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VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

terça-feira, 19 de junho de 2012

Os Indiferentes



“Tudo o que transformo me transforma /
em asas para eu voar. /
Tudo o que eu grito em meu suspiro /
só os loucos podem escutar. /
Minha insana lucidez...”
(Os indiferentes de Gramsci
Marcelo Russo/1998)


            Em tempos outros, não tão distantes (cerca de 15 anos), acompanhávamos nos noticiários Brasil afora (da mídia vendida e da imprensa compromissada, claro que com olhares antagônicos), os enfrentamentos que os Movimentos Sociais Organizados mantinham de norte a sul do país, As  greves de Professores (Universidade, Estados, Municípios e até Escolas Particulares), de Motoristas e cobradores (e lembro da operação tartaruga que os motoristas de Recife e Olinda realizaram nos idos de 1999 – 100% de ônibus nas ruas, andando sempre a 20 km/hora), da Petrobrás (que o Governo FHC tentou interromper a bala), de metroviárias e até operários da Construção Civil.
            Naquela época, resgatava um texto que já conhecia (tardiamente, mas em meu tempo) de Antônio Gramsci (aquele que a Revista Veja – vamos falir!!! – chamava de terrorista, em matéria recente). Chama-se simplesmente “Os Indiferentes”, escrito em fevereiro de 1917 pelo educador italiano.
            Em tempos de greves (Docentes e Técnicos das Universidades, Professores em alguns Estados do País – os bravos professores da Bahia, em especial homenagem -  de Canteiros de Obras dos Megaeventos brasileiros – que bom seria se as reivindicações ultrapassassem a relação específica das condições de trabalho – Motoristas, Cobradores e outros condutores de transporte “público” urbano e até expressões significativas de Servidores da Segurança Pública e da área da Saúde), tempos parecidos com 15 anos atrás e, particularmente, com o que vejo e o que não vejo em meu particular local de trabalho (a UFPA/Castanhal), lembrei-me, novamente, deste texto.
            Apenas reproduzo-o...
Para lembrar aqueles/as que lutam, que nossa luta é histórica e só terminará quando vencermos!
Para lembrar aqueles/as que lutaram em outros tempos e agora não lutam mais, (alguns por forças já inexistentes, outros, por assumirem - ou não - outra posição no debate social e político de nosso país) que os princípios, os inimigos e, principalmente, os/as companheiros/as de lutam ,continuam lutando!
E para lembrar aqueles/as indiferentes que nunca serão vítimas disso... Indiferentes o são por consciência...

“Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.
A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.
A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar. A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso. Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.
A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.
Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.
Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.”
            (Os Indiferentes – Antonio Gramsci – fevereiro de 1917)

            Venham Todos!
Venham Todas!... mas não os indiferentes!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

2 comentários:

  1. Como nos alerta brecht...
    Eu vivo em tempos sombrios.
    Uma linguagem sem malícia é sinal de estupidez,
    uma testa sem rugas é sinal de indiferença.

    Saudações

    Derick carvalho

    ResponderExcluir
  2. Salve, CAmarada Derick.
    Estamos Alertas!
    Abraços
    Há braços!

    ResponderExcluir

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Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira