 de março”. Mas,
também é verdade, a maior parte destes “aconteceu em um 10 de março” (como em
qualquer outra data) contará mais a história do esquecimento. Os livros, os
filmes, os documentos... É verdade que temos as outras versões, que teimam em
enfrentar as tais “versões oficiais”. Estas, são exatamente isso: oficiais.
Mas há
boas histórias, assim como há histórias de pessoas que chegaram ou partiram
neste dia e que vale a pena lembrar. Sempre para nossas lições.
Vens a
este mundo menina, mesmo que ainda bebê. Temos acordo, neste picadeiro, que nem
nascemos humanos (nos tornamos) e nem nascemos mulher ou homem (nos tornamos
também).
Mas,
vens menina. E na história das lutas femininas, uma nos ocorre numa longínqua
Itália e de tempos em que mundo afora a mulher era apenas “coadjuvante” da
existência humana. Nas histórias oficiais, claro.
Em 10 de
março de 1946, as mulheres puderam votar pela primeira vez. No Brasil, isso
ocorreu em 1933, nas eleições da Assembleia Nacional Constituinte.
Mas,
perceba, Pequena Luísa. Não foi um “presente”, ou algo parecido com “ah! Acho que as mulheres já podem votar”.
Afinal, 1946 foi um ano após o final da II Guerra Mundial, em que as mulheres
de vários países tiveram que conviver com o medo, as bombas, as ocupações de
cidades e até as trincheiras... como mulheres.
Mas,
durante muito tempo, discursos como aqueles em que o filme “As Sufragistas” denunciam,
que afirmavam que “as mulheres não devem
exercer o julgamento em assuntos políticos” ou “se as deixarmos votarem, será uma perda da estrutura social” eram,
à bem da verdade, a hegemonia das relações humanas durante muito tempo – e, de
certa maneira, ainda são. Afinal, à elas estava circunscrito o cuidar familiar,
não as decisões políticas e econômicas de uma comunidade, o que dizer de uma
nação.
Mas há
mais nisso... Pois eram (e ainda são) muitos os segmentos que “não deveriam
exercer o julgamento em assuntos políticos” mundo afora. Negros, pobres,
analfabetos/não letrados... tantos quantos segmentos à revelia dos setores
poderosos estavam/estão à margem do poder de decidir seu futuro?
Hoje, uma
cidade chamada Mariana (nome
feminino) e tudo o que ela representa na sua região (MG) e centenas de
quilômetros “rio abaixo” está refém das decisões de segmentos poderosos. O que
uma pequena Cidade pode decidir?
Portanto,
Pequena Luísa, nossa primeira lição e, reconhecemos, uma das mais difíceis para
quem está acabando de chegar: o poder nunca é o melhor motivo para as decisões.
Em canto nenhum, em relação nenhuma, o poder (individual, da força – as vezes,
bélica – do dinheiro, do objeto, da desinformação) deve ser a expressão do que
é certo ou errado, justo ou injusto. Que você sempre saiba enfrentar, com
serenidade e franqueza, uma injustiça feita em favor do mais forte.
É
interessante que em um 10 de março na Itália, o direito ao voto está presente
neste dia em que celebramos sua chegada. Porque uma jovem mulher, espanhola,
também se faz presente neste dia. Trata-se de Manuela Malasaña, considerada uma heroína em seu país e que também
nasceu neste mesmo dia, em um longínquo 1791.
Pintura de Eugênio Alvarez Dumont "Malasaña e sua filha lutando contra os franceses" |
A História
desta jovem, costureira, que partiu aos 15 anos, durante as invasões
napoleônicas na Espanha é tão simples (sobre seu trabalho) quanto importante
(sobre sua coragem). Há diferentes versões sobre sua morte: uma diz que, ao ser
capturada por soldados franceses e estar de posse de algumas tesouras, foi
considerada uma rebelde perigosa e foi executada (alguns relatos que
encontramos, dizem que ela enfrentou os soldados com as tesouras que tinha em
mãos). Outra relata que morreu em combate, ajudando seu pai (também em combate)
a carregar os fuzis com pólvora. De qualquer modo, Manoela Malasaña foi
considerada uma heroína e sua história ficou marcada em um pequeno bairro de Madrid,
na Espanha.
Uma
jovem, adolescente, enfrentando o avanço de um exército hostil... Quer lição
mais bonita? Claro, não está no tom de nosso picadeiro o conflito armado como
forma de se lutar por algo para todos. Mesmo em tempos tão nebulosos como os
que a recebem. Lembre-se, ainda assim, sempre das lições.
Uma
diferença de 50 anos separa histórias que envolvem conflitos bélicos e a vida
de toda uma nação. A Guerra dos Bôeres
(na África do Sul) em 1902 e o Golpe de
Estado de Fugêncio Batista, em Cuba, em 1952. E com suas contradições.
No caso
da Guerra dos Bôeres, em que pese ter ocorrido na África do Sul, não envolveu o
povo nativo negro, não foi em sua defesa que este conflito se deu. Este, ficou
entre ser explorado pelos holandeses (os bôeres) ou os ingleses (os “voortrekers”,
algo como migrantes ou andarilhos).
O motivo
do conflito? A disputa de jazidas de ouro e diamante na região que conhecemos
com o nome de Pretória (hoje, capital do país). Do dia 10 de março, não
encontram-se muitas referências detalhadas, mas, diz a lenda que em que pese a derrota dos bôeres na Guerra, eles
conseguiram capturar um comandante inglês e seus 200 soldados. Mas, pelo
resultado final do conflito (a vitória dos ingleses), isso não serviu para
muita coisa.
Já em
1952, Fugêncio Baptista dava um golpe em Cuba. Este “senhor”, foi um ditador
sanguinário no país, e um dos motivos para revolução cubana liderada por Fidel
e Che. História difícil de se encontrar nos livros, uma Cuba sem presos
políticos... apenas mortos... todos. Em 1º de janeiro de 1959, Batista fugiu de
Cuba, com o dinheiro de Cuba e sob a proteção dos EUA.
Palavras
difíceis para um papo de ouvido, este picadeiro reconhece. Mas, como dissemos,
as lições de vários e diferentes “10 de março” são exatamente isso: lições.
Ajudam a tomar decisões para onde ir, com quem ir, se ficar ou não... como já mencionamos
em outras conversas ao pé de ouvido por aqui.
Em ambos
fatos, de suas muitas lições, queremos dar eco a aquela que diz de que lado
estamos e de que lado devemos sempre ficar. E, portanto, de quem está neste
lado que escolhemos ficar. Do povo negro africano, de 1902 (e durante décadas
seguintes – em nome do Apartheid – e até hoje – em nome dos diamantes que
países europeus ainda exploram) e do povo cubano de 1952, quw pagaram um alto
preço em nome dos interesses capitais e de riqueza de pequenos grupos e poucas
pessoas, mas com muito poder... principalmente o bélico.
Escolher
de que lado ficaremos, pequena Luísa, é sempre um exercício de verdade (que é)
revolucionária. Apenas ela é expressão de uma justiça justa, em nome da vida,
em nome da emancipação humana. Se Guerras existem e elas não são para defender
a vida, então servem a outro propósito.
Nunca os
aceitem, nem esses propósitos, nem as guerras em nome deles.
Mas gostamos
também de falar das pessoas... E este picadeiro de terra batida e lona furada
de circo adora falar das pessoas!
– Oxi!
Tédoidé! Tá dizendo que nós aqui somos fofoqueiros, é? (Strovézio)
– Calma,
Strovézio... são as histórias e suas lições... Conversa ao pé de ouvido,
moleque!
– Aaaaaaaahhhhhhh,
bom... Tá, então...
Pois
é... tem gente muito bacana. Mas tem uns calos, que não servem nem de lição
para seguir o caminho contrário. Mas, aqui, abrimos mão de citá-las.
Bom... teu
pai irá te dizer da gente: “Ó, este circo
é comunista. Leem muita coisa, estudam
sempre e, principalmente, a obra de um velhinho de barbas brancas”.
Este
velhinho? Karl Marx! E, com seu amigo Frederich Engels, escreveram uma obra
fantástica e inquestionavelmente atual sobre a sociedade e o capital.
Bom, se
este pequeno circo tem a sua pequena biblioteca, o que dizer de uma obra tão
grande? E aí aparece a figura de David Riazanov,
que foi o primeiro Diretor do Instituto Marx-Engels de Moscou e responsável por
uma das primeiras frentes de trabalho que reuniria a obra de Marx e Engels. Não
era apenas um pensador, dotado de grande capacidade intelectual. Era também um
revolucionário. E, para ser revolucionário, nos ensinava importante lição: a
luta necessita de estudo e os estudos fortalecem a luta.
Mais uma
importante lição, Luísa: o estudo não é um mérito apenas individual (em que
pese reconheçamos a importância para nossas vidas singulares). O estudo é um compromisso
social. Estudamos não apenas para melhorar nossas vidas, materialmente. Mas
para transformar a vida de toda uma humanidade.
E já que
falamos em estudo, que tal aproveitar que Bernardo
Guimarães partiu em um 10 de março (e deixou um grande legado literário) e
se aproximar de uma interessante literatura brasileira, hein? Sim, sim...
Escrava Isaura, O Seminarista, este apresentador leu... depois bandeei para
outros estilos literários.
E desenho muuuuuito, Luísa. Peça sempre um papel e muitas tinhas coloridas. Afinal, um cartunista muito bom, com um trabalho presente na história cultural e política brasileira, também é de 10 de março. Trata-se de Glauco Villas Boas, o Glauco e seus inúmeros personagens e sátiras em quadrinhos e tirinhas de jornal. Me acompanharam boa parte da minha adolescência e juventude.
E,
Pequena Luísa, tem a Música! E como nosso picadeiro de terra batida e lona
furada gosta de música!
E no dia
10 de março, tem jazz, tem música nordestina e instrumentos de tudo quanto é
jeito, tem rock, violão clássico... é tanta coisa bacana, que nem vou me
estender muito. Manda teus pais selecionarem tudinho e botar pra tu escutar...
Tem o
jazz de Bix Beiderbeck, um dos
maiores cornetistas e pianistas de jazz americano. Tipo Louis Amstrong.
Tem o Nordeste
muito bem representado por Tavares da Gaita,
sapateiro, marceneiro e alfaiate e instrumentista de “primêra”. Talvez por isso
tenha construído e inventado tantos instrumentos (dizem que tem mais de 200) bacanas
para acompanhar sua capacidade musical incrível... Mais um daqueles verdadeiros
músicos esquecidos Brasil afora.
Tavares
da Gaita (Sério Músicos de Rua)
Théo de Barros,
e seu violão clássico, tem uma contribuição à música brasileira fantástica. Dentre
suas contribuições, “Disparada”, com Geraldo Vandré. Achei essa apresentação
dele (já pensou, pra ninar?):
(Théo de
Barros / Disparada – Instrumental SESC Brasil)
E, para
o bom e velho rock’n’roll, de alguns que nasceram neste dia, vou para um sueco multi-instrumentalista
de primeira, chamado Dan Swanö. Tudo que existe de bom (e pesado) no rock
europeu está perto deste cara. E como sei que nosso Guto curte um som pesado,
também, não podia deixar de escolher o melhor:
(Arjen
Anthony Lucassen Star One High Moon Live Floor Jnsen,
Famian Wilson, Russell
Allen e Dan Swano)
Lições
da música, Luísa? Com essa diversidade e qualidade, a nossa lição é simples:
nunca se contente com o “mais do mesmo”. Sempre busque mais melodias onde elas
estão aparentemente escondidas. Muitas vezes, estarão dentro de ti também...
Pois
bom.
O que
nos interessou aqui, pequena Luísa, é um papo inxirido deste picadeiro de terra
batida e lona furada. Como sempre fazemos, e a partir de nosso ponto de vista
sobre a história, as relações humanas, trazer-lhe pequenas lições que, torcemos
muito, lhes poderão ser bastante úteis ao longo da vida.
Guerreira
gloriosa, como é a origem de seu nome (com expressões originadas do Latim e,
outros entendem, do Alemão), é isso que sua chegada nos traz e é assim que seus
pais te saúdam e nos apresentam: Uma Gloriosa Guerreira... ou, para nós, uma
Gloriosa Lutadora do Povo!
E por
isso, saudamos, Luísa, Gloriosa Guerreira!
Vida
Longa, Luísa!
Vida
Longuíssima!
Venham
Todos!
Venham
Todas!
Sem palavras... Não exatamente tão claras e belas quanto as suas!
ResponderExcluirNão há nada mais rico na vida de alguém do que tudo aquilo que foi construído com a suprema humildade da sabedoria. E este, com toda a certeza, será o legado que Dani e eu tentaremos dar a ela!
Obrigado Strovézio!
Obrigado Professor!
Obrigado Amigo!
vida Longa.
Salve, Salve, nosso caríssimo Guto.
ExcluirEu e Strovézio é que somos gratos por poder, na nossa história, saudar Luísa... os caminhos que nos trouxeram até aqui e até a pessoas como vocês, nos mostram que valeu muito a pena caminhá-los!
Vida Longa!