RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Discurso de Formatura - Educação Física 2012.2 - Turma Euzébio de Oliveira


 
“Se por vinte anos, nesta furna escura,
 Deixei dormir a minha maldição,
 Hoje, velha e cansada amargura,
 Minha alma se abrirá como um vulcão.
 E, em torrentes de cólera e loucura,
 Sobre a tua cabeça ferverão
 Vinte anos de silêncio e de tortura,
 Vinte anos de agonia e solidão...

 Maldita sejas pelo ideal perdido!
 Pelo mal que fizeste sem querer!
 Pelo amor que morreu sem ter nascido!

 Pelas horas vividas sem prazer!
 Pela tristeza do que eu tenho sido!
 Pelo esplendor do que eu deixei de ser!...”
 (Maldição – Olavo Bilac)

Prezados e Prezadas agora Professores e Professoras de Educação Física da UFPA/Castanhal...
Prezados e Prezadas Companheiros e Companheiras de Trabalho, Labuta, Profissão...
Minhas saudações.
Cumprimento, também, nestas palavras que celebram a formatura de vocês, o colega de Faculdade, professor Euzébio de Oliveira, homenageado com o nome da Turma.
Hoje, desta vez, passo apenas com uma expressão escrita, mas não menos honrado em poder me dirigir à esta turma que, agora, é de Professores e Professoras. Turma com a qual tive pouca convivência em sala, mas pude conviver nos corredores, nos eventos, nos diálogos e na recepção em meus tempos de Diretor da Faculdade e que, aos poucos, pude ir guardando o nome de cada um e cada uma de vocês. Expressão, portanto, de que nossa convivência seguiu para além da sala de aula e assim espero que possa seguir daqui por diante.
De qualquer maneira, não poderia passar em branco neste dia 16 de dezembro, data que entra para a história desta cidade, deste estado, deste país e da humanidade (com suas muitas histórias e estranhas versões) como o dia a qual, na nossa singularidade, é mais um dia importante em nossas vidas. A de vocês, que completam mais um ciclo... a nossa (professores), que vemos em nosso ciclo atual de docência, mais uma turma se consagrando.

E Hoje é 16 de dezembro.

Gosto, neste diálogo com professores que se formam, de passear na história da humanidade (o quanto nos é possível, claro) para tentar pensar algumas lições. Sim, a história sempre deixa e continuará deixando lições e elas servem para aprendermos, quer concordemos com elas ou não. Mas é estranho este nosso mundo, porque a “história oficial” normalmente é contada à luz de um velho ditado que diz: “A história do leão sempre é contada pelo caçador”. Alegoricamente falando, nunca pensamos em perguntar ao leão porque ele atacou o caçador.
Ou seja, a história normalmente é contada pelos conquistadores, pelos colonizadores, pelos que tem acesso a escreve-la e divulga-la. E isso, por si só, tornam as lições mais difíceis de serem entendidas e apreendidas. Mas, ainda assim, vale a pena recorrer a elas.
O Poema de Olavo Bilac que abre estas palavras (poeta Brasileiro, nascido em um 16 de dezembro, no século XIX), por mais duras que pareçam para uma saudação em dia de celebração, à bem da verdade dão o tom do que se inicia neste país para, exatamente, os próximos 20 anos... É, portanto, uma “epígrafe poética da nossa realidade” e é preciso ficarmos atentos.
Por outro lado, as palavras que se seguem, neste texto, dirão outra coisa, pois se fundamentam justamente em um termo que, até para nós (hoje, todos/as, Professores e Professoras de Educação Física) é, ainda, muito maltratado: MOVIMENTO. Ou seja, os próximos 20 anos não serão o que o governo brasileiro e as instituições que a ele se acomunaram (congresso) e acovardaram (justiça) a ele e ao Capital querem que seja, se percebemos que a história, por nossas mãos e corações, se movimenta.
Falemos da História em seu movimento, portanto.
Em um 16 de dezembro, digamos, longínquo (1773), ainda às vésperas da Independência mais “conhecida” dos livros didáticos mundo afora (falo dos EUA), um ato de revolta da ainda colônia inglesa foi deveras interessante – e registrada como um dos estopins do que viria a se tornar a independência daquele país: foi a chamada “Festa do Chá de Boston”. Tratava-se de um levante de colonos ingleses e trabalhadores portuários da cidade de Boston contra uma taxação a um dos produtos mais consumidos naquelas terras, o chá, e, também, contra a obrigação de o mesmo só poder ser adquirido pelas mãos da Companhia das Índias (que era inglesa). A tal “Festa” se caracterizou com o lançamento de todo carregamento de chá que chegava ao porto, naquele dia, ao mar... Cerca de 45 toneladas de chá ao mar. Claro, o que se seguiu daquele ato foram confrontos bélicos desproporcionais, pois eram “trabalhadores” desafiando “senhores”.



Os EUA, anos depois, tornou-se um país independente e, não menos, mais um país disposto a conquistar o mundo (assim como seus antes colonizadores).
Assim, tempos depois, já em inicios do século XX, já vivíamos um período em que as grandes potências do hemisfério norte (Europa e EUA) controlavam cerca de 84% dos territórios do globo terrestre... Reparem: 84% do mundo “pertenciam” direta e indiretamente a alguns países apenas. E isso ainda se faz presente.
Mas, e o movimento da História? Qual seria?
As revoltas populares realmente são interessantes: neste caso, uma revolta de uma colônia inglesa (enfrentando as leis de seu colonizador e seu conluio com interesses privados – a Cia da Índias) que transforma um país em uma potência imperialista que faz, exatamente, o que enfrentou séculos antes: coloniza, ocupa territórios e impõe seu modo de vida, consumo, valores etc.
Percebam: é mais ou menos assim que funciona. A gente quase que aceita as relações de poder como “naturais” sem nos darmos conta dos caminhos da história (e a história não caminha sozinha, ela é feita por homens – inclusive na resistência) que as conduziram.
Assim o é até neste nosso “microlugar” chamado Faculdade de Educação Física que, agora, vocês estão se despedindo. Isso acontece até neste campo de atuação à qual nós escolhemos atuar e contribuir com a sociedade.
Precisamos, portanto, reconhecer o nosso lugar nesta história e nestas relações de poder e, mais ainda, assumir franca e fraternalmente, o nosso lugar nesta história e nestas relações. A lição, aqui, é simples: que possamos reconhecer qual o lado que luta para viver dignamente e qual o lado que “luta” (assim, entre aspas, para não macular esta palavra tão valiosa) para continuar a explorar os que querem viver dignamente e, reconhecendo-os, saber qual lado nós ficaremos... Convido-os a ficarem ao lado daqueles que lutam, de verdade, sem aspas, no sentido mais profundo deste termo.
Numa alegoria às 45 toneladas de chá lançados ao mar, naquele longínquo 16 de dezembro de 1773, que possamos fazer a história chegar ao dia em que não lancemos ao mar (para não poluir), mas façamos uma grande fogueira com as carteirinhas do CONFEF/CREF e seus valores, conceitos, imposturas e imbecilidade com a qual dizem representar a nossa área.
Vocês estão concluindo o curso neste fim de ano de 2016. Pelas nossas contas, um pouco mais tarde do que previsto, haja vista as constantes lutas que trabalhadores e estudantes desta Universidade vem empreendendo nos últimos anos e, por duas vezes pelo menos, envolveu a formação de vocês. Aliás, espero que tenham aprendido com essas lutas também.
Mas, pela história – falo deum outro dezembro de 2016, fins de 1905 – o que ela nos marca me consome pela tristeza do fato em si e, também, pela alegria (pela história, que está sempre em movimento) e pela esperança que ela germinou na Classe Trabalhadora daquele longínquo ano,
Afirma-se nos registros da história da luta operária internacional que foi em 16 de dezembro 1905 que sovietes (que eram fortes lideranças daquele ano revolucionário, ainda que derrotado, organizados em “conselhos operários”) foram presos ou colocados na ilegalidade, além de outros oposicionistas ao governo do Czar Nicolau II, na Rússia. Um fato pontual de um ano histórico naquele país.
E aqui, novamente, nossa expressão de que a história se constrói pelo movimento dos homens e mulheres que a ditam. Aquele ano de 1905 foi, certamente, uma grande semente para a Revolução de 1917 que se avizinhava (e 12 anos na história da humanidade é como um grão de areia no deserto). Faz parte daquele 16 de dezembro uma data anterior, 22 de janeiro de 1905, e que a história denominou como “Domingo Sangrento”.
Eram cerca de um milhão de pessoas... em marcha... em direção ao palácio imperial de Nicolau II... Naqueles tempos, é preciso notar, a população de um país – e territorialmente um grande país, como a Rússia – inclusive sua população mais pobre, via no Czar um pai, aquele sujeito supremo que o protegeria diante de suas mazelas e fome. Um povo que adora seu líder.
Era um milhão de pessoas que seguiam para falar com seu pai e deixar que ele soubesse como seu povo estava sofrendo. Um milhão de pessoas com uma carta, uma única carta em mãos, na qual diziam:

“Estamos numa situação miserável, somos oprimidos, sobrecarregados com excesso de trabalho, insultados, não nos reconhecem como seres humanos, somos tratados como escravos. Para nós, chegou aquele momento terrível em que a morte é melhor do que a continuidade do insuportável sofrimento”

E o Czar recebeu seus filhos... a bala.



A história não registrou quantos tombaram... mas registrou que de uma grande e dura derrota de um movimento que era pacífico e paterno, germinou o ano de 1917, com a Revolução Russa de outubro.
A tristeza pelos que tombaram e a esperança pelo que veio a seguir, anos depois. É desta lição que, agora, vos falo.
Não tenho ilusão, meus caros hoje Professores e Professoras de Educação Física. Não é fácil tirar lições da história da humanidade e, nestes tempos em que vocês são levados, todos os dias, a pensar em si (no seu “cada qual com seu cada qual”), a buscar um lugar no tal “mercado de trabalho”, a defender o direito individual de vocês à revelia do direto do outro (e o outro pode ser uma sociedade inteira), em que somos – inclusive durante a nossa formação – convencidos a valorizar a coisa mais do que as relações humanas... não é fácil dizer essas palavras em tempos tão individualistas.
Mas, se a história (mesmo quando contada apenas pelos opressores – que se fazem de heróis) deixa sempre algo concreto, é que ela é forjada pela Luta. Até os opressores não podem negar isso.
Hoje, 16 de dezembro, a “casa” de vocês encerrou um pequeno ciclo e colegas, diria companheiros e companheiras de estudos de vocês foram protagonistas deste ciclo: a UFPA/Castanhal estava ocupada e, enquanto tal, não faltaram tentativas insanas e irresponsáveis, até mentirosas, de desqualificar o movimento, em sua forma e conteúdo. Até entre vocês que aqui estão hoje se formando. E entre parte daqueles que contribuíram com a formação de vocês.
Hoje, 16 de dezembro de 2016, eles também escreveram na história de vocês e deixaram registrado pelo que, por quem, para quem lutaram durante semanas:

“Estamos muito orgulhosos de todos os estudantes que ocuparam escolas, universidades e institutos federais, de todos que foram às ruas e deram a cara à tapa, que levaram spray de pimenta e bala de borracha. Nossa luta não acabou, elas está só começando. [...] Nosso grito de ordem é resistência” (Carta do Movimento de Ocupação da UFPA/Castanhal)

Assembleia dos Estudantes da UFPA/Castanhal - deflagração da ocupação

Meus caros hoje professores e professoras de Educação Física, eu tenho que perguntar: pelo que vocês Lutam? Por quem vocês Lutam? E, claro, contra o que e contra quem vocês Lutam?
Se estas perguntas ainda estão em construção para cada um e cada uma de vocês e, também, no pensamento coletivo de vocês, construído ao longo destes pouco mais de quatro anos, deixo aqui uma lição a mais: Lutem pela Humanidade...
Que a cada injustiça cometida contra qualquer pessoa, a qualquer tempo e em qualquer lugar do mundo possa mover o coração e a força de vocês. E se concordarem com este princípio, como diria Che Guevara, somos companheiros... Talvez possamos dizer “somos camaradas”... E talvez a certeza de todos os dias, lutarmos lado a lado.
E, parece-me, estamos vivendo tempos intensos de luta.
Pela Educação Física na Educação Básica... e pela Educação Básica propriamente dita.
Pela Educação Física na Saúde... e pela Saúde Pública propriamente dita.
Pela Formação Superior em Educação Física e pela Universidade Pública.
E quantos desafios e quantas lutas estamos sendo convocados todos os dias...
Nestes tempos em que o Estado Brasileiro e suas instâncias todas (legislativa, executiva e judiciária) parecem optar pelo escárnio em nome da manutenção do poder e dos favores que preferem manter ao Capital, em detrimento do aprofundamento da perda de direitos, da miséria batendo na porta de seu povo... Nestes tempos em que até listas de trabalhadores grevistas e estudantes ocupantes das Universidades e Escolas são solicitadas pelo Estado...
Nestes tempos em que vemos tantos jovens, tantos trabalhadores, tantos professores ainda presos em seu silêncio ensurdecedor, cientes de que tá tudo errado mas defendendo um “sigamos a vida como se nada estivesse acontecendo”...
Nestes tempos em que mal cabem nestas palavras detalhar, o convite desta lição parece-me tão importante quanto necessário: voltem a esta casa. Afinal, se é verdade que esta casa, a Universidade, é a casa da Sabedoria (como expressão dialética do conhecimento), então, que vocês saiam hoje daqui, neste dia 16 de dezembro, lembrando que na cultura romana antiga, hoje é o dia do Festival de Sapientia, ou da Sabedoria...



E se voltarem, que possam fazer no sentido de lutar por ela, todos os dias. E lutar por esta universidade tão atacada e destruída pelos interesses do capital (e isso se faz de maneiras tão singelas que até quando há notícias de recursos para ela, há quem comemore, sem entender o que há por trás... ou o que se retirou), pelos interesses da “indústria da educação”, significa lutar para que ela seja cada vez mais pintada de negra, camponesa, quilombola, trabalhadora, operária, pobre, mulher... pintá-la de revolucionária, por que não?
E, portanto, o convite à juventude que hoje se forma é este também: convido-os a serem revolucionários!



Pois bom...
Gostaria, humildemente, de aproximar-me do final destas palavras com algo mais pessoal, mais particular, mais singular. Mas, também, como uma homenagem... um presente, no sentido mais comunista da palavra. Um presente que não é “coisa”, que não para nosso consumo. Um presente que nós (eu) damos sobre nós (eu) para vocês.
Em 1770, também em um 16 de dezembro, nascia um dos maiores compositores da história, o alemão Ludwig van Beethoven. Um nome da música clássica.
E, também neste 16 de outubro, a cidade de Caicó, no Rio Grande do Norte, se emancipava e, portanto, celebra seu aniversário. É de Caicó uma das figuras mais importantes da história política, artística e jornalística brasileira... Mas ele não estava ao lado da “história oficial”, por isso, pouco sabemos.
Em Caicó, no ano de 1913 (ainda que não num 16 de dezembro), nascia Hiram de Lima Pereira: jornalista, comunista, ator (um dos fundadores do Movimento de Cultura Popular em Recife) e jornalista... Desaparecido político, capturado, preso, torturado em 1975.
Meu avô...

– Hiram de Lima Pereira, Presente! (Strovézio)
– Presente! (em côro, todos os artistas deste picadeiro)

Hiram foi pai de quatro meninas: a mais velha, Nadja Pereira (minha mãe).
Beethoven, Caicó (e Hiram de Lima Pereira) e minha mãe se encontram neste dia 16 de dezembro de 2016.
Confesso: se eu pudesse me fazer presente hoje, da tribuna, com a palavra podendo ser proferida a vocês, pediria um pouco menos de cinco minutos a mais para uma canção e convidaria minha mãe para toca-la a vocês. Como disse acima, como um presente.
Para situações como essa, um piano colocado no centro deste picadeiro de terra batida e lona furada de circo, já nos é humildemente suficiente.



Vida Longa à Turma Euzébio de Oliveira.
Vida Longa à Turma 2012.2 de Professores e Professoras de Educação Física da UFPA/Castanhal.

Venham Todos!
Venham Todas!


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Era 13 de dezembro...



“[...] todos os grandes fatos
 e todos os grandes personagens
 da história mundial são encenados,
 por assim dizer, duas vezes [...]:
 a primeira como tragédia,
 a segunda como farsa”
 (Karl Marx)



Era o ano de 1968...
Fechados em seu gabinete, o Presidente-General Costa e Silva e seus ministros mais próximos...Um “Conselho” de 24 ministros e o vice-presidente reunido para apreciar o texto construído pelo então Ministro da Justiça, um senhor de nome Luís Antônio da Gama e Silva. Apenas o então vice-presidente Pedro Aleixo votou contra... não por postura democrática, claro.
Todos os direitos políticos foram cassados naquele dia. Até o Supremo Tribunal Federal sentiu a força daquele Ato.
O Ato Institucional numero 5, também conhecido como AI-5. O Ato que não ficou nele mesmo.
Eram 24 sujeitos... homens... brancos... patriarcados... possivelmente todos católicos... E decidiram pelo país inteiro.
Não eram pessoas eleitas pelo povo...
Mas, politicamente, decidiram pelo país inteiro... e decidiram pelo rumo da violência institucionalizada em um Decreto, em um Ato Institucional...
Talvez 1968 a história se escrevia, pelos seus personagens, como tragédia... Talvez a tragédia tivesse se transformado em farsa nos atos de 2015 e 2016...

– Aqueles atos, tipo, “Contra a Corrupção”, Russo? (Strovézio).
– Aqueles mesmos, meu nobre palhaço...
– Sei... hummm... tá, então... continua aí, Russo...

Pois bom...
Se é, então, verdade, que 1968 foi a tragédia e 2015 e 2016 a tragédia se transformou em farsa com as ruas, verde e amarela, ocupadas por faixas de “Volta a Ditadura”...
... o dia 13 de dezembro de 2016 se repete como?



Tal como os anos de chumbo...


Arriscaria dizer, com a humildade que cabe a este picadeiro de terra batida e lona furada de circo, que 13 de dezembro de 2016 no Brasil se repete como barbárie, haja visto que nem o rastro de tragédia e farsa impedem que seus personagens de hoje durmam tranquilos com o que estão a fazer.
Como diria Marx sobre Napoleão Bonaparte em “O 18 de Brumário”, pelo parlamento, pelo governo (e seus vários “governos”) e pela Justiça brasileira, só me cabe o desprezo. E isso não é suficiente.
Mas, cabe também, nestes tempos de indignação, a esperança...


Mesmo que esta esperança seja atacada por bombas de efeito moral, balas de borracha, spray de pimenta e jatos d’água...
Mesmo que a esperança veja apontada em sua direção até mesmo armas letais...
Mesmo que a esperança seja imobilizada, enforcada, surrada, algemada e presa...
A esperança está sempre viva dentro de nós...
E a esperança, hoje, está nos olhos da juventude, que ocupa Escolas, Universidades, Institutos... Que ocupa Câmaras e Assembleias Legislativas... Que ocupa as ruas.
Em 1968, o AI–5! Este durou 10 longos anos...
Em 2016, a PEC–55!
E ainda temos muito contra o que lutar...
A Esperança, portanto, nunca (forma de dizer) foi tão necessária.
Mas há algo de curioso neste 13 de dezembro.
Segundo os católicos, é dia de Santa Luzia (ou Santa Lúcia), a padroeira dos oftalmologistas (os cristãos católicos, claro) e daqueles que tem problemas de visão.
Para os primeiros, algo como “Santa Luzia, guie o trabalho dos oftalmologistas, para que possam curar ou amenizar aquele/as que tem problemas de visão”.
Para os segundos, algo como “Santa Luzia, guie os caminhos destes que tem problemas de visão”.
Seria interessante que estes, os católicos, colocassem a pauta dos caminhos obscuros que este país (e o mundo) vem tomando em suas andanças.
Ou não...

Venham Todos!
Venham Todas!

Material para ato político-cultural, organizado pelos alunos e alunas da UFPA/Castanhal



segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Conversa... não! Cantata ao pé de ouvido de Morena...


“Espere por mim, Morena.
 Espere que eu chego já.
 O amor por você, Morena...”






E chega nossa Pequena Morena... Isso, Morena...
Talvez seja a síntese de tantos nomes que tratam Morena como adjetivo: Bruna, Adriana (e suas variações), Drica...
Mas vens Morena como Nome! NO-ME ! ! ! ! !
É como se seu nome fosse Luta! Ou, talvez Resistência... poderias até mesmo chamar-se Mulher! Termos que nesta nossa sociedade marcada pelo “tornar a vida mero objeto” andou construindo e legitimando ao longo de séculos: fazer do que é essência, mero adjetivo. Talvez até elogioso...

– Revolucionário como Adjetivo do Nome Revolucionário, Russo! (Strovézio).
– Hummmm... Explica um cadim mais, meu nobre palhaço de ideias sempre em construção...
– Simples, Russo... Não será mais “Tá vendo aquela morena?”... Agora em diante será “Tá vendo? É a Morena!”...
– Uau... Strovézio sendo sempre Strovézio...

Chegas trazida por nossa sempre querida Carol e de Jonathan (a quem nosso humilde picadeiro de terra batida ainda não conheceu), chegas neta de Claudinha e Luika, sobrinha de Natan e Daniel...
Aliás, acho que chegas sobrinha de tios e tias pra dedéu... Só aqui no nosso picadeiro de terra batida e lona furada de circo é uma tuia ao quadrado.
Eita, que é so gente bacana em volta...
E é gente bacana em muita coisa, inclusive na música. A de Gonzaguinha, que abre esta conversa ao pé de ouvido foi, na sua chegada, a homenagem primeira.
Mas também és de Morena aos cantos de Osvaldo Montenegro, e suas palavras doces que versam:

“Eh, Morena... tá faltando essa areia molhada... /
 E o cheiro de sal madrugando na boca da gente... /
 E o sono da rede embalando teu corpo... /
 E a roseira fazendo das suas...
 Nascendo uma rosa na Lua e o luar no jardim...”

E é tanta, mas tanta música para este papo, que resolvemos inaugurar nossa “Cantata ao pé de ouvido”...
E viva a música... este movimento de sons, vozes, tons e até silêncios fantástico da produção e do trabalho humanos.
Mas antes de “cantarmos” sobre esta data tão musicalmente festiva, algumas coisas neste dia que chegas nos chamaram a atenção... Na verdade, algumas pessoas nesta história deste bicho tão estranho chamado Homem/Ser humano!
Diz a lenda que o futebol já ganhava suas canelas no velho mundo, ainda no século XIX. Daí, lá pelas bandas de 1863, o futebol entraria na sua fase de regras internacionais, bem neste dia 26 de outubro. Não conseguimos encontrar (mas deve existir) quais seriam essas regras. Mas, não duvidamos nem um pouco que, dentre elas, a de que futebol era jogado somente por Meninos... coisa mais chata, aquela época, hein?


A gente, do Universal Circo Crítico, até joga uma bola... mas com regras circenses, com pitadas de Luís Fernando Veríssimo. Peça pra sua mãe e seu pai ler pra ti este escritor brasileiro, tá?
Mas, voltando pro papo da gente: Daí, tu vem menina, num mundo em que futebol é coisa de menino. Portanto, bagunça toda esta ordem “testosterona” do esporte, arrebenta tudo e vá organizando suas futuras amiguinhas e amiguinhos para dizer “Tá Tudo ERRAAAAAADO!”



Ó... este picadeiro não tem essa não, de “futebol é de menino” e tals... aqui, é pra todo mundo! Então, quando puder, arme o futebol que quiseres aqui em nosso picadeiro...
  
– Ei, Russo... por falar em Futebol... (Strovézio)
– Diz aí, meu peladeiro palhaço!
– Acho que precisamos aqui, qualquer dia, reorganizar o nosso “Os Cavaleiros do Ante-futebol!”, né não?
– Putz... E não é! Topa, Morena????

Bom... como sempre, wikipediamente falando, a gente descobre que uma tuia de gente nasceu ou se despediu numa tuia de dias diferentes...
De Ex-primeira futura presidente norte americana ao primeiro presidente indígena boliviano (eita), gente de tudo quanto é tipo, jeito, des-jeito e o escambal... Darcy Riberio, grande figura da Educação Brasileira, por exemplo, nasceu em 26 de outubro e, afinal, chegas, Morena, neta de Professor e Professora... Sacou?
Ainda em um distante 1871, nascia Guilhermo Kahlo. E agradecemos o destino e os caminhos percorridos por este fotógrafo alemão, radicado no México e, principalmente, pai de Frida Kahlo por ter seguido este caminho.
Frida Kahlo seria, talvez, a figura mais expressiva para falarmos aqui, mesmo não nascendo em um 26 de outubro.
Mas, como se trata de seu pai, que era um fotógrafo, então, te recebemos, Pequena Morena, com uma das fotos que ele tirou de sua filha e, nesta, a expressão de história que fica. Claro, nossa humilde lição é essa: a história não está pronta e acabada... A história não se faz com uma foto... a história se faz com força e amor. E que as fotos que a história registrem de ti possam sempre expressar o que mais forte e o que de mais profundo amor irás construir.



Mas ó, que massa... Tem história que só as nossas conversas ao pé de ouvido nos possibilitam conhecer. Neste caso, falo do poeta brasileiro Murilo Araújo.
Não sei qual orixá te celebra e qual a recebe neste dia. Mas, se for Nagô, tá perfeito... Murilo Araújo, em sua vasta obra poética, marcada no movimento modernista, escreveu “Funeral d’um Rei Nagô” que foi musicado por Heckel Tavares e, com um cadin de paciência, achamos uma gravação... E que tom clássico maravilho que, na voz de Inezita Barroso, ganha ar de perfeição...



– Nagô! Axé! Salve Morena! (Strovézio)
– Nagô! (Nossos artistas)

Como tu és, desde sua chegada, ligada à música e, portanto, à arte, tem um grande artista que partiu em um 26 de outubro: o brasileiríssimo Di Cavalcanti, um dos mais importantes pintores brasileiros (foi pintar o 7 por outras bandas em 1987)...
Claro, tem coisa que a gente, quando começa a crescer, sempre gosta de fazer... pintar, desenhar, rabiscar, desenhar o rabisco e por aí vai...
Mas, daí, a gente aqui pensou que nada como lembrarmos de uma das obras de Di, que tenha a ver com a música (estás cercada de música); O Samba... tudo certo né?



Mas, é pra música que gostaríamos de reservar nossas palavras finais... Até porque, como dissemos, isto é uma Cantata...
Milton Nascimento (1942) e Belchior (1946) são também de 26 de outubro e a obra escrita e cantada destes caras é quase que inarrável... Presaríamos inaugurar não mais uma “Conversa ao pé de ouvido...” ou, como agora, uma “Cantata ao pé de ouvido...”. Teríamos que dar um jeito na nossa lona furada, no nosso picadeiro de terra batida e realizar um, hammmm... deixa ver..

– TRIBUTO AO PÉ DE OUVIDO! A Chegada de Morena na Voz de Milton e Belchior!
– TRIBUTO AO PÉ DE OUVIDO! Uau!... Isso sim seria massa!



Mas, além deles, foi em 26 de outubro de 1989 que o Fantástico Legião Urbana lançou “As Quatro Estações”... ainda eram os bons tempos do LP.
E se Milton Nascimento e Belchior já dariam um espetáculo a parte, o que pensar deste que foi um dos trabalhos mais sensíveis de uma das maiores e  mais importantes bandas de rock do país?
E que viagem um único LP pode fazer para celebrar sua chegada, né não, Pequena Morena?
Afinal, para sua chegada, o Legião é bem claro, elucidativo, pedagógico até, pois canta junto a este picadeiro que

“[...] disciplina é liberdade
 / Compaixão, é fortaleza
 / Ter bondade é ter coragem...”

E liberdade, fortaleza e coragem são extremamente importantes para amar, e Amar assim, com letra maiúscula, pois

“É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”.

Até porque, Pequena Morena,

“É só o amor, é só o amor /
 que conhece o que é verdade. /
 O Amor é bom, não quer o mal /
 Não sente inveja ou envaidece”.

E... “[...] quando se aprende a amar /
o mundo passa a ser seu”.

As pessoas aí perto, bem pertinho de ti e, também, os artistas deste picadeiro de terra batida que te recebem, são e sempre foram sonhadoras. Pessoas que tem força no coração e amor nas suas lutas.
É certo que vivemos tempos estranhos. E nestes tempos estávamos pensando, enquanto chegavas, Pequena Morena... Pensávamos que...

“Até bem pouco tempo atrás / Poderíamos mudar o mundo...
 / Quem roubou nossa coragem?
 Tudo é dor /
 E toda dor vem do desejo de não sentirmos dor”...

Lembre-se, Pequena Lutadora do Povo Morena... sempre que acordares...

“...Quando o sol bater na janela do seu quarto, /
 lembra e vê que o caminho é um só...”

É o caminho que sempre nos levou a acreditar que poderíamos mudar o mundo... É o caminho que fortalece nosso desejo de nele continuar...

Afinal...
“Se o mundo é parecido com o que vejo /
 prefiro acreditar no mundo do meu jeito /
 E você estava esperando voar,
 mas como chegar até as nuvens com os pés no chão?”

Claro, pra chegar nas nuvens ou tirar os pés do chão, sempre é importante fazer planos... Até eu, neste picadeiro de terra batida...

“[...] as vezes faço planos /
 as vezes quero ir /
 Para algum país distante e voltar a ser feliz”.

E lembre-se de que lado você está, Pequena Morena. Pois estes tempos tão malucos, em que gostar de São Paulo, gostar de São João, gostar de São Francisco e São Sebastião, tanto quanto gostar de meninos e meninas, é tão perigoso quanto saber de que lado se está...
Chegas, Morena, em tempos de luta, sim... Lutas intensas, daquelas que a gente afirma, contundentemente: Só a Luta muda a Vida! E é, sim, uma luta do bem contra o mão... é sim...

“É o bem contra o mal /
[...]
Eu estou do lado do bem”

É isso, nossa Pequena Lutadora do Povo Morena...
Ainda não escutamos sua voz, seu choro, seu balbuciar, seu arroto após uma mamada... Mas aqui, no Universal Circo Crítico, neste picadeiro de terra batida e lona furada de circo tudo é tão arrumadinho, que a gente pode dizer, legianamente falando,

“Eu já me acostumei com sua voz /
 quando estou contigo, estou em paz”.



Viva Viva, Morena!
Celebramos...

Vida Longa, nossa Pequena Morena!
Sempre Vida Longa!

Venham Todos!

Venham Todas!