RESPEITÁVEL PÚBLICO!

VENHAM TODOS! VENHAM TODAS!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Hipocrisia II...

 

            Um dos temas que vem sendo debatido com ênfase (mas de qualidade duvidosa) neste processo mais recente do segundo turno das eleições presidenciais é a questão da privatização das estatais brasileiras.
            A dúvida acerca da qualidade do debate se dá, justamente, pela relação direta e onipresente a uma relação de consumo. A privatização, diriam seus idealizadores, foi bom para o mercado e para o consumo, pois qualificou a oferta.
            É evidente que a questão em si superficializa o que há de mais profundo deste tema. Pelo menos dois pontos gostaríamos de lançar mão: o primeiro de “profundidade superficial” que é a própria questão da capacidade de acesso aos bens de consumo e, nesta via, a minha condição de existência no estado brasileiro não mais como cidadão, mas como consumidor. “Eu sou o que consumo”, diria nas entrelinhas o poema “Eu, etiqueta” de Carlos Drummond de Andrade. “Meu nome novo é Coisa. Eu sou a coisa, coisamente”.
            O segundo ponto é que mantemos uma relação com o nosso mundo de “uso indiscriminado”, pois consumimos mais até o que não precisamos e, por isso mesmo, jogamos fora o que nunca usamos. Sugamos, porque consumimos – ao invez de convivermos – os bens natuais de todo o mundo e sequer nos damos conta disso.
            Assim, essa ode à privatização como possibilidade de acesso aos bens e serviços fica, no debate político e eleitoral, superficial ao extremos. Não há projeto (ou a ampliação deste debate) de sustentabilidade econômica e social neste debate.
            Porém, a hipocrisia toma um rumo interessante neste contexto e é dele que iremos falar:
Hipocrisia II – como privatizar, não privatizando de imediato: A Universidade Pública como exemplo (inspirado no legado do Professor Felippe Serpa, Bahiano, Educador, Reitor da UFBA e que realizou a morte” em 15 de novembro de 2003).
Regra 1ª – Dizer dioturnamente, até pegar: “A universidade pública brasileira precisa se adequar aos novos tempos” (e aí, faz um arrazoadozinho do que são os novos tempos);
Regra 2ª – pedir a opinião dos organismos internacionais (aqueles que protegem os ricos e poderosos quando crises – que esses ricos e poderosos provocaram – assolam seus países) sobre o papel da Universidade;
Regra 3º – aceitar, inconteste, as opiniões destes organismos (Banco Mundial, por exemplo);
Regra 4ª (já com a cartilha daqueles organismos em mãos) – fazer contas: qual o custo de cada aluno e o quanto ele porduz;
Regra 5ª – concluir que os cursos de Humanas e algumas Sociais e Econômicas “não produzem” e, portanto, não podem receber os mesmo recursos que as tecnológicas e exatas recebem (claro, temos excessões);
Regra 6ª (como consequencia da anterior) – destacar que o melhor modelo de formação superior e produção/sistematização do conhecimento é o positivista, pela capacidade de medir a construção e o que se produz em ciência;
Regra 7ª – após o cálculo apresentado, defender a tese da terceirização de serviços: xerox, Restaurante Universitário, Bibliotecas, transporte, cursos de extensão, prestação de serviços de segurança e limpesa etc.;
Regra 8ª – apresentar o novo cálculo: 30% do custo da Universidade Pública deve sair do bolso do estudante universitário;
Regra 9ª – concomitante a este didático processo financeiro, ampliar a instalação das Fundações;
Regra 10ª – estabelecer regras a estas Fundações, seguindo sempre a cartilha dos organismos internacionais;
Regra 11ª – promover a captação de recursos externos ao Estado (este, o Estado, não financia mais a Universidade Pública) e serão eleitos como os mais competentes financiadores: Empresas Privadas, Indústrias diversas e agronegócio... os “nós, etiquetamos” do poema de Drummond de Andrade;
Regra 12ª – Nunca, mas nunca respeitar o voto dado aos candidatos em época de eleições para a Reitoria: professor é chato; aluno fica pouco e funcionário técnico-admistrativo não é maduro o suficiente;
Alínea I da regra 12ª – se o candidato mais “alinhado” aos organismos acima citados vencer, tudo bem, pode confiar nos votos;
Regra 13ª – Lista tríplice é lista tríplice. Se o candidato vitorioso não for o mais querido do presidente da república (que nomeia o Reitor das Universidades Públicas no Brasil), ele não será “eleito”. Portanto, recorre-se à regra 12ª pela inexistência da Alínea I desta regra;
Regra 14ª – defender o processo de não-eleição para as Faculdades e, assim, os reitores “nomeiam” os seus diretores preferenciais;
Regra 15ª – ações de formação da opinião pública (esta regra é importantíssima):
Alínea I da regra 15ª – mostrar como são boas as universidades privadas comparadas às universidades públicas;
Alínea II da regra 15ª – encontrar professores da Universidade Pública que são meio “faltantes” e dizer que todos são assim;
Alínea II da regra 15ª – mostrar que os setores que “terceirizaram” e/ou recebem recursos de empresas privadas tem melhor material, melhores equipamentos, melhores professores (que recebem pelos projetos desenvolvidos a estas empresas) e maior garantia de ocupação de postos no mercado de trabalho;
Obs desta Alínea – ou seja, quando destes casos, o Mercado de Trabalho é perfeito, certinho, há espaço p’ra todo mundo... aff!
Regra 16ª – pesquisa de opinião, entrevistas com reitores renomados, pesquisadores da Forbes e Nature, grandes diretores de empresas e economistas pós-modernos, ampliação de produções científicas e livros desta corrente de pensamento da Universidade Pública;
Regra 17ª – o contrário é verdadeiro: nada de entrevistas com críticos da privatização da Universidade Pública, diminuição de recursos para períódicos, revistas, livros e congressos “mais críticos”;
Alínea I da Regra 17ª – “pitadas” de desqualificação destes pensadores ajudam: sugere-se o uso de termos como “ultrapassados”, “presos ao muro de Berlin”, “conservadores”. Pode-se criar até o exagero do rótulo: “marxista-leninista”, “stalinista”, “comunista” e “presos ao passado”...
Regra 18ª – estabelecer que a melhor maneira de produção e sistematização do conhecimento é aquela que responda, única e exclusivamente, as demandas do mercado
Uma pitada de terrorismo aqui, outra pitada de matérias jornalísticas ao estilo “Alice no país das maravilhas” acolá, a gravação de vários CD’s com “canções de Sereia” e está feito.



É preciso lembrar: foi exatamente isso que aconteceu no período do governo Fernando Henrique Cardoso... O sucateamento da Universidade Pública Brasileira como processo inconteste para justificar a sua privatização.
Não se privatiza apenas vendendo o patrimonio... Se privatiza tornando-o desnecessário ao Estado e convencendo a população que ele assim o é, enquanto patrimônio público.

Dia 31, Dilma presidente

Venham Todos!
Venham Todas!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

PS.1: para quem gosta de documentários e também tem interesse em aprofundar essa particular compreensão da Universidade Brasileira, o vídeo “Convivências de Felippe Serpa” é um ótimo material áudio-visual.
PS.2: A Hipocrisia ainda é tema permanente... a terceira será sobre “liberdade de imprensa”...
PS.3: a foto ao final do texto foi democratizada pelo meu ex-aluno de tempos de Projeto Nossa Escola, Yuri... Um exemplo de jovem lutador.



4 comentários:

  1. Olá...
    Marcelo, também fico indignada com tanta hipocrisia...Não consigo assistir toda a propaganda eleitoral...É difícil ver tanto absurdo, tanta tentativa de manipular, enganar...Fico pensando no dia(utopia?)que isso vai mudar...Espero que não demore. O povo precisa saber a verdade!
    Bju
    Patrícia

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  2. Bom dia Marcelo,
    Parabéns pelo Blogue!! Foi muito gostoso e instrutivo conhecê-lo. De agora em diante serei visitante frequente.
    Saudações socialistas!

    Renilton Cruz

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  3. Olá, Patrícia...
    Já comentei até mesmo aqui no blog: indignação e esperança, como atos revolucionários e práticas sociais constantes...
    O Blog se posiciona em relaçao a estes debates, mas também temos ressalvas ao Governo Lula.
    Apenas entendemos que o governo Lula e o necessário (neste momento) governo Dilma é bem mais possível se pensar nesta relação: indignaçao e esperança...
    Sempre feliz por suas visitas...
    abreijos
    Há braços!

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  4. Caro Renilton...
    A nossa Lona e nosso picadeiro sempre recebe com alegria nossos novos visitantes, sejam artistas, sejam parte do público. Um não existe sem o outro!
    Vida Longa!

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O Universal Circo Crítico abre seu picadeiro e agradece tê-lo/a em nosso público.
Espero que aprecie o espetáculo, livre, popular, revolucionário, brincante...! E grato fico pelo seu comentário...
Ah! Não se esqueça de assinar, ok?
Vida Longa!
Marcelo "Russo" Ferreira