RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Roubado é mais gostoso...

            
       “Se não vejo na criança uma criança,
é porque alguém a violentou antes,
e o que vejo é o que sobrou
de tudo que lhe foi tirado”
(Betinho)



            Possivelmente, pelo menos os que estão na faixa etária em que ler gibi era uma das boas práticas de lazer durante sua infância (eu adorava a Turma da Mónica, os Gibis do Cebolinha, do Cascão, do Chico Bento etc.), irá se lembrar de manifestações que reproduziam exatamente este, digamos, mantra: “roubado é mais gostoso”.
            Das clássicas, uma do Chico Bento quando falava, de maneira quase ingênua, que “goiaba roubada é mais gostosa”.
            Seus argumentos (que, claro, não apareciam nos saudosos gibis de minha infância) eram até ingênuos. Fugir, escapar dos tiros de sal do dono dos pés de goiaba. É como fugir das mordidas do cachorro do dono.
            Mas, também temos fatos, digamos, mais reais sobre “roubar é mais gostoso”.
            Por que não lembrarmos do ex-goleiro do Flamengo que, na final do Campeonato Carioca de 2014, falou, após o gol do seu time nos minutos finais da partida e que deram o título a seu time, ao saber que o gol foi marcado em clara (dizem escancarada) posição de impedimento. Ou seja, o jogador que fez o gol estava impedido de continuar a fazer o que estava fazendo (o gol). Felipe, então, soou um heroico “Estava impedido? Roubado é mais gostoso!”...
            Pois bom, já dizia o saudoso personagem Pantaleão Pereira Peixoto do também saudoso Chico Anysio.
Roubar é roubar... e, de muitas coisas que a gente assiste no Parlamento brasileiro hoje, já algumas vezes expressas também neste picadeiro, uma delas é roubar.
Em 30 de junho, pelas regras da Câmara Federal, a redução da maioridade penal não foi aprovada. Durante o dia, vi algumas manifestações – algumas de ex-alunos meus – indignados. O debate, nestes casos, avaliei que não valia a pena (por questões comuns aquelas manifestas sobre os temas publicados sobre Che Guevara).
O que mais percebi foi, como sempre – o que estão fazendo com nossa juventude? – é a manifestação, a tomada de posição por algo que não se aprofunda, que não se estuda, que não se sabe. Manifesta-se apenas pela, como poderíamos dizer, vingança. Punir porque acho que é a única saída.
Mas, o tema é roubar (que, também, está circunscrita à questão da redução da maioridade penal).
Rouba-se quando se estabelece a regra do “o mundo é dos espertos”...
Rouba-se quando eu jogo bola e faço uma falta que o juiz não marcou e eu deixo quieto. Ou quando “sofro” uma falta que não aconteceu (a mistura do esporte com o teatro), o árbitro marcou e eu não digo “não, ‘professor’, eu não sofri a falta”.
Rouba-se quando eu coloco meu carro em lugar proibido, quando eu sento em lugar reservado a idosos ou deficientes, quando eu vejo cair algo do bolso de alguém e não devolvo, quando apresso meu passo para chegar na frente de quem não pode apressar o passo.
Rouba-se quando omite-se. Não falo apenas quando a pessoa se omite. Mas quando falseia-se com os fatos, com a verdade. Mentir é roubar a verdade.
Rouba-se a juventude dela mesma.
          E o que me parece mais perigoso é que ao aceitarmos o roubo como o caminho para o que queremos, abrimos a porta a intolerâncias maiores e imprecedentes... De fundo, o que cegamente se defende é a punição da consequência, em favor da manutenção da causa. É mais fácil destruir o resultado do que voltar ao começo e ajustar o que já começou errado.
Assim, o que assistimos (de novo) na Câmara Federal entre os dias 30 de junho e 1º de julho foi exatamente isso: o jogo foi perdido e roubou-se para virar o jogo. Arruma-se o resultado, não o que foi debatido.


Isso aconteceu com a aprovação do financiamento (porque doação é que não é) privado de campanha e não vi os mesmos que se emputeceram com a derrota do dia 30 de junho se manifestarem sobre a (não) diminuição da maioridade penal... Bom, não sou onipresente, é verdade. Nem na internet.
Mas a mentira foi acompanhada para além fronteira da Câmara Federal. Assistir aos jornais no dia 1º de julho (pela manhã e a noite) só não foi triste, porque não crio esperança nenhuma de nossa mídia tupiniquim. Ninguém explicava o que era esse roubo da regra que colocava em votação o que já havia sido votado.
          – Efeito Fluminense, perdoem-me os tricolores! (Palhaço)
          – Pois é, Strovézio. 
Como já disse outra vez: é apostar uma corrida e dizer ao outro competidor que ela acaba quando você estiver na frente.
Mas isso não tem graça. Roubar, como se rouba hoje é também impor outras formas de medo. 
E parte da Câmara Federal aprendeu com bandidos (os perigosos de fato): medo é controle (como diria Leonardo Sakamoto).

Força a Todos!
Força a Todas!

Pois, "diz a lenda", a coisa vai piorar...







PS.: Lamentamos aos nosso público a marca da Globo na revistinha do Chico Bento no início do texto. E lamentamos ao Chico Bento ainda ser refém dela...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira