Do livro "As Lendas de Dandara" |
“Que vai
ser quando crescer?
Vivem perguntando em redor
Que é ser? É ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três.
E sou? Tenho de mudar quando crescer?
Usar outro nome, corpo e jeito?
Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser? Dói? É bom? É triste?
Ser: pronunciado tão depressa, e cabe tantas
coisas?
Repito: ser, ser, ser. Er. R.
Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a? Posso escolher?
Não dá pra entender.
Não vou ser. Não quer ser.
Vou crescer assim mesmo.
Sem ser. Esquecer”
(Verbo
Ser – Carlos Drummond de Andrade)
Salve,
Salve, muitos Salves à nossa Pequena Lutadora do Povo Dandara... Dandara de
nossos muitíssimos camaradas Robson e Zaira, a mais nova irmãzinha de Iara e
David.
Chegas,
hoje... Sim, Chegas exatamente hoje, 31 de outubro.
Chegas
como nome de Guerreira em dia de História de Mulheres que lutaram,
secularmente...
E nosso
picadeiro de terra batida e lona furada de circo celebra sua chegada com o
primeiro “conversa ao pé de ouvido” no dia certo... É uma grande festa debaixo
desta lona.
E a
festa é tanta que, de seu nome, falaremos mais ao final. Por hora, algumas coisinhas
que fomos descobrindo deste dia ao qual a sua chegada o faz mais belo e
importante.
Dia de
saudarmos este que abre as nossas palavras que, talvez, a guiem por algum
tempo: Carlos Drummond de Andrade nasceu em um 31 de outubro. Um dos maiores
nomes da literatura e poesia brasileira. E, com o poema “Verbo ser” que abre
nossos trabalhos, deixamos nossa muito humilde primeira lição: vais crescer, e,
te garanto, vais crescer em meio a um universo material e imaterial de pessoas
fantásticas, que te recebem com o tamanho da certeza da esperança de um mundo
profundamente diferente deste que temos hoje. Tempos estranhos, Dandara. Mas
com pessoas lutadoras como e com você... E Luta, sem poesia, digamos assim: até
vale a pena, porque a Luta sempre vale a pena. Se se vier com poema.
Então
escreva, escreva, escreva muito, pequena Dandara... tudo que vier a sua cabeça,
tudo que estiver à sua volta, todos os sonhos que você tiver e, também, aqueles
que alcançar...
Escreva
como a “Palavra Mágica” de Drummond:
“Certa palavra dorme na sombra de um livro raro
Como desencanta-a?
É a
senha da vida a senha do mundo.
Vou procura-la.
Vou procura-la
a vinda inteira no mundo todo.
Se tarda
o encontro, se não a encontro, não desanimo,
procuro sempre.
Procuro
sempre, e minha procura ficará sendo minha palavra”
O Dia 31
de outubro, claro, tem a música, que sempre fará parte destas conversas
inxiridas que temos feito. E, pra ti, hoje, acho que é quase que uma “cantata
ao pé de ouvido”, de tanta coisa bacana... Bom, separamos algumas coisas ao
gosto deste picadeiro, é verdade.
Uma
cantora, negra, a segunda a ser agraciada pelo Óscar americano, Etha Waters
também nasceu em um 31 de outubro. Sabemos muito pouco dela, na verdade. Uma de
suas principais canções “His eye is on
the Sparrow” (Seus olhos estão no Pardal) é um de seus trabalhos mais
conhecidos. Tem até uma cena de um filme de nossa (minha, de seus pais)
infância e juventude – Mudança de Hábito – em que esta canção é ME-LO-DI-O-SA-MEN-TÉR-RI-MA-MEN-TE
entoada nos nossos ouvidos pela ainda jovem atriz Lauryn Hill...
Mas, de
mais importante desta mulher – Etha – é que ela venceu um dos (ainda) mais
conservadores e racistas eventos do cinema americano nos anos 1950 – atriz
coadjuvante, o Oscar... e como atriz coadjuvante.
Bom...
nosso picadeiro de terra batida e lona furada de circo, sempre dissemos, é
laico. Mesmo este que vos fala sendo ateu, não negamos nem um pouco o que é
belo na história da humanidade. E, por isso, deixemos nosso presente, da
própria voz de Etha Waters.
Dandara...
vamos aqui dar uma dor de cabeça a seus pais e a seus vizinhos... Porque dois
bateristas de duas bandas que este inxirido falador gosta muito, que
acompanharam parte de minha adolescência, nasceram em 31 de outubro.
Primeiro,
Bob Siebennerg, baterista do Supertramp, uma banda que fazia de teclados,
pianos e vozes de tons altos e baixos um rock’n’roll particular e belo. E Larry
Murray Jr., baterista da sempre presente banda irlandesa U2.
Bob à esquerda, Larry à direita... |
Aliás,
tem outro baterista, Mikkey Dee, do Motörhead... mas a gente reconhece aqui,
rockeira e humildemente: não conhecemos ainda o trabalho deles.
Mas o
Supertramp e o U2, sim... e principalmente uma das batidas mais conhecidas por
bateristas amadores e profissionais dos anos 1980 pra cá: Sunday Bloody Sunday foi uma canção que foi entoada pela juventude
durante anos 1980 e que também significava um grito contra injustiças cometidas
pelo Estado... neste caso, o Estado Britânico, na Irlanda.
Uma
passeata pacífica em 1972, com 10 mil manifestantes e soldados do exército
armadas no caminho, com um único propósito... E anos depois, U2 vem com uma
canção que é um verdadeiro e completo poema não apenas sobre aquele “domingo”,
mas também sobre a humanidade.
https://livingiseasywitheyesclosed1.wordpress.com/2014/10/17/sunday-bloody-sunday-u2/ |
Vemos
isso o tempo todo por aqui, Dandara. Por isso dissemos que chegas em tempos
estranhos e tensos, Mas, também, em meio a pessoas que são profundamente
comprometidas com o povo, com os injustiçados, com os trabalhadores... e por
isso sempre cantamos as canções necessárias.
E por
isso, deixamos este mais uma lição, mais do que um presente... E que outras
canções possam ser cantadas por ti, em sua juventude.
De
tantos que chegaram em 31 de dezembro, há que tenha partido também, Pequena Dandara.
E nossos humildes artistas chegaram ao consenso: neste caso, uma partida que
honra a sua chegada. Indira Gandhi, filha do grande e histórico pacifista
indiano, Mahatma Gandy.
Uma
mulher de liderança política, em um país patriarcal. Premiada com o Prêmio
Lenin da Paz (1983-1984), num claro reconhecimento por seu trabalho em defesa
do fortalecimento da paz entre os povos. Uma mulher pacifista em um país
patriarcal, claro, incomodava... e muito.
Mas é de
sua perseverança na educação que tiramos uma grande lição de Indira. É
atribuída a ela uma manifestação sobre este tema: “A Educação é uma força libertadora, e na nossa idade uma força
democratizante, atravessando as barreiras das classes sociais, suavizando as
desigualdades impostas pelo nascimento e outras circunstâncias”.
Assim,
pequena Dandara, nunca tenha como “causa natural” as coisas da vida. Sempre procure
saber o porquê de cada coisa, situação, fato, história. É assim que sempre
agiremos com o mais próximo da justiça.
E nossos
artistas também celebram 31 de outubro por seu próprio picadeiro. Mesmo sendo o
dia de partida de um dos maiores mágicos do mundo (Houdini), é para nós um
grande orgulho poder celebrar essa “conversa ao pé de ouvido” contigo, Pequena
Lutadora do Povo Dandara, com algo que está presente neste picadeiro de terra
batida e lona furada de circo.
– Opa,
Opa! Esta é minha chamada!
– O
Espaço é todo seu, meu caro Mágico das Lutas Trabalhadoras!
–
RESPEITÁÁÁVEL PÚBLICO! AGORA, A MAIOR DE MINHAS MÁGICAS! O MAIOR CORAÇÃO DO
MUNDO SAIRÁ DESTE PEQUENO PICADEIRO PARA CELEBRAR DANDARA!!!!
Mas, o
principal deixamos pra agora, nossa Pequena Lutadora do Povo Dandara... Ou
seria, nossa “Pequena Rainha Lutadora do Povo”?
Dandara...
poucos nomes seriam tão justos, perfeitos, históricos.
A esposa
de Zumbi, dos Palmares, tão guerreira e liderança quanto ele. E, numa sociedade
como a nossa, machista e patriarcal, em que a história é contada e escrita por
homens, brancos, ricos, até mesmo a história de Dandara, mesmo se tratada como
mito, tem uma verdade profunda.
Há quem
diga que ela é uma expressão de várias lideranças negras e quilombolas, enquanto
outros apenas afirmam a falta ou escassez de dados e fontes. Mas,
inquestionavelmente, seu nome, Pequena Dandara, está envolta à luta de hoje e
sempre, contra o racismo, o machismo e todas as formas de opressão.
Assim, a
gente aqui sugere a Robson e Zaira que, após as leituras de fuxico nosso em seu
ouvido, que também conte as Lendas de Dandara:
E chegas
Dandara em 31 de outubro.
Há quem
diga, pelo sentido comercial e estrangeirizado da data, que é o Dia das Bruxas.
Pois
bom... que seja.
Afinal,
as bruxas sempre foram, à bem da verdade, protetoras da terra, defensoras dos
direitos e auto-falantes da verdade. Amavam os rios e os animais, como amavam a
lua e o sol. Eram, as bruxas, mulheres de conhecimento infinito e, por isso,
lutavam contra a ignorância do povo, dando voz as vítimas das atrocidades dos
poderosos.
Essas
eram as bruxas, durante séculos. Lutavam contra o que ainda se luta hoje.
O Dia
das Bruxas? Nem chega aos pés desta história.
No Brasil,
e com muita justiça, é o Dia do Saci-Pererê... o Saci que persegue no mato,
fazendo fumaça, fumando cachimbo e que quase despido, pula, some e dança, como
criança. Segue seu destino e se esconde na floresta.
E, com
ele, vem Matinta Pereira, A Mulher do Alicate, o Curupira e uma infinidade de
lendas que, no final das contas, representam ao seu jeito as mesmas lutas das
Bruxas na história da humanidade.
Retrato do Saci-pererê" (2007) por J. Marconi |
É Pequena
e Majestade Dandara... vale muito a pena celebrar sua chegada em 31 de outubro. É por isso que estamos em festa...
Vida
Longa, Vida Longuíssima, Pequena Dandara...
Vida
Longa!
Venham
Todos!
Venham
Todas!
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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira