RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

domingo, 31 de julho de 2016

Escutei por aí... Liniker!



“Sou bicha,
 Sou preta,
 Mas não sei se sou homem
 ou sou mulher,
 estou em processo.
 Estou sendo o que sou”
 (Liniker – entrevista TRIP TV)

Quando era ainda criança, mas já no meu processo de avançar (?) ao período da adolescência, alguns termos e valores começaram a ir se consolidando em minha formação.
De coisas boas a bobagens, ou das bobagens às coisas boas das relações humanas, termos como “bicha” (de vez em quando com o adjetivo “louca”) e viado (isso, assim mesmo, pra diferenciar do “veado”), por exemplo, desde muito cedo entraram para o meu universo de valores em formação, na linha CERTO X ERRADO.
Eu tinha que ser homem. Já tinha a vantagem de ser branco.
Daí, desconsolidá-los seria, e continua sendo, um processo profunda e permanentemente complexo e visceral. E, junto com este processo de desconsolidação, incluir não apenas o trato com a homossexualidade (ainda que hetero), mas também com o racismo, o machismo e diversas formas outras de preconceito que perpassavam até as referências geográficas (“de onde tu vens?”, “onde tu moras?” etc.).
Este picadeiro de terra batida e lona furada de circo, e seu pequeno público são testemunhas e cúmplices de nosso constante auto reconhecimento: ainda persigo o machista, o racista, o homofóbico que está escondido dentro de mim. Como um inimigo interno que está lá, se fingindo de morto, e com a qual não posso desatentar.
E quando olho à minha volta, identifico até mesmo em pessoas próximas um pouco destes (des)valores presentes e seus fantasiados discursos hipócritas, a atenção sempre se redobra.
Talvez assim faz-se um revolucionário, por isso continuo aprendiz.
E em lugares, palavras, sons à nossa volta, continuo encontrando novas lições e quando as aprecio, sinto que continuo no caminho certo.
E assim, conheci Liniker...
Um cara... hããã... uma cantora... quer dizer... ééé... bom...
– Uma voz, um poema, uma música du canário, Russo! (Strovézio).
– Isso, meu caro palhaço... só tu pra ajudar.
Liniker, como o/a próprio/a diz: apenas Liniker. Não é “O” Liniker. Não é “A” Liniker”... É Liniker.
Pintou no youtube e se surpreendeu com a quantidade de visitas e a divulgação. Já ganha alguns palcos de programas alternativos de TV e outros que rola na internet.
Típico artista que, pela gama de fãs que já aglutina, pela música, pelas ideias, pela ousadia, já “mereceria” um espaço nos “programões de auditório” da TV Aberta.
– Espero que não mereça... Sacou?
– Vero, Strovézio... Mas se for, vai deixar muito/a apresentador/a enrolado/a. Afinal, parece-me que Liniker está bem à frente da mentalidade fútil destes programas.
– Programa do Jô, à parte... Liniker já pintou por lá.
Pois bom...
Afinal, vejamos: negro/a, com cabelos rastafári, estilo Dreads, às vezes com um turbante, às vezes de calça, às vezes de vestido, às vezes tudo junto. Baton marcante em meio ao rosto com pelos de barba ainda se formando, brincos exuberantes e voz forte e presente... não é Du Canário?
Em tempos de uma luta conservadora desenfreada a uma baboseira alcunhada de “Ideologia de Gênero”, parece-me que para Liniker já tá bom o que está sendo consolidado.
Pode ser que não... isso cabe ao artista.
Mas que Liniker chegou chegando, que é de uma beleza profunda, humana, artística, periférica inquestionável, ah!, isso Liniker é. Até porque, ele
“[...] tem flores na cabeça e pétalas no coração
 Tem raízes nos olhos, excitação
 Acalanta o meu coração”
 (Sem nome, mas com endereço)

Escutei por aí...
Líniker!

Escutem também...
Venham Todos!
Venham Todas!


3 comentários:

  1. Conheci através de um amig@ e me encantei!! Bacana falar del@!!! Gostei.

    ResponderExcluir
  2. Pois é, Claudia, nossa sempre presente companheira de Universal Circo Crítico... acho difícil não se apaixonar por Liniker, quando o escutamos...
    Vida Longa

    ResponderExcluir
  3. a gente fica mordido nao fica?

    ResponderExcluir

O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira