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terça-feira, 6 de outubro de 2015

A greve XI ou... o Defeito!


“O Desministérios dos Risos Circenses avisa: aos que ainda não conhecem muito bem as viagens deste picadeiro estranharão o “lé” e o “cré” aqui reunidos”
Foi mais ou menos assim:
            – Bom dia, senhor... desculpe-me incomodá-lo... mas, gostaria de pedir uma pequena ajuda. Meu sobrinho está com câncer e estamos com dificuldades financeiras. Preciso comprar dois pacotes destes, de frauda, eu só consegui comprar um...
            – Então você já tem os dois pacotes de fraudas...
            – Oh! Obrigada, moço... muito obrigada.
            E, após acalma-la, peguei o pacote e incluí em minhas compras. Ela falou mais algumas palavras de agradecimento, agradeceu a Deus (ou Quem ela acredita) e aguardamos nossa vez na fila.
            Ao sair, escutei as doces palavras vindas de outra pessoa:
            – Pega trouxa!
            Dita como quem quisesse (e quis) dizer que eu caí na maior lorota, numa mentira deslavada e que a tal estava rindo da minha cara, como quem dissesse a si mesma “Cara! O Cabeludo só tinha que me dar 10,00, e me comprou o pacote...”
            – Não sou eu quem julgo isso, disparei...
            Meio que como quem quisesse também dizer, mesmo sendo ateu, que se existe alguém (ou “Alguém”) a julgar o acontecimento, não serei eu o julgado (nem o julgador), a não ser, pela manifestação acima, a de ser “trouxa!”... O que acho que não me faz uma pessoa tão ruim assim...
Em síntese: eu "fui legal"... ao distanciar-me do "a quem" eu fui legal, escutei "pega trouxa!" e só respondi "não sou eu quem julgo isso"... Se o ato não foi de pedido de ajuda, mas de oportunismo, isso não é comigo... ajo conforme meus princípios...
            Mas não se trata aqui de ficar construindo e publicando auto-enaltecimento. Dia aqui, outro ali, escuto ou leio pequenas e singulares histórias de atos de solidariedade, bondade, ajuda, apoio etc. Até aqui, neste picadeiro de terra batida, já contamos nossas histórias.
            Quem lembra de “O Sanfoneiro!”
            – Poderias ter terminado aquela história sem o “do outro lado da rua...”, né? (Palhaço).
            – Concordo, Strovézio... uma história tão bonita podia dispensar aquele final.
            Ou, mais recentemente, nossas reflexões em “Fazer o bem”... Um quitute, uma noite chuvosa, uma moradora de rua e uma alegria silenciosa.
            Mas, o que nos leva a esta nova reflexão que, no final das contas, tem a ver com solidariedade, é uma nova inquietação... uma nova provocação:
            Se é verdade (e não achamos que é) que você precisa fazer o bem para ter, sei lá de quem, quando, como (parece-me meio invisível demais isso, enfim), ter o bem de volta, como que uma troca. O que acontece ou aconteceria quando fôssemos apenas... trouxas?
            Um trouxa foi pego, sensibilizado em seus princípios de solidariedade...
            Eu faço o bem, recebo o bem de volta... então...
            Eu sou trouxa... será que um dia conseguirei, como “compensação” (que é a régua do “fazer o bem para tê-lo de volta”), fazer alguém de trouxa?
            É isso que conduz, realmente, as práticas sociais das pessoas? O “O mundo é dos espertos” realmente vigora e vinga? O meu primeiro e, depois, pensamos nos outros...
            Perece-me que em tempos em que o fascismo sai tranquilamente do armário, o fazer para ter algo em troca torna-se deveras perigoso... ou não?
            Dar a o lugar no ônibus, independente das cadeiras exclusivas para idosos ou pessoas com deficiência, seria, no final ao cabo... ser trouxa?
            Dizer ao caixa da padaria “me deste troco a mais” é ser trouxa?
            Devolver a carteira de alguém, com dinheiro dentro... trouxa?
            Ajudar alguém que pede ajuda, mesmo não a conhecendo... um grandessíssimo trouxa!
            ...
            Lutar, em tempos de greve nas universidades, para que não apenas “eu” tenha aulas, mas para que os que virão, e os que virão após os que virão e os depois destes todos, e os depois dos depois também tenham aulas... é ser trouxa?
            ...
Fazer o bem não pode, decididamente, ser moeda de troca... nem aqui, perto da gente, nem em defesa de uma instituição. Mas, se nossa sociedade continua a ser conduzido por vontades individualistas... ou espertas... como lutar por “fazer o bem” e o bem que interessa é “bem a si mesmo”? Mesmo quando o faço para ter “a benção”, “o céu”, “o paraíso” ou sei lá o que como retribuição?
– Pega Trouxa!
Um termo que entendi muito bem... porque, é verdade, é possível que o pedido de ajuda não fosse tão sério como fora feito.
Mas... eu julgo as minhas atitudes, minhas condutas, minhas posturas... Procuro estar sempre atento à minha prática, pois é meu critério de verdade. E perfeito não sou...
... ainda bem...
Ah! Para os incautos que não querem entender, nem mesmo sob suas superiores titulações e condição emérita... Defender a Universidade Pública, Gratuita, Laica, de qualidade e para todos/as não é “pega trouxa!”...
Venham Todos!
Venham Todas!


2 comentários:

  1. Parabéns pelo texto!!!

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    Respostas
    1. - Grato, "Anônimo"!... (Palhaço)
      - Ô, Strovézio... não sacaneia...
      - O que posso fazer?
      - Seja sempre bem vindo... adoraríamos que nas próximas visitas, em passando aqui nos comentários (concordando ou não com nossas ideias), deixe seu nome... codinome... alcunha..

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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
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Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira