RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

terça-feira, 23 de junho de 2015

Corpo e Machismo: um par complicado...

desenho de Vitor Teixeira em
http://webjornalunesp.com/2014/11/14/eu-preciso-tu-precisas-ela-precisa-feminismo-para-que/

            Por esses dias, vi/li um texto que falava de um tal de Zyzz (e o “um tal” não é deboche). Fiquei espantado com minha ignorância. Como assim, eu, professor de Educação Física e que forma professores de Educação Física nunca ouvir falar deste sujeito?
            O texto em questão tinha um título: “ACADEMIA NÃO TRAZ RESULTADOS? CONHEÇA A HISTÓRIA DE VIDA DE ZYZZ”, assim, em caixa alta mesmo. Não faltam textos e referências na internet.
            Zyzz...
            – (pow) peguei...! Mosca maldita!!!! (Palhaço)
            – Calma, Strovézio... o zunido é nome.
            – Ah! Foi mal...!
            Zyzz, em síntese, era um jovem que largou os jogos em computadores e passou a malhar até se tornar um fisiculturista. Teve um irmão preso por porte/comercialização de anabolizantes (e parou aí a história do irmão). Zyzz morreu subitamente, aos 22 anos. Assim, em três linhas.
            Encontrei alguns vídeos dele. Confesso, tive paciência de jó para assisti-los, pois, na opinião deste humilde (mas não ingênuo) professor, eram cansativos e vazios... absolutamente vazios. Por isso cansativos.
            Além dos erros bobos de língua portuguesa em algumas legendas (parece cada vez mais comum isso hoje em dia), eles colocam o tal do Zyzz apenas dançando (ruas, boates e o escambal), fazendo poses de musculação e – isolado, mas existiram – gestos obscenos, exercícios e caretas, “outros caras fortões” e, talvez o que nos interessa para nossas reflexões aqui, seus depoimentos sobre seu progresso com as meninas.
            Destes vídeos, um que é citado como principal chamasse “Zyzz, o legado”, apontado como um dos mais vistos no youtube. Um legado vazio... e eu ainda assisti a outros dois.
            Neste vídeo-legado, seu depoimento (como estava na legenfa):
            “Todos tem um pouco de Zyzz dentro de si! Só que ainda não sabem... E para aqueles que dizem que sou homo, só falam isso por causa do meu corpo. Porquê no final de tudo só vão dár atenção a isso. ‘Os odiadores irão te odiar’. Então entenda isso. Se você for definido e SickCunt, você consegue tudo que quiser, as pessoas vão dizer ‘não gosto de você’. Mas eu não quero saber, entendeu? Se quer ser grande definido, transar com garotas, ser um sick cunt, não ligue para a opinião de ninguém. Porquè quem tá vivendo é você. Eles não sabem nada sobre você irmão! É isso que o Zyzz faz irmão. Isso é a revolução, então vái lá fazer! Seja feliz!”.
            Já no texto citado, um trecho também chama a atenção: “O que muitas vezes acontece é que pessoas com sobrepeso ou magras demais se dão a desculpa de que estão bem e que não ligam para a opinião de terceiros, o que geralmente é uma besteira pois todo e qualquer ser humano deseja se enquadrar nos padrões e ser belo na visão dos outros”.
            E fecha com a pérola: ”Segundo Zyzz, as mulheres gostam mesmo é de ‘caras rasgados’, ou seja, homens com abdômen tanquinho aparente, baixa gordura corporal e músculos desenvolvidos”.
            Enfim, um texto vazio para completar os vídeos vazios.
http://i.ytimg.com/vi/WJIgbKAsER4/hqdefault.jpg

           Ao texto e aos vídeos...
            – Haja paciência, hein? (Palhaço)
            – Pois é, Strovézio... Pois é...
            ... comentários os mais diversos. E são neles que a minha preocupação como professor que forma professores se manifesta de maneira profunda. Mesmo entendendo que não sou o único e, portanto, não posso me sentir responsável por aqueles que, como professores que são ou que virão a ser, seguem caminhos divergentes ou antagônicos aos que tento mostra como melhores.
            A ode ao cara por “pegar muitas garotas” (ou o uso de termos mais chulos) e de “saber curtir a vida” (morrer aos 22 anos????) e a relação com a musculação pareceu-me a mais intrínseca e importante.
            É o corpo se mostrando cada vez mais importante do que o sujeito? A embalagem melhor que o conteúdo?
            Todos querem estar enquadrados aos padrões de beleza?
            Será, realmente, que as pessoas que não são saradas, musculosas e tals não são felizes? Ou não podem ser felizes e saudáveis?
            “Pegar menininhas” é o que dá sentido à vida destes que tem em Zyzz um ícone, uma lenda, um mito ou sei lá que porcaria usam para o adjetivar?
            E professores ou futuros professores professam isso?
            Sério?
 
Mafalda, ícone dos anos 1970, provocando discussões pertinentes também sobre o machismo
            Penso, sinceramente: enquanto valores como essa expressão de machismo continuar a ter seus ícones, teremos sempre muros enormes a derrubar.
            Parece que conheço alguns de seus fãs... Isso é fato.
            Mas, a sala de aula tem destas armadilhas que não temos domínio: lá estão os machistas, os homofóbicos, os fascistas, os racistas... Mas ainda bem que tem os indignados, os esperançosos, os solidários.

            Vai que aqueles vem zuar no meu ouvido...!?
            –  Não seria “zyzz-ar”? (Palhaço).

            Venham Todos!

            Venham Todas! 

3 comentários:

  1. Respostas
    1. Gratíssimo, querida Maria Cláudia... sempre felizes com sua presença em nosso público!
      Vida Longa!

      Excluir
  2. FUUUUAK!
    NÃO SEJA UM CARA TRISTE.

    ResponderExcluir

O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira